quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Os sambaquis - HD

Guarani - Cacique Vherá Po...

https://www.ufrgs.br/cinema-cienciapolitica/

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LAE


Descartes


Jacques


LACVET


Alcance do Tema


EVANS-PRITCHARD, E.E. "Alcance do Tema". In: Antropologia Social. Lisboa, Ed. 70, 1972.

p. 12. - A Antropologia Social tem um vaocabulário técnico muito limitado e vê-se obrigada a recorrer à linguagem comum, que, como todos sabem, näo é muito exata. Os termos SOCIEDADE, CULTURA, COSTUME, RELIGIAO, SANÇAO, ESTRUTURA, FUNÇAO, POLITICO, DEMOCRATICO, nem sempre comportam o mesmo significado, quer para diferentes pessoas, quer em diferentes contextos. Soluçöes?...
ANTROPOLOGIA, DEFINIÇÖES???
p. 12/13 - Em Inglaterra e, ainda que em menor grau, nos Estados Unidos, a expressäo Antropologia Social é utilizada para desginar uma parte de uma matéria mais vasta que é a Antropologia, isto é, o estudo do homem num certo número de aspectos. O seu objeto está ligado às culturas e sociedades humanas.
p. 13. Na Europa continental prevalece a definiçäo "o estudo completo do homem (Antropologia Fisica ou estudo biologico do homem).
INGLATERRA - ANTROPOLOGIA SOCIAL
FRANÇA - Etnologia ou Sociologia
p. 13. Primeira cátedra oficialmente designaçäo de Antropologia Social - Frazer 1908 em Liverpool.
p. 13. Inglaterra: Antropologia Social   Antropologia Fisica
p. 14 Caracteriza o que é Etnologia... estudo preliminar para as comparaçöes que fazm os antropólogos sociais entre sociedades primitivas, porque é altamente conveniente, e até mesmo necessário, principiar o trabalho comparativo com as do mesmo nível cultural ... A Arqueologia Pré-Histórica...
p. 15. O objeto da Antropologia Social é estudar o comportamento social, geralmente em formas institucionalizadas, como a familia, sistemas de parentesco, organizaçäo politica, procedimentos legais, ritos religiosos, e assim por diante, além das relaçöes entre tais instituiçöes, estuda-se em sociedades contemporâneas ou naquelas comunidades históricas sobre as quais existe uma informaçäo adequada para a realizaçäo de tais investigaçöes.
p. 19. A Antropologia Social é o estudo de todas as sociedades humanas e näo só das sociedades primitivas, apesar de na prática e por conveniência se ocupar atualmente em analisar preferentemente as instituiçöes dos povos mais simples. É evidente que näo pode haver uma disciplina independente consagrada inteiramente ao estudo destas sociedades. Quando um antropólogo se dedica à investigar um povo primitivo, o que estuda é a linguagem, a religiäo, as leis, as instituiçöes politicas, a economia politica.... depara-se com os mesmos problemas gerais que o estudioso destas matérias nas grandes civilizaçöes do mundo. ... o antropólogo sempre compara as sociedades.
Entäo, na época, para Evans-Pritchard: A ANTROPOLOGIA SOCIAL, RAMO DOS ESTUDOS SOCIOLOGICOS QUE SE DEDICA PRINCIPALMENTE AS SOCIEDADES PRIMITIVAS enquanto que SOCIOLOGIA - ESTUDO DE DETERMINADOS PROBLEMAS EM SOCIEDADES CIVILIZADAS.
p. 16 "primitivo" - termo técnico
p. 17. Tarefa da Antropologia Social - estudo sociedades primitivas? Por que? Razöes?
p. 17 O estudo sociedades primitivas como estudo das instituiçöes enquanto partes dos sistemas sociais. Sociedades primitivas aparecem como objeto privilegiado pois säo estruturalmente simples e culturalmente homogêneas, podem ser diretamente observadas como um todo, antes de tentar estudar sociedades civilizadas complexas, onde isto näo é possível.
p. 17. Outra razäo, elas estäo a transforma-se rapidamente e, portanto, torna-se necessário investigá-las o mais depressa possível... p. 18. Estes sistemas sociais em vias de desaparecer constituem variantes estruturais únicas, cuja análise nos ajuda consideravelmente a compreender a natureza da sociedade humana, porque, num estudo comparativo de instituiçöes, o número de sociedades com que se trabalha é menos significativos que o seu grau de variaçäo.
p. 18 Outra razäo: valor intrínseco: Estas sociedades säo interessantes em si mesmas, porque nos oferecem uma descriçäo da forma de vida, dos valores e das crenças dos povos que vivem privados daquilo que estamos habituados a considerar como os requisitos mínimos do conforto e da civilizaçäo.
p. 18/19. Outros grupos estudados pela Antropologia Social: comunidades rurais, vida urbana, aldeias e sociedades históricas.
Questöes de METODO
p. 19. ANTROPOLOGIA SOCIAL - estuda diretamente os povos primitivos vivendo entre eles durantes meses ou anos. Ocupa-se da sociedade como um todo: estuda a ecologia, economia politica, instituiçöes legais e politicas, a religiäo, a tecnologia, a organizaçäo da familia e o parentesco, a ganadaria e a agricultura, a arte, etc... como partes dos sistemas sociais gerais.
SOCIOLOGIA - estudo baseado em documentos e estatísticas. Trabalho especializado, investiga problemas isolados. Ligado a Filosofia social e ao planejamento social. Mas tb. (p. 20) um corpo geral de conhecimentos teóricos sobre as sociedades humanas.
p. 20. OBJETO DA ANTROPOLOGIA SOCIAL: relaçäo entre sociologia (corpo geral teorico) e a vida social primitiva.
quer dizer... (p. 21) A ANTROPOLOGIA SOCIAL REALIZA UM CONJUNTO DE ESTUDOS DIFERENTES NUMA SERIE DE SOCIEDADES DISTRIBUIDAS POR TODO O MUNDO. (p. 23) Estuda o conjunto de relaçöes sociais, relaçöes entre memebros de uma sociedade e entre grupos sociais, enfatiza mais o estudo da sociedade que o estudo da cultura (aqui no sentido de costume).
p. 23. A Antropologia Social pode generalizar com mais facilidade que a Historia... pela análise comparativa das estruturas sociais
p. 24 Crítica a Morgan, Spencer, Durkheim, Tylor...
p. 25/26. O que antropólogo social, ao contrário dos evolucionistas e funcionalistas anteriores busca ao estudar uma sociedade primitiva? O que ele descreve é a realidade, o comportamento básico, em que ambos os conceitos (sociedade e cultura) se encontram incorporados... näo säo entidades separadas mas classes de abstraçöes distintas..., na antropologia atual (trata-se da atualidade para Evans-Pritchard) os estudos antropológicos especializam-se sobre instituiçöes pensadas como elementos de uma estrutura social mais ampla e complexa.
p. 26 Mas o que é estrutura social para Evans-Pritchard?
Cada sociedade tem uma forma ou padräo caracteristico que nos permite considerá-la como um sistema ou estrutura, no seio da qual os seus memebros desenvolvem as suas atividades em concordância com ela. O uso do termo "estrutura" com este significado supöe um certo grau de compatibilidade entre as partes, pelo menos suscetivel de evitar contradiçöes abertas e conflitos. Significa também que tem uma duraçäo maior que a generalidade das coisas passageiras da vida humana. As pessoas que vivem numa sociedade podem näo se dar conta de que esta possui uma estrutura, ou capta-la apenas de uma forma vaga.
p. 27 A TAREFA DO ANTROPOLOGO SOCIAL É REVELAR A EXISTENCIA DE UMA ESTRUTURA. Uma estrutura social total, isto é, a estrutura completa de uma sociedade determinada, compöe-se de um certo número de estruturas ou sistemas subsidiários, e é por isso que podemos falar de sistemas de parentesco, sistemas econômicos, religiosos ou politicos...
Assim, quando falamos das funçöes das instituiçöes, estamos a referir-nos à parte que lhes corresponde na manutençäo da estrutura da estrutura social.


EVANS-PRITCHARD, E.E.



EVANS-PRITCHARD, E.E. "Algumas reminiscências e reflexöes sobre o trabalho de campo". In: Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande. Rio, Zahar, 1978. Apêndice IV.

EVANS-PRITCHARD


Segundo Evans-Pritchar, percebemos que  é essencial percebermos que os fatos, em si, näo têm significado. Para que o possuam, devem ter certo grau de generalidade. É preciso saber exatamente o que se quer saber, e isso só pode ser conseguido graças a um treinamento sistematico em antropologia social acadêmica. Além disso, nele está muito presente a importância de uma revisäo bibliografica sobre o tema, e estudos de informaçäo teorico-metodologico como instrumentos que problematizem a realidade a ser estudada.
OBJETO
O objeto de estudo: säo seres humanos, o trabalho de campo envolve a nossa personalidade - cabeça e coraçäo; e que, assim, tudo aquilo que moldou essa personalidade esta envolvido, näo só a formaçäo acadêmica: sexo, idade, classe social, nacionalidade, familia, escola, igreja, amizades. Tudo que desejo sublinhar é que o que se traz de um estudo de campo depende muito do que se lava para ele.
É possível ir a campo com idéias pré concebidas, mas o treinamento cientifico permite o exercicio de apreendê-las e relativiza-las (importância da teoria).
ESTUDO RELACIONAL - estudar mais de uma sociedade quando possivel
- o contraste: idéias, valores desse povo com os de sua propria cultura, e isso apesar de todo esforço corretivo implicito em seu conhecimento da literatura antropologica... perceber linhas de pesquisa
- o estudo de uma segunda sociedade possui também a vantagem de tornar o investigador mais experiente: ele ja sabe que erros evitar, como iniciar mais rapidamente suas observaçöes, como cortar caminho na investigaçäo e como descernir sem muito esforço o que é relevante - pois pode ver os problemas fundamentais mais depressa.
MÉTODO / TÉCNICAS
- Realizar a observação participante na medida do possivel e do conveniente, pois assim o pesquisador vive a vida do povo que esta estudando.
- Sugere experimentar coisas, hábitos da outra cultura, mas isto também teu um lado perigoso, pois nem sempre pode ser bem recebido pelo grupo, e o pesquisador pode querer fingir sem se dar conta disto... melhor dizer que o antropólogo vive simultaneamente em dois mundos mentais diferentes, que se constroem segundo categorias e valores muitas vezes de dificil conciliaçäo. Tornamo-nos, ao menos temporariamente, uma espécie de duplo marginal, alienado de dois mundos.
-    o problema fica mais evidente quando somos confrontados por noçöes inexistentes em nossa cultura atual e, portanto, näo-familiares. Exemplifica com a dificuldade de entender idéias sobre bruxaria dos Azande
Falando  da diferença ente a sociologia e a antropologia social, questiona: quais as tecnicas, entrevista fechada ou aberta, depende da situaçäo, tomar nota, em que situaçäo? depende tem que ter sensibilidade para isto.
Destaca a importância dos informantes, sobretudo informantes chave, também, pessoa sensivel para entender o modo de vida de seu povo, mas é fundamental falar a lingua nativa. Acredita que é sempre possivel verificar e reverificar a informaçäo quando conhece-se a lingua nativa. A mentira pode secretar informaçöes profundas. Relacionar os informantes com o status e o papel dele na sociedade, também é uma técnica defendida por Evans-Pritchard.




EVANS-PRITCHARD, E.E. "Alcance do Tema". In: Antropologia Social. Lisboa, Ed. 70, 1972.
p. 12. - A Antropologia Social tem um vaocabulário técnico muito limitado e vê-se obrigada a recorrer à linguagem comum, que, como todos sabem, näo é muito exata. Os termos SOCIEDADE, CULTURA, COSTUME, RELIGIAO, SANÇAO, ESTRUTURA, FUNÇAO, POLITICO, DEMOCRATICO, nem sempre comportam o mesmo significado, quer para diferentes pessoas, quer em diferentes contextos. Soluçöes?...
ANTROPOLOGIA, DEFINIÇÖES???
p. 12/13 - Em Inglaterra e, ainda que em menor grau, nos Estados Unidos, a expressäo Antropologia Social é utilizada para desginar uma parte de uma matéria mais vasta que é a Antropologia, isto é, o estudo do homem num certo número de aspectos. O seu objeto está ligado às culturas e sociedades humanas.
p. 13. Na Europa continental prevalece a definiçäo "o estudo completo do homem (Antropologia Fisica ou estudo biologico do homem).
INGLATERRA - ANTROPOLOGIA SOCIAL
FRANÇA - Etnologia ou Sociologia
p. 13. Primeira cátedra oficialmente designaçäo de Antropologia Social - Frazer 1908 em Liverpool.
p. 13. Inglaterra: Antropologia Social   Antropologia Fisica
p. 14 Caracteriza o que é Etnologia... estudo preliminar para as comparaçöes que fazm os antropólogos sociais entre sociedades primitivas, porque é altamente conveniente, e até mesmo necessário, principiar o trabalho comparativo com as do mesmo nível cultural ... A Arqueologia Pré-Histórica...
p. 15. O objeto da Antropologia Social é estudar o comportamento social, geralmente em formas institucionalizadas, como a familia, sistemas de parentesco, organizaçäo politica, procedimentos legais, ritos religiosos, e assim por diante, além das relaçöes entre tais instituiçöes, estuda-se em sociedades contemporâneas ou naquelas comunidades históricas sobre as quais existe uma informaçäo adequada para a realizaçäo de tais investigaçöes.
p. 19. A Antropologia Social é o estudo de todas as sociedades humanas e näo só das sociedades primitivas, apesar de na prática e por conveniência se ocupar atualmente em analisar preferentemente as instituiçöes dos povos mais simples. É evidente que näo pode haver uma disciplina independente consagrada inteiramente ao estudo destas sociedades. Quando um antropólogo se dedica à investigar um povo primitivo, o que estuda é a linguagem, a religiäo, as leis, as instituiçöes politicas, a economia politica.... depara-se com os mesmos problemas gerais que o estudioso destas matérias nas grandes civilizaçöes do mundo. ... o antropólogo sempre compara as sociedades.
Entäo, na época, para Evans-Pritchard: A ANTROPOLOGIA SOCIAL, RAMO DOS ESTUDOS SOCIOLOGICOS QUE SE DEDICA PRINCIPALMENTE AS SOCIEDADES PRIMITIVAS enquanto que SOCIOLOGIA - ESTUDO DE DETERMINADOS PROBLEMAS EM SOCIEDADES CIVILIZADAS.
p. 16 "primitivo" - termo técnico
p. 17. Tarefa da Antropologia Social - estudo sociedades primitivas? Por que? Razöes?
p. 17 O estudo sociedades primitivas como estudo das instituiçöes enquanto partes dos sistemas sociais. Sociedades primitivas aparecem como objeto privilegiado pois säo estruturalmente simples e culturalmente homogêneas, podem ser diretamente observadas como um todo, antes de tentar estudar sociedades civilizadas complexas, onde isto näo é possível.
p. 17. Outra razäo, elas estäo a transforma-se rapidamente e, portanto, torna-se necessário investigá-las o mais depressa possível... p. 18. Estes sistemas sociais em vias de desaparecer constituem variantes estruturais únicas, cuja análise nos ajuda consideravelmente a compreender a natureza da sociedade humana, porque, num estudo comparativo de instituiçöes, o número de sociedades com que se trabalha é menos significativos que o seu grau de variaçäo.
p. 18 Outra razäo: valor intrínseco: Estas sociedades säo interessantes em si mesmas, porque nos oferecem uma descriçäo da forma de vida, dos valores e das crenças dos povos que vivem privados daquilo que estamos habituados a considerar como os requisitos mínimos do conforto e da civilizaçäo.
p. 18/19. Outros grupos estudados pela Antropologia Social: comunidades rurais, vida urbana, aldeias e sociedades históricas.
Questöes de METODO
p. 19. ANTROPOLOGIA SOCIAL - estuda diretamente os povos primitivos vivendo entre eles durantes meses ou anos. Ocupa-se da sociedade como um todo: estuda a ecologia, economia politica, instituiçöes legais e politicas, a religiäo, a tecnologia, a organizaçäo da familia e o parentesco, a ganadaria e a agricultura, a arte, etc... como partes dos sistemas sociais gerais.
SOCIOLOGIA - estudo baseado em documentos e estatísticas. Trabalho especializado, investiga problemas isolados. Ligado a Filosofia social e ao planejamento social. Mas tb. (p. 20) um corpo geral de conhecimentos teóricos sobre as sociedades humanas.
p. 20. OBJETO DA ANTROPOLOGIA SOCIAL: relaçäo entre sociologia (corpo geral teorico) e a vida social primitiva.
quer dizer... (p. 21) A ANTROPOLOGIA SOCIAL REALIZA UM CONJUNTO DE ESTUDOS DIFERENTES NUMA SERIE DE SOCIEDADES DISTRIBUIDAS POR TODO O MUNDO. (p. 23) Estuda o conjunto de relaçöes sociais, relaçöes entre memebros de uma sociedade e entre grupos sociais, enfatiza mais o estudo da sociedade que o estudo da cultura (aqui no sentido de costume).
p. 23. A Antropologia Social pode generalizar com mais facilidade que a Historia... pela análise comparativa das estruturas sociais
p. 24 Crítica a Morgan, Spencer, Durkheim, Tylor...
p. 25/26. O que antropólogo social, ao contrário dos evolucionistas e funcionalistas anteriores busca ao estudar uma sociedade primitiva? O que ele descreve é a realidade, o comportamento básico, em que ambos os conceitos (sociedade e cultura) se encontram incorporados... näo säo entidades separadas mas classes de abstraçöes distintas..., na antropologia atual (trata-se da atualidade para Evans-Pritchard) os estudos antropológicos especializam-se sobre instituiçöes pensadas como elementos de uma estrutura social mais ampla e complexa.
p. 26 Mas o que é estrutura social para Evans-Pritchard?
Cada sociedade tem uma forma ou padräo caracteristico que nos permite considerá-la como um sistema ou estrutura, no seio da qual os seus memebros desenvolvem as suas atividades em concordância com ela. O uso do termo "estrutura" com este significado supöe um certo grau de compatibilidade entre as partes, pelo menos suscetivel de evitar contradiçöes abertas e conflitos. Significa também que tem uma duraçäo maior que a generalidade das coisas passageiras da vida humana. As pessoas que vivem numa sociedade podem näo se dar conta de que esta possui uma estrutura, ou capta-la apenas de uma forma vaga.
p. 27 A TAREFA DO ANTROPOLOGO SOCIAL É REVELAR A EXISTENCIA DE UMA ESTRUTURA. Uma estrutura social total, isto é, a estrutura completa de uma sociedade determinada, compöe-se de um certo número de estruturas ou sistemas subsidiários, e é por isso que podemos falar de sistemas de parentesco, sistemas econômicos, religiosos ou politicos...
Assim, quando falamos das funçöes das instituiçöes, estamos a referir-nos à parte que lhes corresponde na manutençäo da estrutura da estrutura social.











EVANS-PRITCHARD, E.E. "Algumas reminiscências e reflexöes sobre o trabalho de campo". In: Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande. Rio, Zahar, 1978. Apêndice IV.



Paulo Oddi





UFRGS  -  IFCH  -  PPGAS
ESTUDO  ANTROPOLÓGICO  DE  UM  ESPAÇO  URBANO  SINGULAR: CAIS  DO  PORTO  DE  PORTO  ALEGRE  (OU  DA  CIDADE  QUE  TEM  PORTO  ATÉ  NO  NOME)


ENTREVISTA  No. 05

DADOS  DE  IDENTIFICAÇÃO
BAIRRO:
SOBRENOME  DO  ENTREVISTADO: Oddi
NOME  DO  ENTREVISTADO: Paulo
NOME  CARACTERÍSTICO (se houver):
DATA  DA  REALIZAÇÃO  DA  ENTREVISTA:  21 / 07 / 98.
ENDEREÇO:  Av. Mauá. / Cais Mauá.
FONE:
HORÁRIO   REALIZAÇÃO  DA  ENTREVISTA:  9 H 30 min
DURAÇÃO  DA  ENTREVISTA: 1 h 30 min


ENTREVISTADOR: Jaques
INDICAÇÃO: ......................................................................................................................




DESCRIÇÃO  DO  CONTEXTO:

       
Fui recebido no escritório do Dr. Paulo Oddi, administrador do Cais Mauá / Cais do Porto de Porto Alegre no horário combinado para a entrevista. O encontro foi acompanhado por uma funcionária administrativa que desempenha funções de assessora de imprensa junto a este órgão.
        A entrevista foi pautada pela praticidade e tecnicidade do Engenheiro Oddi que destacou na sua fala, essencialmente, os aspectos administrativos do Caís, bem como os aspectos de controle, normalização, segurança e contenção deste (e neste) espaço urbano.
        Chamou a minha atenção, uma pergunta formulada pelo entrevistado, no final da entrevista, sobre a opção dos portalegrenses em estarem constantemente presentes no cais do porto contemplando-o, curtindo o por do sol, etc. Ele indagava sobre porque não contemplar o por do sol de qualquer outro lugar da cidade que não o porto. Ficou claro o tom inquisitivo e, de certa forma, arrogante, na pergunta do administrador sobre o nosso nível de conhecimento sobre aquele espaço urbano e as suas relações com os cidadãos desta cidade. Utilizei os nossos conhecimentos históricos da formação da própria cidade, resgatando aspectos da chagada dos Casais Açorianos, relacionados com a história atual da cidade para respondera esta indagação.
        De um modo geral, a entrevista foi bastante interessante. Ao final da entrevista, o administrador se colocou a disposição para colaborar com o nosso projeto de pesquisa no que fosse necessário e sugeriu que visitássemos a biblioteca do Cais do Porto onde estão vários documentos históricos que remontam várias épocas da existência deste importante espaço urbano.  
                                                      

TRANSCRIÇÃO  DA  FITA


Jaques – O Sr. Trabalha para o  DEPREC ?
Paulo – Estou vinculado a secretaria de transportes, administro os portos e hidrovias, portos  interiores, porto de Porto Alegre, de Pelotas, porto de Cachoeira e mais 700 quilômetros de hidrovias navegáveis. Essa é a função principal da superintendência de portos e hidrovias que é constituído de três diretorias básicas: uma de grande porte interiores, uma diretoria de hidrovias e uma diretoria financeira-administrativa, tudo isso coordenado por uma superintendente que executa as atividades (como autarquia estadual).

Jaques – Vejo nos muros do porto a inscrição DNOS. Ainda existe este departamento ?
Paulo  - Foi extinto na era Color. Foi o que fez a cortina da Mauá, é uma das obras do DNOS que mais chama a tenção, mas este órgão foi instinto não tem mais.

Jaques – Então a administração do porto está somente a nível estadual ?
Paulo – A administração portuária é estadual, a superintendência é uma autarquia estadual que administra sob concessão da união que concede ao estado o gerenciamento dos portos e hidrovias. Tudo isso é patrimônio da união e o estado criou uma autarquia para gerenciar esta concessão em nome da união.

Jaques – Quanto a operacionalidade do cais de Porto Alegre ?
Paulo – Antes da lei 8.630, a lei de modernização dos portos, de 1993, toda a movimentação do cais do porto era feita pela própria autarquia, a partir daí, então os serviços de operação no cais, movimentação horizontal de carga, operação de carga e descarga, recebimento e entrega de carga nos armazéns, foi sendo terceirizado gradativamente. Hoje todo movimento de carga é feito por terceiros (serviço privado). Os serviços, o gerenciamento, o monitoramento, disciplinamento ainda é feito pela autoridade portuária, pela administração do porto, mas a execução dele é feita por operadores portuários privados. Isso vem de 1993 para cá, gradativamente vai sendo mudado o modelo. Parte dos investimentos, equipamentos, tudo é feito pelo privado no sentido de melhorar e  aperfeiçoar a operação.

Jaques – Estes funcionários, pessoas que vejo carregando e descarregando os navios são funcionários do porto ?
Paulo – não são funcionários do porto, são funcionários de portuários privados. Nosso pessoal trabalha somente na coordenação das atividades, no monitoramento e no disciplinamento das atividades.

Jaques – A parte da segurança ... ?
Paulo – segurança, normalização, tarifas, horário, enfim tudo que envolva a organização da operação como um todo é feita pela administração que executa os serviços. Nas empresas portuárias privadas nós não interferimos neste processo, isso é no Brasil inteiro, alguns portos são mais avançados, outros menos, mas todos caminham para isso, e tudo começou em 1993 com a lei de modernização dos portos. Está mudando radicalmente o perfil operacional dos portos de Rio Grande, por exemplo, que já está com toda a sua operação feita por privados, gradativamente estão se adaptando a nova legislação.

Jaques – Então o quadro de pessoal não é muito grande hoje ?
Paulo – É muito reduzido. É mais a parte administrativa e manutenção. Temos uma equipe mínima de manutenção das instalações que é o patrimônio do porto, mas reduziu bastante o número de funcionáros, eu diria drasticamente.

Jaques – Aproximadamente, quantos funcionários?
Paulo – Hoje a superintendência que envolve Porto Alegre, Pelotas, Cachoeira, Rio Pardo e as hidrovias, entre pessoal de manutenção e pessoal administrativo são uns 200, no máximo e tende a diminuir cada vez mais. Isso a superintendência de portos e hidrovias, nada a ver com o porto de Rio Grande, porto de Rio Grande separado, eu falo Pelotas, Porto Alegre, e hidrovias interiores, pessoal carregado de fazer a manutenção da dragagem, sinalização, isto é,  para garantir a segurança da navegação.

Jaques – Sobre as mudanças que estão previstas dentro do projeto Porto dos Casais, como o senhor vê estas mudanças?
Paulo – Eu diria que o porto de Porto Alegre vai se transformar enormemente com o advento do porto dos casais. A vinda da GM e da Ford vai trazer uma transformação tão grande como foi na década  de 1970 com o complexo de soja que revolucionou o sistema portuário gaúcho, tanto que Porto Alegre, como Rio Grande, isto na parte dos granéis da época, (...) Hoje eu diria que o porto de Porto Alegre passa por uma explosão, uma transformação de atividades dentro de um complexo das cargas, em geral manufaturados (...). Eu diria, me atrevo a dizer que é a maior  transformação que Porto Alegre vai enfrentar nestes próximos anos a partir destes investimentos grandes maciços. Vai ser fantástico ! Nós não conseguimos nem imaginar, é imaginável o volume de carga, o volume de carga que pode representar para o porto, eu diria até que nos próximos 20 anos o porto vai ser insuficiente para atender toda a demanda de carga gerada,  decorrente destes investimentos nas cidades vizinhas do porto: GM, FORD, GODYEAR,  PYRELE e outras inúmeras empresas que vão se instalar aqui decorrente destes movimentos mais a transformação visual que  o porto dos casais vai causar, também vai ser um atrativo comercial de grande circulação e demanda de negócios que nós hoje nem conseguimos imaginar.


PPGAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ANTROPOLOGIA SOCIAL


·      MESTRADO
·      DOUTORADO



UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ANTROPOLOGIA SOCIAL



·      MESTRADO
·      DOUTORADO
















Capa, Editoração e Revisão
Laboratório de Antropologia/PPGAS-UFRGS


Impressão
Gráfica 



UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL


Reitora
Profa. Wrana Panizzi




Diretora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Profa. Maria Assunta Campilongo




Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social
Prof. Ruben George Oliven





Comissão Coordenadora




Prof. Ruben George Oliven
Profa. Cornelia Eckert

Profa. Ondina Fachel Leal

João Alves

#novela

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Chatô, o Rei do Brasil

Anton Pavlovich Tchekhov

Tchekhov, Anton Pavlovich. A dama do cachorrinho : e outros contos.  São Paulo : Ed. 34, 2011. 367 p..

Santa Isabel




-   “Redescobrindo” a Santa Isabel : Um Estudo Antropológico sobre a Região da Grande Santa Isabel (4º Distrito do Município de Viamão)  -   

INTRODUÇÃO


Esta monografia propõe estudar a Região da Grande Santa Isabel, a partir das noções de regionalização, identidade cultural e dinâmica de organização espacial. Percebendo esta região com características potencialmente diferenciadas daquelas observadas no Município em que se situa, proponho realizar uma análise etnográfica e historiográfica que subsidiem esta hipótese inicial de trabalho: a diferença cultural entre a sede do município e a região da Santa Isabel. Segundo uma perspectiva relacional e dialética, proponho também investigar  o processo de construção social da memória desta população, bem como os aspectos do imaginário que são apropriados por viamonenses e isabelenses que na sua tensão diária e recíproca estabelecem pontos de aproximação e afastamento.
Historicamente tem se observado tensões de interação social, administrativa e política entre a sede do Município de Viamão e a Região[1] da Santa Isabel. Fatos históricos do século passado remontam um processo distinto de ocupação destas duas localidades.
 Segundo alguns historiadores como Clóvis Silveira de Oliveira, o surgimento da “Freguesia de Viamão” está ligada às viagens que João de Magalhães faz por volta de 1714 por orientação do então Governador do Rio de Janeiro D. Francisco de Távora que pretendia “fazer vistorias nos lados do sul”[2].  O povoamento do extremo sul do Brasil acontece, segundo o historiador Walter Spalding, com a chegada de Dona Ana da Guerra, irmã do Capitão-mor Francisco de Brito Peixoto, fundador de Laguna e um dos grandes tropeiros da época, mais seu genro, João de Magalhães, que estabeleceram-se nos “Campos de Viamão” [3]. Ali, em terras de Dona Ana, foi erguida uma capelinha em louvor de Nossa Senhora da Conceição e Santana e, ao seu redor, logo se formaria uma pequena localidade que ficou conhecida por Lombas de Santana[4].
Em meados  de 1740, fato semelhante provocaria o surgimento de um outro povoado. Francisco Carvalho da Cunha doaria uma légua de terra para a construção de uma outra capela, a de Nossa Senhora da Conceição do Viamão, que logo se transformaria em uma igreja. Em volta desta igreja fundou-se um grande  povoado, povoado de Viamão, que já em 1747 era elevado à categoria de freguesia.
O povoado de Viamão estava distante do mar (cerca de 120 Km) e sem possibilidade de erguer qualquer tipo de porto na sua costa,  só possuía comunicação com o restante do Brasil por terra. Porém, em determinado momento, descobriram, a mais ou menos 60 Km de distancia da sede do povoado, uma grande lagoa denominada de “Guaybe” pelos indígenas. Este fato levou os habitantes de Viamão a criarem um porto naquele local, o Porto de Viamão. Este mesmo porto passaria a ser denominado Porto do D’Ornelas ou Porto do Dorneles, quando da radicação de Jerônimo de Ornelas (mais seus agregados e parentes) naquele mesmo local e de Porto do Dionísio, quando utilizado como escoadouro da estância de Dionísio Rodrigues Mendes (Fundador da Capela de Nossa Senhora de Belém, hoje Belém Velho). A chegada dos casais açorianos, em 1752, marca o início da   colonização do então Porto de Viamão (nome dado a um ancoradouro nos fundos da Sesmaria de Jerônimo de Ornellas, onde está agora a Praça da Alfândega). Instalados em casas de palha no local onde encontramos hoje a atual Praça da Alfândega, os casais vindos das Ilhas dos Açores inauguravam o que viria a ser “um arraial bastante fértil”. [5]
A ocupação efetiva do primeiro trecho do eixo “Porto de Viamão” – “Freguesia de Viamão” (Rio Guaiba até a atual divisa dos Municípios de Viamão e Porto Alegre) acontece no momento em que Jerônimo de Ornelas se estabelece no Porto de Viamão e escolhe o Morro Santana para construir a sede da sua sesmaria (Segundo Oliveira nas imediações da atual Escola de Agronomia da UFRGS). Nas medidas atuais, essa sesmaria teria uma área de aproximadamente 14.000 hectares, abrangendo assim a atual área da Santa Isabel [6]

A  SANTA  ISABEL  HOJE


A Santa Isabel é uma das regiões da Cidade de Viamão que mais tem se destacado pelo seu potencial econômico, social, político e humano. A proposta da atual Administração Pública Municipal denominada de Orçamento Participativo possibilitou que os moradores do 4º Distrito chegassem a uma conclusão que já estava construída geograficamente: a Santa Isabel é o centro de uma região composta por mais de 20 vilas.
Durante o processo de escolha dos representantes (Delegados) das comunidades junto ao O . P . e das discussões sobre as suas prioridades, reuniram-se mais de 200 pessoas no Salão Paroquial da Igreja da Santa Isabel, local definido para a realização destas assembléias. Foi a partir deste momento que os cidadãos desta região, encontrando os seus pares, perceberam (talvez pela primeira vez) que ali se encontravam pessoas das seguintes localidades: Campos da Colina, Condomínio Horizontal da Lomba do Sabão, Diamantina, Irma, Jardim Lacy, Jardim Universitário, Lanza, Luciana, Medianeira, Monte Alegre, Monte Castelo, Morro Santana, Nossa Senhora Aparecida, Passo do Sabão, Represa, Santa Miguelina, Sítio Lomba do Sabão, USBEE e União. Desta forma a Comunidade da Grande Santa Isabel, como alguns denominam a região, ganha a visibilidade do seu todo, da sua força de barganha política, do seu poder de organização popular, enfim adquire uma nova fisionomia social, econômica e política.
Considerada como zona estratégica para as atividades políticas da maioria dos partidos políticos de Viamão, sondada por redes de lojas comerciais de diversos tipos que começam ali a se instalar, olhada e pesquisada pelos técnicos que investigam o crescimento da região metropolitana de Porto Alegre, almejada por moradores de classe média de Porto Alegre que buscam um local de residência alternativa ao que a capital dos gaúchos oferece, querida e amada pelos seus admiradores mais entusiastas, assim a Santa Isabel demonstra suas especificidades urbanas. Mas o que existe de fato na Santa Isabel ou quais os elementos que a diferenciam sobremaneira das demais localidades de Viamão ??  
Mais do que vila ? Um pouco menos  que cidade ? O que é de fato a Santa Isabel ???
A resposta final e acabada para esta pergunta está longe de ser construída, no entanto, já temos alguns elementos, fruto de investigações científicas que temos realizado na cidade, que contribuem para esta reflexão sobre o processo de construção urbana aqui referido.
ALGUNS  PRESSUPOSTOS  TEÓRICOS

Para a noção de Cidade
 Definir o que é uma cidade, de fato, não é uma atividade fácil, diante das inúmeras concepções e noções do que realmente venha a ser uma cidade em toda a extensão do termo. O urbanista e pesquisador FERNANDO GOITIA em uma BREVE HISTÓRIA DO URBANISMO afirma que “o estudo da cidade é um tema tão sugestivo como amplo e difuso; impossível de abordar para um homem só, se levarmos em conta a quantidade de saberes que haverá de acumular.” Seguindo a sua sugestão de que “não devemos perder de vista, ao estudar as cidades, as valiosas fontes que a literatura nos oferece”, trazemos alguns conceitos de cidade construídos por alguns pensadores que nos antecederam sobre este tipo de estudo.
ARISTÓTELES trabalha com um conceito político de cidade, no momento em que sugere uma noção de diferenciação entre dois tipos de cidadãos que compõe as cidades. Neste sentido ele disse que “uma cidade é um certo número de cidadãos, de modo que devemos considerar a quem devemos chamar cidadãos e quem de fato é um cidadão (...) Chamamos, pois, cidadãos de uma cidade aos que tem a faculdade de intervir nas funções deliberativas e judiciais da mesma e cidadão em geral, ao contrário são aqueles cidadãos que tem a cidade apenas para a realização da sua vida.” Excluindo a discussão política colocada na definição de Aristóteles que traz a noção de cidade-estado da Grécia (o Estado é a Cidade e a Cidade é o Estado) entendemos que, para ele, uma vez reunidos um determinado número de cidadãos, teríamos uma cidade.
AFONSO, outro pensador das cidades,  referindo-se às cidades medievais que não se concebe sem a proteção de muros ao seu entorno como defesa das ameaças exteriores, define a cidade como “todo aquele lugar que é fechado com muros, com arrabaldes e edifícios que se tem com eles”.
CANTILLON, pensador e estudioso do século XVIII, imagina assim a origem de uma cidade: “Se um príncipe ou um senhor fixa a sua residência em um lugar que o agrada e se outros senhores o acompanham e ali se estabelecem para um convívio mútuo e social, este lugar se converterá em uma cidade.” Neste conceito temos a concepção de uma cidade Barroca, de caráter senhorial e eminentemente consumidora, onde reina o luxo que foi a origem das grandes cidades do Ocidente antes do advento da era industrial.
  Para os que preferem uma distinção entre cidade e natureza, considerando a cidade como uma criação abstrata e artificial do homem, destacamos a concepção de ORTEGA e GASSET: “A Cidade é um ensaio da sucessão que o homem faz para viver fora e frente ao cosmos, tomando dele porções seletas e previamente escolhidas.”
A opção que fiz, enquanto pesquisador em ciências sociais, foi pela análise qualitativa do social, através da proposta e das ferramentas que a antropologia social oferece para a análise da dinâmica social urbana. Portanto, mais do que me debruçar sobre uma grande quantidade de dados estatísticos, tabelas quantitativas e números exatos, proponho perceber a cidade através do que consigo extrair da sua essência qualitativa, ou seja, a sua cultura, o seu imaginário, os sentimentos que a permeiam, enfim a sua alma. Digo isto para introduzir uma outra concepção de cidade, difundida por SPENGLER para quem a alma (ou o espírito, como preferir) sustenta a dialética da cidade clássica.
Segundo SPENGLER “o que distingue a cidade de uma aldeia (ou vila) não é a sua extensão, não é o seu tamanho, se não a presença de uma alma citadina (...) O Verdadeiro milagre é quando nasce a alma de uma cidade. Subitamente sobre a espiritualidade geral da cultura, destaca-se a alma da cidade como uma alma coletiva de uma nova espécie, cujos últimos fundamentos permanecem para os outros em eterno mistério. E uma vez desperta, se forma um corpo visível. A coleção de casas da aldeias (ou vila), cada uma das quais com sua própria história, se converte em um único conjunto. E este conjunto vive, respira, cresce, adquire um rosto familiar e uma forma e uma história internas. A partir deste momento, apesar das casas em separado, do tempo, da catedral e do palácio (do governo), constitui a imagem urbana em sua unidade o objeto de um idioma de formas e de uma história específica que acompanha em seu curso todo o ciclo vital de uma cultura ”

Para a Dinâmica da Organização Espacial

As duas grandes categorias de análise científica em ciências sociais são, inevitavelmente, tempo e espaço, conforme a afirmação de vários autores que trabalhamos. Elas podem estar tão intimamente relacionadas que, algumas vezes, é quase impossível desconsiderar uma em detrimento de outra. Neste sentido, nos ensina Bachelard: “É pelo espaço, é no espaço que encontramos os belos fósseis de duração concretizados por longas permanências.”  (Bachelard, 1993)
Em função disso, além das representações que remontam o tempo vivido e o tempo lembrado, presentes nesta monografia, considero a questão espacial como um outro eixo inevitável de apreensão e análise.
Para esta “caminhada” e essa “descoberta” sobre a dinâmica espacial que estamos investigando, escolhemos três autores em especial. A incursão pela espacialidade de alguns perímetros urbanos nos faz dialogar com Schulz, para quem “el interés del hombre pur el espacio tiene raíces existenciales: deriva de una necessidad de adquirir relaciones vitales en el ambiente que le rodea para aportar sentido y ordem a um mundo de acontecimentos y acciones” (Norberg-Schulz, 1975). O segundo autor, como já sinalizamos anteriormente, é Bachelard que contribui sobremaneira para algumas interpretações que somente são possíveis dentro do campo da Fenomenologia da Imaginação (ou arqueologia do imaginário). Neste sentido, ele nos incita à algumas ponderações do tipo: “o espaço convida à ação, e antes da ação a imaginação trabalha” (Bachelard, 1993). O terceiro autor contribui para uma análise mais específica do fenômeno que estou tentando interpretar como um tipo de “Regionalismo” no sentido de que “O Regionalismo aponta para as diferenças que existem entre regiões e utiliza estas diferenças na construção de identidades próprias” (OLIVEN, 1992).
O esforço de trabalhar com estes autores e seus pressupostos vai no sentido de tentar perceber as características e especificidades do campo trabalhado, bem como dos atores sociais e da dinâmica social colocada neste campo, a partir de  um “olhar vibrátil” (Rolnik, 1997) sobre o espaço e as relações de espacialidade que envolvem, delimitam e, porque não dizer, definem este universo simbólico e cultural trabalhados.

Para a questão de Identidade Cultural
Os pressupostos básicos para a discussão da temática da identidade são oriundos de Renato Ortiz que afirma: “A rigor, faz pouco sentido buscar a existência de ‘uma’ identidade; seria mais correto pensá-la na sua interação com outras identidades, construídas segundo outros pontos de vista.” (ORTIZ, 1994). As noções tomadas por Ortiz de Lévi-Strauss também são de suma importância para este estudo, por exemplo: “A identidade é uma espécie de lugar virtual, o qual nos é indispensável para nos referirmos e explicarmos um certo número de coisas, mas que não possui na verdade, uma existência real.” (ORTIZ, 1994)

Para as questões de Método de Pesquisa
A  pesquisa qualitativa e, em especial, o método etnográfico e etnológico, nos estudos de ciências sociais voltados a pesquisa de sociedades complexas do tipo urbano-contemporaneo-capitalista é aqui o centro da nossa construção científica. No meu entendimento, é através deste tipo de trabalho que podemos desenvolver a “ação” e a “imaginação” de que Bachelard nos falou em seus escritos.
Para a metodologia do trabalho de campo, utilizaremos as principais técnicas do método etnográfico, como a observação participante, realização de entrevistas com o uso de gravador, análise de contexto do campo pesquisado e análise de conteúdo de documentos históricos, reportagens de jornais e revistas.
Etnografar o campo estudado, representa para nós, destacar os principais atores sociais, suas características principais, enfim nos mover no sentido de realizar uma tarefa que se assemelha com o esforço de “tentar ler um manuscrito estranho, desbotado, cheio de elipses, incoerências, emendas suspeitas e comentários tendenciosos, escrito não com os sinais convencionais do som, mas com exemplos transitórios de comportamento modelado.” (Geertz, 1978)




CONCLUSÃO



Um aspecto que me parece interessante chamar para este momento do nosso texto é do desafio que sempre está colocado para nós, quando tentamos “estranhar o familiar”, através de uma pesquisa voltado para um espaço social que é o nosso próprio, ou seja, o espaço urbano contemporâneo. Aceitando o convite de Gilberto Velho: “(...) Não há como fugir, nem retardar mais o processo de assumir o estudo antropológico da nossa sociedade e cultura como tarefa fundamental.” (Velho, 1980), nos embrenhamos nesta atividade que muito nos satisfaz intelectualmente.
SPENGLER fala de um processo que culmina com “o nascimento da alma da cidade” na configuração de uma localidade na sua trajetória até à conquista do estatuto de cidade. Portanto, segundo este pensador, existe um momento muito especial e significativo que é “um verdadeiro milagre” e que define o surgimento da Cidade como tal, a partir do nascimento da sua alma.
Tomando esta concepção de SPENGLER, passamos a analisar o caso da Santa Isabel, no sentido de perceber qual teria sido este momento em que de fato nasce (ou não) a alma da  cidade, ou seja, a partir de que momento de sua história a dinâmica social e urbana local dá a luz à esta “nova cidade”. Vivendo a quase três décadas nesta região e, portanto, tendo acompanhado os principais acontecimentos que marcaram a estruturação da Santa Isabel, partimos para a análise do fato ou dos fatos que teriam definido a sua concepção enquanto cidade. A resposta seria: A conjugação de dois processos sócio-urbanístico  iniciados no intervalo de 1994 / 1996. O Reordenamento e revitalização urbana que a “cidade” recebeu a partir do final do ano de 1994 com a construção da Avenida do Trabalhador, associado ao processo de resgate da cidadania através do “Orçamento Participativo” implementado a partir de 1996, redefine e revitaliza  a essência da organização urbana local, transformando estruturalmente a  Santa Isabel e inserindo-a em uma nova realidade e uma nova fase do seu desenvolvimento político, econômico e social.



























BIBLIOGRAFIA


              BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

              GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Zahar Ed. , 1978.
              MACEDO, Francisco Riopardense de. Porto Alegre: origem e crescimento. Porto Alegre: Ed. Sulina, 1968.

              PESAVENTO, Sandra Jatahy. O Espetáculo de Rua. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 1992.

              OLIVEN, Ruben George. “Nação e Tradição na Virada do Milênio.” In. A Parte e o Todo: a diversidade cultural no Brasil-Nação. Porto Alegre, Vozes, 1992, p.13

              ORTIZ, Renato. “Modernidade-Mundo e identidades.” In: Um Outro Território. Ensaios sobre a Mundialização. São Paulo. Olho D’Água, s/d. p. 67-89

              ROLNIK, Suely. Uma Insólita Viagem à Subjetividade. São Paulo: Ed. Papirus, 1997. In LINS, Daniel. Cultura e Subjetividade.

              VELHO, Gilberto. O Desafio da Cidade. Novas Perspectivas da Antropologia Brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1980.

              NORBERG-SCHULZ, Christian. Nuevos Caminhos De La Arquitectura - Existencia, Espacio y Arquitectura. Barcelona: Ed. Blume, 1975.






[1] Adoto o termo região, reproduzindo uma tendência de alguns informantes, na sua maioria moradores da Vila Santa Isabel, que utilizam este termo  para denominarem o lugar que percebem como um local que representa algo que é um pouco mais do que uma vila e um pouco menos que uma cidade. Representantes do Poder Público Municipal, especialmente os ligados ao “Orçamento Participativo”, adotaram esta terminologia (Região da Santa Isabel), de alguma forma legitimando-a, pois utilizam um mapeamento da Cidade de Viamão onde a Santa Isabel figura como núcleo urbano de cerca de 18 vilas que a circundam. Portanto, durante o processo de discussão e deliberação sobre os recursos públicos municipais, a comunidade da Região da Santa Isabel (Reunião da Santa Isabel mais as 18 vilas do seu entorno) se reúne no Salão Paroquial da Igreja da Santa Isabel para discutir e deliberar sobre as suas prioridades.
[2] Grifo do historiador citado.
[3] Campos de Viamão: nome genérico utilizado na época para referir toda a área que conhecemos hoje no entorno da Cidade de Viamão (Palmares do Sul, Águas Claras, Tavares, Itapuã e alguns municípios da Grande Porto Alegre como Alvorada, Gravatai, Cachoeirinha, ...)

[4] Onde atualmente se encontra o Distrito de Águas Claras / Município de Viamão.
[5] Expressão usada na primeira referencia registrada em documento sobre a povoação que se formava no então Porto de Viamão, a qual se desenvolvia rapidamente para os padrões da época.
[6] Investigações arqueológicas do Museu Joaquim José Felizardo em parceria com o Núcleo de História da UFRGS, apontam para a confirmação desta hipótese.