domingo, 29 de dezembro de 2013

Antropologia prova




UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
Disciplina: Antropologia IV
Semestre: 1998/I













-    PROVA  2   -











Alunos:
ADRIANA CRISTINA BASSI
Matrícula: 0022/92.3
 JAQUES XAVIER JACOMINI
Matrícula: 1409/92.7




PROVA  2
As obras de Gilberto Freyre analisadas na Disciplina Antropologia IV, em especial Casa Grande e Senzala, trouxeram um importante enriquecimento do nosso conhecimento em antropologia, bem como ampliaram a nossa perspectiva de análise sobre a formação da cultura brasileira.
Nas três obras propostas para leitura (Casa Grande e Senzala; Sobrados e Mucambos e Ordem e Progresso), percebemos que, de um modo geral existe uma temática que permeia (ou amarra) ambas as obras citadas: a sociedade patriarcal brasileira. Ou seja, Freyre enfatiza ( o tempo todo) o aspecto do patrimonialismo, com todos os seus desdobramentos, na sociedade brasileira desde o seu início até meados do século XX. Dito de outra forma, poderíamos falar que a “estrutura patriarcal”, enquanto um modelo de relações sociais, marca a cultura brasileira como um todo. Portanto, segundo Gilberto Freyre, existe uma estrutura patriarcal que marca a cultura brasileira que tem muitas diferenças, mas o que amarra as diferenças é o modelo das relações sociais que se implanta em todo o Brasil e dessa maneira está garantida a unidade. Este modelo de relações sociais (família patriarcal) tem características peculiares: rígida hierarquia, família extensa, ...
De certa forma, poderíamos afirmar que G. Freyre tentou “compreender a sociedade brasileira no seu sentido existencial”, dado a sua perspectiva transdisciplinar.
Para esta prova, nos deteremos mais enfaticamente sobre “Casa Grande e Senzala”, pois foi a obra que mais trabalhos durante as aulas expositivas e leituras individuais. Portanto, é com base nesta obra que tecemos as seguintes considerações:
O Brasil, como todos os países da América, é um pais novo, em fase de construção. Emergiu a pouco tempo, se formando a partir do século XVI, XVII, XVIII, XIX. Assim sendo, alguns autores (pesquisadores, intelectuais, etc.) tiveram a preocupação de desenvolver o tema da identidade social brasileira, muitas vezes, comparando-a com outras identidades nacionais e outras culturas. Freyre, desenvolve, com maestria e de uma forma muito peculiar, este intento. Ele afirma que aqui tudo era desequilíbrio, grandes excessos frente a grandes deficiências. Dificilmente existia um meio termo nas coisas encontradas no Brasil. Por exemplo: se por um lado, encontrávamos excesso de fertilidade em algumas regiões (ou áreas) brasileiras, por outro lado, encontrávamos imensa pobreza e dificuldades em outras regiões (e / ou área) brasileiras. Poderíamos assim falar de uma “terra dos contrastes”.
Gilberto F. fala de um clima colonial marcado pelo negativismo, afirmando que os portugueses foram superiores aos espanhóis e holandeses. Neste sentido, se comparado a outros autores, ele faz uma inversão valorativa, quando destaca a importância e as qualidades dos portugueses no processo de colonização do Brasil. Algo semelhante acontece quando Freyre se refere ao negro, pois este autor “confere um estatuto de dignidade que nenhum outro escritor havia concedido até então”. Ele considerava os negros como fundadores desta obra criadora e original que foi o Brasil.
Com base na leitura de “Gilberto Freyre na Universidade de Brasília: Conferências e Comentários de um Simpósio Internacional realizado de 13 a 17 de outubro de 1980. ...”, destacaríamos que “uma coisa chama a atenção em todos os livros de Gilberto Freyre, desde  Casa Grande e Senzala até Dona Sinhá e o Filho Padre: a vontade persistente e por toda parte afirmada de encontrar uma linguagem que torne comunicável o não dito da vida coletiva – as permutas, as relações existenciais entre os grupos, as classes, as etnias, as famílias, os indivíduos, domínio do que deveria ser uma psicologia social que se desligaria das enumerações quantitativas para investir a trama viva que os homens estabelecem entre eles e cuja linguagem comum só traduz imperfeitamente a diversidade ou a riqueza (...)”.
Segundo alguns observadores, a característica fundamental de sua obra, é a sua fidelidade ao pensar sociológico e antropológico: “É sua pertinácia em pensar o homem, a sociedade e a cultura, a partir do homem, da sociedade e da cultura, a partir do nosso homem e da nossa realidade social e cultural.”
De um modo geral, a mentalidade com que Gilberto Freyre partiu para a longa elaboração da estupenda trilogia que se estende de Casa Grande & Senzala  até Ordem e Progresso caberia numa etiqueta: Gilberto Freyre era o mais completo anti-Rui Barbosa. Ou seja, Ciência social e literatura moderna contra o judicismo parnasiano. Região e Tradição contra o abstracionismo histórico e social do nosso progressismo republicano.

Além das questões teóricas aqui elencadas (e as não elencadas), gostaríamos de destacar que as “elucubrações” de cunho mais epistemológico e filosóficos levantadas e propostas pelo professor em sala de aula enriqueceram  sobremaneira o nosso aprendizado. As discussões sobre o teor e a relevância das construções (literárias X acadêmicas, técnicas X tecnicista, etc.), sobre a “realidade” ( “A realidade em si não existe”.) ultrapassaram as obras analisadas e nos possibilitaram ótimos momentos de reflexão e análise no campo das ciências sociais e / ou antropológicas.  

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