quarta-feira, 26 de abril de 2017

Geertz




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GEERTZ, Clifford. Negara. O Estado Teatro no Século XIX. Lisboa, DFEL, 1991, pp. 13-39 e 153-171.


INTRODUÇÃO - Bali e o Método Histórico

O autor inicia localizando (temporal e espacialmente) o seu leitor no campo em que está se trabalhando: “a Indonésia de hoje (...) no Bali hindu (...)” (Pag. 13)
Em seguida passa a denominar a palavra “Negara” e a palavra que representa o seu oposto, “desa”. (Pag. 14)

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Neste ponto, Geertz ressalta que “reconstruir o desenvolvimento político da Indonésia pré-colonial é fundamental para quem se preocupe com a compreensão do padrão político (...)”. Este pensamento introduz uma análise que o autor faz na seqüência sobre as diferentes concepções de histórias que poderiam ser usadas para esta “reconstrução” (citada acima). Falando de “estórias” e  “histórias”, encerra o tópico externando  a sua posição pessoal a respeito das duas concepções de história que apresenta. (Pag. 16-7)

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Dando continuidade à discussão da concepção de história que defende, o autor coloca a necessidade de trabalhar com a “construção de um modelo apropriado de processo sociocultural (...)”, destacando o pensador que tornou famosa esta abordagem, Max Weber. (Pag. 17)
Na seqüência, o autor empenha-se em “afastar uma série de falácias metodológicas muito divulgadas (...)” sobre Bali, destacando três pontos neste sentido. (Pag. 18)
Encerra o tópico ensinando: “Os dados sobre Bali devem ser corrigidos em termos de tempo e em termos de lugar antes de poderem ser usados como linhas de orientação gerais para a interpretação da civilização índica na Indonésia e noutros contextos.” (Pag. 19)

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O quarto e último tópico da introdução inicia com uma indagação: “Como pode então a etnografia do Bali recente ser de todo útil para uma tal interpretação?” A resposta é dada em cima de duas reflexões: “Em primeiro lugar (...) a mudança foi em grande parte endógena. (...) não ocorreram em Bali dois acontecimentos revolucionários que transformaram radicalmente a ordem social e cultural noutros lugares (...). Em segundo lugar, ao renunciarmos a qualquer propósito de escrever um relato cronístico do período clássico, libertamo-nos do principal incentivo para gerar fábulas históricas. (...)” (Pag. 20)
A introdução é encerrado com construções teóricas do autor sobre a adoção dos “modelos”, inspirados nos tipos ideais de Weber: “Um tal modelo é, em si, abstrato. Embora seja construído a partir de dados empíricos, ele é aplicado experimentalmente, e não dedutivamente, à interpretação de dados empíricos. É, pois, uma entidade conceptual, não uma entidade histórica. (...)” (Pag 20-1)


CAPITULO I - DEFINIÇÃO POLÍTICA: AS FONTES DA ORDEM


O Mito do Centro Exemplar

Inicialmente o autor transcreve toda uma situação histórica de Bali onde traz a ascensão e o declínio de reis e súditos, a fim de situar o que denomina “a morte da velha ordem”. (Pag. 24-5)

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Neste ponto, Geertz delineia o estado balinês: “Tratava-se de um Estado-teatro no qual os reis e os príncipes eram os empresários, os sacerdotes encenadores, e os camponeses atores, equipe técnica e público. (...) O cerimonialismo da corte era a forca motriz da política da corte; e o ritual de massas não era um dispositivo de apoio do Estado; (...)” (Pag. 25)
Neste ponto destacaria ainda a menção que faz do mito: “A tarefa crucial de legitimação (...) foi levada a cabo pelo mito, curiosamente, por um mito de colonização.” (pag. 26)

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Neste ponto, o autor faz uma análise da estrutura social balinesa. Destacaria o seguinte trecho: “Toda a estrutura, porém, assentava primeiramente na cerimonia e no prestígio, tornando-se, como veremos, tanto mais frágil e téneu em real domínio político e subordinação, quanto mais alto se subia na pirâmide; (...)”
Geertz trabalha com o que denominou “Padrão do status decrescente (Sinking Status Pattern)”, sobre este pressuposto, ele afirma: “O padrão do statuus decrescente assenta na noção de que a humanidade descende dos deuses, não só genealogicamente mas também no sentido de ter um valor intrínseco inferior.”(Pag. 29)

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Neste momento do texto, o autor chama Gregory Bateson para colaborar teoricamente sobre a percepção que os balineses constróem do seu passado e, consequentemente, a concepção histórica que pode ser aqui entendida como mais adequada para o entendimento desta cultura balinesa. Destacaria o trecho: ”Como Gregory Baterson fez notar, a visão balinesa do passado não é de modo nenhum verdadeiramente histórica, no sentido próprio do termo. Com toda a sua mitificação explicativa, os Balineses buscam no passado não tanto as causas do presente, como o padrão pelo qual o possam julgar; isto é, buscam o padrão imutável a partir do qual o presente deve ser devidamente modelado mas que, por acidente, ignorância, indisciplina ou negligencia, raras vezes é seguido.” (Pag. 31)
Na seqüência a ênfase vai ser a política balinesa, quando Geertz afirma que “(...) a política balinesa do século XIX pode ser vista sob a influencia de duas forcas opostas: a centrípeta, do ritual exemplar do Estado, e a centrífuga da estruturado Estado. (...)”  (Pag. 32)


A Geografia e o Equilíbrio do Poder

Neste tópico, o autor nos convida para uma análise panorâmica das condições geoespaciais de Bali, ressaltando a necessidade de um descentramento do observador que a realiza. São várias as características mencionadas, do relevo, da disposição física do espaço e da dimensão geográfica do local, a fim de destacar finalmente que “No respeitante à organização do Estado, o efeito deste tipo de paisagem foi o estabelecimento de um campo de forcas geopolítico muito intrincado e não homogêneo, cuja ação era tudo menos integradora.” (Pag. 34)

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O Ponto dois deste subitem do texto continua nesta perspectiva geopolítica, onde o autor destaca a relação “política internacional” e “política doméstica”: “A política ‘internacional’ do combate inter-regiões sobrepunha-se diretamente - e inclusive fundia-se com ela - à política ‘doméstica’ da rivalidade intra-região; era posta em cena não entre um conjunto de Estados encapsulados, impérios-miniaturas, mas antes através de uma rede intacta de alianças e oposições que se estendia irregularmente sobre toda a paisagem.” (Pag. 34)
Destacaria ainda que “Do ponto de vista sociológico, a primazia da luta pelo poder ao nível longitudinal (pequena escala) sobre o transversal teve várias implicações, para o caráter da política balinesa.(...) ” (Pag. 35)
Geertz vai afirmar mais adiante que “Ao nível mais geral, a política balinesa era mais uma questão de geometria - geometria física - do que de aritmética.” Isto é dito com base em todas as informações geoespaciais trazidas e analisadas pelo autor no texto para se inferir o Estado e a política balinesa.

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Neste ponto, o autor articula de forma resumida os vários aspectos e características do Estado e da organização política e social balinesa. Destacaria o trecho onde afirma que “uma visão geral da organização do Bali clássico não revela um conjunto definido de Estados independentes, organizados de forma hierárquica, vincadamente demarcados um dos outros e envolvidos em ‘relações externas’ através de fronteiras bem desenhadas (...)  Em cada ponto deste campo diverso e móvel, a luta era mais pelos homens - pela sua deferência, o seu apoio e a sua lealdade pessoal - do que pela terra. O poder político era menos inerente à propriedade do que às pessoa; era uma questão de acumulação de prestígio, não de território. (...)” (Pag. 38)


CONCLUSÃO

A conclusão inicia com uma discussão sobre os vários significados que o termo Estado apresenta, ou suscita. Neste sentido, Geertz relaciona um pouco os significados de Estado no Ocidente e em Bali, afirmando que “nenhuma (concepção) consegui dar conta, de forma utilizável, da sua natureza.” (Pag. 154)  Geertz analisa perspectivas de Estado de Hobbes, Marx e Pareto e demonstra a sua própria, afirmando: “A simbologia política é ideologia política, e a ideologia política é hipocrisia de classe. (...)” (Pag. 155)
Diante de todo este universo de significado e de concepções de organização política e de Estado, o autor afirma que “Não é difícil - de fato é fatalmente fácil - encaixar o Estado balinês tal como foi aqui descrito, em um ou outro destes modelos familiares, ou em todos eles ao mesmo tempo. (...) No entanto reduzir o Negara a lugares-comuns tão fatigados (...) é deixar que grande parte do que nele é mais interessante se escape da nossa visão. (...)” (Pag. 155)

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A partir deste momento, o autor começa a nos dar pistas interessantíssimas para que entendamos a dinâmica do Estado balinês, segundo o seu ponto de vista e a sua perspectiva de análise  e compreensão.
“Compreender o Negara significa localizar essas emoções e analisar esses atos; elaborar uma poética do poder, não uma mecânica. (...)
Antes de tudo o mais, o Estado balinês era uma representação da forma como a realidade estava organizada; uma vasta imagem dentro da qual objetos como os kris (...), tinham capacidades próprias. A idéia de que a política é um jogo imutável de paixões naturais, (...) é errada em qualquer parte; em Bali, o absurdo dessa idéia torna-se patente. As paixões são tão culturais quanto os dispositivos; e o modo de pensar - hierárquico, sensorial, simbolista e teatral - que inspira um, inspira outro.” (Pag. 156)

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A partir da afirmação: “Foi esta combinação de uma forma cultural essencialmente constante, o culto do rei sagrado, com uma enorme variabilidade nas pessoas e recursos disponíveis, para construir essa forma, num certo lugar ou num dado tempo, que fez da ‘luta pelo poder’ no Bali clássico uma explosão contínua de exibição competitiva. (...)”  (Pag. 158) O autor dedica os pontos seguintes (4,5 e 6) a uma extensa análise da relação dos reis com a organização política e a formação do Estado balinês.

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Este último ponto traz, inicialmente as concepções de poder que o autor constróe  a fim de basear as suas impressões de poder no caso específico de Bali. Defini “o político como um domínio da ação social”, destacando que  as denominações são pontos de vista e “como todos os pontos de vista, é parcial e advém de uma tradição específica da interpretação da experiência histórica.” Para destacar o seu próprio ponto de vista, afirma que “Foi argumento central deste trabalho (...) que a vida girava em torno dos punggawas, perbekels, puris e jeros do Bali clássico continha uma tal concepção alternativa daquilo que a política é e do que é o poder. Estrutura de ação (...) o Negara era também, e enquanto tal, uma estrutura de pensamento. Descrevê-lo é descrever uma constelação de idéias guardadas num relicário.” (Pag. 169)
Na página 170, o autor tece considerações interessantes sobre a análise interpretativa e a necessidade da desconstrução dos preconceitos onde eu destacaria o seguinte trecho: “A limitação da análise interpretativa na maior parte da antropologia contemporânea ao aspecto supostamente mais ‘simbólico’ da cultura é um mero preconceito, nascido da noção, (...) de que o ‘simbólico’ se opõe ao ‘real’ como o extravagante ao sóbrio, o figurativo ao literal, (...)  Para se analisarem as expressões do Estado-teatro, para apreendê-las como teoria, este preconceito tem de ser posto de lado, (...)  O real é tão imaginado como o imaginário.” 
Esta afirmação colabora para o que o autor vai afirmar mais adiante sobre a política balinesa: “Que a política balinesa, tal como a de toda a gente, incluindo a nossa, era ação simbólica, não implica portanto, que estivesse apenas na mente ou que consistisse inteiramente de danças e incesto (...)  Os aspectos dessa política aqui examinados (...) configuravam uma realidade tão densa e imediata como a própria ilha. (...)  Os dramas do Estado-Teatro, miméticos de si mesmos, não eram, ao fim e ao cabo, nem ilusões nem mentiras, nem prestidigitação nem faz de conta. Eles eram o que existia.” (Pag. 171)



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