Atenção
para mais uma Ficha de Leitura. Aproveite porque é grátis e você encontra somente aqui
no nosso blog.
GEERTZ, Clifford. Negara. O Estado Teatro no Século
XIX. Lisboa, DFEL, 1991, pp. 13-39 e 153-171.
INTRODUÇÃO - Bali e o Método Histórico
O
autor inicia localizando (temporal e espacialmente) o seu leitor no campo em
que está se trabalhando: “a Indonésia de hoje (...) no Bali hindu (...)” (Pag.
13)
Em
seguida passa a denominar a palavra “Negara” e a palavra que representa o seu
oposto, “desa”. (Pag. 14)
2
Neste
ponto, Geertz ressalta que “reconstruir o desenvolvimento político da Indonésia
pré-colonial é fundamental para quem se preocupe com a compreensão do padrão
político (...)”. Este pensamento introduz uma análise que o autor faz na
seqüência sobre as diferentes concepções de histórias que poderiam ser usadas
para esta “reconstrução” (citada acima). Falando de “estórias” e “histórias”, encerra o tópico externando a sua posição pessoal a respeito das duas
concepções de história que apresenta. (Pag. 16-7)
3
Dando
continuidade à discussão da concepção de história que defende, o autor coloca a
necessidade de trabalhar com a “construção de um modelo apropriado de processo
sociocultural (...)”, destacando o pensador que tornou famosa esta abordagem,
Max Weber. (Pag. 17)
Na
seqüência, o autor empenha-se em “afastar uma série de falácias metodológicas
muito divulgadas (...)” sobre Bali, destacando três pontos neste sentido. (Pag.
18)
Encerra
o tópico ensinando: “Os dados sobre Bali devem ser corrigidos em termos de
tempo e em termos de lugar antes de poderem ser usados como linhas de
orientação gerais para a interpretação da civilização índica na Indonésia e
noutros contextos.” (Pag. 19)
4
O
quarto e último tópico da introdução inicia com uma indagação: “Como pode então
a etnografia do Bali recente ser de todo útil para uma tal interpretação?” A
resposta é dada em cima de duas reflexões: “Em primeiro lugar (...) a mudança
foi em grande parte endógena. (...) não ocorreram em Bali dois acontecimentos
revolucionários que transformaram radicalmente a ordem social e cultural
noutros lugares (...). Em segundo lugar, ao renunciarmos a qualquer propósito
de escrever um relato cronístico do período clássico, libertamo-nos do
principal incentivo para gerar fábulas históricas. (...)” (Pag. 20)
A
introdução é encerrado com construções teóricas do autor sobre a adoção dos
“modelos”, inspirados nos tipos ideais de Weber: “Um tal modelo é, em si,
abstrato. Embora seja construído a partir de dados empíricos, ele é aplicado
experimentalmente, e não dedutivamente, à interpretação de dados empíricos. É,
pois, uma entidade conceptual, não uma entidade histórica. (...)” (Pag 20-1)
CAPITULO I - DEFINIÇÃO POLÍTICA: AS FONTES DA ORDEM
O Mito do Centro Exemplar
Inicialmente
o autor transcreve toda uma situação histórica de Bali onde traz a ascensão e o
declínio de reis e súditos, a fim de situar o que denomina “a morte da velha
ordem”. (Pag. 24-5)
2
Neste
ponto, Geertz delineia o estado balinês: “Tratava-se de um Estado-teatro no
qual os reis e os príncipes eram os empresários, os sacerdotes encenadores, e
os camponeses atores, equipe técnica e público. (...) O cerimonialismo da corte
era a forca motriz da política da corte; e o ritual de massas não era um
dispositivo de apoio do Estado; (...)” (Pag. 25)
Neste
ponto destacaria ainda a menção que faz do mito: “A tarefa crucial de
legitimação (...) foi levada a cabo pelo mito, curiosamente, por um mito de
colonização.” (pag. 26)
3
Neste
ponto, o autor faz uma análise da estrutura social balinesa. Destacaria o
seguinte trecho: “Toda a estrutura, porém, assentava primeiramente na cerimonia
e no prestígio, tornando-se, como veremos, tanto mais frágil e téneu em real
domínio político e subordinação, quanto mais alto se subia na pirâmide; (...)”
Geertz
trabalha com o que denominou “Padrão do status decrescente (Sinking Status
Pattern)”, sobre este pressuposto, ele afirma: “O padrão do statuus decrescente
assenta na noção de que a humanidade descende dos deuses, não só
genealogicamente mas também no sentido de ter um valor intrínseco inferior.”(Pag.
29)
4
Neste
momento do texto, o autor chama Gregory Bateson para colaborar teoricamente
sobre a percepção que os balineses constróem do seu passado e,
consequentemente, a concepção histórica que pode ser aqui entendida como mais
adequada para o entendimento desta cultura balinesa. Destacaria o trecho: ”Como
Gregory Baterson fez notar, a visão balinesa do passado não é de modo nenhum
verdadeiramente histórica, no sentido próprio do termo. Com toda a sua
mitificação explicativa, os Balineses buscam no passado não tanto as causas do
presente, como o padrão pelo qual o possam julgar; isto é, buscam o padrão
imutável a partir do qual o presente deve ser devidamente modelado mas que, por
acidente, ignorância, indisciplina ou negligencia, raras vezes é seguido.”
(Pag. 31)
Na
seqüência a ênfase vai ser a política balinesa, quando Geertz afirma que “(...)
a política balinesa do século XIX pode ser vista sob a influencia de duas
forcas opostas: a centrípeta, do ritual exemplar do Estado, e a centrífuga da
estruturado Estado. (...)” (Pag. 32)
A Geografia e o Equilíbrio do Poder
Neste
tópico, o autor nos convida para uma análise panorâmica das condições
geoespaciais de Bali, ressaltando a necessidade de um descentramento do
observador que a realiza. São várias as características mencionadas, do relevo,
da disposição física do espaço e da dimensão geográfica do local, a fim de
destacar finalmente que “No respeitante à organização do Estado, o efeito deste
tipo de paisagem foi o estabelecimento de um campo de forcas geopolítico muito
intrincado e não homogêneo, cuja ação era tudo menos integradora.” (Pag. 34)
2
O
Ponto dois deste subitem do texto continua nesta perspectiva geopolítica, onde
o autor destaca a relação “política internacional” e “política doméstica”: “A
política ‘internacional’ do combate inter-regiões sobrepunha-se diretamente - e
inclusive fundia-se com ela - à política ‘doméstica’ da rivalidade
intra-região; era posta em cena não entre um conjunto de Estados encapsulados,
impérios-miniaturas, mas antes através de uma rede intacta de alianças e
oposições que se estendia irregularmente sobre toda a paisagem.” (Pag. 34)
Destacaria
ainda que “Do ponto de vista sociológico, a primazia da luta pelo poder ao
nível longitudinal (pequena escala) sobre o transversal teve várias
implicações, para o caráter da política balinesa.(...) ” (Pag. 35)
Geertz
vai afirmar mais adiante que “Ao nível mais geral, a política balinesa era mais
uma questão de geometria - geometria física - do que de aritmética.” Isto é
dito com base em todas as informações geoespaciais trazidas e analisadas pelo
autor no texto para se inferir o Estado e a política balinesa.
3
Neste
ponto, o autor articula de forma resumida os vários aspectos e características
do Estado e da organização política e social balinesa. Destacaria o trecho onde
afirma que “uma visão geral da organização do Bali clássico não revela um
conjunto definido de Estados independentes, organizados de forma hierárquica,
vincadamente demarcados um dos outros e envolvidos em ‘relações externas’
através de fronteiras bem desenhadas (...)
Em cada ponto deste campo diverso e móvel, a luta era mais pelos homens
- pela sua deferência, o seu apoio e a sua lealdade pessoal - do que pela terra.
O poder político era menos inerente à propriedade do que às pessoa; era uma
questão de acumulação de prestígio, não de território. (...)” (Pag. 38)
CONCLUSÃO
A conclusão inicia com uma discussão sobre os vários
significados que o termo Estado apresenta, ou suscita. Neste sentido, Geertz
relaciona um pouco os significados de Estado no Ocidente e em Bali, afirmando
que “nenhuma (concepção) consegui dar conta, de forma utilizável, da sua
natureza.” (Pag. 154) Geertz analisa
perspectivas de Estado de Hobbes, Marx e Pareto e demonstra a sua própria,
afirmando: “A simbologia política é ideologia política, e a ideologia política
é hipocrisia de classe. (...)” (Pag. 155)
Diante
de todo este universo de significado e de concepções de organização política e
de Estado, o autor afirma que “Não é difícil - de fato é fatalmente fácil -
encaixar o Estado balinês tal como foi aqui descrito, em um ou outro destes
modelos familiares, ou em todos eles ao mesmo tempo. (...) No entanto reduzir o
Negara a lugares-comuns tão fatigados (...) é deixar que grande parte do que
nele é mais interessante se escape da nossa visão. (...)” (Pag. 155)
2
A
partir deste momento, o autor começa a nos dar pistas interessantíssimas para
que entendamos a dinâmica do Estado balinês, segundo o seu ponto de vista e a
sua perspectiva de análise e
compreensão.
“Compreender
o Negara significa localizar essas emoções e analisar esses atos; elaborar uma
poética do poder, não uma mecânica. (...)
Antes
de tudo o mais, o Estado balinês era uma representação da forma como a
realidade estava organizada; uma vasta imagem dentro da qual objetos como os
kris (...), tinham capacidades próprias. A idéia de que a política é um jogo
imutável de paixões naturais, (...) é errada em qualquer parte; em Bali, o
absurdo dessa idéia torna-se patente. As paixões são tão culturais quanto os
dispositivos; e o modo de pensar - hierárquico, sensorial, simbolista e teatral
- que inspira um, inspira outro.” (Pag. 156)
3
A
partir da afirmação: “Foi esta combinação de uma forma cultural essencialmente
constante, o culto do rei sagrado, com uma enorme variabilidade nas pessoas e
recursos disponíveis, para construir essa forma, num certo lugar ou num dado
tempo, que fez da ‘luta pelo poder’ no Bali clássico uma explosão contínua de
exibição competitiva. (...)” (Pag. 158)
O autor dedica os pontos seguintes (4,5 e 6) a uma extensa análise da relação
dos reis com a organização política e a formação do Estado balinês.
7
Este
último ponto traz, inicialmente as concepções de poder que o autor
constróe a fim de basear as suas
impressões de poder no caso específico de Bali. Defini “o político como um
domínio da ação social”, destacando que
as denominações são pontos de vista e “como todos os pontos de vista, é
parcial e advém de uma tradição específica da interpretação da experiência
histórica.” Para destacar o seu próprio ponto de vista, afirma que “Foi
argumento central deste trabalho (...) que a vida girava em torno dos punggawas, perbekels, puris e jeros do
Bali clássico continha uma tal concepção alternativa daquilo que a política é e
do que é o poder. Estrutura de ação (...) o Negara era também, e enquanto tal,
uma estrutura de pensamento. Descrevê-lo é descrever uma constelação de idéias
guardadas num relicário.” (Pag. 169)
Na
página 170, o autor tece considerações interessantes sobre a análise
interpretativa e a necessidade da desconstrução dos preconceitos onde eu
destacaria o seguinte trecho: “A limitação da análise interpretativa na maior
parte da antropologia contemporânea ao aspecto supostamente mais ‘simbólico’ da
cultura é um mero preconceito, nascido da noção, (...) de que o ‘simbólico’ se
opõe ao ‘real’ como o extravagante ao sóbrio, o figurativo ao literal,
(...) Para se analisarem as expressões
do Estado-teatro, para apreendê-las como teoria, este preconceito tem de ser
posto de lado, (...) O real é tão
imaginado como o imaginário.”
Esta
afirmação colabora para o que o autor vai afirmar mais adiante sobre a política
balinesa: “Que a política balinesa, tal como a de toda a gente, incluindo a
nossa, era ação simbólica, não implica portanto, que estivesse apenas na mente
ou que consistisse inteiramente de danças e incesto (...) Os aspectos dessa política aqui examinados
(...) configuravam uma realidade tão densa e imediata como a própria ilha.
(...) Os dramas do Estado-Teatro,
miméticos de si mesmos, não eram, ao fim e ao cabo, nem ilusões nem mentiras,
nem prestidigitação nem faz de conta. Eles eram o que existia.” (Pag. 171)
Nenhum comentário:
Postar um comentário