segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Ora, Botas







Ora, Botas
O que fazer (se não)sentir? Sou filho único ...
A razão a trabalho do coração. Acabei de ler esta frase e não consigo acreditar que pessoas esclarecidas e inteligentes acreditem neste postulado. Simplesmente não consigo. Portanto, só há duas alternativas para isto ocorrer. Em primeiro lugar, o autor da frase, de fato, não é quem aparenta ser. Ou, prefere, jogar para a torcida. Prefere o comercialmente correto. Respeito, mas não aceito como verdade. Nem poderia. E este “respeito” não significa que me abstenho da crítica, até porque trata-se de uma crítica construtiva.
Maurício. Gente, eu preciso falar de M. M. Eu quero falar o que ainda não falei. Para quem ainda não leu os outros textos sobre o assunto, segue abaixo a reprodução do que eu já havia afirmado sobre. Vamos as novidades: Eu quero ser extremamente sincero. Vocês sabem que eu não domino o idioma da capital da cultura mundial, portanto fazer uma crítica estruturada da tradução, a partir da leitura do original escrito na língua francesa não é uma atividade que esteja a minha altura. Contudo, o meu senso crítico e estético (além do intuitivo) diz: a tradução dos originais de Maeterlinck feita por Candido de Figueiredo tem problemas. A obra é muito maior do que aparenta ser. Além disso a profundidade da temática exposta também é mais larga e profunda. Sinto que houve um viés preconceituoso do tradutor em relação ao autor por se tratar de uma obra “quase mediúnica” (ou mediúnica por inteiro, quem sabe?). Não se trata de uma literatura vulgar e simplificada. Para ler este tipo de obra, o indivíduo tem que botar a razão no bolso e ser todo emoção (e intuição). E aqui vai o link necessário ao que afirmei lá no início deste pequeno texto. Voce está entendendo como estas conexões estão ocorrendo? Acredito que sim. A razão é um produto na prateleira do capitalista, servido no banquete da corte como prato principal também para o intelectual que corteja a soberba do imperador. Até porque muito pseudo-intelectual sonha (acordado) assumir o império (de alguma forma ou em algum momento da sua existência). Há muito blá, blá, blá e pouca disposição concreta de “ser mais +”. Para concluir o ponto. Se você acredita ter a maturidade necessária para aceitar a obra de M. M. no teu coração (aqui a razão não está mais nem no bolso, já está na lata do lixo) leia a tradução para o português de Portugal, pois é o que temos disponível neste momento. Leia, mas leia bem de vagar. Volte, volte e reflita sobre os pontos. Desconfie, se for necessário. E o mais importante, busque mais que uma leitura, uma relação com M. M. Confie nele. Permita que ele fale convosco. Aceite-o no seu coração.
Eu estou muito feliz pelo pronto restabelecimento da saúde de Jády. Gostaria de agradecer ao Doutor Tiago Conceição, chefe e responsável técnico da Clínica ProntoVet. Gostaria de agradecer a cirurgiã, Dra. Raquel e a Médica Veterinária, Dra. Camila (ProntoVet). Gostaria de agradecer ao Bluts (Laboratório, Banco de Sangue e análises Clínicas Veterinárias)  nas pessoas da Doutora Luciana Lacerda e do Dr. Magnus Dalmolim. Enfim, agradecer a todos os profissionais que participaram da recuperação da Jády que está muito bem. Voltou a sorrir, agora abrigada e protegida. Ganhou uma família e uma nova oportunidade para voltar a acreditar nos humanos que são diferentes daqueles que a deixaram abandonada em via pública a própria sorte e exposta a todo o tipo de intolerância. Aproveito a oportunidade para avisar aqueles que ainda insistem em abandonar animais domésticos nas imediações da Casa Branca: estamos monitorando e documentando as ações de abandono de animais aqui na região. Mais do que isto: sempre que conseguirmos documentar o fato, estaremos apresentando denúncia-crime para as autoridades policiais da cidade que já receberam um relatório prévio deste tipo de evento que é muito freqüente nesta época do ano aqui na Santa Isabel. Estamos alertas e vigilantes na defesa dos inocentes.
E o trem? O trem está passando. Sou filho único, ... Não posso ficar, nem mais um minuto com você, sinto amor, mas não pode ser, sou filho único, se eu perder este trem que sai agora, as onze horas, só a manhã de manhã. Como não cantar. O período é de festas de final de ano e tenho uma amiga que é filha única. Dedico esta música para ela. Dois mil e treze está passando, assim como o trem das onze. Encerro este com uma nota de agradecimento para todos os nossos leitores que mandaram mensagens, realizaram ligações telefônicas e até pessoalmente desejaram felicitações diversas para nós, para o blog, para a nossa família, enfim enviaram mensagens de Paz e Prosperidade. Muito obrigado a todos. Um Feliz Ano Novo para vocês e que estejamos ainda mais unidos no próximo período, a fim de continuar trabalhando na defesa dos bons, dos mansos, dos humildes e dos inocentes.
Namaste.





Maeterlinck*
Nota Introdutória
Título Original: “O Tesoiro dos Humildes” (Lisboa, 1920)
            A nota introdutória faz-se necessário para preparar o nosso leitor sobre o que vai encontrar nas páginas que seguem. O próprio tradutor, Candido de Figueiredo, em obra “erma” a esta -  A Inteligência das Flores (Lisboa, 1916)
– utiliza este recurso no início da obra referida. Nas primeiras linhas você lê: Nota prévia. Mas, a intenção aqui é transcrever um trecho de “O Tesouro dos Humildes”; A inteligência das flores fica para um outro momento.
            Adendo nesta nota o fato lamentável de não termos uma biblioteca na nossa comunidade. A grande maioria das cidades pequenas (além da médias), pela Europa a fora, possuem pelo menos uma biblioteca. As vezes comunitária, ou lendária (em termos de tradição do lugar), muito pequena, com instalações discretas, mas há. Aqui não. E como nós estamos em dezembro, gostaria de registrar que eu tentei. A mais ou menos uns quatros anos atrás, preparei um material de divulgação e distribui entre algumas pessoas mais próximas. O objetivo era reunir doações de livros, revistas, CDs, DVDs, etc. para agregar ao acervo que já temos, com fins de iniciar o trabalho de uma biblioteca comunitária. Sabe qual foi o retorno? Praticamente zero. Não consegui sensibilizar os meus semelhantes quanto a necessidade de fundação de um equipamento urbano deste tipo entre nós. Não raramente, ao percorrer as ruas do condado, a pé ou de bicicleta, encontro nas lixeiras livros, revistas, etc.
            Deste breve relato, duas conclusões importantes. Em primeiro lugar, as pessoas deste lugar, de um modo geral, levam para a lixeira, junto ao lixo comum, material reciclável. Entre o material reciclável, há livros e outras obras análogas que poderiam estar abastecendo o acervo de uma biblioteca pública e/ou comunitária. Não há a sensibilidade necessária dos meus co-cidadãos para as demandas da área da cultura e educação. A cultura local é: o poder público que faça. E, aí, entro no segundo ponto: não é responsabilidade apenas do poder público o fato de não termos uma biblioteca. Mas, especialmente do poder público que já poderia ter atendido esta demanda da Cidade de Santa Isabel. Para concluir o ponto, é importante frisar que nós tínhamos uma biblioteca local. Ela chamava-se “Biblioteca Pública Municipal Mário Quintana” e funcionava junto ao terminal da Avenida do Trabalhador (atualmente espaço da Praça Santa Isabel). O Poder Público Local, na época sob a administração de Senhor Alex Sander Alves Boscaini, decidiu extinguir o referido terminal e transferir o acervo da biblioteca para o interior da Escola Municipal Alberto Pasqualini. A decisão tornou a única biblioteca pública em mais uma biblioteca escolar e a comunidade sem a possibilidade de acessar o equipamento como ocorria outrora.  Páginas tristes na história de uma comunidade com sede de cultura, lazer e sociabilidades educativas.
            Vejam os senhores, eu estou um pouco lá e um pouco aqui. Explico: a transcrição provoca uma série de reflexões de cunho prático e também sobre o conteúdo do texto trabalhado. Neste momento, me atenho apenas as primeiras causas declaradas. A distância temporal que nos separa da confecção desta obra é de, aproximadamente, um século. Como (e talvez por que) chegamos aqui neste encontro hoje? Este que vos tecla vive em uma cidade que não existe biblioteca, mas viaja diariamente até a academia para realizar um “Curso de Letras”. Neste centro de saber topa com esta preciosidade (A falar. Falar e silenciar). Vivo na América (extremo sul do Brasil). O autor viveu na Europa, centro do vertedouro científico e literário de boa parte de toda a sociedade contemporânea. E este encontro agora? Justo agora no momento em que os jovens (meus semelhantes) nem sequer lêem como liam os seus progenitores. Tão apegados aos novos suportes da informação que consomem a essência das obras literárias, vivem de restos de uma cultura que, de tão decadente, espezinhada e ofendida, por certo, em breve se extinguirá como vapor a plasmar nuvens de um presente que virou passado.    
            A verdade é que esta transcrição não absolve ninguém da “pena” de Maurício Maeterlinck. Temos (todos) o dever de conhecer esta obra, até para não cair na infâmia traduzida pela célebre frase: Eu não sabia de nada. Como assim? Simplesmente se esquivar de verdades tão sublimes já apresentadas magnificamente por Maeterlinck a mais de um século. Ficou o registro da labuta intelectual deste mestre das letras e também ficou a herança literária super qualificada para os meus contemporâneos. Se agora preferem “drogas diversas” que nem sabem a procedência, o que fazer? Eu vou continuar fiel a minha linhagem de ancestrais que optaram por acreditar e trabalhar na defesa dos bons, dos mansos, dos honestos e dos humildes.


ASPECTOS DA OBRA

            A folha de rosto do livro diz que esta é uma tradução da 40ª. Edição originária da França feita por Candido de Figueiredo. A procedência do livro é Lisboa/Portugal, datado de 1920. Deu entrada na biblioteca da PUC/RS em 1951 e traz um carimbo da Faculdade Livre de Educação, Ciências e Letras de Porto Alegre. Um detalhe importante a se destacar aqui é que transcrevo conforme o original. É necessário ratificar: o texto original é Frances, traduzido para a língua portuguesa de Portugal. Portanto há diferenças tanto na semântica como na grafia se comparado com a nossa língua oficial (português – Brasil). Pode ocorrer ainda que o software (editor de texto) tenha puxado alguma grafia para o português Brasil, pois é difícil de controlar as configurações automáticas do programa. Há que se considerar também esta possibilidade. Eu lamento (profundamente) pela falta de sensibilidade dos profissionais da biblioteconomia que gostam de colar selos e mais selos em obras raras como esta que estou trabalhando. O que me parece é que eles seguem um protocolo rígido de normas superiores que impõe este tipo de agressão funesta às obras literárias. Este tipo de compendio nem devia estar disponível para empréstimos focados no público em geral de acadêmicos mais preocupados com as somas das médias aritméticas ao final dos períodos letivos, do que com a formação profissional e intelectual, propriamente dita. Voltando aos selos. Colam e sobrecolam, com objetivos, no mínimo, discutíveis e parciais, selos, tarjas, etiquetas, papeletas de suporte para carimbos e arestos diversos. Eu falei lá atrás em “pena” e se você abre o “A Inteligência das Flores” é justamente o que você vai encontrar: uma palavra escrita com equipamento que já foi tombado para peça de museu histórico. Há muita diferença entre aquele tempo e hoje. Há uma distância muito grande de realidades vividas lá e aqui. O que continua é a estupidez humana de não reconhecer preciosidades que não estejam marcadas com cifrões.  

Indice

I-             O Silêncio .......................................05
II-            O Despertar da Alma .......................25
III-           Predestinados ..................................43
IV-          A Moral Mística ................................ 57
V-           Acerca das Mulheres ........................ 71
VI-          A Obra de Ruysbroeck ...................... 91
VII-        Emerson ........................................... 121
VIII-       Novalis .............................................. 145
IX-          A Tragédia Quotidiana ....................... 167
X-           A Estrela .......................................... 191
XI-          A Bondade Invisível ........................... 215
XII-        A Vida Profunda ................................. 235
XIII-       A Beleza Interior .................................. 263




I - O Silêncio


Silêncio e discrição! - Exclama Carlyle - Deveriam erguer-se-lhes altares de adoração universal (se em nossos tempos inda se erguessem altares).
É no silêncio que se formam as grandes coisas, para que elas surjam, em fim, perfeitas e majestosas, a luz da vida que vão dominar.
Não unicamente Guilherme, o Taciturno, mas todos os homens eminentes, e destes até os menos diplomáticos e menos estratégicos, se abstiveram sempre de alardear o que projetavam e o que produziam. E tu mesmo, nas tuas pequeninas perplexidades, vê se podes prender a tua língua durante um dia; no dia imediato, como serão mais claros os teus projetos e os teus deveres! Quantos destroços e quanto lixo não terão varrido em ti mesmo aqueles mudos operários, enquanto lá não penetravam os inúteis ruídos de fora.
A palavra é muitíssimas vezes, não, como dizia o outro, a arte de esconder o pensamento, mas a arte de abafar e suspender o pensamento, por forma que dele nada fique para se ocultar. A palavra é grande, não há dúvida, mas não é o que há de maior. Conforme a inscrição suíça, Sprechen ist Silbern, Schweigen ist Golden, a palavra é de prata e o silencio é de ouro, ou como melhor se diria, a palavra é tempo, o silencio é a eternidade.
- “As abelhas só trabalham as escuras, o pensamento só trabalha em silêncio e a virtude em segredo ...” –
Não se suponha que a palavra nunca serve para as verdadeiras comunicações entre os seres. Os lábios ou a língua podem representar a alma, da mesma forma que um algarismo, ou um número de ordem, representa uma pintura de Memlinck, por exemplo; mas, desde que nós temos realmente de dizer algumas coisas a nós próprios, somos obrigados a calar-nos; e se, em tais momentos, resistimos as ordens invisíveis e imperiosas do silêncio, sofremos uma perda eterna, que não poderá ser reparada pelos maiores tesoiros do saber humano, porque termos perdido a ocasião de escutar outra alma e de dar a nossa um instante de existência; e muitas vidas há, em que tais ocasiões se não apresentam duas vezes...
Nós não falamos, senão nas horas em que não vivemos, nos momentos em que não queremos observar nossos irmãos e em que nos sentimos a grande distância da realidade. E, desde que falamos, qualquer coisa nos insinua que nalguma parte se cerram divinas portas. Nunca nos demasiamos no silêncio, e os mais imprudentes de entre nós não se calam ao primeiro que apareça.
 O instincto, que todos nós possuímos, das verdades sobreümanas, indica-nos que é perigoso calar-se a gente com alguém que se não deseja conhecer ou que se não estima; pois que, entre os homens, as palavras passam, e o silêncio , se por um momento teve ensejo de ser activo, nunca se desvanece; e a verdadeira vida, a única de que ficam alguns vestígios, é feita apenas de silêncio. Recorrei agora a vossa memória, num silêncio, que por si mesmo se explica; e, se já vos foi dado descer por um instante, na vossa alma, até as profundezas habitadas por anjos, aquilo de que, numa criatura profundamente amada, primeiro vos lembrais, não são as palavras que ela vos disse, ou os gestos que ela voz fez, mas os silêncios que com ela vivestes, pois somente a qualidade desses silêncios é que revelou a qualidade do vosso amor e das vossas almas.
Não me refiro aqui senão ao silêncio activo, pois há silêncio passivo, que é apenas o reflexo do sono, da morte ou da não existência. É o silêncio que dorme, e, em-quanto dorme, é menos para recear do que a palavra; mas pode despertá-lo uma circustância inesperada, e, nesse caso, é o seu irmão, o grande silencio activo, que entroniza. Tomai cuidado. São duas almas que se aproximam; cedem as paredes, rompem-se diques, e a vida ordinária vai dar campo a uma vida, em que tudo se torna grave, em que não há defesa, em que mais nada ousa rir, em que mais nada obedece, em que mais nada se olvida ...
 (...)
Continua página 10

*Maurice Polydore Marie Bernard Maeterlinck (Gante, 29 de agosto de 1862  Nice, 5 de maio de 1949) foi um dramaturgo, poeta ensaísta belga de língua francesa, e principal expoente do teatro simbolista.




domingo, 29 de dezembro de 2013

MEDO

Antropologia prova




UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
Disciplina: Antropologia IV
Semestre: 1998/I













-    PROVA  2   -











Alunos:
ADRIANA CRISTINA BASSI
Matrícula: 0022/92.3
 JAQUES XAVIER JACOMINI
Matrícula: 1409/92.7




PROVA  2
As obras de Gilberto Freyre analisadas na Disciplina Antropologia IV, em especial Casa Grande e Senzala, trouxeram um importante enriquecimento do nosso conhecimento em antropologia, bem como ampliaram a nossa perspectiva de análise sobre a formação da cultura brasileira.
Nas três obras propostas para leitura (Casa Grande e Senzala; Sobrados e Mucambos e Ordem e Progresso), percebemos que, de um modo geral existe uma temática que permeia (ou amarra) ambas as obras citadas: a sociedade patriarcal brasileira. Ou seja, Freyre enfatiza ( o tempo todo) o aspecto do patrimonialismo, com todos os seus desdobramentos, na sociedade brasileira desde o seu início até meados do século XX. Dito de outra forma, poderíamos falar que a “estrutura patriarcal”, enquanto um modelo de relações sociais, marca a cultura brasileira como um todo. Portanto, segundo Gilberto Freyre, existe uma estrutura patriarcal que marca a cultura brasileira que tem muitas diferenças, mas o que amarra as diferenças é o modelo das relações sociais que se implanta em todo o Brasil e dessa maneira está garantida a unidade. Este modelo de relações sociais (família patriarcal) tem características peculiares: rígida hierarquia, família extensa, ...
De certa forma, poderíamos afirmar que G. Freyre tentou “compreender a sociedade brasileira no seu sentido existencial”, dado a sua perspectiva transdisciplinar.
Para esta prova, nos deteremos mais enfaticamente sobre “Casa Grande e Senzala”, pois foi a obra que mais trabalhos durante as aulas expositivas e leituras individuais. Portanto, é com base nesta obra que tecemos as seguintes considerações:
O Brasil, como todos os países da América, é um pais novo, em fase de construção. Emergiu a pouco tempo, se formando a partir do século XVI, XVII, XVIII, XIX. Assim sendo, alguns autores (pesquisadores, intelectuais, etc.) tiveram a preocupação de desenvolver o tema da identidade social brasileira, muitas vezes, comparando-a com outras identidades nacionais e outras culturas. Freyre, desenvolve, com maestria e de uma forma muito peculiar, este intento. Ele afirma que aqui tudo era desequilíbrio, grandes excessos frente a grandes deficiências. Dificilmente existia um meio termo nas coisas encontradas no Brasil. Por exemplo: se por um lado, encontrávamos excesso de fertilidade em algumas regiões (ou áreas) brasileiras, por outro lado, encontrávamos imensa pobreza e dificuldades em outras regiões (e / ou área) brasileiras. Poderíamos assim falar de uma “terra dos contrastes”.
Gilberto F. fala de um clima colonial marcado pelo negativismo, afirmando que os portugueses foram superiores aos espanhóis e holandeses. Neste sentido, se comparado a outros autores, ele faz uma inversão valorativa, quando destaca a importância e as qualidades dos portugueses no processo de colonização do Brasil. Algo semelhante acontece quando Freyre se refere ao negro, pois este autor “confere um estatuto de dignidade que nenhum outro escritor havia concedido até então”. Ele considerava os negros como fundadores desta obra criadora e original que foi o Brasil.
Com base na leitura de “Gilberto Freyre na Universidade de Brasília: Conferências e Comentários de um Simpósio Internacional realizado de 13 a 17 de outubro de 1980. ...”, destacaríamos que “uma coisa chama a atenção em todos os livros de Gilberto Freyre, desde  Casa Grande e Senzala até Dona Sinhá e o Filho Padre: a vontade persistente e por toda parte afirmada de encontrar uma linguagem que torne comunicável o não dito da vida coletiva – as permutas, as relações existenciais entre os grupos, as classes, as etnias, as famílias, os indivíduos, domínio do que deveria ser uma psicologia social que se desligaria das enumerações quantitativas para investir a trama viva que os homens estabelecem entre eles e cuja linguagem comum só traduz imperfeitamente a diversidade ou a riqueza (...)”.
Segundo alguns observadores, a característica fundamental de sua obra, é a sua fidelidade ao pensar sociológico e antropológico: “É sua pertinácia em pensar o homem, a sociedade e a cultura, a partir do homem, da sociedade e da cultura, a partir do nosso homem e da nossa realidade social e cultural.”
De um modo geral, a mentalidade com que Gilberto Freyre partiu para a longa elaboração da estupenda trilogia que se estende de Casa Grande & Senzala  até Ordem e Progresso caberia numa etiqueta: Gilberto Freyre era o mais completo anti-Rui Barbosa. Ou seja, Ciência social e literatura moderna contra o judicismo parnasiano. Região e Tradição contra o abstracionismo histórico e social do nosso progressismo republicano.

Além das questões teóricas aqui elencadas (e as não elencadas), gostaríamos de destacar que as “elucubrações” de cunho mais epistemológico e filosóficos levantadas e propostas pelo professor em sala de aula enriqueceram  sobremaneira o nosso aprendizado. As discussões sobre o teor e a relevância das construções (literárias X acadêmicas, técnicas X tecnicista, etc.), sobre a “realidade” ( “A realidade em si não existe”.) ultrapassaram as obras analisadas e nos possibilitaram ótimos momentos de reflexão e análise no campo das ciências sociais e / ou antropológicas.  

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

UFRGS

Reconhecimento (Tíbio) do PPGAS/UFRGS


Nome: Jacques Jacomini
Vínculo: Colaborador
Grupo de Trabalho: Núcleo de Pesquisas sobre Culturas Contemporâneas/NUPECS
Status: Finalizado
Projeto: Estudo antropológico sobre itinerários urbanos, memória coletiva e sociabilidades no mundo contemporaneo
Ano de Entrada: 2000
Ano de Saída: 2001
Currículo Lattes: abrir
Nome: Jacques Jacomini
Vínculo: Bolsista Iniciação Científica/CNPq
Grupo de Trabalho: GT Fotografia e Coleções Etnográficas (GRUFOCO)
Status: Finalizado
Projeto: Estudo antropológico sobre itinerários urbanos, memória coletiva e sociabilidades no mundo contemporaneo
Ano de Entrada: 1998
Ano de Saída: 2000
Currículo Lattes: abrir

Fonte da informação:

domingo, 22 de dezembro de 2013

Método e técnica de pesquisa







UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL
Disciplina: Método e técnica de pesquisa

Semestre 99/II















- Exercício  de  Aula  -














Aluno: JACQUES  JACOMINI

 

 








A Travessia da Avenida Mauá


A travessia da Av. Mauá (Vindo da Praça da Alfândega em direção ao Cais do Porto) é, sem nenhuma dúvida, “uma manobra bastante arriscada”. Neste local o trânsito de veículos é muito grande e a velocidade média dos automóveis, caminhões e coletivos também é alta em função da avenida ser extensa (uma grande reta),  larga (com 3 faixas de rolagem) e não existir nenhum dispositivo inibidor da velocidade no local (com exceção do semáforo). Existe uma faixa de segurança e uma semáforo quase em frente a entrada principal do Caís do Porto, o que, teoricamente, facilitaria a travessia dos pedestres, no entanto, nem sempre é bem assim.
Os motoristas costumam aproveitar ao máximo o tempo destinado para a sua travessia, transitando no momento em que o sinal fica no amarelo e até nos primeiros instantes em que o sinal aponta a cor vermelha, ou seja, os condutores de veículos automotores não respeitam o sinal que propõe a sua parada e permite a passagem para o pedestre.  Portanto, o fato de o sinal estar apontando a travessia para o pedestre (vermelho para os motoristas) não representa uma situação de travessia segura para este.
 Uma outra situação que representa bastante risco para o transeunte que decide atravessar a Avenida é aquela em que o sinal muda quando o pedestre encontra-se no meio ou quase no final da travessia da Avenida. Neste caso, a pessoa precisa correr ou pular a fim de que não sege apanhada por um veículo, pois observei que os motoristas decidem aproveitar ao máximo todos os segundos destinados a sua travessia, não abrindo mão assim dos primeiros instantes da exposição do sinal verde, mesmo que o pedestre ainda se encontre no meio da sua travessia.
Em resumo, atravessar uma avenida no centro da cidade, como a Avenida Mauá, não é uma tarefa muito fácil e nem muito tranqüila, pois exige do pedestre bastante atenção e perspicácia para perceber o momento exato que a travessia pode ser realizada sem nenhum risco para a sua segurança pessoal. Esta situação pode ser bem mais problemática para os idosos, crianças, gestantes e deficientes físicos por razoes óbvias.




O . B . S .:  Este texto acima exposto é parte de uma descrição maior que realizei e se refere aos aspectos que observei e experimentei nas primeiras atividades de campo no Cais do Porto. A pesquisa denominada “Estudo Antropológico de um Espaço Urbano Singular: Cais do Porto de Porto Alegre (ou da cidade que tem porto até no nome)” foi apresentada no X Salão de Iniciação Científica da UFRGS e pode ser resumida da seguinte forma:
O Cais do Porto de Porto Alegre já foi a principal porta de entrada para a cidade. Viveu momentos de intensa atividade comercial, fluvial e social. Atualmente o cenário, a dinâmica social e a organização espacial naquele local demonstram que o Cais vive um outro período da sua história. Várias transformações ali ocorreram e outras tantas virão a ocorrer, diante de algumas propostas de reestruturação e reorganização arquitetônicas, urbanísticas e comerciais do atual Cais do Porto de Porto Alegre. Neste estudo, abordamos o  Cais do Porto na perspectiva do estudo de memória e itinerários dos grupos urbanos em Porto Alegre,  através  do método etnográfico, incorporando as técnicas de observação direta e participante e pesquisa direta e não participante, complementadas com a realização de entrevistas e com a produção de imagens fotográficas e  iconográficas. O principal objetivo é a análise e a compreensão da dinâmica social e da organização físico-espacial deste espaço urbano, diante das suas inúmeras mudanças e reestruturações que ali ocorreram, bem como das que brevemente virão a ocorrer. Neste sentido, aponta-se para o fato de que o reordenamento e as remodelações propostos para o Cais do Porto da Cidade de  Porto Alegre são produtos de um processo de mudanças históricas, econômicas e sociais que extrapolam as fronteiras citadinas locais, estando inseridas no corpo de uma cosmovisão globalizada e globalizante (complexa e moderna) que vem determinando a organização e reorganização dos grandes espaços urbanos contemporâneos.
Atualmente o meu objetivo é realizar algumas reestruturações nesta proposta de pesquisa aqui citada, retomando avanços teóricos e metodológicos conquistados no último período de atividade acadêmica, a fim de desenvolver as atividades de investigação científica solicitada pelo PPGAS / IFCH / UFRGS.


Tânia SALEM







UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL
Disciplina: INDIVIDUALISMO, SOCIABILIDADE E MEMÓRIA
Professora: CORNELIA ECKERT

Semestre 99/1













EXERCÍCIO  DE  AVALIAÇÃO  1
SALEM, Tânia. "A "despossessäo subjetiva": dos paradoxos do individualismo. In: Revista Brasileira Ciências Sociais n° 18, ano 7, fev. 1992.



















Aluno: JAQUES XAVIER JACOMINI



Introdução


A proposta de Tânia Salem no artigo A “Despossessão Subjetiva”: dos paradoxos, do individualismo é bastante interessante e adequada para realizarmos uma espécie de fechamento das discussões que realizamos até agora na disciplina “Individualismo, Sociabilidade e Memória”. Assim entendemos esta atividade de avaliação e assim nos empenhamos na feitura deste pequeno ensaio.
Para a construção deste ensaio, seguimos a seguinte orientação estrutural: Em um primeiro momento – Despossessão Subjetiva ? – trazemos questões mais gerais tomadas do artigo de Salem, como os seus objetivos e princípios norteadores, inspirações e influências teóricas. Neste ponto destacamos ainda a divisão dos blocos (ou momentos) que compõe o trabalho da autora.
Em um segundo momento - Retomando autores e suas concepções – tentamos trazer para este ensaio  considerações sobre alguns dos autores trabalhados por Salem. Dentre eles, elegemos Simmel para uma retomada mais pausada. Sobre este último, realizamos inicialmente um apanhado mais geral sobre a sua teoria e, posteriormente, uma explanação mais específica sobre as suas concepções de indivíduo.  














1. Despossessão Subjetiva ?

Como a própria autora coloca, o objetivo deste trabalho é “repensar o modo como cientistas sociais vêm tematizando a categoria moderna de Pessoa, consubstanciada na noção de indivíduo e, em especial, na de indivíduo psicológico”. Este esforço analítico de Tânia Salem tem nome: “A Despossessão subjetiva”. A premissa básica é a de que há uma instância no interior do próprio sujeito que o constrange às expensas de sua vontade e consciência.
A abordagem desenvolvida pela autora visa “depreender descontinuidades significativas na representação do sujeito psicológico, relativamente à de seu predecessor – o indivíduo jurídico”. Salem destaca ainda que o indivíduo psicológico só adquire sentido e inteligibilidade em um universo individualista.
O Artigo, desenvolvido em dois blocos (além da apresentação): “Do ‘Individualismo possessivo’ ao sujeito psicológico: inflexões e descontinuidades” e “Das articulações entre a ‘despossessão subjetiva’ e a configuração individualista”, chama para o debate diversos pensadores que trabalhamos em sala de aula dentre os quais Dumont e Simmel  aparecem em relevo. Dentre aqueles que não abordamos e que a autora utiliza na sua análise, destacaria a presença de Foucault que “ainda que não se referindo explicitamente à destituição do sujeito sobre si mesmo, a tangência, e a elucida parcialmente, ao invocar as conseqüências derivadas do fato de saber / poder formarem a partir do século XIX um todo indissociável.”
Ao citar Gauchet & Swain – A História da individualização é, de outro lado e necessariamente, a história de uma despossessão ou de uma destituição subjetiva – fica claro para nós a fonte (ou uma das fontes) de inspiração que Salem toma para articular a construção deste texto, bem como o porque de defini-lo “A Despossessão Subjetiva”.

 

 




 

 Retomando Autores e suas Concepções


Salem destaca que os primórdios da investigação sobre este tema estão calcados na obra de Mauss, porém é Dumont que “é o autor contemporâneo que mais extensa e sistematicamente se empenhou na relativização e na crítica contumaz da moderna categoria de indivíduo”.
Tendo como tese central a oposição entre individualismo e holismo, a contribuição de Dumont, segundo a autora, revelou-se insuficiente para a apreensão da categoria moderna de indivíduo. Diante desta situação, a recorrência as teses de Simmel, Lasch, Sennett, Ariès, Foucault, entre outros é a alternativa capaz de “suprir o ‘elo falante’ relativamente ao eixo analítico dumontiano.” Diante dos pensadores “alternativos” que colaboram para a “despossessão subjetiva”, destacados por Tânia Salem, elegemos Simmel para realizarmos um aprofundamento maior sobre as suas concepções.
Para Simmel, a sociedade existe onde vários indivíduos entram em interação. Esta ação reciproca se produz sempre por determinados instintos ou para determinados fins. Instintos eróticos, religiosos ou simplesmente sociais, fins de defesa ou ataque, de jogo ou ganho, de ajuda ou instrução,  estes e infinitos outros fazem com que o homem se encontre num estado de convivência com outros homens, com ações a favor deles, em conjunto com eles, contra eles, em correlação de circunstâncias com eles. Essas interações significam que os indivíduos, nos quais se encontram aqueles instintos e fins, fora por eles levados a unir-se, convertendo-se numa unidade, numa "sociedade". Pois unidade em sentido empírico nada mais é do que interação de elementos. O mundo não poderia ser chamado de uno, se cada parte não influísse de algum modo sobre as demais, ou se em algum ponto se interrompesse a reciprocidade das influências.
A unidade ou sociaçäo pode ter diversos graus, segundo a espécie e a intimidade que tenha a interação - desde a união efêmera para dar um passeio até a família - desde as relações por prazo indeterminado até a pertinência a um mesmo Estado - desde a convivência fugitiva num hotel até a união estreita de uma corporação medieval. Simmel designa como conteúdo ou matéria da sociaçäo tudo quanto exista nos indivíduos (portadores concretos e imediatos de toda a realidade histórica) - como instinto, interesse, fim, inclinação, estado ou movimento psíquico -, tudo enfim capaz de originar ação sobre outros ou a recepção de suas influências.
Dito de outra forma, podemos considerar conteúdos (materiais) versus formas de vida social onde:
1°) uma delas é que em qualquer sociedade humana pode-se fazer uma distinção entre seu conteúdo e sua forma.
2°) é que a própria sociedade em geral se refere à interação entre indivíduos. Essa interação sempre surge com base em certos impulsos ou em função de certos propósitos. Os instintos eróticos, os interesses objetivos, os impulsos religiosos e propósitos de defesa ou ataque, de ganho ou jogo, de auxilio ou instrução, e incontáveis outros, fazem com que o homem viva com outros homens, aja por eles, com eles, contra eles, organizando desse modo, reciprocamente, as suas condições - em resumo, para influenciar os outros e para ser influenciado por eles.  A importância dessas interações esta no fato de obrigar os indivíduos, que possuem aqueles instintos, interesses, etc.; a formarem uma unidade - precisamente, uma "sociedade".
A sociaçäo só começa a existir quando a coexistência isolada dos indivíduos adota formas determinadas de cooperação e de colaboração, que caem sob o conceito geral da interação. A sociaçäo é, assim, a forma realizada de diversas maneiras, na qual os indivíduos constituem uma unidade dentro da qual se realizam seus interesses. E é na base desses interesses - tangíveis ou ideais, momentâneos ou duradouros, conscientes ou inconscientes, impulsionados casualmente ou induzidos teleologicamente - que os indivíduos constituem tais unidades.
Em qualquer fenômeno social dado, conteúdo e forma sociais constituem uma realidade unitária. Uma forma social desligada de todo conteúdo não pode ter existência, do mesmo modo que a forma espacial não pode existir sem uma matéria da qual seja forma. Tais são justamente os elementos, inseparáveis na realidade, de cada ser e acontecer sociais: um interesse, um fim, um motivo e uma forma ou maneira de interação entre os indivíduos, pelo qual ou em cuja figura aquele conteúdo alcança realidade social. Portanto, temos nem só objetividade, nem só subjetividade. Somente quando a vida desses conteúdos adquire a forma da influência reciproca, só quando se produz a ação de uns sobre os outros - imediatamente ou por intermédio de um terceiro - é que a nova coexistência social, ou também a sucessão no tempo, dos homens, se converte numa sociedade.
Para clarear um pouco mais a tese  geral de Simmel, destacamos a seguinte citação:
“Por sociedade não entendo apenas o conjunto complexo dos indivíduos e dos grupos unidos numa mesma comunidade política. Vejo uma sociedade em toda parte onde os homens se encontram em reciprocidade de ação e constituem uma unidade permanente ou passageira.  Logo, em cada uma dessas uniões produz-se um fenômeno que caracteriza, da mesma forma, a vida individual; a cada instante, forças perturbadoras, externas ou não, opõem-se ao agrupamento, e este, se for deixado a agir por sua própria conta, não tardarão elas a dissolvê-lo, isto é, a transferir seus elementos para agrupamentos estranhos. ... Nessa circunstância, temos a sociedade como uma unidade sui generis, distinta de seus elementos individuais”.
No que tange a questão específica da concepção de indivíduo em Simmel, podemos afirmar que “indivíduo em Simmel afirma-se como um ser proprietário de si, tanto perante a sociedade quanto de um ponto de vista subjetivo”.
O indivíduo psicológico em Simmel fala de um sujeito fundado em uma autonomia subjetiva radical capaz de erigir em torno de si um abrigo intimo que o protege dos "outros".
Sobre a concepção de  indivíduo moderno, temos Simmel em uma posição diferenciada de Dumont e Pacpherson, pois estes apresentaram uma preocupação sobre o plano formal ou externo do indivíduo (indivíduo jurídico), enquanto que Simmel debruçou-se de forma explícita sobre o domínio mais propriamente interno do indivíduo (indivíduo psicológico).