domingo, 3 de janeiro de 2016

Histórias Contadas - José Paulo Bisol - Bloco 1

Índio guarani vende filha a homem branco por R$ 2 mil - Fantástico [HD]

A Imaginação Sociológica

APLICADO AS ORIENTAÇÕES DE ANTONIO JOAQUIM SEVERINO - DIRETRIZES PARA A LEITURA, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS In. Metodologia do Trabalho Científico - em C. Wright MILLS - O Empirismo Abstrato In. A Imaginação Sociológica.



1. ANÁLISE  TEXTUAL


Hoje, a principal tarefa intelectual e política do cientista social  -  pois as duas aqui coincidem  -  é deixar claros os elementos da inquietação e da indiferença  contemporâneos.”

MILLS, C. Wright. A Imaginação Sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1980. P.20


Esta frase transcrita acima é apenas uma das principais frases de Mills em “A Imaginação Sociológica”. Este pequeno trecho, porém sinaliza para a importante contribuição deste autor para o estudo das ciências sociais.
Além de “A Imaginação Sociológica ”, obra que analisamos neste trabalho caberia destacar outras publicações. Em 1948, Mills publica, com a colaboração de Helen Schneider, “The new of power: America’s tabor leaders”; em 1950, “The Puerto Rican journey: New York’s newest migrants”, com Clarence Senior e Rose Godsen; em 1951, “White collar: the American middle classes”; em 1953, com Hans Gerth, “Character and Social structure: the Psychology of social institutions”  e  em 1956 publica “The power elite”, este último considerado pôr muitos como o seu trabalho mais polemico sobre a sociedade norte-americana.
Sobre os dados biográficos do autor caberia realizarmos algumas breves considerações. Mills nasceu em Waco, Texas, numa família de classe média irlandesa e inglesa. Passou a sua infância em Sherman, Forth North e Dallas, onde freqüentou uma série de escolas paroquiais e ginásios públicos. Anos mais tarde, reconheceria a uma amigo a influencia que a educação católico-romana poderia ter tido sobre ele. E, embora, se declarasse agnóstico, o seu “Sermão pagão ao clero cristão”, publicado no The Nation, em 1958, só poderia ter sido elaborado pôr alguém com profunda sensibilidade para o que deveria ser a consciência religiosa. Fred Blum chegou a considerar que, pouco depois, o mesmo jornal recebeu uma carta onde se dizia que “Deus não morreu porque existe, em alguma medida, nos escritos de C. Wright Mills”.
C. Wright Mills, morto prematuramente aos 46 anos em 1962, figura entre os nomes de maior projeção da moderna sociologia, sendo mesmo pôr muitos considerado como o maior sociólogo norte-americano. Seus livros continuam sendo reeditados no mundo de língua inglesa e em traduções nas principais línguas ocidentais, assim como se multiplicam os estudos e interpretações de sua obra e idéias, o que demonstra permanecer viva e atuante sua influencia no pensamento sociológico contemporâneo.
Sobre os pensadores que influenciaram a construção do seu conhecimento, o próprio Mills reconhecia como intelectuais que participaram desta construção os seus seguintes colegas: Casanova, Isaac Deutscher, Marcuse, Miliband, George Mosse e Irving Horowitz, entre outros.


Seguindo as orientações de “Severino”, passarei a contemplar o vocabulário da obra em destaque, para isso privilegiarei “conceitos e termos que sejam fundamentais para a compreensão do texto”. *
Encontrei no texto vários conceitos e várias palavras que constam deste vocabulário que são fundamental para a compreensão e o entendimento da obra de Mills, no entanto enfatizarei aqueles conceitos que mais se destacam e que me parecem como os mais importantes.
O primeiro conceito, facilmente reconhecido como o central neste texto, que deve ser considerado é a idéia do autor sobre o que considera como “Empirismo Abstrato”. Para Mills, empirismo abstrato vem a ser, entre outras coisas, um estilo de pesquisa social.




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* SEVERINO, Antonio Joaquim. Diretrizes Para a Leitura, Análise e Interpretação de Textos. In. Metodologia do Trabalho Científico. p. 126






O estilo de pesquisa social que chamei de empirismo abstrato parece, com freqüência, consistir de esforços para reformular e adotar filosofias da ciência natural, de modo a formar um programa e um cânone para o trabalho na ciência social.”
MILLS, C. Wright. A Imaginação Sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1980. P. 67

Um outro conceito bastante central no texto, segundo o meu entendimento, é o conceito de psicologismo.  Este conceito é pôr várias vezes citados no texto, mas é na página 77 que o autor decide dar a sua explicação sobre este termo:

Psicologismo refere-se à tentativa de explicar os fenômenos sociais em termos de fatos e teorias sobre a constituição do indivíduo dos indivíduos. Historicamente, como doutrina, baseia-se numa negativa metafísica explícita da realidade da estrutura social. Pôr outras vezes, seus partidários podem apresentar uma concepção da estrutura que o reduz, no que se relaciona com as explicações, a um conjunto de ambientes pessoais. (...)”
Apud, p. 2

Existem outros vários termos e denominações muito próprias do autor que são muito interessantes e originais, no entanto considero que estes termos e denominações não chegam a se enquadrar na proposta de Severino  -  conceitos e termos que sejam fundamentais para a compreensão do texto - localizando-os no texto encontramos: - “A sociologia, como parteira de uma série de ciências sociais” p. 70;  “ Os sociólogos deveriam ser uma espécie de técnicos-parteiros e guardiães da interpretação de tudo (...)” p. 73; “ (...) uma idéia do desenvolvimento da ciência social como uma empresa de construções de casas. (...)” p. 75; ...



-  ESQUEMA

O capítulo 3 - O Empirismo Abstrato - de Mills está dividido em 5 blocos, a saber:
Bloco 1 -  Neste primeiro bloco, o autor introduz os seus objetivos neste capítulo do livro dizendo: “ Não estou tentando, evidentemente, resumir os resultados de todo o trabalho dos empiristas abstratos, mas apenas deixar claro o caráter geral de seu estilo de trabalho e algumas de suas suposições (...)”.  Mills começa a construir a sua crítica sobre o trabalho dos empiristas abstratos ressaltando que “ (...) talvez a opinião pública seja o assunto da maior parte dos trabalhos de tal estilo (...)”. O autor considera que muitos problemas dos quais os empiristas abstratos se ocupam carecem de uma formulação adequadamente planejada dentro de referencias estruturais.
Bloco 2 - No segundo bloco, o autor continua nas suas considerações acerca do empirismo abstrato, afirmando: “- Como um estilo de ciência social, o empirismo abstrato não é caracterizado pôr qualquer proposição ou teoria substantiva. Não se baseia em qualquer concepção nova da natureza da sociedade ou do homem, ou sobre quaisquer fatos particulares com eles relacionados. (...)”
Neste mesmo ponto, Mills vai falar em duas categorias profissionais que estao ligados a atividade profissional dos empirismos abstratos: - o administrador intelectual e o técnico em pesquisa. No final deste ponto, o autor realiza algumas considerações sobre método científico.
Bloco 3 - Neste bloco, Mills vai citar Paul F. Lazarsfeld a quem vai considerar  um dos mais sofisticados representantes da escola dos empiristas abstratos. Cita algumas definições que Lazarsfeld vai fazer de sociologia, de sociólogo, e do psicologismo. Esta última, um importante pressuposto teórico constante neste trabalho.
Bloco 4 - Neste bloco, Mills diz que existem “duas apologias do empirismo abstrato”, falando e relacionando em “economia de verdades” versos “políticas de verdade”. Quanto as duas apologias, a primeira concerne as preocupações pelos problemas dos interesses dos financiadores das pesquisas, e a segunda concerne as “necessidades das ciências”, conforme o autor expõe na página 75.
Neste ponto do texto, o autor vai se debruçar sobre o tema “Psicologismo”, explicando-o e determinando-o, conforme já foi citado anteriormente. Mills vai citar os pressupostos teóricos que considera como o oposto ao psicologismo.
Bloco 5 - Neste bloco, o autor passa a fazer algumas considerações que destoam um pouco do tom crítico que realizou até aqui: “Os métodos específicos do empirismo são claramente adequados e convenientes para o trabalho em muitos problemas, e não vejo como se possa fazer qualquer objeção razoável à sua utilização. (...) Se os problemas de que nos ocupamos são passíveis, facilmente, de processos estatísticos, devermos sempre tentar usá-los.”
O autor encerra o capítulo falando na “grande teoria” e reconsiderando mais alguma coisas acerca do empirismo abstrato.
                                


2. ANÁLISE TEMÁTICA

Wright Mills usa todo o capitulo 3 desta sua obra maior - A Imaginação Sociológica - para analisar “O Empirismo Abstrato” que o autor considera como um estilo de pesquisa. Basicamente, Mills vai analisar um processo detectado pôr ele, com auxilio de alguns pensadores, seus colegas, que é uma espécie de transição do que está considerando como “filosofia social” para uma “ciência empírica” plenamente organizada.
Neste processo de transição, Mills chama Lazarsfeld a participar de suas explanações e identifica quatro fases distintas deste processo. Neste contexto a idéia que me parece como central é a consideração feita sobre o que foi denominado de “psicologismos”. Sobre o pscologismo, o autor usa uma grande nota de rodapé, pagina 77, para explicar sobre o que esta falando. Não voltarei a transcrever a citação, ou parte dela, pois já o fiz na parte anterior deste mesmo trabalho.
Dentro desta perspectiva , Mills vai levantar algumas polemicas como a relação do que chamou de “inibição metodológica” com a “Imaginação Sociológica”. Sobre a inibição metodológica, Mills vai criticar aqueles autores  “ que se recusam a dizer qualquer coisa sobre a sociedade moderna, a menos que tenha sido submetida ao pequeno moinho do ritual estatístico.”, fazendo uma alusão aos empiristas abstratos e embutindo já uma outra crítica a esta escola.
No final do texto, Mills muda  um pouco o tom crítico que usou durante o texto e faz afirmações mais conciliatórias:

Intelectualmente, essas escolas representam abdicações da ciência social clássica. (...)   A grande teoria seria uma tendência menor entre os filósofos  -  e talvez alguma coisa que os jovens acadêmicos tem de conhecer. O empirismo abstrato seria uma teoria para os filósofos da ciência, bem como um acessório útil entre os diversos métodos de pesquisa social.”
Ibid., p85.                                                             




3 - ANÁLISE INTERPRETATIVA - PROBLEMATIZAÇÃO

Pelo o que pude observar na leitura de outras obras acessórias a este trabalho, Mills, após assumir as posições críticas em relação ao que considerou “empirismo abstrato”, realizou uma autocrítica pessoal em relação a esta sua posição crítica inicial. Ou seja, em 1959, Mills escreve, ou é publicado, “the sociological imagination”, trabalho que foi gerado na situação em que se encontrava como diretor do “Labor Research Division of the Bureau of Applied Social Reseach”, onde estava sob supervisão de PAUL LAZARSFELD. Em “A Imaginação Sociológica”, Mills analisa criticamente os empiristas abstratos, tecendo várias relações que os colocam como reducionistas, psicologistas, etc. Porém, em 1960, Mills vai realizar um processo de autocrítica em relação a estas posições assumidas nesta obra afirmando:

“Creio também que é necessário admitir que na segunda metade da década de quarenta me meti de maneira bastante profunda no que pensava então que podia ser minha profissão como professor: uma espécie de investigação empírica organizada que resultou num beco intelectual sem saída e numa adaptação política. E me custou algum tempo e muito esforço vencer tudo isto.”
FERNANDES, Florestan (Coorden.) Charles Wright Mills - sociologia. São Paulo: Ática, 1985.

Na obra citada na referencia acima da coleção “ grandes cientistas sociais” no subitem “A questão: ser sociólogo nos E.U.A . da década de quarenta”, podemos acompanhar alguma considerações dos organizadores desta obra que são extremamente esclarecedoras, no sentido de entendermos a trajetória do intelectual  C. W. Mills, sua carreira científica, o cenário e o meio sócio político que envolveram a sua produção científica.
Em linhas gerais, observamos na sociedade americana desta época a dissolução do radicalismo populista desde o final do século e sua crescente incorporação e conformismo à sociedade erigida pela dinâmica do capital monopolista e pela presença do imperialismo americano no mercado e política internacionais. Pôr outro lado, temos o esvaziamento, esgotamento e dissolução dos movimentos dissidentes radicais e democráticos que estavam em ascensão desde o final do século.

“ (...) qualquer justiça que se faca ao pensamento de Mills deve necessariamente levar em consideração o momento político e cultural da década de quarenta que, na melhor das hipóteses, é a década da falência e dissolução do próprio radicalismo, o que, em outras palavras, é a outra face da prosperidade econômica, do conformismo e da crescente comemoração do american way of life do pós-guerra. Neste processo os intelectuais americanos deixavam de se pensar como rebeldes e radicais.
Ibid., p. 17

Segundo a mesma obra, acima referida, podemos afirmar que as questões e as análises feitas pôr Mills durante a sua carreira acadêmica tem o seu cerne nas discussões que podemos esquematizar da seguinte forma:
1- Que tipos de grupos podem ser considerados alavancas para as mudanças históricas ?
2- Onde podem os liberais colocar, com Max Lerner, uma “fé combativa” ?
3- Que orientação política é possível ?
4- De que ponto de vista se pode observar a sociedade de tal maneira que se vejam amplas rachaduras e fortes tensões ?
Dentro deste bloco do trabalho, seria importante ainda levantar mais uma questão: - o debate contínuo de Mills com o marxismo. Pelo o que podemos perceber através das leituras propostas, caberia destacar que a sociologia de Mills está ancorada num contínuo debate com o marxismo. Basicamente, tratar-se-ia, para ele, de uma teoria inadequada e ultrapassada à análise da etapa monopolista na qual o próprio capitalismo teria sido estabilizado pela administração das crises econômicas e pela sua capacidade de institucionalizar os conflitos das classes sociais. Diante desta realidade histórica nova a “exploração psíquica”  (alienação) suplanta a exploração de classe e as decisões ou falta de decisões das “elites poderosas” explicam melhor os rumos da história do que a luta de classes.
Voltando um pouco à crítica de Mills aos empiristas, cabe ressaltar que vários outros pensadores se embrenharam no mesmo objetivo. Entre os mais conhecidos, além de Mills no contexto da sociologia americana, temos P. A . SOROKIN. No contexto da sociologia alemã, temos T. W. ADORNO, entre outros pensadores da escola de Frankfurt e no contexto da sociologia francesa, temos Pierre BOURDIEU, entre outros autores de orientação marxista althusseriana.




4 - SÍNTESE

O debate entre empiricistas e teoricistas já acompanha as ciências sociais a bastante tempo, remontá-lo historicamente exigiria um esforço maior do que aquele proposto para este trabalho. Contudo, após as várias leituras e análises de vários textos propostos, penso que, se for o caso de tomar partido pôr um ou outro caminho a seguir, o mais sensato é não tomar partido. Não tomar partido significa, para mim, reconhecer os limites do nosso conhecimento intelectual atual e assumir que, enquanto alunos da graduação, esta meta agora é inatingível ( a meta da defesa ou não de um ou outro caminho, com qualidade e determinação).
Diante deste quadro e reconhecidas as nossas limitações, contextualizando a proposta de realizar uma síntese deste trabalho ficaria com as orientações de Goode e Hatt - Métodos em pesquisa social - que após uma boa explanação dos aspectos positivos e negativos de se privilegiar as teorias em detrimento da análise dos fatos e vice versa, nos deixam a sugestão de que na verdade devemos sempre trabalhar em ciências sociais manipulando tanto as teorias como os fatos. Ou seja, existe uma inter-relacao entre teoria e fato que faz-nos a concluir que fato e teoria se estimulam reciprocamente. Embora a teoria possa dirigir o processo científico, os fatos, pôr sua vez  desempenham importante papel no desenvolvimento da teoria.
Duas frases neste texto, dentre outras várias de suma importância, ficaram para mim como “pensamentos de cabeceira”, são elas:

Quase todos os descobridores foram precedidos pôr outros que viram sua descoberta e não pensaram muito sobre o assunto (...)”  p. 20

“A sociologia como ciência está na sua infância, as previsões que pode fazer são relativamente grosseiras (..)” p. 17

A primeira frase esta presente na parte denominada “Fato inicia teoria” e está alertando para a idéia de que “o fato pode iniciar teoria somente quando o estudante se mantém atento as possíveis inter-relacoes entre os dois.”
A segunda frase esta presente na parte denominada “Teoria prevê fatos” e está relacionada a um exemplo dado pelo autor no sentido de chamar a atenção para os perigos de cair nos exageros de generalizações desmedida




BIBLIOGRAFIA




n  FERNANDES, Florestan (Coord.) Charles Wright Mills Sociologia. São Paulo:               Ática, 1985. Série Grandes Cientistas Sociais, V. 48.


n  GOODE, W. & HATT, P. Métodos em Pesquisa Social. São Paulo: Nacional,         1975.


n  MILLS, c. Wright. O Empirismo Abstrato. In. A Imaginação Sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1980.


n  SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo:  Cortez-Moraes, 1979.


n  THIOLLENT, M. Crítica Metodológica, investigação social e enquete o operária. São Paulo: Polis, 1980.



















      
 

       

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