APLICADO
AS ORIENTAÇÕES DE ANTONIO JOAQUIM SEVERINO - DIRETRIZES PARA A LEITURA, ANÁLISE
E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS In. Metodologia do Trabalho Científico - em C. Wright
MILLS - O Empirismo Abstrato In. A Imaginação Sociológica.
1. ANÁLISE TEXTUAL
“ Hoje, a principal tarefa intelectual e
política do cientista social - pois as duas aqui coincidem - é deixar
claros os elementos da inquietação e da indiferença contemporâneos.”
MILLS, C. Wright. A Imaginação Sociológica. Rio de
Janeiro: Zahar, 1980. P.20
Esta frase
transcrita acima é apenas uma das principais frases de Mills em “A Imaginação
Sociológica”. Este pequeno trecho, porém sinaliza para a importante
contribuição deste autor para o estudo das ciências sociais.
Além de “A
Imaginação Sociológica ”, obra que analisamos neste trabalho caberia destacar
outras publicações. Em 1948, Mills publica, com a colaboração de Helen
Schneider, “The new of power: America’s tabor leaders”; em 1950, “The Puerto
Rican journey: New York’s newest migrants”, com Clarence Senior e Rose Godsen;
em 1951, “White collar: the American middle classes”; em 1953, com Hans Gerth,
“Character and Social structure: the Psychology of social institutions” e em
1956 publica “The power elite”, este último considerado pôr muitos como o seu
trabalho mais polemico sobre a sociedade norte-americana.
Sobre os dados
biográficos do autor caberia realizarmos algumas breves considerações. Mills
nasceu em Waco, Texas, numa família de classe média irlandesa e inglesa. Passou
a sua infância em Sherman, Forth North e Dallas, onde freqüentou uma série de
escolas paroquiais e ginásios públicos. Anos mais tarde, reconheceria a uma
amigo a influencia que a educação católico-romana poderia ter tido sobre ele.
E, embora, se declarasse agnóstico, o seu “Sermão pagão ao clero cristão”,
publicado no The Nation, em 1958, só poderia ter sido elaborado pôr alguém com
profunda sensibilidade para o que deveria ser a consciência religiosa. Fred
Blum chegou a considerar que, pouco depois, o mesmo jornal recebeu uma carta
onde se dizia que “Deus não morreu porque existe, em alguma medida, nos
escritos de C. Wright Mills”.
C. Wright
Mills, morto prematuramente aos 46 anos em 1962, figura entre os nomes de maior
projeção da moderna sociologia, sendo mesmo pôr muitos considerado como o maior
sociólogo norte-americano. Seus livros continuam sendo reeditados no mundo de
língua inglesa e em traduções nas principais línguas ocidentais, assim como se
multiplicam os estudos e interpretações de sua obra e idéias, o que demonstra
permanecer viva e atuante sua influencia no pensamento sociológico
contemporâneo.
Sobre os
pensadores que influenciaram a construção do seu conhecimento, o próprio Mills
reconhecia como intelectuais que participaram desta construção os seus
seguintes colegas: Casanova, Isaac Deutscher, Marcuse, Miliband, George Mosse e
Irving Horowitz, entre outros.
Seguindo as
orientações de “Severino”, passarei a contemplar o vocabulário da obra em
destaque, para isso privilegiarei “conceitos e termos que sejam fundamentais
para a compreensão do texto”. *
Encontrei no
texto vários conceitos e várias palavras que constam deste vocabulário que são
fundamental para a compreensão e o entendimento da obra de Mills, no entanto
enfatizarei aqueles conceitos que mais se destacam e que me parecem como os
mais importantes.
O primeiro
conceito, facilmente reconhecido como o central neste texto, que deve ser
considerado é a idéia do autor sobre o que considera como “Empirismo Abstrato”.
Para Mills, empirismo abstrato vem a ser, entre outras coisas, um estilo de
pesquisa social.
_____________________________________________________
* SEVERINO, Antonio Joaquim. Diretrizes Para a
Leitura, Análise e Interpretação de Textos. In. Metodologia do Trabalho
Científico. p. 126
“O estilo de pesquisa social que chamei de empirismo abstrato parece,
com freqüência, consistir de esforços para reformular e adotar filosofias da
ciência natural, de modo a formar um programa e um cânone para o trabalho na
ciência social.”
MILLS, C. Wright. A Imaginação Sociológica. Rio de Janeiro: Zahar,
1980. P. 67
Um outro
conceito bastante central no texto, segundo o meu entendimento, é o conceito de
psicologismo. Este conceito é pôr várias
vezes citados no texto, mas é na página 77 que o autor decide dar a sua
explicação sobre este termo:
“ Psicologismo refere-se à tentativa de explicar os fenômenos sociais em
termos de fatos e teorias sobre a constituição do indivíduo dos indivíduos.
Historicamente, como doutrina, baseia-se numa negativa metafísica explícita da
realidade da estrutura social. Pôr outras vezes, seus partidários podem
apresentar uma concepção da estrutura que o reduz, no que se relaciona com as
explicações, a um conjunto de ambientes pessoais. (...)”
Apud, p. 2
Existem outros
vários termos e denominações muito próprias do autor que são muito
interessantes e originais, no entanto considero que estes termos e denominações
não chegam a se enquadrar na proposta de Severino -
conceitos e termos que sejam fundamentais para a compreensão do texto -
localizando-os no texto encontramos: - “A sociologia, como parteira de uma série de ciências sociais” p. 70; “ Os sociólogos deveriam ser uma espécie de técnicos-parteiros e guardiães da
interpretação de tudo (...)” p. 73; “ (...) uma idéia do desenvolvimento da
ciência social como uma empresa de
construções de casas. (...)” p. 75; ...
- ESQUEMA
O capítulo 3 -
O Empirismo Abstrato - de Mills está dividido em 5 blocos, a saber:
Bloco 1 - Neste primeiro bloco, o autor introduz os
seus objetivos neste capítulo do livro dizendo: “ Não estou tentando, evidentemente, resumir os resultados de todo o
trabalho dos empiristas abstratos, mas apenas deixar claro o caráter geral de
seu estilo de trabalho e algumas de suas suposições (...)”. Mills começa a construir a sua crítica
sobre o trabalho dos empiristas abstratos ressaltando que “ (...) talvez a opinião pública seja o assunto da maior parte dos
trabalhos de tal estilo (...)”. O autor considera que muitos problemas dos
quais os empiristas abstratos se ocupam carecem de uma formulação adequadamente
planejada dentro de referencias estruturais.
Bloco 2 - No
segundo bloco, o autor continua nas suas considerações acerca do empirismo
abstrato, afirmando: “- Como um estilo de
ciência social, o empirismo abstrato não é caracterizado pôr qualquer
proposição ou teoria substantiva. Não se baseia em qualquer concepção nova da
natureza da sociedade ou do homem, ou sobre quaisquer fatos particulares com
eles relacionados. (...)”
Neste mesmo
ponto, Mills vai falar em duas categorias profissionais que estao ligados a
atividade profissional dos empirismos abstratos: - o administrador intelectual
e o técnico em pesquisa. No final deste ponto, o autor realiza algumas
considerações sobre método científico.
Bloco 3 - Neste
bloco, Mills vai citar Paul F. Lazarsfeld a quem vai considerar um dos mais sofisticados representantes da
escola dos empiristas abstratos. Cita algumas definições que Lazarsfeld vai
fazer de sociologia, de sociólogo, e do psicologismo. Esta última, um
importante pressuposto teórico constante neste trabalho.
Bloco 4 - Neste
bloco, Mills diz que existem “duas apologias do empirismo abstrato”, falando e
relacionando em “economia de verdades” versos “políticas de verdade”. Quanto as
duas apologias, a primeira concerne as preocupações pelos problemas dos
interesses dos financiadores das pesquisas, e a segunda concerne as
“necessidades das ciências”, conforme o autor expõe na página 75.
Neste ponto do
texto, o autor vai se debruçar sobre o tema “Psicologismo”, explicando-o e
determinando-o, conforme já foi citado anteriormente. Mills vai citar os
pressupostos teóricos que considera como o oposto ao psicologismo.
Bloco 5 - Neste
bloco, o autor passa a fazer algumas considerações que destoam um pouco do tom
crítico que realizou até aqui: “Os
métodos específicos do empirismo são claramente adequados e convenientes para o
trabalho em muitos problemas, e não vejo como se possa fazer qualquer objeção
razoável à sua utilização. (...) Se os problemas de que nos ocupamos são
passíveis, facilmente, de processos estatísticos, devermos sempre tentar
usá-los.”
O autor encerra
o capítulo falando na “grande teoria” e reconsiderando mais alguma coisas
acerca do empirismo abstrato.
2. ANÁLISE TEMÁTICA
Wright Mills
usa todo o capitulo 3 desta sua obra maior - A Imaginação Sociológica - para
analisar “O Empirismo Abstrato” que o autor considera como um estilo de
pesquisa. Basicamente, Mills vai analisar um processo detectado pôr ele, com
auxilio de alguns pensadores, seus colegas, que é uma espécie de transição do
que está considerando como “filosofia social” para uma “ciência empírica”
plenamente organizada.
Neste processo
de transição, Mills chama Lazarsfeld a participar de suas explanações e identifica
quatro fases distintas deste processo. Neste contexto a idéia que me parece
como central é a consideração feita sobre o que foi denominado de
“psicologismos”. Sobre o pscologismo, o autor usa uma grande nota de rodapé,
pagina 77, para explicar sobre o que esta falando. Não voltarei a transcrever a
citação, ou parte dela, pois já o fiz na parte anterior deste mesmo trabalho.
Dentro desta
perspectiva , Mills vai levantar algumas polemicas como a relação do que chamou
de “inibição metodológica” com a “Imaginação Sociológica”. Sobre a inibição
metodológica, Mills vai criticar aqueles autores “ que
se recusam a dizer qualquer coisa sobre a sociedade moderna, a menos que tenha
sido submetida ao pequeno moinho do ritual estatístico.”, fazendo uma
alusão aos empiristas abstratos e embutindo já uma outra crítica a esta escola.
No final do
texto, Mills muda um pouco o tom crítico
que usou durante o texto e faz afirmações mais conciliatórias:
“ Intelectualmente, essas escolas representam
abdicações da ciência social clássica. (...)
A grande teoria seria uma tendência menor entre os filósofos - e
talvez alguma coisa que os jovens acadêmicos tem de conhecer. O empirismo
abstrato seria uma teoria para os filósofos da ciência, bem como um acessório
útil entre os diversos métodos de pesquisa social.”
Ibid., p85.
3 - ANÁLISE
INTERPRETATIVA - PROBLEMATIZAÇÃO
Pelo o que pude
observar na leitura de outras obras acessórias a este trabalho, Mills, após assumir
as posições críticas em relação ao que considerou “empirismo abstrato”,
realizou uma autocrítica pessoal em relação a esta sua posição crítica inicial.
Ou seja, em 1959, Mills escreve, ou é publicado, “the sociological
imagination”, trabalho que foi gerado na situação em que se encontrava como
diretor do “Labor Research Division of the Bureau of Applied Social Reseach”,
onde estava sob supervisão de PAUL LAZARSFELD. Em “A Imaginação Sociológica”,
Mills analisa criticamente os empiristas abstratos, tecendo várias relações que
os colocam como reducionistas, psicologistas, etc. Porém, em 1960, Mills vai
realizar um processo de autocrítica em relação a estas posições assumidas nesta
obra afirmando:
“Creio também que é necessário admitir que na
segunda metade da década de quarenta me meti de maneira bastante profunda no
que pensava então que podia ser minha profissão como professor: uma espécie de
investigação empírica organizada que resultou num beco intelectual sem saída e
numa adaptação política. E me custou algum tempo e muito esforço vencer tudo
isto.”
FERNANDES, Florestan (Coorden.) Charles Wright Mills
- sociologia. São Paulo: Ática, 1985.
Na obra citada
na referencia acima da coleção “ grandes cientistas sociais” no subitem “A
questão: ser sociólogo nos E.U.A . da década de quarenta”, podemos acompanhar
alguma considerações dos organizadores desta obra que são extremamente
esclarecedoras, no sentido de entendermos a trajetória do intelectual C. W. Mills, sua carreira científica, o
cenário e o meio sócio político que envolveram a sua produção científica.
Em linhas
gerais, observamos na sociedade americana desta época a dissolução do
radicalismo populista desde o final do século e sua crescente incorporação e
conformismo à sociedade erigida pela dinâmica do capital monopolista e pela
presença do imperialismo americano no mercado e política internacionais. Pôr
outro lado, temos o esvaziamento, esgotamento e dissolução dos movimentos
dissidentes radicais e democráticos que estavam em ascensão desde o final do
século.
“ (...) qualquer justiça que se faca ao pensamento
de Mills deve necessariamente levar em consideração o momento político e
cultural da década de quarenta que, na melhor das hipóteses, é a década da
falência e dissolução do próprio radicalismo, o que, em outras palavras, é a
outra face da prosperidade econômica, do conformismo e da crescente comemoração
do american way of life do pós-guerra. Neste processo os intelectuais
americanos deixavam de se pensar como rebeldes e radicais.
Ibid., p. 17
Segundo a mesma
obra, acima referida, podemos afirmar que as questões e as análises feitas pôr
Mills durante a sua carreira acadêmica tem o seu cerne nas discussões que
podemos esquematizar da seguinte forma:
1- Que tipos de grupos podem
ser considerados alavancas para as mudanças históricas ?
2- Onde podem os liberais
colocar, com Max Lerner, uma “fé combativa” ?
3- Que orientação política é
possível ?
4- De que ponto de vista se
pode observar a sociedade de tal maneira que se vejam amplas rachaduras e
fortes tensões ?
Dentro deste
bloco do trabalho, seria importante ainda levantar mais uma questão: - o debate
contínuo de Mills com o marxismo. Pelo o que podemos perceber através das
leituras propostas, caberia destacar que a sociologia de Mills está ancorada
num contínuo debate com o marxismo. Basicamente, tratar-se-ia, para ele, de uma
teoria inadequada e ultrapassada à análise da etapa monopolista na qual o
próprio capitalismo teria sido estabilizado pela administração das crises
econômicas e pela sua capacidade de institucionalizar os conflitos das classes
sociais. Diante desta realidade histórica nova a “exploração psíquica” (alienação) suplanta a exploração de classe e
as decisões ou falta de decisões das “elites poderosas” explicam melhor os
rumos da história do que a luta de classes.
Voltando um
pouco à crítica de Mills aos empiristas, cabe ressaltar que vários outros
pensadores se embrenharam no mesmo objetivo. Entre os mais conhecidos, além de
Mills no contexto da sociologia americana, temos P. A . SOROKIN. No contexto da
sociologia alemã, temos T. W. ADORNO, entre outros pensadores da escola de
Frankfurt e no contexto da sociologia francesa, temos Pierre BOURDIEU, entre
outros autores de orientação marxista althusseriana.
4 - SÍNTESE
O debate entre
empiricistas e teoricistas já acompanha as ciências sociais a bastante tempo,
remontá-lo historicamente exigiria um esforço maior do que aquele proposto para
este trabalho. Contudo, após as várias leituras e análises de vários textos
propostos, penso que, se for o caso de tomar partido pôr um ou outro caminho a
seguir, o mais sensato é não tomar partido. Não tomar partido significa, para
mim, reconhecer os limites do nosso conhecimento intelectual atual e assumir
que, enquanto alunos da graduação, esta meta agora é inatingível ( a meta da
defesa ou não de um ou outro caminho, com qualidade e determinação).
Diante deste
quadro e reconhecidas as nossas limitações, contextualizando a proposta de
realizar uma síntese deste trabalho ficaria com as orientações de Goode e Hatt
- Métodos em pesquisa social - que após uma boa explanação dos aspectos
positivos e negativos de se privilegiar as teorias em detrimento da análise dos
fatos e vice versa, nos deixam a sugestão de que na verdade devemos sempre
trabalhar em ciências sociais manipulando tanto as teorias como os fatos. Ou
seja, existe uma inter-relacao entre teoria e fato que faz-nos a concluir que
fato e teoria se estimulam reciprocamente. Embora a teoria possa dirigir o
processo científico, os fatos, pôr sua vez
desempenham importante papel no desenvolvimento da teoria.
Duas frases
neste texto, dentre outras várias de suma importância, ficaram para mim como
“pensamentos de cabeceira”, são elas:
“Quase todos os descobridores foram
precedidos pôr outros que viram sua descoberta e não pensaram muito sobre o
assunto (...)” p. 20
“A sociologia como ciência está na sua infância, as
previsões que pode fazer são relativamente grosseiras (..)” p. 17
A primeira
frase esta presente na parte denominada “Fato inicia teoria” e está alertando
para a idéia de que “o fato pode iniciar teoria somente quando o estudante se
mantém atento as possíveis inter-relacoes entre os dois.”
A segunda frase
esta presente na parte denominada “Teoria prevê fatos” e está relacionada a um
exemplo dado pelo autor no sentido de chamar a atenção para os perigos de cair
nos exageros de generalizações desmedida
BIBLIOGRAFIA
n FERNANDES, Florestan (Coord.) Charles Wright
Mills Sociologia. São Paulo:
Ática, 1985. Série Grandes Cientistas Sociais, V. 48.
n GOODE, W. & HATT, P. Métodos em Pesquisa
Social. São Paulo: Nacional,
1975.
n MILLS, c. Wright. O Empirismo Abstrato. In. A
Imaginação Sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1980.
n SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do
Trabalho Científico. São Paulo:
Cortez-Moraes, 1979.
n THIOLLENT, M. Crítica Metodológica,
investigação social e enquete o operária. São Paulo: Polis, 1980.
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