PROJETO
Cidadania ambiental e
gestão das águas
OBJETIVOS
A presente proposta de trabalho tem como intenção promover
práticas de cidadanias junto as populações do Estado do Rio Grande do Sul, a
partir do recorte ambiental e em defesa da conservação de suas bacias
hidrográficas apoiando-se no atual sistema estadual de gestão dos recursos
hídricos, definido pelo Art 171 da Constituição do Estado e regulamentado pela
Lei 10.350/94.
Para alicerçar esse objetivo maior, o projeto deverá
contemplar, no seu desenvolvimento, as peculiaridades e diversidades regionais
das bacias hidrográficas do Estado, com a preocupação central de atuar num
processo educativo que contemple a construção, por parte das comunidades
envolvidas, de um novo ideário ético, tanto em escala individual, quanto em
escala coletiva, de defesa da cidadania pelas águas.
JUSTIFICATIVA
A concepção democrática da gestão dos recursos hídricos do
Estado pressupõe contemplar na atuação
do poder público e da própria sociedade, o cotidiano das trocas sociais
dos habitantes das bacias hidrográficas bem como da dimensão espacial de
práticas culturais específicas de uso das águas isso é, da relação entre as
características físico-ambientais e geográficas de uma região e a atuação, com
maior ou menor grau de consciência preservacionista, da população.
Neste sentido,
este projeto pretende intervir nos circuitos informais de trocas sociais para
aí situar as redes de informação sobre o tema da gestão das águas e a
aprendizagem da cidadania no sentido de
revalorizar ambientes deteriorados.
Partidos, sindicatos, associações comunitárias,
tÈcnico-científicas, etc, que compõem o universo das instituições políticas
modernas, tem-se preocupado com a preservação e conservação do meio ambiente.
Entretanto, esta esfera da organização da vida coletiva nem sempre contempla em
suas regras formais de participação e planos de atuação, os processos culturais
que fundam as práticas humanas de uso e consumo dos recursos naturais.
A proposta de atuação do projeto considera a partir da base
sócio-espacial do plano de gestão de recursos hídricos no Estado ( a bacia
hidrográfica ), a identificação dessas práticas culturais em relação ao uso dos
recursos naturais, de forma a poder contribuir para a construção de democrática
de novos dispositivos institucionais de ação do poder público e da sociedade
civil organizada, no âmbito da proteção e conservação ambiental.
O
investimento em uma política em prol da cidadania ambiental enfrenta hoje o
desconhecimento do homem moderno de suas responsabilidades com o ambiente onde
vive, habita, produz e ganha seu sustento, implicando na busca da renovação de
valores sociais que sustentem a sanidade dos recursos naturais existentes ou
ameaçados de destruição.
A
situação já hoje crítica de algumas das bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul
exige a atuação dos poderes públicos, numa redefinição de práticas de gestão
ambiental que contemplem a heterogeneidade ético-comportamental das comunidades
e de suas práticas culturais no que se refere aos usos de mananciais de água do
Estado.
O Problema
A
construção de cidadanias no âmbito da gestão ambiental, implica em situar a ação dos indivíduos e dos grupos
sociais na intersecção entre a ação cultural do poder público em sua meta de
obter o desenvolvimento sustentável e as formas de vida que orientam e dão
sentido aos usos dos recursos naturais.
O
desafio que se coloca, portanto, é situar o tema das práticas e aprendizagens
da cidadania, no âmbito do planejamento e da gestão dos recursos hídricos do
Estado contemplando mecanismos de socialização e reanimação dos espaços de
participação social. Trata-se, assim, de criar novas formas democráticas de
engajamento popular no processo de racionalização dos usos dos mananciais de
água existente no Rio Grande do Sul, com vistas a sua proteção e conservação.
É
intenção do projeto investir na
pluralidade das relações e arranjos da vida coletiva que contemplem a
conservação do meio ambiente e que nem sempre se traduzem em práticas
institucionalizadas de defesa e proteção dos mananciais, como é o caso dos
Comitês de Bacias Hidrográficas já existentes e os que serão criados no âmbito
do Sistema Estadual de Recursos Hídricos.
Neste
sentido, tratar-se-á de recuperar o domínio das práticas culturais da população
do Estado, suas tradições e valores, e atuar interativamente, num processo de
aproximação entre sabedoria popular e saberes técnicos-científicos a propósito
da gestão de recursos hídricos, de forma a que essa mesma população possa
estabelecer um compromisso coletivo na gestão dos recursos hídricos dos quais
depende seu crescimento socio-econômico.
Buscar
a construção de uma proposta de cidadania ambiental nos termos da gestão
democrática de recursos hídricos é buscar, portanto, soluções de
redimensionamento de formas de assentamento humano (urbano ou rurais) e de
novos padrões de convivência dos grupos sociais com a biodiversidade do meio
ambiente
METODOLOGIA
Caracterização do
projeto
Levando-se
em consideração a heterogeneidade que compõe o corpo social do Estado do Rio Grande
do Sul e em função das necessidades e oportunidades das atividades
desenvolvidas no CRH-RS e da regionalização pré-existente na STCAS, optou-se
por trabalhar com duas bacias hidrográficas privilegiando-se as diferenças
existentes entre elas e a representatividade que possam ter, visando a
reprodução da metodologia aí desenvolvida para as demais bacias previstas pelo
CRH-RS.
Assim, entende-se oportuno trabalhar com a
bacia hidrográfica do rio Santa Maria e parte do sistema Taquari-Antas, ou
seja, a bacia hidrográfica do rio das Antas.
A primeira pelas características tipicamente rurais do uso do solo e da
água, evidenciando o conflito clássico no Estado entre o uso agrícola e o
abastecimento público. A segunda pelo alto grau de urbanização e
industrialização, pelo adensamento populacional e pelo bom nível de articulação
e organização da sociedade.
Pelo
caráter piloto deste projeto, será preciso ainda selecionar em cada uma das
bacias um município que melhor represente as condições gerais da bacia. Além
disso, a escolha de áreas bem diferenciadas diz respeito aos pressupostos que
sustentam o trabalho com Educação Ambiental. Ou seja, o processo da construção
das aprendizagens através do envolvimentos dos grupos sociais com atividades
didáticas encontra, nas práticas sociais das diferentes comunidades, saberes
cotidianos que alicerçam e desencadeiam
modificações na percepção e na relação desses grupos com o meio ambiente e em
especial com a água.
Situações e Procedimentos
Metodologicamente, o projeto estará apoiado num ‘trabalho de
campo’ a partir do qual pretende-se
desenvolver, junto às populações dos municípios escolhidos, estratégias que vão
da aproximação dos técnicos à comunidade organizada até o envolvimento desta nas
atividades propostas para a construção das aprendizagens de cada um.
A
seguir descrever-se-á, em etapas, os diferentes procedimentos que serão
realizados no transcorrer do trabalho de campo tendo em vista a redefinição
comportamental dos grupos sociais com vistas a estabelecer pactos que
estruturem novos laços comunitários em torno do eixo homem/ sociedade/ recursos
naturais.
1ª Etapa - Do reconhecimento
Inicialmente,
no que diz respeito ao trabalho de campo a ser realizado com as comunidades,
identificadas, a partir de uma ‘metodologia participante’ as características
das relações que os sujeitos estabelecem
quando da utilização da água, que vai do atendimento às necessidades
básicas da vida cotidiana ao lazer, passando pelos processos produtivos,
mapeando aí, os impasses, os conflitos,
enfim os valores vividos e atribuídos a este recurso natural.
A
“entrada” na comunidade se dará através de instituições sociais organizadas com
o tema em questão, podendo ser Escolas, Sindicatos, Comitês de Gerenciamento,
Associações de todos os matizes, etc, além dos órgãos de representação da
população (câmara de vereadores, por exemplo).
2ª Etapa - Das situações de aprendizagem
Com o
trabalho de análise a ser realizado das informações e observações obtidas na 1ª
Etapa, propostas didáticas para intervenção serão elaboradas para o
envolvimento da comunidade no seu processo de aprendizagem.
As
atividades didáticas visam, através de eventos coletivos, seminários,
exposições itinerantes, circos ambientais, etc., envolver, a partir do
reconhecimento de situações locais, os diferentes grupos, na problemática
ambiental do lugar em questão.
A metodologia de criação dos processos de aprendizagens
dramáticas , passam, em um primeiro momento, por um ritual de aproximação e um
reconhecimento das sensibilidades das comunidades em relação aos espaços que
habitam, resgatando não só uma memória afetiva e histórica do lugar, como
também uma noção de pertencimento, coletividade e responsabilidade por sua
construção espaço-temporal.
Utilizando-nos de intervenções com recursos das artes
dramáticas e visuais (artes plásticas, fotografia e vídeo), estimularemos as
manifestações estéticas da comunidade para que a partir delas formalizem suas
representações sobre si mesma, sensibilizando-a , concomitantemente, ao fato de pertencer e arquitetar a história
social/ambiental do lugar onde vive. Ou seja, parte-se do princípio que à
autoria « artística » dos citadinos se
tramará uma autoria do espaço da cidade
e da regeneração dos valores que levaram a deterioração do mesmo.
3ª Etapa - Das ações comprometidas da comunidade
Estruturar
grupos responsáveis por dar conta da implementação de políticas ambientais
locais, onde o critério de participação
em relação a gestão das águas, seja o fio condutor das ações
comunitárias.
Assim,
nesta terceira etapa, um trabalho de formação de “agentes” se faz necessário
por parte dos técnicos, tanto no que diz respeito aos paradigmas teóricos que
suportam as ações dos grupos na sua relação com o meio ambiente, quanto as
metodologias necessárias para a intervenção social.
A
‘passagem’ dos técnicos na comunidade,
implica, obrigatoriamente, que o processo de inter-relação experienciado nas
três etapas chegue ao seu termo pragmático.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo a dimensão e implicação política pretendida neste
projeto, se faz necessário o acompanhamento de técnicos da Secretaria de
Cidadania, Trabalho e Ação Social, tendo em vista a proposta de generalizá-lo
para todo o Rio Grande do Sul.
A conclusão deste trabalho, portanto, significa, criar
subsídios teóricos-práticos para criação de formas alternativas de
implementação de uma política ambiental pelos órgãos competentes do Estado,
muito especialmente em relação à lei 10.350/94 que rege a gestão dos recursos
hídricos.
Assim, como um ciclo, o término de nossa tarefa marca o início de uma nova fase de
intervenção pública, baseada no contexto das realidades vividas e na
aprendizagem de auto-gestão dos recursos hídricos por parte das comunidades em
questão.
¬
PLANO
DE TRABALHO
O
presente plano descreve, resumidamente,
as diferentes fases necessárias para o desenvolvimento e conclusão do projeto,
considerando, todavia, a necessidade de flexibilidade quando a tarefa é
trabalhar com aprendizagens de grupos humanos. O que segue, portanto, tem o
caráter de organização estrutural para
que os saberes éticos-ambientais se efetivem.
I FASE
1° momento - Reconhecimento das regiões (60 dias)
a) Levantamento de dados das Regiões: pesquisa
bibliográfica; fontes primárias,
secundárias; mapas; cartografias; IBGE; dados do ecosistema; RIMA.
b) Caracterização documental: mapeamento sócio-econômico,
político, cultural, geofísica das comunidades envolvidas no projeto,
delimitando área de intervenção.
c) Produção de “cartilha”, folders.
2° momento - Exploração/atuação nas e das vivências
comunitárias (45 dias)
a) Levantamento das representações dos grupos no que diz
respeito as diferentes relações estabelecidas com a água.
b) Levantamento dos conflitos, problemas, experiências,
saberes cotidianos, a partir das
vivências cotidianas onde o referencial é o uso da água.
c) Caracterização etnográfica: construção da proposta de
atuação com as comunidades através de eventos com atividades didáticas.
II FASE
Trabalho com a comunidade em torno das aprendizagens
ambientais através de produções e programações de eventos.(60 dias)
III FASE
Apresentação pública do relatório final em Seminário com
discussão de um vídeo documentário sobre
o trajeto construído pela comunidade quando do envolvimento no projeto. (30
dias)
IV FASE
Trabalho com a formação de ‘agentes’ generalizadores da
proposta com cidadania ambiental e gestão das águas. (30 dias)
Esta fase final é
dirigida, especialmente, aos ‘agentes’ responsáveis por generalizar a proposta
em âmbito estadual e, compreende, necessariamente, a participação destes em
todos os momentos vividos tanto pelo grupo de pesquisadores, quanto pela
comunidade envolvida.
DESTINAÇÃO
DOS RECURSOS
- materiais didáticos e de consumo........................
R$ 40.000,00
(vídeo, mostra
fotográfica, cadernos didáticos, folders,
material de
consumo, etc.)
- transporte e
diárias.............................................. R$ 12.000,00
(viagens, hotéis e alimentação)
- pagamento por tarefa a técnicos e pesquisadores.. R$
80.000,00
- organização de atividades de formação.................R$
13.000,00
Total
geral: R$ l45.00,00
Obs.: Em função dos
custos elevados para a produção de vídeos documentários (R$60.000,00),
onde só a locação de 8O horas de trabalho de uma “Ilha de Edição” ficou
orçada em torno de R$15.000,00, assim
como, aluguel de equipamento para filmagens (Câmara SVHS, e equipamento de luz)
no valor de R$7.500,00 e, em função da importância da produção de vídeos
enquanto material didático generalizável para além do “projeto piloto”,
consultamos a possibilidade de parceria junto à instituição do Estado (TVE)
para a concretização desse item do projeto.
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