sábado, 1 de fevereiro de 2014

ETNOCENTRISMO




ETNOCENTRISMO

Etnocentrismo é uma visão de mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos  os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência .  No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc.
Perguntar sobre o que é etnocentrismo é, pois, indagar sobre um fenômeno onde se misturam tanto elementos  intelectuais e racionais quanto elementos emocionais e afetivos.  No etnocentrismo, estes dois planos do espírito humano  -  sentimento e pensamento  -  vão juntos compondo um fenômeno não apenas fortemente arraigado na história das sociedades como também facilmente encontrável no dia-a-dia das nossas vidas.
Assim, a colocação central sobre o etnocentrismo pode ser expressa  como a procura de sabermos os mecanismos, as formas, os caminhos e razões, enfim, pelos quais tantas e tão profundas distorções se perpetuam nas emoções, pensamentos, imagens e representações que fazemos da vida daqueles que são diferentes de nós. Este problema não é exclusivo de uma determinada época nem de uma única sociedade. Talvez o etnocentrismo seja, dentre os fatos humanos, um daqueles de mais humanidade.
Como uma espécie de pano de fundo da questão etnocêntrica  temos a experiência de um choque cultural. De um lado, conhecemos um grupo do EU, o “nosso grupo”, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos nossos mesmos deuses, casa igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta à vida significados em comum e procede, pôr muitas maneiras, semelhantemente. Aí, então, de repente, nos deparamos com um OUTRO, o grupo do “diferente” que às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E mais grave ainda, este  OUTRO  também sobrevive a sua maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferentemente, também existe.
Este choque gerador do etnocentrismo nasce, talvez, na constatação das diferenças. Grosso modo, um mal-entendido sociológico. A diferença é ameaçadora porque fere nossa própria identidade cultural. O monopólio etnocêntrico pode, pois, seguir uma caminho lógico mais ou menos assim: Como aquele mundo de doidos pode funcionar ?  Espanto !  Como é que eles fazem ?  Curiosidade perplexa ?  Eles só podem estar errados ou tudo o que eu sei está errado !  Dúvida ameaçadora ?  Não, a vida deles não presta, é selvagem, bárbara, primitiva !  Decisão hostil !
O grupo de EU faz, então, da sua visão a única possível ou, mais discretamente se for o caso, a melhor, a natural, a superior, a certa. O grupo do OUTRO fica, nessa lógica, como sendo engraçado, absurdo, anormal ou ininteligível. Este processo resulta  num considerável reforço da identidade do “NOSSO grupo. No limite, algumas sociedades chamam-se pôr nomes que querem dizer “perfeitos”,  excelentes ou, muito simplesmente, “ser humano” e ao OUTRO, ao estrangeiro, chamam, pôr vezes, de “macacos da terra” ou  “ovos de piolho”.  De qualquer forma, a sociedade do EU é a melhor, superior. É representada como o espaço da cultura e da civilização pôr excelência.  É onde existe o saber, o trabalho, o progresso. A sociedade do OUTRO é atrasada. É o espaço da natureza. São os selvagens, os bárbaros. São qualquer coisas menos humanos, pois estes somos nós. O barbarismo evoca a confusão, a desarticulação, a desordem. O selvagem é o que vem da floresta, da selva que lembra, de alguma maneira, a vida animal. O OUTRO é o   “aquém” ou o  “além”, nunca o   “igual” ao EU.   (...)
Mas, existem idéias que se contrapõe ao etnocentrismo. Uma das mais importantes é a da RELATIVIZACÃO.  Quando vemos que as verdades da vida  são menos uma questão de essência das coisas e mais uma questão de posição:  Estamos relativizando. Quando o significado de uma ato  é visto não na sua dimensão absoluta mas no centexto em que acontece: estamos relativizando. Quando compreendemos o OUTRO  nos seus próprios valores e não nos nossos: estamos relativizando. Enfim, relativizar é ver as coisas do mundo como uma relação capaz de ter tido um nascimento, capaz de ter um fim ou uma transformação. Ver as coisas do mundo como a relação entre elas. Ver que a verdade está mais no olhar que naquilo que é olhado. Relativizar é não transformar a diferença em hierarquia, em superiores e inferiores ou em bem e mal, mas vê-la na sua dimensão de riqueza pôr ser diferença.

FONTE:
EVERARDO P. GUIMARÃES ROCHA, O Que é Etnocentrismo  - Coleção Primeiros passos, Ed. Brasiliense, 1984.



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