UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO
DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO
DE CIÊNCIAS SOCIAIS
Disciplina:
Antropologia IV
Semestre:
1998/I
- PROVA 2 -
Alunos:
ADRIANA
CRISTINA BASSI
Matrícula:
0022/92.3
JAQUES XAVIER JACOMINI
Matrícula:
1409/92.7
PROVA 2
As
obras de Gilberto Freyre analisadas na Disciplina Antropologia IV, em especial
Casa Grande e Senzala, trouxeram um importante enriquecimento do nosso
conhecimento em antropologia, bem como ampliaram a nossa perspectiva de análise
sobre a formação da cultura brasileira.
Nas
três obras propostas para leitura (Casa Grande e Senzala; Sobrados e Mucambos e
Ordem e Progresso), percebemos que, de um modo geral existe uma temática que
permeia (ou amarra) ambas as obras citadas: a sociedade patriarcal brasileira.
Ou seja, Freyre enfatiza ( o tempo todo) o aspecto do patrimonialismo, com
todos os seus desdobramentos, na sociedade brasileira desde o seu início até
meados do século XX. Dito de outra forma, poderíamos falar que a “estrutura
patriarcal”, enquanto um modelo de relações sociais, marca a cultura brasileira
como um todo. Portanto, segundo Gilberto Freyre, existe uma estrutura
patriarcal que marca a cultura brasileira que tem muitas diferenças, mas o que
amarra as diferenças é o modelo das relações sociais que se implanta em todo o
Brasil e dessa maneira está garantida a unidade. Este modelo de relações
sociais (família patriarcal) tem características peculiares: rígida hierarquia,
família extensa, ...
De
certa forma, poderíamos afirmar que G. Freyre tentou “compreender a sociedade
brasileira no seu sentido existencial”, dado a sua perspectiva
transdisciplinar.
Para
esta prova, nos deteremos mais enfaticamente sobre “Casa Grande e Senzala”,
pois foi a obra que mais trabalhos durante as aulas expositivas e leituras
individuais. Portanto, é com base nesta obra que tecemos as seguintes
considerações:
O
Brasil, como todos os países da América, é um pais novo, em fase de construção.
Emergiu a pouco tempo, se formando a partir do século XVI, XVII, XVIII, XIX.
Assim sendo, alguns autores (pesquisadores, intelectuais, etc.) tiveram a
preocupação de desenvolver o tema da identidade social brasileira, muitas
vezes, comparando-a com outras identidades nacionais e outras culturas. Freyre,
desenvolve, com maestria e de uma forma muito peculiar, este intento. Ele
afirma que aqui tudo era desequilíbrio, grandes excessos frente a grandes
deficiências. Dificilmente existia um meio termo nas coisas encontradas no
Brasil. Por exemplo: se por um lado, encontrávamos excesso de fertilidade em
algumas regiões (ou áreas) brasileiras, por outro lado, encontrávamos imensa
pobreza e dificuldades em outras regiões (e / ou área) brasileiras. Poderíamos
assim falar de uma “terra dos contrastes”.
Gilberto
F. fala de um clima colonial marcado pelo negativismo, afirmando que os
portugueses foram superiores aos espanhóis e holandeses. Neste sentido, se
comparado a outros autores, ele faz uma inversão valorativa, quando destaca a
importância e as qualidades dos portugueses no processo de colonização do
Brasil. Algo semelhante acontece quando Freyre se refere ao negro, pois este
autor “confere um estatuto de dignidade que nenhum outro escritor havia
concedido até então”. Ele considerava os negros como fundadores desta obra
criadora e original que foi o Brasil.
Com
base na leitura de “Gilberto Freyre na Universidade de Brasília: Conferências e
Comentários de um Simpósio Internacional realizado de 13 a 17 de outubro de
1980. ...”, destacaríamos que “uma coisa chama a atenção em todos os livros de
Gilberto Freyre, desde Casa Grande e
Senzala até Dona Sinhá e o Filho Padre: a vontade persistente e por toda parte
afirmada de encontrar uma linguagem que torne comunicável o não dito da vida
coletiva – as permutas, as relações existenciais entre os grupos, as classes,
as etnias, as famílias, os indivíduos, domínio do que deveria ser uma
psicologia social que se desligaria das enumerações quantitativas para investir
a trama viva que os homens estabelecem entre eles e cuja linguagem comum só
traduz imperfeitamente a diversidade ou a riqueza (...)”.
Segundo
alguns observadores, a característica fundamental de sua obra, é a sua
fidelidade ao pensar sociológico e antropológico: “É sua pertinácia em pensar o
homem, a sociedade e a cultura, a partir do homem, da sociedade e da cultura, a
partir do nosso homem e da nossa realidade social e cultural.”
De
um modo geral, a mentalidade com que Gilberto Freyre partiu para a longa
elaboração da estupenda trilogia que se estende de Casa Grande &
Senzala até Ordem e Progresso caberia
numa etiqueta: Gilberto Freyre era o mais completo anti-Rui Barbosa. Ou seja,
Ciência social e literatura moderna contra o judicismo parnasiano. Região e
Tradição contra o abstracionismo histórico e social do nosso progressismo
republicano.
Além
das questões teóricas aqui elencadas (e as não elencadas), gostaríamos de
destacar que as “elucubrações” de cunho mais epistemológico e filosóficos
levantadas e propostas pelo professor em sala de aula enriqueceram sobremaneira o nosso aprendizado. As
discussões sobre o teor e a relevância das construções (literárias X
acadêmicas, técnicas X tecnicista, etc.), sobre a “realidade” ( “A realidade em
si não existe”.) ultrapassaram as obras analisadas e nos possibilitaram ótimos
momentos de reflexão e análise no campo das ciências sociais e / ou
antropológicas.
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