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quarta-feira, 31 de maio de 2017

Gilberto Freyre

Casa Grande e Senzala

As obras de Gilberto Freyre analisadas na Disciplina Antropologia IV, em especial Casa Grande e Senzala, trouxeram um importante enriquecimento do nosso conhecimento em antropologia, bem como ampliaram a nossa perspectiva de análise sobre a formação da cultura brasileira.
Nas três obras propostas para leitura (Casa Grande e Senzala; Sobrados e Mucambos e Ordem e Progresso), percebemos que, de um modo geral existe uma temática que permeia (ou amarra) ambas as obras citadas: a sociedade patriarcal brasileira. Ou seja, Freyre enfatiza ( o tempo todo) o aspecto do patrimonialismo, com todos os seus desdobramentos, na sociedade brasileira desde o seu início até meados do século XX. Dito de outra forma, poderíamos falar que a “estrutura patriarcal”, enquanto um modelo de relações sociais, marca a cultura brasileira como um todo. Portanto, segundo Gilberto Freyre, existe uma estrutura patriarcal que marca a cultura brasileira que tem muitas diferenças, mas o que amarra as diferenças é o modelo das relações sociais que se implanta em todo o Brasil e dessa maneira está garantida a unidade. Este modelo de relações sociais (família patriarcal) tem características peculiares: rígida hierarquia, família extensa, ...
De certa forma, poderíamos afirmar que G. Freyre tentou “compreender a sociedade brasileira no seu sentido existencial”, dado a sua perspectiva transdisciplinar.
Para esta prova, nos deteremos mais enfaticamente sobre “Casa Grande e Senzala”, pois foi a obra que mais trabalhos durante as aulas expositivas e leituras individuais. Portanto, é com base nesta obra que tecemos as seguintes considerações:
O Brasil, como todos os países da América, é um pais novo, em fase de construção. Emergiu a pouco tempo, se formando a partir do século XVI, XVII, XVIII, XIX. Assim sendo, alguns autores (pesquisadores, intelectuais, etc.) tiveram a preocupação de desenvolver o tema da identidade social brasileira, muitas vezes, comparando-a com outras identidades nacionais e outras culturas. Freyre, desenvolve, com maestria e de uma forma muito peculiar, este intento. Ele afirma que aqui tudo era desequilíbrio, grandes excessos frente a grandes deficiências. Dificilmente existia um meio termo nas coisas encontradas no Brasil. Por exemplo: se por um lado, encontrávamos excesso de fertilidade em algumas regiões (ou áreas) brasileiras, por outro lado, encontrávamos imensa pobreza e dificuldades em outras regiões (e / ou área) brasileiras. Poderíamos assim falar de uma “terra dos contrastes”.
Gilberto F. fala de um clima colonial marcado pelo negativismo, afirmando que os portugueses foram superiores aos espanhóis e holandeses. Neste sentido, se comparado a outros autores, ele faz uma inversão valorativa, quando destaca a importância e as qualidades dos portugueses no processo de colonização do Brasil. Algo semelhante acontece quando Freyre se refere ao negro, pois este autor “confere um estatuto de dignidade que nenhum outro escritor havia concedido até então”. Ele considerava os negros como fundadores desta obra criadora e original que foi o Brasil.
Com base na leitura de “Gilberto Freyre na Universidade de Brasília: Conferências e Comentários de um Simpósio Internacional realizado de 13 a 17 de outubro de 1980. ...”, destacaríamos que “uma coisa chama a atenção em todos os livros de Gilberto Freyre, desde  Casa Grande e Senzala até Dona Sinhá e o Filho Padre: a vontade persistente e por toda parte afirmada de encontrar uma linguagem que torne comunicável o não dito da vida coletiva – as permutas, as relações existenciais entre os grupos, as classes, as etnias, as famílias, os indivíduos, domínio do que deveria ser uma psicologia social que se desligaria das enumerações quantitativas para investir a trama viva que os homens estabelecem entre eles e cuja linguagem comum só traduz imperfeitamente a diversidade ou a riqueza (...)”.
Segundo alguns observadores, a característica fundamental de sua obra, é a sua fidelidade ao pensar sociológico e antropológico: “É sua pertinácia em pensar o homem, a sociedade e a cultura, a partir do homem, da sociedade e da cultura, a partir do nosso homem e da nossa realidade social e cultural.”
De um modo geral, a mentalidade com que Gilberto Freyre partiu para a longa elaboração da estupenda trilogia que se estende de Casa Grande & Senzala  até Ordem e Progresso caberia numa etiqueta: Gilberto Freyre era o mais completo anti-Rui Barbosa. Ou seja, Ciência social e literatura moderna contra o judicismo parnasiano. Região e Tradição contra o abstracionismo histórico e social do nosso progressismo republicano.

Além das questões teóricas aqui elencadas (e as não elencadas), gostaríamos de destacar que as “elucubrações” de cunho mais epistemológico e filosóficos levantadas e propostas pelo professor em sala de aula enriqueceram  sobremaneira o nosso aprendizado. As discussões sobre o teor e a relevância das construções (literárias X acadêmicas, técnicas X tecnicista, etc.), sobre a “realidade” ( “A realidade em si não existe”.) ultrapassaram as obras analisadas e nos possibilitaram ótimos momentos de reflexão e análise no campo das ciências sociais e / ou antropológicas.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Tânia Salem


Ficha de Leitura

Fichamento da obra

SALEM, Tânia. "A "despossessäo subjetiva": dos paradoxos do individualismo. In: Revista Brasileira Ciências Sociais n° 18, ano 7, fev. 1992.

Autor da Ficha: JACQUES JACOMINI



Introdução

A proposta de Tânia Salem no artigo A “Despossessão Subjetiva”: dos paradoxos, do individualismo é bastante interessante e adequada para realizarmos uma espécie de fechamento das discussões que realizamos até agora na disciplina “Individualismo, Sociabilidade e Memória”. Assim entendemos esta atividade de avaliação e assim nos empenhamos na feitura deste pequeno ensaio.
Para a construção deste ensaio, seguimos a seguinte orientação estrutural: Em um primeiro momento – Despossessão Subjetiva ? – trazemos questões mais gerais tomadas do artigo de Salem, como os seus objetivos e princípios norteadores, inspirações e influências teóricas. Neste ponto destacamos ainda a divisão dos blocos (ou momentos) que compõe o trabalho da autora.
Em um segundo momento - Retomando autores e suas concepções – tentamos trazer para este ensaio  considerações sobre alguns dos autores trabalhados por Salem. Dentre eles, elegemos Simmel para uma retomada mais pausada. Sobre este último, realizamos inicialmente um apanhado mais geral sobre a sua teoria e, posteriormente, uma explanação mais específica sobre as suas concepções de indivíduo. 

1. Despossessão Subjetiva ?
Como a própria autora coloca, o objetivo deste trabalho é “repensar o modo como cientistas sociais vêm tematizando a categoria moderna de Pessoa, consubstanciada na noção de indivíduo e, em especial, na de indivíduo psicológico”. Este esforço analítico de Tânia Salem tem nome: “A Despossessão subjetiva”. A premissa básica é a de que há uma instância no interior do próprio sujeito que o constrange às expensas de sua vontade e consciência.
A abordagem desenvolvida pela autora visa “depreender descontinuidades significativas na representação do sujeito psicológico, relativamente à de seu predecessor – o indivíduo jurídico”. Salem destaca ainda que o indivíduo psicológico só adquire sentido e inteligibilidade em um universo individualista.
O Artigo, desenvolvido em dois blocos (além da apresentação): “Do ‘Individualismo possessivo’ ao sujeito psicológico: inflexões e descontinuidades” e “Das articulações entre a ‘despossessão subjetiva’ e a configuração individualista”, chama para o debate diversos pensadores que trabalhamos em sala de aula dentre os quais Dumont e Simmel  aparecem em relevo. Dentre aqueles que não abordamos e que a autora utiliza na sua análise, destacaria a presença de Foucault que “ainda que não se referindo explicitamente à destituição do sujeito sobre si mesmo, a tangência, e a elucida parcialmente, ao invocar as conseqüências derivadas do fato de saber / poder formarem a partir do século XIX um todo indissociável.”
Ao citar Gauchet & Swain – A História da individualização é, de outro lado e necessariamente, a história de uma despossessão ou de uma destituição subjetiva – fica claro para nós a fonte (ou uma das fontes) de inspiração que Salem toma para articular a construção deste texto, bem como o porque de defini-lo “A Despossessão Subjetiva”.

 Retomando Autores e suas Concepções
Salem destaca que os primórdios da investigação sobre este tema estão calcados na obra de Mauss, porém é Dumont que “é o autor contemporâneo que mais extensa e sistematicamente se empenhou na relativização e na crítica contumaz da moderna categoria de indivíduo”.
Tendo como tese central a oposição entre individualismo e holismo, a contribuição de Dumont, segundo a autora, revelou-se insuficiente para a apreensão da categoria moderna de indivíduo. Diante desta situação, a recorrência as teses de Simmel, Lasch, Sennett, Ariès, Foucault, entre outros é a alternativa capaz de “suprir o ‘elo falante’ relativamente ao eixo analítico dumontiano.” Diante dos pensadores “alternativos” que colaboram para a “despossessão subjetiva”, destacados por Tânia Salem, elegemos Simmel para realizarmos um aprofundamento maior sobre as suas concepções.
Para Simmel, a sociedade existe onde vários indivíduos entram em interação. Esta ação reciproca se produz sempre por determinados instintos ou para determinados fins. Instintos eróticos, religiosos ou simplesmente sociais, fins de defesa ou ataque, de jogo ou ganho, de ajuda ou instrução,  estes e infinitos outros fazem com que o homem se encontre num estado de convivência com outros homens, com ações a favor deles, em conjunto com eles, contra eles, em correlação de circunstâncias com eles. Essas interações significam que os indivíduos, nos quais se encontram aqueles instintos e fins, fora por eles levados a unir-se, convertendo-se numa unidade, numa "sociedade". Pois unidade em sentido empírico nada mais é do que interação de elementos. O mundo não poderia ser chamado de uno, se cada parte não influísse de algum modo sobre as demais, ou se em algum ponto se interrompesse a reciprocidade das influências.
A unidade ou sociaçäo pode ter diversos graus, segundo a espécie e a intimidade que tenha a interação - desde a união efêmera para dar um passeio até a família - desde as relações por prazo indeterminado até a pertinência a um mesmo Estado - desde a convivência fugitiva num hotel até a união estreita de uma corporação medieval. Simmel designa como conteúdo ou matéria da sociaçäo tudo quanto exista nos indivíduos (portadores concretos e imediatos de toda a realidade histórica) - como instinto, interesse, fim, inclinação, estado ou movimento psíquico -, tudo enfim capaz de originar ação sobre outros ou a recepção de suas influências.
Dito de outra forma, podemos considerar conteúdos (materiais) versus formas de vida social onde:
1°) uma delas é que em qualquer sociedade humana pode-se fazer uma distinção entre seu conteúdo e sua forma.
2°) é que a própria sociedade em geral se refere à interação entre indivíduos. Essa interação sempre surge com base em certos impulsos ou em função de certos propósitos. Os instintos eróticos, os interesses objetivos, os impulsos religiosos e propósitos de defesa ou ataque, de ganho ou jogo, de auxilio ou instrução, e incontáveis outros, fazem com que o homem viva com outros homens, aja por eles, com eles, contra eles, organizando desse modo, reciprocamente, as suas condições - em resumo, para influenciar os outros e para ser influenciado por eles.  A importância dessas interações esta no fato de obrigar os indivíduos, que possuem aqueles instintos, interesses, etc.; a formarem uma unidade - precisamente, uma "sociedade".
A sociaçäo só começa a existir quando a coexistência isolada dos indivíduos adota formas determinadas de cooperação e de colaboração, que caem sob o conceito geral da interação. A sociaçäo é, assim, a forma realizada de diversas maneiras, na qual os indivíduos constituem uma unidade dentro da qual se realizam seus interesses. E é na base desses interesses - tangíveis ou ideais, momentâneos ou duradouros, conscientes ou inconscientes, impulsionados casualmente ou induzidos teleologicamente - que os indivíduos constituem tais unidades.
Em qualquer fenômeno social dado, conteúdo e forma sociais constituem uma realidade unitária. Uma forma social desligada de todo conteúdo não pode ter existência, do mesmo modo que a forma espacial não pode existir sem uma matéria da qual seja forma. Tais são justamente os elementos, inseparáveis na realidade, de cada ser e acontecer sociais: um interesse, um fim, um motivo e uma forma ou maneira de interação entre os indivíduos, pelo qual ou em cuja figura aquele conteúdo alcança realidade social. Portanto, temos nem só objetividade, nem só subjetividade. Somente quando a vida desses conteúdos adquire a forma da influência reciproca, só quando se produz a ação de uns sobre os outros - imediatamente ou por intermédio de um terceiro - é que a nova coexistência social, ou também a sucessão no tempo, dos homens, se converte numa sociedade.
Para clarear um pouco mais a tese  geral de Simmel, destacamos a seguinte citação:
“Por sociedade não entendo apenas o conjunto complexo dos indivíduos e dos grupos unidos numa mesma comunidade política. Vejo uma sociedade em toda parte onde os homens se encontram em reciprocidade de ação e constituem uma unidade permanente ou passageira.  Logo, em cada uma dessas uniões produz-se um fenômeno que caracteriza, da mesma forma, a vida individual; a cada instante, forças perturbadoras, externas ou não, opõem-se ao agrupamento, e este, se for deixado a agir por sua própria conta, não tardarão elas a dissolvê-lo, isto é, a transferir seus elementos para agrupamentos estranhos. ... Nessa circunstância, temos a sociedade como uma unidade sui generis, distinta de seus elementos individuais”.
No que tange a questão específica da concepção de indivíduo em Simmel, podemos afirmar que “indivíduo em Simmel afirma-se como um ser proprietário de si, tanto perante a sociedade quanto de um ponto de vista subjetivo”.
O indivíduo psicológico em Simmel fala de um sujeito fundado em uma autonomia subjetiva radical capaz de erigir em torno de si um abrigo intimo que o protege dos "outros".
Sobre a concepção de  indivíduo moderno, temos Simmel em uma posição diferenciada de Dumont e Pacpherson, pois estes apresentaram uma preocupação sobre o plano formal ou externo do indivíduo (indivíduo jurídico), enquanto que Simmel debruçou-se de forma explícita sobre o domínio mais propriamente interno do indivíduo (indivíduo psicológico).


segunda-feira, 24 de abril de 2017

Projeto


PROJETO
 Cidadania ambiental e gestão das águas




OBJETIVOS

A presente proposta de trabalho tem como intenção promover práticas de cidadanias junto as populações do Estado do Rio Grande do Sul, a partir do recorte ambiental e em defesa da conservação de suas bacias hidrográficas apoiando-se no atual sistema estadual de gestão dos recursos hídricos, definido pelo Art 171 da Constituição do Estado e regulamentado pela Lei 10.350/94.

Para alicerçar esse objetivo maior, o projeto deverá contemplar, no seu desenvolvimento, as peculiaridades e diversidades regionais das bacias hidrográficas do Estado, com a preocupação central de atuar num processo educativo que contemple a construção, por parte das comunidades envolvidas, de um novo ideário ético, tanto em escala individual, quanto em escala coletiva, de defesa da cidadania pelas águas.





JUSTIFICATIVA


A concepção democrática da gestão dos recursos hídricos do Estado pressupõe contemplar na atuação  do poder público e da própria sociedade, o cotidiano das trocas sociais dos habitantes das bacias hidrográficas bem como da dimensão espacial de práticas culturais específicas de uso das águas isso é, da relação entre as características físico-ambientais e geográficas de uma região e a atuação, com maior ou menor grau de consciência preservacionista, da população.

                Neste sentido, este projeto pretende intervir nos circuitos informais de trocas sociais para aí situar as redes de informação sobre o tema da gestão das águas e a aprendizagem da cidadania  no sentido de revalorizar ambientes deteriorados.
               
Partidos, sindicatos, associações comunitárias, tÈcnico-científicas, etc, que compõem o universo das instituições políticas modernas, tem-se preocupado com a preservação e conservação do meio ambiente. Entretanto, esta esfera da organização da vida coletiva nem sempre contempla em suas regras formais de participação e planos de atuação, os processos culturais que fundam as práticas humanas de uso e consumo dos recursos naturais.
               
A proposta de atuação do projeto considera a partir da base sócio-espacial do plano de gestão de recursos hídricos no Estado ( a bacia hidrográfica ), a identificação dessas práticas culturais em relação ao uso dos recursos naturais, de forma a poder contribuir para a construção de democrática de novos dispositivos institucionais de ação do poder público e da sociedade civil organizada, no âmbito da proteção e conservação ambiental.
                O investimento em uma política em prol da cidadania ambiental enfrenta hoje o desconhecimento do homem moderno de suas responsabilidades com o ambiente onde vive, habita, produz e ganha seu sustento, implicando na busca da renovação de valores sociais que sustentem a sanidade dos recursos naturais existentes ou ameaçados de destruição.
                A situação já hoje  crítica de algumas  das bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul exige a atuação dos poderes públicos, numa redefinição de práticas de gestão ambiental que contemplem a heterogeneidade ético-comportamental das comunidades e de suas práticas culturais no que se refere aos usos de mananciais de água do Estado.

O Problema
                A construção de cidadanias no âmbito da gestão ambiental, implica em  situar a ação dos indivíduos e dos grupos sociais na intersecção entre a ação cultural do poder público em sua meta de obter o desenvolvimento sustentável e as formas de vida que orientam e dão sentido aos usos dos recursos naturais.
                O desafio que se coloca, portanto, é situar o tema das práticas e aprendizagens da cidadania, no âmbito do planejamento e da gestão dos recursos hídricos do Estado contemplando mecanismos de socialização e reanimação dos espaços de participação social. Trata-se, assim, de criar novas formas democráticas de engajamento popular no processo de racionalização dos usos dos mananciais de água existente no Rio Grande do Sul, com vistas a sua proteção e conservação.
                É intenção do projeto  investir na pluralidade das relações e arranjos da vida coletiva que contemplem a conservação do meio ambiente e que nem sempre se traduzem em práticas institucionalizadas de defesa e proteção dos mananciais, como é o caso dos Comitês de Bacias Hidrográficas já existentes e os que serão criados no âmbito do Sistema Estadual de Recursos Hídricos.
                Neste sentido, tratar-se-á de recuperar o domínio das práticas culturais da população do Estado, suas tradições e valores, e atuar interativamente, num processo de aproximação entre sabedoria popular e saberes técnicos-científicos a propósito da gestão de recursos hídricos, de forma a que essa mesma população possa estabelecer um compromisso coletivo na gestão dos recursos hídricos dos quais depende seu crescimento socio-econômico.
                Buscar a construção de uma proposta de cidadania ambiental nos termos da gestão democrática de recursos hídricos é buscar, portanto, soluções de redimensionamento de formas de assentamento humano (urbano ou rurais) e de novos padrões de convivência dos grupos sociais com a biodiversidade do meio ambiente







 METODOLOGIA

 Caracterização do projeto

                              
                Levando-se em consideração a heterogeneidade que compõe o corpo social do Estado do Rio Grande do Sul e em função das necessidades e oportunidades das atividades desenvolvidas no CRH-RS e da regionalização pré-existente na STCAS, optou-se por trabalhar com duas bacias hidrográficas privilegiando-se as diferenças existentes entre elas e a representatividade que possam ter, visando a reprodução da metodologia aí desenvolvida para as demais bacias previstas pelo CRH-RS.                                                                                                                                                                   Assim, entende-se oportuno trabalhar com a bacia hidrográfica do rio Santa Maria e parte do sistema Taquari-Antas, ou seja, a bacia hidrográfica do rio das Antas.  A primeira pelas características tipicamente rurais do uso do solo e da água, evidenciando o conflito clássico no Estado entre o uso agrícola e o abastecimento público. A segunda pelo alto grau de urbanização e industrialização, pelo adensamento populacional e pelo bom nível de articulação e organização da sociedade.
                Pelo caráter piloto deste projeto, será preciso ainda selecionar em cada uma das bacias um município que melhor represente as condições gerais da bacia. Além disso, a escolha de áreas bem diferenciadas diz respeito aos pressupostos que sustentam o trabalho com Educação Ambiental. Ou seja, o processo da construção das aprendizagens através do envolvimentos dos grupos sociais com atividades didáticas encontra, nas práticas sociais das diferentes comunidades, saberes cotidianos que alicerçam e  desencadeiam modificações na percepção e na relação desses grupos com o meio ambiente e em especial com a água.

Situações e Procedimentos
               
Metodologicamente, o projeto estará apoiado num ‘trabalho de campo’  a partir do qual pretende-se desenvolver, junto às populações dos municípios escolhidos, estratégias que vão da aproximação dos técnicos à comunidade organizada até o envolvimento desta nas atividades propostas para a construção das aprendizagens de cada um.
                A seguir descrever-se-á, em etapas, os diferentes procedimentos que serão realizados no transcorrer do trabalho de campo tendo em vista a redefinição comportamental dos grupos sociais com vistas a estabelecer pactos que estruturem novos laços comunitários em torno do eixo homem/ sociedade/ recursos naturais.
    1ª  Etapa - Do reconhecimento
                Inicialmente, no que diz respeito ao trabalho de campo a ser realizado com as comunidades, identificadas, a partir de uma ‘metodologia participante’ as características das relações que os sujeitos estabelecem  quando da utilização da água, que vai do atendimento às necessidades básicas da vida cotidiana ao lazer, passando pelos processos produtivos, mapeando aí, os impasses, os  conflitos, enfim os valores vividos e atribuídos a este recurso natural.
                A “entrada” na comunidade se dará através de instituições sociais organizadas com o tema em questão, podendo ser Escolas, Sindicatos, Comitês de Gerenciamento, Associações de todos os matizes, etc, além dos órgãos de representação da população (câmara de vereadores, por exemplo).

    2ª  Etapa - Das situações de aprendizagem
                Com o trabalho de análise a ser realizado das informações e observações obtidas na 1ª Etapa, propostas didáticas para intervenção serão elaboradas para o envolvimento da comunidade no seu processo de aprendizagem.
                As atividades didáticas visam, através de eventos coletivos, seminários, exposições itinerantes, circos ambientais, etc., envolver, a partir do reconhecimento de situações locais, os diferentes grupos, na problemática ambiental do lugar em questão.
                              
A metodologia de criação dos processos de aprendizagens dramáticas , passam, em um primeiro momento, por um ritual de aproximação e um reconhecimento das sensibilidades das comunidades em relação aos espaços que habitam, resgatando não só uma memória afetiva e histórica do lugar, como também uma noção de pertencimento, coletividade e responsabilidade por sua construção espaço-temporal.
Utilizando-nos de intervenções com recursos das artes dramáticas e visuais (artes plásticas, fotografia e vídeo), estimularemos as manifestações estéticas da comunidade para que a partir delas formalizem suas representações sobre si mesma, sensibilizando-a , concomitantemente, ao  fato de pertencer e arquitetar a história social/ambiental do lugar onde vive. Ou seja, parte-se do princípio que à autoria « artística »  dos citadinos se tramará   uma autoria do espaço da cidade e da regeneração dos valores que levaram a deterioração do mesmo.

    3ª  Etapa - Das ações comprometidas da comunidade
                Estruturar grupos responsáveis por dar conta da implementação de políticas ambientais locais, onde o critério de participação  em relação a gestão das águas, seja o fio condutor das ações comunitárias.
                Assim, nesta terceira etapa, um trabalho de formação de “agentes” se faz necessário por parte dos técnicos, tanto no que diz respeito aos paradigmas teóricos que suportam as ações dos grupos na sua relação com o meio ambiente, quanto as metodologias necessárias para a intervenção social.
                A ‘passagem’ dos  técnicos na comunidade, implica, obrigatoriamente, que o processo de inter-relação experienciado nas três etapas chegue ao seu termo pragmático.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo a dimensão e implicação política pretendida neste projeto, se faz necessário o acompanhamento de técnicos da Secretaria de Cidadania, Trabalho e Ação Social, tendo em vista a proposta de generalizá-lo para todo o Rio Grande do Sul.
A conclusão deste trabalho, portanto, significa, criar subsídios teóricos-práticos para criação de formas alternativas de implementação de uma política ambiental pelos órgãos competentes do Estado, muito especialmente em relação à lei 10.350/94 que rege a gestão dos recursos hídricos.
Assim, como um ciclo, o término de nossa  tarefa marca o início de uma nova fase de intervenção pública, baseada no contexto das realidades vividas e na aprendizagem de auto-gestão dos recursos hídricos por parte das comunidades em questão.
                              
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                PLANO DE TRABALHO

                O presente plano  descreve, resumidamente, as diferentes fases necessárias para o desenvolvimento e conclusão do projeto, considerando, todavia, a necessidade de flexibilidade quando a tarefa é trabalhar com aprendizagens de grupos humanos. O que segue, portanto, tem o caráter de organização estrutural    para que os saberes éticos-ambientais se efetivem.

I FASE
1° momento - Reconhecimento das regiões (60 dias)
a) Levantamento de dados das Regiões: pesquisa bibliográfica;  fontes primárias, secundárias; mapas; cartografias; IBGE; dados do ecosistema; RIMA.
b) Caracterização documental: mapeamento sócio-econômico, político, cultural, geofísica das comunidades envolvidas no projeto, delimitando área de intervenção.
c) Produção de “cartilha”, folders.
2° momento - Exploração/atuação nas e das vivências comunitárias (45 dias)
a) Levantamento das representações dos grupos no que diz respeito as diferentes relações estabelecidas com a água.
b) Levantamento dos conflitos, problemas, experiências, saberes cotidianos,  a partir das vivências cotidianas onde o referencial é o uso da água.
c) Caracterização etnográfica: construção da proposta de atuação com as comunidades através de eventos com atividades didáticas.

II FASE
Trabalho com a comunidade em torno das aprendizagens ambientais através de produções e programações de eventos.(60 dias)

III FASE
Apresentação pública do relatório final em Seminário com discussão de um  vídeo documentário sobre o trajeto construído pela comunidade quando do envolvimento no projeto. (30 dias)

IV FASE
Trabalho com a formação de ‘agentes’ generalizadores da proposta com cidadania ambiental e gestão das águas. (30 dias)
Esta  fase final é dirigida, especialmente, aos ‘agentes’ responsáveis por generalizar a proposta em âmbito estadual e, compreende, necessariamente, a participação destes em todos os momentos vividos tanto pelo grupo de pesquisadores, quanto pela comunidade envolvida.





                DESTINAÇÃO DOS RECURSOS

- materiais didáticos e de consumo........................ R$  40.000,00
   (vídeo, mostra fotográfica, cadernos didáticos, folders,
    material de consumo, etc.)      
- transporte e diárias.............................................. R$  12.000,00
   (viagens, hotéis e alimentação)
- pagamento por tarefa a técnicos e pesquisadores.. R$ 80.000,00
- organização de atividades de formação.................R$ 13.000,00
                                                                                              Total geral:          R$ l45.00,00

Obs.: Em função dos  custos elevados para a produção de vídeos documentários (R$60.000,00), onde só a locação de 8O horas de trabalho de uma “Ilha de Edição” ficou orçada  em torno de R$15.000,00, assim como, aluguel de equipamento para filmagens (Câmara SVHS, e equipamento de luz) no valor de R$7.500,00 e, em função da importância da produção de vídeos enquanto material didático generalizável para além do “projeto piloto”, consultamos a possibilidade de parceria junto à instituição do Estado (TVE) para a concretização desse item do projeto.  

               


                                                                              

quinta-feira, 20 de abril de 2017

ABA


De: Associação Brasileira de Antropologia - ABA [mailto:aba@abant.org.br]
Enviada em: quarta-feira, 19 de abril de 2017 15:26
Para: jacquesja@uol.com.br
Assunto: Lembrete Anuidade/s ABA

Prezado/associado/a Jaques Xavier Jacomini,

Detectamos que o/a senhor/a possui anuidade/s em aberto junto à ABA. Por isso, entramos em contato para lembrá-lo/a que estamos em período de Campanha de desconto. Portanto, é possível ficar em dia com a nossa Associação, que se sustenta fundamentalmente pela contribuição de seus/suas associados/a, com melhores valores.

Seguem as condições da Campanha e caso tenha dúvidas, por favor, entre em contato com a Secretaria Administrativa da ABA (aba@abant.org.br / (0xx (55) (61) 3307-3754):

O pagamento com desconto pode ser feito até o dia 30 de abril de 2017, conforme condições a seguir:
Categoria     Valor da anuidade 2017 Valor da anuidade 2017 com desconto*
Associado/a Efetivo/a, Colaborador/a e Correspondente           R$ 220,00
(duzentos e vinte reais)   R$ 180,00
(cento e oitenta reais)
Associado/a Pós-Graduando/a R$ 110,00
(cento e dez reais) R$ 85,00
(oitenta e cinco reais)
Associado/a Aspirante     R$ 55,00
(cinquenta e cinco reais) R$ 45,00
(quarenta e cinco reais)
* Caso existam anuidades anteriores em aberto é imprescindível quitar e será permitido o valor com desconto.
Categoria     Valor das anuidades 2017 e 2018       Valor das anuidades 2017 e 2018 com desconto**
Associado/a Efetivo/a, Colaborador/a e Correspondente           R$ 440,00
(quatrocentos e quarenta reais)          R$ 340,00
(trezentos e quarenta reais)
(sendo R$ 170,00 cada anuidade)
Associado/a Pós-Graduando/a R$ 220,00
(duzentos e vinte reais)   R$ 150,00
(cento e cinquenta reais)
(sendo R$ 75,00 cada anuidade)
Associado/a Aspirante     R$ 110,00
(cento e dez reais) R$ 70,00
(setenta reais)
(sendo R$ 35,00 cada anuidade)
** Caso existam anuidades anteriores em aberto é imprescindível quitar e será permitido o valor com desconto.
Formas de pagamento:
1.        Cartão de crédito:

1.1. Pay pal, em até 6 vezes sem juros, nos cartões Visa, Mastercard e American Express  - Clique no link http://www.portaladm.abant.org.br/admin/associate/paypal/paypal_aba.php?id=2;

1.2. Visa, Mastercard, Diners Club e American Express, em até 6 vezes sem juros - Informar à secretaria, por telefone (0xx 55 61 3307-3754) ou e-mail (aba@abant.org.br): nº do      cartão, data de validade, código de segurança, valor, nº de parcelas e nome completo);
2.        À vista por meio de Depósito Identificado no Banco do Brasil:

Se você é cliente do Banco do Brasil e deseja fazer o Depósito Identificado utilize os terminais de auto-atendimento com teclado alfanumérico ou pelo acesso ao banco via internet (opção depósito identificado. Baixe o passo a passo do banco para localizar a opção).

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Os dados para realização do Depósito Identificado são:
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sexta-feira, 10 de março de 2017

Clifford Geertz





Atividade acadêmica de FICHAMENTO (IFCH-UFRGS)


Autor do fichamento: JAcQUES  JACOMINI



Obra trabalhada

GEERTZ, Clifford. “Pessoa, tempo e conduta em Bali”  In. A Interpretação das   
        Culturas. Rio de Janeiro, Zahar, 1978.


A Natureza Social do Pensamento

O autor inicia falando da natureza social do pensamento:
“O Pensamento humano é rematadamente social: social em sua origem, em suas funções, social em suas formas, social em suas aplicações”, momento em que deixa claro o objetivo do seu texto: realizar um “exame do aparato cultural nos termos do qual o povo de Bali define, percebe e reage às pessoas individuais, isto é, o que pensa sobre elas.” (Pg. 225)
Após a uma incursão no tema “O Estudo da Cultura”, onde fala de SÍMBOLOS – “veículos materiais do Pensamento” – PADRÕES CULTURAIS – “amontoados ordenados de símbolos siginificativos, que o homem encontra sentido nos acontecimentos através dos quais ele vive” e CULTURA – “a totalidade acumulada de tais padrões”, Geertz começa a trabalhar um objetivo mais específico: “Ver o amontoado de padrões culturais que os balineses usam para caracterizar os indivíduos em termos dessa divisão salienta, na forma mais sugestiva, as relações entre as concepções de IDENTIDADE SOCIAL, AS CONCEPÇÕES DE ORDEM TEMPORAL e as CONCEPÇÕES DE ESTILO COMPORTAMENTAL que, como veremos, estão implicitas neles.”
CONSÓCIOS – “são indivíduos que se encontram realmente, pessoas que se encontram umas com as outras em qualquer lugar no curso da vida cotidiana. Eles compartilham, assim, embora breve ou superficialmente, de uma comunidade não apenas no tempo, mas também no espaço. (...) Os amantes, pelo menos enquanto dura o amor, as consócios, da mesma forma que os esposos, até que se separem, ou os amigos, até que deixem se sê-lo.”
CONTEMPORÂNEOS – “São pessoas que partilham uma comunidade no tempo, mas não no espaço: eles vivem (mais ou menos) no mesmo período da história e muitas vezes mantém relações sociais muito tênues entre si, porém não se encontram – pelo menos no curso normal das coisas.”
PREDECESSORES e SUCESSORES – “São indivíduos que não partilham nem mesmo de uma comunidade no tempo e portanto, por definição, não podem interagir. Assim eles formam uma espécie de classe única em relação a ambos, tanto os consócios como os contemporâneos, que podem interagir e o fazem. (...) Os PREDECESSORES, já tendo vivído, podem ser conhecidos ou, de forma mais correta, pode-se saber bastante sobre eles (...) Os SUCESSORES, por sua vez, não podem ser conhecidos, nem se pode saber nada sobre eles, pois eles são os ocupantes ainda não nascidos de um futuro ainda não chegado” (Pg. 232).

 

As Ordens Balinesas da Definição-Pessoa

Em Bali existem seis tipos de RÓTULOS que uma pessoa pode aplicar a uma outra a fim de identificá-la como  indivíduo:
1.    Nomes Pessoais
2.    Nomes na ordem de nascimento
3.    Termos de parentesco
4.    Tecnônimos
5.    Títulos de status
6.    Títulos públicos

NOMES  PESSOAIS

Ordem simbólica menos complexa em termos formais e a menos importante em termos sociais. Todos os balineses têm nomes pessoais mas raramente os usam para referir-se a si mesmos como aos outros. Pelo fato de apenas as crianças serem indicadas e muitas vezes até chamadas pelos nomes pessoais, esta denominação é considerada nome de “criança” ou de “pequenos”.
CARACTERÍSTICAS
Os nomes pessoais , entre as pessoas comuns (90 % da população), são arbitrariamente cunhados como sílabas sem sentido. Não possui nenhuma relação com os ancestrais ou graus de parentesco.
A suplicação dos nomes pessoais dentro de uma única comunidade é cuidadosamente evitado.
Os nomes pessoais são monômios e não indicam, portanto, as ligações familiares ou o fato de serem membros de qualquer tipo de grupo.

NOMES NA ORDEM DO NASCIMENTO  
São os rótulos concedidos a uma criança no instante do seu nascimento conforme é o primeiro, segundo, terceiro, quarto, etc..
“Esses nomes na ordem de nascimento são os termos mais freqüentemente utilizados dentro da povoação, tanto para se dirigir como para se referir às crianças, homens e mulheres jovens que ainda não produziram herdeiros. Em sua forma vocativa, eles são sempre usados simplesmente, isto é, sem o acréscimo do nome pessoal.” (Pg. 236)

TERMOS DE PARENTESCO

Sistema em que um indivíduo classifica seus parentes basicamente de acordo com a geração que eles ocupam em relação à sua própria. “Isso quer dizer que os irmãos, os meios irmãos e os primos (e os irmãos de seus esposos, etc.) são agrupados juntos sob o mesmo termo; todos os tios e tias de ambos os lados são classificados terminologicamente com a mãe e o pai (...)”O quadro geral é como se fosse um bolo em camadas de parentes, consistindo cada camada numa geração diferente de parentesco – a dos pais do ator ou de seus filhos, dos seus avós ou dos seus netos, e assim por diante, ficando a sua camada, aquela a partir da qual são feitos os cálculos, exatamente no meio do bolo.” (Pg. 238)

TECNÔNIMOS

“Logo que o primeiro filho de um casal recebe o seu nome, as pessoas passam a dirigir-se a eles como “Pai de ...” e “Mãe de ...” Regreg, Pula (fulano, beltrano) ou qualquer que seja o nome da criança. Eles continuam a ser chamados assim até que nasça seu primeiro neto, ocasião em que passsam a ser chamados e a ser designados como “Avô de ...” e “Avó de ...”(...)” (Pg. 241)

EFEITOS  (ou RESULTADOS)  DA TECNONÍMIA (Enorme importância para o par marital e a prociração)
1. “Seu primeiro efeito é identificar o par formado pelo marido e pela mulher, em vez de a noiva assumir o sobrenome do noivo, como acontece em nossa sociedade; aqui, porém, não é o ato do casamento que cria a identificação, mas o de procriação. (...)
Esse casal marido-mulher – mais acertadamente, pai-mãe – tem uma enorme importância em termos econômicos, políticos e espirituais.”
2. Estratos procriacionais – “do ponto de vista de qualquer ator, seus companheiros de povoação estão divididos em pessoas sem filhos, pessoas com filhos, pessoas com netos e pessoas com bisnetos
     Status procriativos – “de um homem é um elemento principal em sua identidade social, tanto a seus próprios olhos como aos olhos de todos os outros.” (Pg. 243)
3. “não é a simples capacidade reprodutiva como tal, ou quantos filhos alguém produzir, que é crítica. Um casal com dez filhos não recebe mais honrarias que um casal com cinco filhos (...) o que conta é a continuidade reprodutiva, a preservação da capacidade da comunidade de se perpetuar (...)

TÍTULOS  DE  “STATUS”

“O tipo de desigualdade humana incorporado ao sistema de títulos de status e ao sistema de etiquetas que o expressa não é nem moral, nem econômico, nem político – é religioso. (...)
Em teoria – na teoria balinesa – todos os títulos provêm dos deuses. Cada um deles foi concedido, nem sempre sem alterações, de pai para filho, como alguma herança sagrada, e a diferença no valor do prestígio dos diversos títulos decorre do grau variável em que os homens  cuidaram desses títulos observaram as condições espirituais a eles incorporadas.” (Pg. 247)
“Os títulos são rótulos aplicados aos homens indivíduais (...) O valor espiritual e aposição social coincidem.” (Pg. 249)

TÍTULOS  PÚBLICOS

Aquilo que chamamos de ocupação, os balineses chamam de “assento”, “local”, “ancoradouro”.
“Essa noção de ‘assento’ repousa na existência, no pensamento e na prática balinesa, de uma distinção extremamente aguda entre os setores cívico e doméstico da sociedade”

Um Triângulo Cultural de Forças

Neste momento do texto, o autor chama a nossa atenção para dois paradoxos (segundo a sua avaliação) na questão discutida: pessoa, tempo e conduta em Bali.
1º - “O paradoxo esclarecedor das formulações balinesas da condição de pessoa é que elas são – pelo menos em relação aos nossos termos – despersonalizantes”.
2º - “Ligada à sua concepção despersonalizada da condição de pessoa, existe uma concepção atemporalizante (pelo menos do nosso ponto de vista) do tempo.” (Pg. 257)

 

 






quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Roberto da Matta


DA MATTA, Roberto. Relativizando. 2 ed. Petrpolis, Vozes, 1981. p. 11 58.
- Como o autor entende a ida da relativizao na Antropologia e como esta disciplina pode contribuir para o conhecimento do homem?
- Que caractersticas principais distinguem as cicias naturais e sociais?
- Como se d a relao entre sujeito e objeto nas cicias sociais, especialmente na Antropologia?
- O que o autor pretende mostrar com o exemplo do sistema de nominao?
- Como definida a 3esfera do conhecimento antropolgico?
- Porque o autor n define Antropologia reduzida ao estudo do homem?
- O que seria o social para o autor?
- Como se distingue sociedade e cultura?

- Qual o conceito mais valorizado pelo autor e porque?

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Gilberto Velho

Esse negócio de "ficha" é um saco, convenhamos.
E se já tem uma pronta ...

Vai mais uma aí!



VELHO, Gilberto. Individualismo e cultura. Notas para uma Antropologia da Sociedade Contemporânea.

INTRODUÇÃO
p. 7 - ... a questão da unidade e continuidade dos sistemas sociais permanece sendo referência central da disciplina Quer se privilegie o consenso ou o conflito, quer se parta do indivíduo ou da sociedade e/ou cultura, estamos sempre lidando com o dilema da estabilidade e da descontinuidade. Como se estabelecem pactos? Como se efetiva a dominação? De que forma são socializados e incorporados os indivíduos? Como é possível exercer o poder e que padrões de reciprocidade sustentam redes de relações sociais?
PREOCUPAÇÃO TEÓRICA - a questão da construção da realidade
            da constituição de universos simbólicos
            do problema da cultura propriamente dito
Método - etnografia, bibliografia
p. 8 PREOCUPO-ME: com motivações, relevâncias, projetos, dentro de uma linha fenomenologica à la Schutz. Tento vincular essas questões à construção de uma teoria da cultura enquanto rede de significados , seguindo Geertz. Ao mesmo tempo, tenho a preocupação sociológica de distinguir grupos sociais, de vê-los operando e atuando politicamente. ...
Através das Escolas Classes (Velho:) procuro repensar as noções de indivíduo, sociedade, cultura e suas complexas e múltiplas relações.  Teoricamente Dumont
- a influência interacionista, a teoria do desvio e acusações



p. 12. PARTE 1. p. 13. CAPITULO 1.      Projeto, emoção e orientação em sociedades complexas.

15. I. A NATUREZA DAS SOCIEDADES COMPLEXAS.
- estudo das sociedades complexas, o que é isso?
15/16. Que fronteiras entre sociedade "não-complexa" e complexa??? Que critérios e variáveis serão determinantes????
16. p/ Velho, soc. complexa - tem em mente a noção de uma sociedade na qual a divisão social do trabalho e a distribuição de riquezas delineiam categorias sociais distinguíveis com continuidade histórica; sejam classes sociais, estratos, castas.... Por outro lado a noção de complexidade traz também a idéia de uma heterogeneidade cultural que deve ser entendida como a coexistência, harmoniosa ou não, de uma pluralidade de tradições cujas bases podem ser ocupacionais, étnicas, religiosas, etc.
16. relação dimensões: divisão social do trabalho e a heterogeneidade cultural.
16. é importante verificar quando e como as diferentes tradições culturais de uma sociedade complexa podem ou devem ter como explicação a divisão social do trabalho ...
16. Uma questão interessante em antropologia é, justamente, a procura de localizar experiências suficientemente significativas para criar fronteiras simbólicas.
17. ...estamos lidando com conjuntos de símbolos que vão ser utilizados pelas pessoas nas suas interações e opções cotidianos, num processo criativo ininterrupto havendo alguns mais eficazes e duradouros do que outros. A relação entre o desempenho de papais e esses conjuntos de símbolos constitui uma questão estratégica para a antropologia social.

17. II A SOCIEDADE COMPLEXA MODERNO-CONTEMPORANEA.

Distinção importante: entre sociedades complexas tradicionais e as modernas, industriais...., isto é, sociedade complexa moderno industrial, onde a grande metrópole contemporânea é sua expressão aguda e nítida desse modelo de vida, locus das realizações e traços

17. Simmel e Wirth, entre outros, chamaram atenção para essa especificidade da vida metropolitana, com sua heterogeneidade e variedade de experiências e costumes, contribuindo para a extrema fragmentação e diferenciação de papéis e domínios, dando um contorno particular à vida psicológica individual.


18. III. FRONTEIRAS CULTURAIS.

como os próprios nativos, indivíduos do universo investigado, percebem e definem tais domínios para não cairmos na armadilha muito comum de impormos nossas classificações a culturas cujos critérios e crenças possam ser inteiramente diferentes dos nossos ou que possam parecer semelhantes em certos contextos para diferirem radicalmente em outros.  Isso não significa, que o pesquisador Os possa analisar uma sociedade a partir do próprio sistema classificatório nativo. As ciências sociais desenvolveram conceitos e instrumentos de trabalho que são usados para comparar diferentes culturas e sociedades.  Mas estamos preocupados com as categorias nativas... é importante ficar claro se estamos nos referindo a percepções do grupo que estudamos ou a conceitos particulares de nossa cultura, produtos de uma experiência socio-historica especifica.

18.  para além de aspectos geográficos, espaciais, termos físicos... aspectos , dimensões traços podem ser as fronteiras mais significativas - a religião, a identidade étnica, a ideologia politica etc.

18... lindo

18. Tomando-se como referência qualquer sociedade, poder-se-ia dizer que ela vive permanentemente a contradição entre as particularizações de experiências restritas a certos segmentos, categorias, grupos e até indivíduos e a UNIVERSALIZAÇÃO de outras experiências que se expressam culturalmente através de conjuntos de símbolos homogeneizadores - paradigmas, temas, etc.
Na realidade, esse é , por excelência, o problema básico da própria existência do que chamamos de CULTURAL: O QUE PODE SER COMUNIDADE? COMO AS EXPERIÊNCIAS PODEM SER PARTILHADAS? COMO A REALIDADE PODE SER NEGOCIADA E QUAIS ASO OS LIMITES PARA A MANIPULAÇÃO DE SÍMBOLOS? Qual o grau de impermeabilidade às mensagens e como se mantêm subculturas? O que significa o desvio, o comportamento desviante enquanto manipulação ou rejeição de normas e regras dominantes? Qual a eficácia potencial da universalização de códigos particulares?


19. IV. CLASSES SOCIAIS E UNIVERSO SIMBÓLICO.

Entramos então em um problemas crucial. Os indivíduos participam diferencialmente de códigos mais restritos ou mais universalizantes. Segundo Basil Bernstein, essa diferença () é resultado de relações especificas entre o modo de expressão cognitiva e experiências diferenciadas em função da classe social especifica a que pertençam os indivíduos (Bernstein, 1971). O autor distingue a classe média da classe trabalhadora, em termos de contextos socializadores, mostrando que a expressão cognitiva vai ser diferente em função do predomínio nas famílias de uma linguagem formal no primeiro caso e de uma linguagem publica no segundo...

20... o tipo de trajetória social (Bourdieu, 1974) ou a natureza da rede de relações sociais (network) em que se movem os indivíduos, mais ou menos aberta (Bott, 1971). Ora, a experiência de mobilidade social, a ascensão ou descenso introduz variáveis significativas na experiência existencial seja de pessoas oriundas da classe trabalhadora ou da classe média que são forçosamente diferentes de uma situação de estabilidade e permanência. Por outro lado, o contato com outros grupos e círculos pode afetar vigorosamente a visão de mundo e estilo de vida de indivíduos situados em uma classe socio-econômica particular, estabelecendo diferenças internas. A interação com redes de relações mais amplas e diversificadas afeta o desempenho dos papéis sociais. Questão importante Tb. a ser considerada é a própria noção de SOCIALIZAÇÃO.  Se esta for encarada como um processo continuo que atravessa a vida adulta, ligado a vários tipos de experiência existencial como casamento, carreira, etc., pode-se duvidar ainda mais de um determinismo de classe de origem (Beckert, 1970). Ha que lembrar ainda toda a problemática da comunicação de massa que, sem cair em exageros, tem algum efeito de difusão de informações e hábitos. De qualquer forma não ha duvida de que Bernstein coloca um problema central para o estudo das sociedades complexas - a descontinuidades sociológicas correspondem diferenças no uso da linguagem e na expressão cognitiva.

20. limites possíveis em Bernstein: fixismo classista, p.e.

21. é importante para a nossa discussão perceber a relação entre emoção e expressão da emoção através de uma linguagem mais ou menos universalizante. O peso especifico da origem da classe neste processo precisa ver verificado e pesquisado em confronto com outras dimensões da vida social.  Em termos mais gerais, trata-se de colocar o problema de como os indivíduos expressam suas emoções e sentimentos através da linguagem verbal. ...



21.   ha que perceber quais são, dentro dos diferentes segmentos de uma sociedade complexa, os temas valorizados, as escalas de valores particulares, as vivências e preocupações cruciais. Isso não elimina a constatação de Bernstein de que os desempenhos na aprendizagem variam em função de um prévio adestramento na utilização de uma linguagem verbal e de que as classes trabalhadoras revelam maiores dificuldades. Em outro nível é a mesma coisa que Bourdieu diz ao mostrar a reprodução das elites através de um domínio de um código cultural especifico de que estão excluídas total ou parcialmente as camadas menos privilegiadas (Bourdieu, 1964).

22. emoção. p/ elites, experiência individual, biografia, preocupações e temas centrais.



23. V. INDIVÍDUO, INDIVIDUALISMO e PROJETO.

23. problematica central da obra de Louis Dumont. Na Índia: a idéia de indivíduo é subordinada à de todo e à de hierarquia.

23. dificuldades obra de Dumont.

23.  Dumont situa a Idade média ocidental como uma cultura em que a religião era o elemento ordenador e totalizador de uma visão de mundo hierarquizada em que os agentes empíricos (indivíduos biológicos) estavam enquadrados em categorias sociais mais amplas, as ordines, por exemplo.  A noção de indivíduo como a conhecemos contemporaneamente seria inteiramente subordinada. ...Dumont aponta com precisão importantes diferenças culturais na historia do Ocidente.  Mas, quando a investigação se aproxima de conjunturas ou situações mais limitadas, ha que primeiramente relativizar essas afirmações.  

24.P R O J E T O - A noção de que os indivíduos escolhem ou podem escolher é a base, o ponto de partida para se pensar em projeto.

24. Tendo por referencia Dumont e Mauss, ha que reconhecer que: Mesmo nas cultural mais TOTALIZADAS OU ORGANIZADAS EM TERMOS DE HIERARQUIA? HA A POSSIBILIDADE DE Individualização como no caso dos renunciantes na Índia.
tensões existentes na ordem e hierarquias tradicionais... movimentos messiânicos...
24/25. nas modernas sociedades industriais individualistas encontram-se dimensões e instâncias desindividualizadoras. Sem contar a religião que permanece como possibilidade para amplas camadas sociais, embora tenha perdido sua dominância em relação à Idade Media, ha outras alternativas de desindividualização através da carreira, da participação em certas instituições, da própria família. Ou seja, a multiplicidade de instituições da sociedade complexa contemporânea conduz esquematicamente a duas alternativas básicas. A individualização radical pode surgir exatamente da necessidade de o agente empírico ser obrigado a mover-se a manipular instituições, dimensões e "mundos" diferentes e possivelmente contraditórios (Simmel 1967 e Becker 12977).  Outra possibilidade, diante da angustia da opção e do desmapeamento é o mergulho em um desses mundos cujos estereótipos podem ser o "cientista louco", o "burocrata ritualista", a "beata", a "ame de família", embora, como se vera adiante, possa ser uma alternativa particularmente frágil em certos momentos. É claro que mesmo nesses casos a desindividualização não deixa de ser, em algum nível, uma solução individual, embora existam subculturas em que, sendo a desindividualização a regra, pouca margem possa haver para escolhas diferentes. Em toda sociedade existe, em principio, a possibilidade da individualização. Em algumas ser a mais valorizada e incentivada do que em outras. De qualquer forma o processo de individualização não se da fora de normas e padrões por mais que a liberdade individual possa ser valorizada. Quando vai de encontro às fronteiras simbólicas de determinado universo cultural - ou as ultrapassa - ter-se-a então, provavelmente, uma situação de DESVIO com acusações e, em certos casos, estigmatização (Becker 1966 e VELHO 1971). Ou seja, ha regras para a individualização, mais ou menos explicitas.  Em grande parte das sociedades tribais, das tradicionais e das complexas tradicionais o agente empírico é basicamente valorizado enquanto parte de um todo - linhagem, família, clã Tc - não se constituindo na unidade significativa. A sociedade de castas hindu, estudada por Dumont, seria o caso clássico. Mas, como foi exemplificado com a Europa do século XII, isso só pode ser entendido como tendência, em certa situações - dominância, mas nunca como uma anulação ou exclusão da individualidade em qualquer contexto. Os rituais são, de certa maneira, um mecanismo para tentar lidar com a permanente ambigüidade de fragmentação individual e totalização social (  ). .

Processo de nomeação soc. ocidental, individualista... prénome individualizante e sobrenome inclui o indivíduo em uma categoria mais ampla, no caso a família. ...Prénome não é sempre inteiramente individualizante, pode se homenagem a um pai, padrinho ,etc, trata-se de um compromisso entre a individualização e a inserção em categorias mais amplas. A manipulação do nome, o nome "artístico", a supressão de sobrenomes, os apelidos, etc, são formas de enfatizar ou marcar a individualidade, de sublinhar a particularidade...
26. formas de mapear, situando o agente empírico dentro de uma categoria mais ampla e significativa.


26. VI. PROJETO E CAMPO DE POSSIBILIDADES.

projetos individuais vinculada a contextos socio-culturais específicos - ambigüidade fragmentação-totalização...
...
Schutz - havendo agentes empíricos ha conduta desde que esta não pressupõe um PROJETO. quando ha ação com algum objetivo predeterminado ter-se-a o PROJETO Schutz 01971.

DUMONT + SCHUTZ - pode-se perguntar que é o SUJEITO DO PROJETO.
em alguma medida o indivíduo enquanto construção cultural , o agente empírico em algum nível toma decisões e age com objetivos predeterminados....
Berstein - mesmo dentro de uma sociedade especifica - no caso, em função da classe social - pode haver forte variação quanto à ênfase e preocupação que é dedicada às peculiaridades, gostos, preferências, traços particulares dos agentes empíricos. Isso se associa não Os a uma VISÃO DE MUNDO OU UM EIDOS em que a noção de biografia é central, com uma concepção de tempo bastante definida mas também a um ETHOS? UM ESTILO DE VIDA, UMA ORGANIZAÇAO DAS EMOÇÕES (Bateson 1958 e Geertz 1978) EM QUE A EXPERIÊNCIA DO AGENTE EMPÍRICO SACRALIZADA COMO INDIVIDUAL é foco e referência básica. Coloca-se como problema a relação entre projetos individuais e os círculos sociais em que o agente se inclui ou participa. A idéia central é que, primeiramente, reconhece-se não existir um projeto individual PURO, sem referência ao outro ou ao social. Os PROJETOS são elaborados e construídos em função de experiências socio-culturais, de um código, de vivências e interações interpretadas. Mas como se identifica um projeto? É claro que se podem deduzir as rações da conduta dos indivíduos, interpretar suas ações e especular sobre suas motivações. O problema é saber se o resultado obtido corresponde ao que os indivíduos, em pauta, realmente projetaram.
27. verbalizaçâo... indica projetos individuais
27. BERNSTEIN - para refletir sobre a relação entre tipo de linguagem, mapas cognitivos e desempenho de papéis. Estabelece-se uma diferença entre projetos verbalizados e não -verbalizado. É essencial frisar o caráter consciente do processo de projetar e que vai diferencia-lo de outros processos determinantes ou condicinadores da ação que não sejam conscientes. Coloca-se o problema da reflexão e explicação que o sujeito faz sobre a sua ação e conduta. Se a ação se encerrou num ATO? processo acabado, ter-se-a uma explicação referida a um tempo passado. A lógica da ação surge revelada explicitamente com ela já acabada. Num outro extremo, ter-se-ia a declaração de intenções do sujeito antes da ação, esta estando portanto no tempo futuro. A outra possibilidade é a explicação dada pelo sujeito enquanto ela age, paralelamente, no tempo presente.
De qualquer forma, o projeto não é um fenômeno puramente interno, subjetivo. Formula-se e é elaborado dentro de um campo de possibilidades, circunscrito histórica e culturalmente, tanto em termos da própria noção de indivíduo como dos temas, prioridades e paradigmas culturais existentes. Em qualquer cultura ha um repertório limitado de preocupações e problemas centrais ou dominantes; Ha uma linguagem um código através dos quais os projetos podem ser verbalizados com maior ou menor potencial de comunicação. Portanto, insistindo, o projeto é algo que pode ser comunicado. A propor condição de uma existência é a possibilidade de comunicação. Não é, nem pode ser fenômeno puramente subjetivo. ha sem duvida, uma relação entre Projeto e fantasias, que não pretendo explorar...mas o projeto para existir precisa expressar-se através de uma linguagem que visa o outro, é potencialmente publico. Sua matéria-prima é cultural e, em alguma medida, tem de "fazer sentido", num processo de interação com os contemporâneos, mesmo que seja rejeitado (). Outra idéia importante é a de que os projetos mudam, um pode ser substituindo por outro, podem-se transformar. O "mundo" dos projetos é essencialmente dinâmico, na medida em que os atores têm uma biografia, esto é, vivem no tempo e na sociedade, ou seja, sujeitos à ação de outros atores e às mudanças socio-historicas.

28. emoções/projeto...
Em certas culturas e/ou subculturas toda a atenção será dada às diferenças, enquanto em outras o foco privilegiado será a semelhança. Umas serão mais individualistas do que outras, na medida em que a unidade significativa de experiência for o indivíduo particular e idiossincratico, com suas peculiaridades sublinhadas.
O projeto enquanto conjunto de idéias, e a conduta estão sempre referidos a outros projetos e condutas localizáveis no tempo e no espaço. Por isso é fundamental entender a natureza e o grau maior ou menos de abertura ou fechamento das redes sociais em que se movem os atores.
28. código ético-moral...
28/29. sociologia dos projetos=sociologia das emoções.
29.religião, rituais
29.

29. VII. PAPEIS SOCIAIS, REDES DE RELAÇÕES E EXPERIÊNCIA CULTURAL.

29. o projeto, sendo consciente, envolve algum tipo de calculo e planejamento, não do tipo HOMO OECONOMICUS, mas alguma noção, culturalmente situada, de riscos e perdas quer em termos estritamente individuais, quer em termos grupais. Não ha parâmetros universais para em .. dir isso. O relativismo cultural permite, potencialmente, contextualizar os valores envolvidos em função de experiência socio-historicas particulares. A racionalidade...


31.  ... A diversidade e a fragmentação de papéis, em contraste com as sociedades simples de pequena escala, introduzem uma variável fundamental para se entender a noção de projeto.
GLUCKMAN:
Nesse tipo de sociedade as noções de maturidade, integridade, equilíbrio, coerência etc, precisam levar em conta essa fragmentação da experiência de que já falava SIMMEL,   ... Ao ter uma visão linear da personalidade e uma noção de indivíduo não-relativizada, os terapeutas tendem a simplificar uma problematica muito complexa em que a compreensão do contexto é fundamental e não residual ou complementar.  Entendendo a personalidade social como um CLUSTER OF ROLES (). há que entender os diferentes contextos em que são desempenhados os papéis para perceber a gramática e lógica do comportamento individual, inclusive as possíveis incompatibilidades e contradições.

31.  O projeto, creio, deve ser uma tentativa consciente de dar um sentido ou uma coerência a essa experiência fragmentada. Como já foi dito antes, o individualismo é uma possível solução diante da diversidade de domínio e áreas. Outra seria o mergulho radical em um tipo de experiência que, a partir de certo momento, pelo fato de ser "totalizadora", prescindiria de maiores explicações - ela se justifica por si mesma. Você é ou não é um "cientista louco", uma "beata", um "burocrata ritualista" ou uma "mãe de família". Gluckman admite que mesmo nas sociedades urbanas modernas podem ser encontrados pockets of social relations emq ue PAPEIS MULTIPLEX POSSAM SER ENCONTRADOS.

32. GOFFMAN
GLUCKMAN
LEACH TURNER DA MATTA RITUAIS

32. Juntando Gluckman com Simmel e Wirth, creio que, de qualquer forma, especialmente na grande metrópole, contrastando com sociedades de pequena escala - tribais, camponesas ou mesmo aldeias e cidades menores - fica claro que a fragmentação de papéis e a heterogeneidade de experiências cria uma situação particular em termos existências. HA TIPOS DE ATORES QUE, MESMO NESSES AMBIENTES, MOVEM-SE EM CÍRCULOS BASTANTE FECHADOS E EM REDES DE RELAÇÕES RESTRITAS.

32. regiões moiras - Park

32. SIMMEL - personalidade blasé... como adaptação a esse estilo de vida, com toda a marca do individualismo...
Quanto mais exposto estiver o ator a experiências diversificadas, quanto mais tiver de dar conta de ETHOS e visões de mundo contrastantes, quanto menos fechada for sua rede de relação ao nível do seu cotidiano, mais marcada será a sua autopercepção de INDIVIDUALIDADE SINGULAR.


33. VIII. PROJETO INDIVIDUAL E PROJETO SOCIAL

33. Em uma sociedade complexa moderna os mapas de orientação para a vida social são particularmente ambíguos, tortuosos e contraditórios. A construção da identidade e a elaboração de projetos individuais são feitas dentro de um contexto em que diferentes "mundos" ou esferas da vida social se interpenetram, se misturam e muitas vezes entram em conflito. A possibilidade da formação de grupos de indivíduos com um PROJETO SOCIAL que englobe, sintetize ou incorpore os diferentes projetos individuais, depende de uma percepção e vivência de interesses comuns que podem ser os mais variados, como já foi mencionado - classe social, grupo étnico, grupo de status, família, religião, vizinhança, ocupação, partido político, etc. A estabilidade e a continuidade desses projetos supra-individuais dependerão de sua capacidade de estabelecer uma definição de realidade convincente, coerente e gratificante - em outras palavras, de sua eficácia simbólica e politica propriamente dita. Pode-se dizer que em uma sociedade complexa moderna coexiste N projetos em diferentes grupos de desenvolvimento e complexidade, alguns praticamente imperceptíveis, outros explicitados e anunciados. Na medida em que um PROJETO SOCIAL represente algum GRUPO DE INTERESSE, terra uma dimensão politica, embora não se esgote a esse nível pois a sua visibilidade politica propriamente dependera de sua eficácia em mapear e dar um sentido as emoções e sentimentos individuais. Ai tem de ser somatório e síntese. O desempenho de uma multiplicidade de papéis no cotidiano da grande metrópole em mundos muitas vezes física e espacialmente separados, as transformações na rede de parentesco e vizinhança e a nuclearização da família são algumas das variáveis que concorrem para essa destotalização da experiência individual em contraste com as sociedades tradicionais. O mergulho em um mundo especifico, como os antes mencionados, é uma alternativa muitas vezes frágil diante da invasão e interpenetração de domínios, fartamente ilustrada no cinema e literatura. A INTERDEPENDÊNCIA DOS MUNDOS E A FLUIDEZ DE SUAS FRONTEIRAS FAZ COM QUE UM CÓDIGO DE EMOÇÕES, UM ETHOS E UM ESTILO DE VIDA FORTEMENTE ANCORADOS EM UM DOMÍNIO EXCLUSIVO POSSAM SE CONSTITUIR EM TERRÍVEIS ARMADILHAS. Nesse sentido poder-se-ia até dizer que os projetos mais EFICAZES seriam aqueles que apresentassem um mínimo de plasticidade simbólica, uma certa capacidade de se apoiar em domínios diferentes, um razoável potencial de metamorfose. Os projetos constituem, portanto, uma dimensão DA CULTURA? na medida em que sempre são expressão simbólica?.  Sendo conscientes e potencialmente públicos, estão diretamente ligados à organização social e aos processos de mudança social. Assim, implicando relações de poder, são sempre políticos. Sua eficácia dependera do instrumental simbólico que puderem manipular, dos paradigmas a que estiverem associados, da capacidade de contaminação e difusão da linguagem que for utilizada, mais ou menos restrita, mais ou menos universalizante. Nem tudo nos projetos é político, mas, quando são capazes de aglutinar grupos de interesses, ha que procurar entender sua RIQUEZA SIMBÓLICA E SEU POTENCIAL DE TRANSFORMAÇÃO. Em toda sociedade complexa podem ser identificados grupos que, através de suas trajetorias e posição em relação ao resto da sociedade, têm mais possibilidades de divulgar seus projetos. Sem duvida ha todo um conjunto de variáveis - como poder econômico, militar, etc - que afetam o espaço cultural possível, mas é importante verificar o potencial intrínseco de um projeto social que Os pode ser compreendido através do conjunto de símbolos a que esta associado e que veicula...


CAPITULO 2:

39.  PRESTIGIO E ASCENSÃO SOCIAL DOS LIMITES DO INDIVIDUALISMO NA SOCIEDADE BRASILEIRA

p. 41 classe média - diferenças de motivação vinculadas a trajetorias e leituras especificas do sistema simbólico que constitui a cultura de que participam. Essas diferenças estão associadas a variações da escala de valores mais ampla e da própria construção social da realidade - fortes descontinuidades me termos de ethos e visão de mundo - ele explora estudando a mobilidade social e dos valores a ela associados, e as ordens simbólicas em questão, voltado para a construção social da realidade desse universo da sociedade brasileira
p. 42 - _ Expressão de um sistema simbolico-cultural, é uma expressão, ao nível individual, de representações coletivas, importa relacionar essas representações com experiências sociológicas especificas
p. 42 prestigio e ascensão social
43 - o que significa morar em Copacabana
p. 43 - noção de PROJETO - Schutz - enfatiza a margem de manobra existente na sociedade para opções e alternativas
p. 44 Creio ser fundamental procurar distinguir a ideologia individualista que, segundo Dumont, seria a própria produtora e expressão da modernidade me suas diferentes manifestações e contextos.  Mais ainda cumpre perceber diferentes tipos de ethos individualistas que podem ter pouco ou nada a ver com essa vertente ideológica do pensamento ocidental
as noções de prestigio e ascensão social - vinculadas, a diferentes formas de viver e lidar com a questão da individualidade na sociedade contemporânea.  Fazem parte, por sua vez, de um processo mais amplo de construção social da identidade.

p. 44 parte IV
a construção da identidade é problema universal da sociedade..
Mauss e Dumont - importância e a ênfase no indivíduo agente empírico podem variar
- indivíduo é isto ou aquilo, parte de uma categoria social que, dependendo do contexto, poderá ser valorizada ou ser objeto de discriminação ou estigmatização
- aqui interacionistas, grupos desviantes
p. 45 - é problema crucial perceber é natureza e qualidade de englobamento do agente empírico por uma unidade mais ampla
- GILBERTO PROPÕE: estudar situações especificas com grupos particulares para delimitar e distinguir os diferentes níveis em que a ideologia individualista pode atuar. Cabe distinguir o lugar do indivíduo na construção social da identidade de qualquer grupo ou sociedade e o desenvolvimento de uma ideologia individualista que, em principio, estaria vinculada a tipos particulares de experiência e historia

45 - questão de honra, Pitt-Rivers, Peristiany - a tensão entre a individualização propriamente dita e a inserção em uma categoria mais ampla parece ser problema universal, a consciência desta tensão, emerge com mais nitidez com a própria ideologia individualista .. Weber e protestantismo - ethos individualista
45 MAPEAR O ESPAÇO DO INDIVIDUALISMO
45 - ter raízes em Copacabana
45/46 - a partir do espaço social em que lhe é conferido ou obtido, o indivíduo agente empírico desempenha papeis que permitirão a elaboração de uma identidade mais ou menos solida, respeitada, gratificante.  importância da família etc
46 - tensão entre individualização ou pertencimento ) renuncia,
47 - feudalismo europeu
holismo, distinção de domínios e o desenvolvimento de ideologias individualistas constituem relações e processos complexos e não lineares.
48 - a pesquisa do Gilberto
49 - regiões morais -Park
A modernidade da vida metropolitana consiste nessa variedade de estímulos e experiências que permite o pluralismo de grupos e individualidades como mostrou Simmel
- toda sociedade desenvolve mecanismos para definir um lugar para o individuo-agente empírico
50 - relação com pertencimentos a mundos religiosos

p. 50 PARTE VI
Não ha um único individualismo.
- ascensão e prestigio social
50 - prestigio - situação de estabilidade
51 - ascensão - de mudança
51 - Quando um indivíduo agente empírico se torna um indivíduo sujeito moral ou quando se move dentro da lógica da hierarquia????
- historia de vida - tensão entre os dois modelos




GILBERTO VELHO - Palestra 14 de abril 1994
Minha palestra é sobre negociação da realidade
A palavra chave na Antropologia é cultura, nos termos de Geertz como redes de significados, universos simbólicos
Todo sistema vida social implica numa reciprocidade e alianças que remetem as  diferenças.
Fala-se em sociedades simples, mas elas não são simples, elas são diferentes das sociedades modernas pelo grau de complexidade, pelo menor grau de complexidade no que diz respeito as forças de expansão da sociedade, onde na sociedade o grau de complexidade é inédito, tecnologia, industria, globalização, coexistem diferenças culturais, Exemplo Chicago, da moça filha de portugueses.
Aspectos de heterogeneidade na sociedade complexa.
Sociedade heterogênea, desempenho de vários papéis
As sociedades coexistem - valores contraditórios assumir um papel - aderir a um sistema de valores que podem ser contraditórios a outros esquemas de valores
consistência de identidade - coerência mínima ou não
DIFERENÇA E IDENTIDADE + fragmentação: as pessoas circulam suas experiências e trocam uma com as outras
Simmel cultura objetiva externas desenvolve. forças produtivas diferente de cultura subjetiva, desenvolvimento interno aos indivíduos, romantismo iluminismo e Goethe influenciam Simmel.
Desequilíbrio entre cultura objetiva e subjetiva
Influência também de Sapir que diferencia cultura autêntica e inautêntica, Simmel faz esta leitura, distingue mundo externo do mundo interno.
Como é possível ser sujeito numa sociedade assim fragmentada, de valores contraditórios sujeito aquele que tem alguma consistência.
Projetos, conduta organizada para atingir fins objetivos
Sujeitos/indivíduos...diferentes opções...com racionalidade, plano do que querem alcançar
Ação individual : comportamento ético, formação cultural religiosa
2. Reconhecer (Alfred Schutz) campo de possibilidades (exemplo família - marcar a diferença o que não lhe parece um valor universal o de querer ser diferente.
Projeto poder idealizar diante de um quadro de possibilidades que não é estático é dinâmico - negociação da realidade diferentes autores posições, valores encontro indivíduo/grupos valores diferentes negociação da realidade, poder/político.
Indivíduos - sociabilidade construida a partir da diferença, heterogeneidade algumas diferenças proscritas, discriminadas
Os indivíduos mudam seus projetos
Identidade colada ao projeto
Papéis sociais
Simmel - atitude blasé, atitude passível frente as mudanças, é possível viver na metrópole sem ser blasé, porque é possível acionar a metamorfose.
consistência biografia, valor passado dos heróis
Potencial de metamorfose, potencialidade de se mudar frente a todos estas mudanças
- que tipo de trajetória permite maior grau de metamorfose
- mensagem contraditórias transmitem valores heterogêneos
Produto destas interações - algum tipo de comportamento social
- acordos provisórios e não consensos absolutos de comportamento social
- acordos implícitos e explícitos em função de valores prévios
Firth - diferencia estrutura e organização social, estrutura como organizações duradouras e organização social como ligado ao cotidiano, desempenho de papéis, processos ao nível do cotidiano que ao nível de longo prazo afetam a estrutura social.


VELHO, Gilberto. Subjetividade e sociedade. Uma experiência de geração. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1986. 9 a 56, 90 a 106.
Apresentação
9. estudar as relações entre a subjetividade e a sociedade
10. não abre mão da vincularão básica com o trabalho acadêmico em Antropologia Social... mas Tb. preocupado com sua sociedade (como autor e cidadão)

13. Introdução

13. Para Simmel a sociabilidade é a play-form (forma lúdica) da associação.  Sua principal característica é não estar presa a necessidades e interesses específicos. Mas o autor chama a atenção de que em todos os tipos de associação, de alguma maneira, a sociabilidade esta presente:
"Mas acima e além de seu conteúdo especifico, todas essas associações estão acompanhadas por um sentimento positivo, por uma satisfação pelo próprio fato de se estar associado a outros e de a solidão do indivíduo ser resolvida através da proximidade, da união com outros". (Simmel, 1971, p. 128).
13. Velho explica que para Simmel o exercício da sociabilidade é mesclada a condutas motivadas por interesses específicos. Simmel constata a existência da sociabilidade como um fim em si mesmo, algo difícil de ser compreendido pelos materialistas de todas as épocas. No entanto, os antropólogos conhecem Mauss e Lévi-Strauss que, através de caminhos diferentes, tb contribuem para a compreensão desse domínio, esfera ou forma social.
14. importa o homem social, processo de INTERAÇÃO com os outros e assim constitui a sociedade, ao mesmo tempo, que vai sendo constituído, num processo permanente, sem fim.
14. Mas Simmel Tb. acredita no indivíduo não apenas como unidade biológica passível de ser representado como valor básico em certas culturas. Sua preocupação com a SUBJETIVIDADE é fundamental para o meu trabalho...  O homem é um organismo superior, com um self cujas potencialidades podem ser desenvolvidas. Não preciso insistir que Simmel coloca-se dentro de uma longa e complexa tradição do pensamento ocidental, em que a idéia de uniqueness do indivíduo é crucial. Toda a idéia de self-cultivation, presente de maneira ou de outra, em pensadores como Goethe, reaparece com todo o vigor em Simmel, através da noção de cultura SUBJETIVA (subjective culture). Para ele, existe uma cultura objetiva (objective culture)  externa ao indivíduo, sempre interagindo com ele. Mas são dimensões diferentes, sem relações mecânicas. A cultura objetiva de uma sociedade pode ser complexa; diferenciada, heterogênea, e a cultura subjetiva de seus membros pode nada ter a ver com isso.  Este, alias, seria um dos paradoxos da modernidade, pois o desenvolvimento da tecnologia e da civilização material, a complexificação e fragmentação da vida social não produziriam indivíduos com uma CULTURA SUBJETIVA mais elaborada. Segundo vários pensadores dar-se-ia exatamente o contrario.
Para mim, neste momento é mais relevante mostrar como Simmel distingue a CULTURA OBJETIVA da SUBJETIVA.

Esta deve ser compreendida como uma totalidade cujo aperfeiçoamento passaria pela busca de harmonia entre as diferentes potencialidades, capacidades, características.

Simmel: Em um sentido mais preciso, os dois usos do conceito de cultura não são absolutamente análogos, pois a cultura subjetiva é o objetivo principal. Sua medida é a extensão em que o processo de vida psíquica utiliza esses bens e realizações objetivas. Obviamente não pode haver cultura subjetiva sem cultura objetiva, pois o desenvolvimento ou a condição de um sujeito é a cultura, através da incorporação de objetos cultivados com que se defronta. Em contraste, a cultura objetiva pode ser parcialmente independente da cultura subjetiva, na medida em que foram criados objetos 'cultivados' - ou sendo cultivados - para fins culturais que não se limitam a sua utilização por sujeitos. Particularmente em períodos de complexidade social e de intensa divisão do trabalho, as realizações da cultura constituem, por assim dizer, um domínio autônomo. As coisas tornam-se mais aperfeiçoadas, mais intelectuais e, de certa forma, mais controladas por uma lógica objetiva interna ligada a sua instrumentalidade. Mas a elaboração, o cultivo supremo, que é o dos sujeitos, não cresce na mesma proporção. Na realidade, diante do enorme desenvolvimento da cultura objetiva, onde o mundo das coisas é partilhado por incontáveis trabalhadores, a cultura subjetiva não poderia desenvolver-se. Assim, pelo menos até aqui, o desenvolvimento histórico tem se dirigido a uma crescente e constante separação entre a produção cultural objetiva e o nível cultural do indivíduo. A dissonância da vida moderna - em particular como se manifesta no desenvolvimento da técnica em todas as áreas e a concomitante e profunda insatisfação com o progresso técnico - é causada, em grande parte, pelo fato de que as coisas estão ficando cada vez mais cultivadas, enquanto os homens estão cada vez menos aptos a transpor a perfeição dos objetos para o aperfeiçoamento da vida subjetiva (Simmel p. 1971, p. 234).

p. 16. Velho: Estou fundamentalmente interessado em: PARTIR DESTAS REFLEXÕES DE SIMMEL P/ ESTABELECER ALGUMAS RELAÇÕES ENTRE SUBJETIVIDADE E SOCIABILIDADE. Parece-me, de sadia, que, ainda na pista de Simmel, o desenvolvimento de culturas subjetivas pode estar associado ao exercício de atividade associativa. Creio que a SOCIABILIDADE, propriamente dita, pelo menos em certos grupos sociais, pode ser vista como um caminho privilegiado para tal desenvolvimento.

16. A tradição de Simmel, e a sua própria releitura, é importante na obra de autores que muito me influenciaram como Howard Becker e Erving Goffmann. Outros, Geor Mead e H. Blummer, ligados ao interacionismo, renovaram e reinterpretaram noções e conceitos que aqui discuto.
p.16 A Escola Sociológica Francesa - relevante para ESTABELECER PONTES ENTRE O SUBJETIVO E O SOCIAL. É um terreno complexo e movediço onde tento me movimentar ha algum tempo e nem sempre fácil... É importante tb. a influência de existencialista como Sartre e Camus (influência menos implícita em Velho).

17. Velho lida com material etnográfico que resulta de seus vários anos de pesquisa + auto-reflexão, pois sempre se vê fazendo parte do universo social em que tem lidado.

17. Método: narrativas + historias de vida.
17/18. Subjetividade do pesquisador,... permanentemente, não só levada em consideração, mas incorporada ao processo de conhecimento desencadeado.

18. Isto é, não esconder a interferência da subjetividade, mas aprender a lidar com ela.  Velho: Assim permaneci comprometido com a obtenção de uma conhecimento mais objetivo, sem que isso significasse uma estéril tentativa de anulação ou neutralização de meus sentimentos, emoções, crenças.


18/19. Varias questões no seu texto estão indissoluvelmente vinculadas.

l°) O SUJEITO NO MUNDO - A clássica dicotomia individuo-sociedade, as ideologias individualistas, a problematica da aliança, os códigos contraditórios, tudo isso remete a problematica do sujeito. Ao privilegiar SUBJETIVIDADE e SOCIABILIDADE: estou SUGERINDO O RETORNO, A RETOMADA DE DISCUSSÕES ANTIGAS, ainda não esgotadas.

Isto sobre método: observação participante + entrevista

2°) O ETHOS E A VISÃO DE MUNDO - analisados focalizam com muita ênfase a sociabilidade num sentido muito próximo ao de Simmel, com a valorização das amizades, dos encontros, das reuniões, despidos de um carretar mais instrumental. As conversas, os diálogos, as tertulias aparecem sempre como uma atividade que se justifica por si mesma. As festas mais fechadas e restritas de grupos de pares, onde as pessoas procuram reforçar seus laços e vínculos, aproximam-se muito de uma perspectiva que avalia o desenvolvimento de uma CULTURA SUBJETIVA associada a uma sociabilidade qualificada.

19/20. esclarecimentos s/ pesquisa

20. Velho: a preocupação com o sujeito no mundo é minha, mas estou convencido de que, em outros termos, é marca característica e vigorosa do ethos do universo aqui apresentado;  Uma das questões que quero salientar com destaque especial é aquela que coloca a relação SELF-SOCIEDADE. Há toda uma vertente teórica em ciências humanas que vê seja o SELF, o espirito, o ego, a alma, o indivíduo ou a consciência como anteriores ao processo de interação social. (..) . Por outro lado, essa é vista por outra tradição como construtora, constituinte do SELF ou mesmo do indivíduo enquanto valor.

21. Assim, seja a interação, a sociedade ou a cultura, a subjetividade - o INTERNO - é produzida, condicionada, fabricada pelo externo. O indivíduo ou o self, dependendo da vertente, é essencialmente social. Ou como representação ou como conteúdo, o INTERNO Os pode ser explicado pelo EXTERNO.  Dependendo da teoria, a ênfase pode ser colocada na ideologia individualista, no desempenho de papéis, na divisão social do trabalho, etc. Já na primeira vertente mencionada, o SELF como conceito, noção ou conteúdo, pode e deve ser distinguido de seu desempenho, performance e atualização no mundo. Pode ser visto em termos de anterioridade lógica, de potência, de estrutura, essência. A idéia de inner self é bastante conhecida entre os interacionistas como algo que pode ser apreendido ou deduzido por detrás do desempenho dos diferentes papéis sociais. Em outros termos colocam-se questões que podem ser dramáticas - eu sou o que os outros acham que sou? Sou o que faço? Sou o somatório dos diversos papéis que desempenho e, portanto, de minhas diferentes performances? Ou então - tenho uma marca anterior ao que faço e aos papéis que desempenho? Tenho um self independente da visão que o(s) outro (s) tem de mim?

Trata-se da clássica discussão que atravessa o pensamento ocidental sobre a elaboração da identidade social e individual.

22. Interpretar as entrevistas: Como se pode ser sujeito no mundo? Quão significativas são as diferenças individuais? O que é comum a uma geração e a um grupo? Como são produzidas nossas performances? E mais uma vez, como se RELACIONAM SUBJETIVIDADE E SOCIABILIDADE?

22. Universo de pesquisa: membros das camadas médias superiores, residentes na Zona Sul do Rio de Janeiro.  (+ dimensão geracional). Pode-se dizer que formam uma REDE SOCIAL, na medida em que quase todos estão relacionados, mesmo que indiretamente. Dentro do UNIVERSO DA PESQUISA por outro lado, encontro, eventualmente, GRUPOS DE INDIVÍDUOS QUE INTERAGEM DE FORMA REGULAR E QUE CHEGAM A SE AUTODEFINIR, EM CERTOS CASOS, COMO GRUPO.

22. material etnográfico: depoimentos, historias de vidas e as observações que Gilberto Velho faz sobre suas vidas.

23. CAPITULO 1: ALIANÇA E CASAMENTO NA SOCIEDADE MODERNA: SEPARAÇÃO E AMIZADE.

23. a antropologia tem procurado definir as características da sociedade moderna contemporânea. ... referência contrastava as sociedades tribais e tradicionais.

   diversos aspectos tomados para efetuar este contraste,
eu - qual contraste? O HOMEM TRADICIONAL/ O HOMEM MODERNO

Velho - ha um aspecto que tomo em especial para desenvolver neste trabalho. Trata-se da questão do CÓDIGO DA ALIANÇA, de sua existência e de sua importância relativa em diferentes sociedades e culturas. Embora Lévi-Strauss () seja o principal expoente e articulador teórico desta problematica, ha todo um vasto campo de debate repleto de nuances em que muitos autores, de diferentes tendências aparecem. Frise-se que o tema da aliança esta imediatamente associado ao da reciprocidade, principalmente através das formulações de MALINOWSKI e MAUSS... Portanto, é peça essencial para o DESENVOLVIMENTO DE IMPORTANTES TEORIAS SOBRE A SOCIEDADE, sua ORGANIZAÇAO E ESTRUTURA.

23/24. O casamento, dentro do código da aliança, estabelece relações entre grupos através de união de seus membros. Inclui-se e, ao mesmo tempo, produz reciprocidade nos mais diferentes níveis da vida social. Estabelece canais de comunicação, delimita fronteiras e elabora identidades.

24. Por outro lado ha uma forte ênfase em trabalhos e tradições variadas sobre o carretar individualista da sociedade moderna.  (Ler aqui SIMMEL e WIRTH, talvez tb. LASCH.. eu: LUIZ FERNANDO). Individualismo tem diversas acepções e, portanto, da margem a discussões um tanto desencontradas. Entende-se aqui que significa uma valorização, ao nível da representação, da ideologia, do indivíduo biológico como sujeito, unidade mínima significativa da vida social (AQUI LER DUMONT, 1970 e 1977).

24. VELHO 1981 - não ha como falar em individualismo pura e simplesmente mas em indivualismos, desde que ha varias maneiras de realizar o movimento desta valorização. Os domínios onde a ideologia individualista vai se expressar com mais nitidez e vigor é que a qualificara. A construção do sujeito pode ter como referências básicas o econômico, o político, a sexualidade, o discurso, etc. com diferentes pesos e ênfase (ler FOUCAULT, 1981). Sem duvida, de alguma maneira, esses domínios podem se articular mas, em principio, ha um foco principal de onde se irradiam experiências e valores, com maior ou menor intensidade e coerência.

24/25. A idéia de uma PSICOLOGIZAÇAO da sociedade procura, justamente, dar conta do que seria um processo generalizado em que o sujeito psicológico passa, de fato, a ser medida de todas as coisas (LER FIGUEIRA 1978 E LUIZ FERNANDO DUARTE 1983).
   Não é o homem econômico ou político mas o INDIVÍDUO PORTADOR DE UMA ESPECIFICIDADE INTERNA PARTICULAR - de carretar, personalidade, psiquismo, etc - que se torna a referência dominante em um discurso que tende a se espraiar, culminando nas diversas correntes psicanaliticas.

25.  A pesquisa de VELHO. - é intensamente psicanalizado... indivíduos fizeram terapia de base analítica, como as categorias e o discurso psicanalitico impregnam seu cotidiano, de maneira mais ou menos consistente.
  A valorização do indivíduo passa, portanto, por um modelo psicologizante, quando não psicanalitico propriamente dito. Assim, existe uma forte ênfase na "descoberta de si mesmo", na "liberação das repressões", na "busca da autenticidade" (expressões dos informantes) focalizando sempre as possibilidades de realização e/ou expansão de uma individualidade aceita como premissa.
26. É a partir desse panorama, em que se configura um ethos fortemente marcado pela psicologização, que procurarei retomar a problematica da aliança e, particularmente, do matrimônio.  (LER TESE DE DOUTORADO DE VELHO Nobres e anjos - um estudo de tóxicos e hierarquia, 1975).
casamento - sociedade contemporânea - escolha reciproca, critérios afetivos, sexuais e baseado tb. na noção de amor. MAIS UMA VEZ A IDÉIA DO SUJEITO ATUANDO, OPERANDO E OPTANDO É DOMINANTE.
No entanto, ha que nuançar este quadro em se tratando de sociedades e grupos sociais especificos, mesmo aqueles considerados como mais modernos, ao nível do senso comum. Por exemplo, no universo estudado ha vários casos evidentes da importância crucial das FAMÍLIAS DE ORIGEM na efetivação de certos matrimônios, facilitando ou criando obstáculos a sua realização. A expressão "fazer gosto" por mais que soe antiquada ou tradicional faz parte da experiência de indivíduos que se casaram, pela primeira vez, ha 10, 15 no máximo 20 anos.

   terminologia - "fazer gosto", papel da família na composição do casal...   referência que aparece mesmo nos chamados casais modernos (LER MARIA LUIZA HEILBORN Compromisso de modernidade - casal, vanguarda e individualismo, 1980...). Casais modernos valorizam fortemente o aspecto intransferível da escolha pessoal.

    A questão é saber até que ponto, em grupos sociais como o investigado, o estabelecimento do vinculo matrimonial, sua estabilidade e eventual término são assuntos das famílias de origem e como se delineiam as relações sociais nesse contexto.

27. dimensão da aliança enfatizada em diferentes instâncias...

   estão em jogo IDENTIDADE, INTERESSES, VALORES DE GRUPOS QUE SE VINCULARAM através de dois de seus membros.
   grupos que se relacionam (em rituais e festas, por ex.)

É importante observar que este tipo de aliança envolve não só parentes como amigos. Redes de sociabilidade são fortalecidas ou criadas através da união de dois indivíduos. Sem duvidas, ha os casos notórios de afastamento de pessoas que não se dão bem com um dos cônjuges. ... Mas... p. 28 define-se uma rede de relações sociais, com novos papéis, tipos de solidariedade e situações de sociabilidade. novas intercessões e cruzamentos na rede... As festas são ocasiões privilegiadas para essas observações, com rituais de incorporação e integração progressiva dos dois grupos.

casamento - rede de amigos e parentesco podem se cruzar, ou não, .. pode por exemplo, haver um convívio com intimidade.

28. Com quem o casal mais se relaciona, com parentes ou amigos? em termos de freqüência de contato como apoio cotidiano, compartilhar de dificuldades, etc....
  Quando ha filhos, papel dos parentes, avos, etc.

29. Filhos - em geral reaproximação com a família de origem (?). LER AS HISTORIAS DE VIDA, ADIANTE.

29. Crise conjugal e a separação - alteram drasticamente este conjunto e a rede de relações constituídos através do casamento que agora se desfaz. Não só as duas famílias de origem mas os amigos do casal sofrem as conseqüências do evento: aliança desfeita em geral...
    REMAPEAMENTO ou RESTRUTURAÇÃO do campo social. (LER TESE de ANA LUIZA ROCHA  Dialética do estranhamento, e de TÃNIA SALEM Um estudo de papéis e conflitos familiares ou seu artigo "O casal grávido".)

30. Isso não impede que relações individualizadas possam se manter.. Mas a fissão do conjunto, previamente existente, é um fato indiscutível.

30. Separação conflituosa - estabelecem-se verdadeiras facções... caráter dramático, disputa por legitimidade, prestigio, estima e reconhecimento social. A responsabilidade pelo fracasso do casamento (da aliança?) é que esta essencialmente em jogo.

31. avaliação de papéis...

31. acusações, boatos, intrigas... "epidemia"...
    posições de solidariedade por sexo, por idade, etc... nem sempre...

31. na pesquisa de Velho, a mulher separada evitada por amigos do ex-marido, "situação perigosa"... acentua processo de fissão.

  Depois de alguns meses de uma separação, pode-se traçar um mapa social bastante diferente, não só como resultado das fissões e facções, como do contato com outras redes sociais e conjuntos onde os ex-cônjuges, eventualmente, podem buscar novos espaços e contatos. Fazer novas amizades, restabelecer antigas, explorar outros ambientes, parece ser um processo bastante típico de uma sociedade metropolitana, altamente diferenciada, que permite um campo de manobra maior do que sociedades tribais, camponesas, tradicionais. É por aí que o individualismo do habitante da grande metrópole encontra base, estimulo e espaço para a expressão.

32. Diferenciação - proliferação de contextos... O numero de indivíduos não é importante, mas a multiplicidade de alternativas contextuais.

32. Coloca-se o problema de verificar O ESTATUTO DE UM CÓDIGO DE ALIANÇA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E, ... SUA PERTINÊNCIA PARA A COMPREENSÃO DO ETHOS E DA VISÃO DE MUNDO DE GRUPOS E SEGMENTOS ESPECÍFICOS.  Pesquisa de Velho: (segmento camada média) especifico...  mas levanta questões sobre casamento, família, parentesco e amizade na grande metrópole (LER FIGUEIRA e VELHO 1981).

   pode ajudar a explicitar a TENSÃO ENTRE INDIVIDUALIZAR-SE E INCORPORAR-SE OU SER ENGLOBADO (LER DUMONT E DUARTE)

32. A aliança entre grupos é relativamente precária se comparada com outras sociedades estudadas por antropólogos. É instável e cheia de ambigüidades. Obviamente, o domínio e a linguagem do parentesco não têm um papel determinante, comparável ao de sociedades tribais, não podendo, no entanto, ser simplesmente descartados pois, como se viu, têm alta significação na construção da identidade social. Esta é elaborada a partir da própria diferenciação da sociedade moderna metropolitana, com sua heterogeneidade e seus múltiplos domínios. Isto se acentua, em se tratando de um segmento com grande mobilidade, apoiado por forte ideologia individualista. As pessoas circulam mais por diferentes REGIÕES MORAIS (Ler aqui PARK "A cidade: sugestões para a investigação do comportamento humano no meio urbano") do que uma pequena classe média da Zona Norte do  Rio de Janeiro, ou a maioria dos grupos de baixa renda. Essa camada média intelectualizada, psicologizada, de Zona Sul, conta com recursos materiais e simbólicos que permitem que sua identidade dependa menos da família, ou de uma rede de vizinhança como grupo de referência mais exclusivo.

33. Velho sugere: verificar como ficam as pessoas separadas que passam a viver, tendo ou não filhos, sós - sem marido ou mulher..

33/34. O fato é que se elaboram estratégias de sobrevivência, baseadas em crenças e valores, que permitem a constituição de identidade, não passando pelos mecanismos clássicos de aliança. A ideologia individualista, como se manifesta neste segmento, permite ao indivíduo manter-se, enquanto membro de uma REDE DE SOCIABILIDADE que pode incluir sua família de origem, mas que se centra, basicamente, em torno da amizade enquanto valor. Velho: não creio que a amizade substitua o parentesco... amigos, gira em torno da especificidade da vida dos segmentos mais individualizados na sociedade metropolitana moderna. 
A valorização e a possibilidade da escolha reforçam a autopercepção do indivíduo. Nem o parentesco, nem a religião englobam esses indivíduos que circulam entre diferentes domínios e instituições. ... casamento diferente de amizade.

34. Seria interessante aprofundar em termos de ANALISE DE ETHOS, a noção de AMIZADE COLORIDA... relações afetivas e sexuais que não constituem um casamento, mas que não se esgotam em encontros isolados.... tensões familiares...

34. HONRA - não se pode imaginar que a problematica da HONRA não exista neste universo, e o comportamento moral e sexual das mulheres é foco privilegiados para evidenciar isto (LER LUIZ TARLEI DE ARAGAO "Em nome da mãe", estudo do código de honra). Isto é, o bom nome da família, o zelo pela moral e integridade do filhos são alguns argumentos acionados nessa busca de controle.

35 É importante lembrar, mais uma vez, que desfeita a aliança com o fim do casamento, tende a aumentar a dependência em relação a família de origem. No caso da mulher que fica com os filhos, isso se torna mais agudo. De qualquer forma, homem ou mulher, o separado ou o solteiro, encontram espaço neste universo para a elaboração de uma identidade, apoiados em outros domínios como o trabalho que, sem duvida, é dos mais significativos.

35. A rede de amigos e a sociabilidade por ela permitida fornecem outras alternativas que, no quadro da grande metrópole associadas as opções de espaços e contextos diferenciados, possibilitam um campo de manobra maior e mais rico do que em sociedades de pequena escala ou em cidade do interior. OS PROJETOS INDIVIDUAIS SE VIABILIZAM ATRAVÉS DE FORMAS DE RECIPROCIDADE REGIDAS POR NORMAS TALVEZ MAIS AMBÍGUAS, mas com um variado leque de alternativas. Existem amizades duradouras mas o importante é que se podem fazer ou desfazer. OU seja, se os laços entre amigos não obedecem a padrões rigidamente definidos de trocas e obrigações, ha maiores possibilidades de se estabelecer novas relações que substituam, completem ou ampliem as tradicionalmente dadas pelo universo da família e do parentesco em geral, onde o código da aliança se expressaria com maior nitidez. A AMIZADE não pode ser definida negativamente ou como complementar aos laços de parentesco. Trata-se de UM TIPO DE SOCIABILIDADE ESPECIFICA, caracterizada pela grande ênfase da liberdade de escolha individual. É evidente que ha uma relação entre a possibilidade de separar-se e a mobilidade e a plasticidade do domínio da amizade.

36. no universo urbano, metrópole - separação e adultos vivendo sozinhos, aponta para diferentes formas de sociabilidade e construção da identidade social.
  Mudanças no nível da pratica como das representações, no tocante a relação do indivíduo com a sociedade em que se insere. ... extensão das transformações.. a pesquisar...


37. CAPITULO 2:
    A BUSCA DE COERÊNCIA, COEXISTÊNCIA E CONTRADIÇÕES.

O processo de psicologização da sociedade é comumente visto como continuo, homogeneizador e progressivo.
Velho quer mostrar através das pesquisas camada média carioca - esse processo é complexo, longe esta de dar conta das diversas visões de mundo existentes nas sociedade brasileira, mesmo nos seus segmentos usualmente reconhecidos como mais expostos a uma socialização em que a psicologia, a psicanálise etc. exercem papel fundamental. (ESTUDO DE DUARTE SOBRE CLASSES TRABALHADORAS, DEMONSTRA A EXISTÊNCIA DE OUTROS SISTEMAS DE REPRESENTAÇÕES dos expostos por Velho).

37. Nosso universo: ideologias individualistas + mecanismos socioculturais em que a RECIPROCIDADE entre grupos, particularmente de parentesco, ocupa posição central na construção e elaboração das identidades sociais dos indivíduos.
O tema separação - procurei ressaltar o seu significado e sua repercussão para uma rede de relações mais ampla, envolvendo parentes e amigos.  Ou seja, por mais que o casamento, a união entre dois parceiros, esteja envolvido por um forte halo de escolha, de opções, de liberdade, fica claro que esta fortemente vinculado e ancorado a um conjunto mais abrangente, que é legitimado por valores e representações em que o indivíduo esta longe de ser a força-motor ou o ponto nodal. (BOURDIEU POR EXEMPLO).

38/39. Uma das características básicas para a definição da sociedade complexa moderna é a existência de múltiplos domínios que, embora coexistam relacionados, apresentam especificidade e relativa autonomia. (LER VELHO E VIVEIROS DE CASTO "O conceito de cultura e o estudo das sociedades complexas, 1978".)

   ha diferentes códigos operando em função das diferenças de domínio.

39. Registra-se: família, parentesco, trabalho, politica, amizade, religião, sexualidade, lazer, etc. ... classificação implica distinções por parte do investigador, que se referem às representações existentes na própria sociedade. Por outro lado, as noções de sociedade e cultura, por si mesmas, têm a dimensão de abrangência pretendida por investigadores que buscam uma lógica e coerência sistêmicas entre os diferentes domínios (ou níveis) da vida social. Um dos meus propósitos, neste capitulo, é apontar como a especificidade desse domínios esta associada a diferenças de ETHOS e representações do próprio indivíduo, gerando algumas das características mais marcantes e dramáticas da nossa sociedade. Cabe frisar que esta se distingue das tradicionais e tribais, entre outras singularidades, pelo fato de se ter constituído como um fenômeno de massas que é complementar ao seu alto processo de diferenciação e heterogeneização. Particularmente na grande metrópole isto vai ficar mais evidente. Encontra-se grande numero de indivíduos, de forma inédita na historia da humanidade, diferenciados a aprtir da divisão social do trabalho, de grupos de status, de origem étnica e regional, de crenças religiosas e de uma longa série de atividades, ocupações e valores.

39/40. Os grupos que Velho estuda - aparecem como os portadores mais característicos da vertente psicologizante das ideologias individualistas. De uma maneira esquemática, podemos diferenciar essas ideologias em função da maior ou menor ênfase e importância que dão aos domínios do publico e do privado.  Ora, no discurso psicologizante, particularmente na psicanálise, sem querer ignorar os diferentes matizes e variações, é justamente a dimensão privada mais intimista que é incorporada por esses grupos de camadas médias da Zona sul carioca. "A idéia de uma psicologização da sociedade procura, justamente, dar conta do que seria um processo generalizado, em que o sujeito psicológica passa, de fato, a ser a medida de todas as coisas (LER FIGUEIRA 1978 e DUARTE 1983). Não é o homem econômico ou político, mas o indivíduo portador de uma especificidade interna particular - de caracter, personalidade, psiquismo, etc - que se torna a referência dominante em um discurso que tende a se espraiar, culminando nas diversas correntes psicanaliticas".

    Esses indivíduos atuam no domínio do publico
                            +
as diferenças entre o ethos masculino e o feminino são importantes. Mas em principio tanto homens como mulheres trabalham e têm algum tipo de participação ou inserção na vida publica, com maiores ou menores responsabilidades. A própria condição social dos grupos investigados, suas ocupações e atividades levam-nos, como profissionais liberais, artistas, intelectuais etc., a desempenhar um papel que acentue uma "personalidade publica". Na apropria medida em que ficam mais velhos, deixando de ser talentos em potencial para se tornarem profissionais mais conhecidos, com maior ou menor sucesso, tende a aparecer com maior realce e peso essa dimensão publica. As diferenças como já mencionado, entre homens e mulheres não são triviais. .... esfera doméstica importância inarredavel, principal. havendo filhos. (Ler Lins de Barros "Testemunho de vida", e DAUSTER .. ).

41. No universo estudado por Velho - aparece uma tensão entre as vivências nos domínios do publico e do privado. Ha uma descontinuidade cujas origens historias podem ser encontradas, discutidas, por exemplo, nas obras de Ariés, Sennet e Foucault. (VER)
Família nuclear + experiência individual analisada...  A própria participação na vida publica, como no caso das mulheres, é valorizada muito a aprtir do peso e significado do doméstico, com suas eventuais conseqüências negativas para seu desenvolvimento mais pleno enquanto indivíduos. Ou seja, ha, neste nível, uma oposição clara entre o publico e o privado. Se a participação no mundo extradoméstico talvez seja um sinal de libertação para as mulheres, pode, no entanto, aparecer como estratégia privilegiada de reconstrução de um indivíduo cuja realização plena se da ao nível de sua vida intima, afetiva, sexual, amorosa. ..; DESCONTINUIDADE ENTRE OS DOIS DOMÍNIOS, com uma desvalorização implícita do publico.

42. Família...
  dicotomias ao nível dos discursos e representações.

43. ethos psicologizante não implica em despolitizante, alienante ou qualquer qualificativo desse tipo. Mas... aparece associado a uma dificuldade de lidar com o domínio do publico.

43. Se as raízes dos principais problemas humanos estão nas complexas relações entre id, ego e superego (), é inevitável que haja uma precedência estabelecida onde todo o resto é decorrência, conseqüência do subproduto... Ora, se os valores associados ao publico são decifrados por uma ótica psicologizante mais rala, este domínio torna-se muito pouco atraente. O auto-controle pode ser hipocrisia ou ausência de espontaneidade. A responsabilidade pode ser encarada como sinônimo de repressão dos outros e de si mesmo. A disciplina é castradora  e a hierarquia uma forma de despotismo e abuso do poder. Fica patente que a estética de existência não encontra, dentro desta visão um pouco extremada, nada de muito belo e atraente foge? da intimidade amorosa do privado. ... o "sufoco"... onde esta a liberdade? em nenhum lugar e em todas as partes... mais uma vez, dentro da lógica do discurso psicologizante, é uma solução individual....

44. A questão aparece cada vez mais incorporada de preocupações sociais, encontrar uma coerência cuja medida é, basicamente, o bem-estar individual. Passa a aparecer, cada vez com maior nitidez, o contorno de um bom senso intelectualizado, produto sincrético de vários conhecimentos e ideologias, onde se busca um meio-termo entre os determinismos e fatalismos da aliança e um individualismo agonistico, de base psicológica.

44/45. O fato é que a participação no mundo do trabalho, a profissionalização, associada a determinadas crenças sobre mérito, esforço, disciplina, responsabilidade e, por que não, sucesso e poder... o discurso psicologizante associado a diferentes correntes "contraculturais" tendeu a desqualificar essa dimensão. A valorização de uma felicidade ou bem estar individuais, possíveis devido a um afastamento estratégico para as fronteiras da sociedade, torna-se cada vez mais inviável, certamente no caso brasileiro, para os já não tão jovens herdeiros das camadas médias da zona sul. ... crença na realização genuína de uma indivíduo construído pela psicologização que tudo permeia. Não só o trabalho, mas a vida publica, propriamente, com suas possibilidades de atuação politica, contribui para a existência de um ETHOS em que o HEDONISMO tem que ceder espaço a outros valores.


46. O indivíduo sujeito psicológico esta permanentemente presente, através das constantes manifestações de fé e crença. Por detrás dos múltiplos papéis, dos códigos contraditórios, ha algo a ser apreendido que pode dar consistência e coerência às existências. Este parece ser o valor, causa e conseqüência, de todo o movimento descrito e, certamente, é uma das demonstrações mais agudas do processo de psicologização da sociedade.

47. Para esses grupos, a coerência, como um valor é essencial para a constituição e continuidade das identidades sociais, criando um verdadeiro circulo vicioso entre a fragmentação da experiência cotidiana e a permanente procura de consistência em termos existências mais amplos ().  A psicologia é a primeira e a ultima palavra... mas sob roupagens diferentes..segundo percepções e experiências particulares.

47.  ... coexistência e contradições entre códigos se dão em dois planos fundamentais:

l°) tensão entre uma visão de mundo hierárquica, onde a aliança e a reciprocidade são fundamentais e as ideologias individualistas que se manifestam com particular intensidade no universo em pauta.

2°) Em outro plano constata-se a tensão entre as diferenças de ênfase e ethos na avaliação e percepção do indivíduo.

47/48.

49. CAPITULO 3
    CULTURA ENQUANTO HETEROGENEIDADE:
    BIOGRAFIA E EXPERIÊNCIA SOCIAL

49. É fundamental na antropologia contemporânea a noção de que o homem vive, socialmente, em uma "rede de significados" (Geertz, 1978). A própria concepção de indivíduo, para correntes importantes, não seria natural mas construida histórica e socialmente, delimitada e circunscrita, portanto, a sociedades especificas. A obra de DUMONT expressa isto... DUMONT: a nossa sociedade ocidental, moderna-contemporânea, longe de ser a regra, seria a exceção entre a maioria esmagadora daquelas que não teriam no indivíduo o seu valor básico significativo, como sujeito moral. Portanto, fala-se, nesses termos, na existência da ideologia ou ideologias individualistas que produziriam essa configuração particular, opondo-se a culturas holistas, onde o indivíduo biológico estaria contido, subordinado, englobado por uma concepção hierárquica de mundo.
Vive-se neste web que expressa a existência e a pressão de uma sociedade e cultura que nos precedem e englobam. Seja holista ou individualista a ideologia dominante, o conjunto de crenças e valores a ela associado é determinante na elaboração da identidade social dos membros da sociedade.

50. DISCUTIR: questão clássica de DETERMINISMO E LIBERDADE. Ler RAYMOND FIRTH (1974)... distingue estrutura de organização social. ... O que me parece mais estimulante é a idéia de mudança e desempenho individual ao nível da organização social, enquanto a estrutura é, por definição, mais permanente, estável e imune a curto prazo à ação dos indivíduos em suas decisões cotidianos.
Além de Firth ha uma série de outros autores e perspectivas que podem ajudar a explorar o que chamei de CAMPO DE POSSIBILIDADES.( Ler VELHO capitulos 1 e 2)
Creio que o INTERACIONISMO e seus predecessores clássicos como SIMMEL, é fundamental para encaminhar essa analise.

  A INTERAÇÃO VISTA COMO PROCESSO SOCIAL BÁSICO DA AOS ATORES QUE INTERAGEM UM PAPEL DE, não apenas agentes de reprodução, MAS DE REINVENTORES DA VIDA SOCIAL.

 complexidade - diferenças entre os atores sociais

51. ora aponta-se ao pertencimento... O interacionismo, obviamente, não ignora essa possibilidade.
    interessa: coexistência problematica das diferenças
Privilegia, nesse nível, as diferenças de origem, background, trajetória, experiência social, em geral. Enfatiza, por conseguinte, a individualidade dos fenômenos. Neste sentido todos os processos internos da diferenciação de uma sociedade são relevantes. Classes, grupos de status, estratos, assim como o pertencimento a minorias étnicas e regionais, grupos desviantes, religiões especificas são pistas fundamentais para o mapeamento dessa diversidade. Nesta perspectiva o conflito coloca-se como possibilidade permanente, desde que ha interesses e valores diferentes e, muitas vezes, antagônicos. Podem traduzir desde uma inserção polarizada me uma sociedade de classes, como pontos de vista e avaliações discrepantes dentro de um grupo social aparentemente homogêneo. Portanto, é evidente que ha diferenças e diferenças, nem todas correspondendo a fossos ou barreiras intransponíveis, nem conduzindo irremediavelmente a conflitos cataclismicos. O confronto é uma possibilidade dentro do complexo jogo de negociação da realidade, e sempre é difícil prever ou antecipar em que domínios ele poderá ocorrer.

51/52. Sabemos que em uma sociedade capitalista a relação capital-trabalho é permanente foco de tensão, assim como é o risco de poluição social em uma sociedade hierarquizada como a de castas, na India clássica.  Ha, por conseguinte, probabilidades de irrupção de conflitos quando certas regras fundamentais são contestadas ou ameaçadas.

52. o que é novo em uma sociedade complexa e heterogênea como a brasileira??? o que é consensual, dominante...
Manuela CARNEIRO DA CUNHA (1985) =
   evitar visão imobilista da sociedade

53. mudança social =
53. É importante assinalar que a heterogeneidade por si mesma não implica mudança permanente e automática. Um risco oposto ao do culturalismo reificante é de ver novidade me tudo, sem perceber que, mais uma vez remetendo a FIRTH, há instituições e valores de grande permanência e estabilidade, constituintes da identidade de grupos e indivíduos. Creio que um ponto fundamental é que estes participam diferencialmente, mesmo havendo um repertório aparentemente comum, dos temas e valores da sociedade em que estão inseridos. Ou seja, não se trata necessariamente de participar ou não, mas da forma e  do tipo de utilização, uso e acesso.  Podemos pensar, por exemplo, no caso brasileiro, desde a própria língua portuguesa, passando pelo catolicismo, pela moral, vestuário, caluniaria, musica, politica, até percebemos como os hábitos e costumes podem assinalar e expressar leituras malcriadamente diferentes e desiguais no peso, densidade e formas de articulação.

53/54. o ponto mais relevante: é a vivência individual da heterogeneidade. Mesmo contextualizando a noção de indivíduo, cabe registrar que é ao nível das biografias de indivíduos específicos que encontramos com mais vigor e dramaticidade a coexistência de orientações e códigos diferenciados. Isso porque nessas BIOGRAFIAS ASSINALAM-SE TRAJETORIAS E PAPEIS COMPLEXOS EM QUE OPOSIÇOES DO TIPO TRADICIONAL X MODERNO OU HOLISTA X INDIVIDUALISTA ASO PERCEBIDAS COMO CONSTITUINTES DE IDENTIDADES INDIVIDUAIS COM TUDO QUE POSSA HAVER DE DRAMÁTICO NISSO. Valores contraditórios, anomia, desmapeamento são algumas formas de classificar estas situações.

  Sendo as  diferenças entre grupos sociais, com fronteiras mais ou menos claras, detectáveis num plano mais tipicamente sociológico, quando chegamos ao nível individual passamos a um terreno forçosamente inter. ou transdisciplinar.

54. A pesquisa de tradição antropológica, pelo próprio fato de lidar diretamente com indivíduos, obriga o investigador, por razões cientificas e morais, a enfrentar esse quadro. Percebe-se a complexidade da REDE DE SIGNIFICADOS ao nível de biografia, suas contradições e seus conflitos. Voltando a FIRTH, a performance e o desempenho individuais e as interações são constituintes da organização social. É importante assinalar que um indivíduo, em momentos e contextos específicos, pode apresentar comportamentos e atitudes classificáveis como novos ou modernos e, em outros, apresentar-se ligado a uma visão de mundo dita tradicional. Isso pode ser evidente quando distinguimos domínios, podendo, por exemplo, constatar que no terreno do trabalho o desempenho pode ser moderno e nas relações familiares tradicional.  Isso pode ser evidente quando distinguimos domínios, podendo, por exemplo, constatar que no terreno do trabalho o desempenho pode ser moderno e nas relações familiares tradicional.  Mas, sobretudo, no domínio da moral fica nítida a variação, a tensão e a heterogeneidade. Este fenômeno pode ser mais evidente nas camadas médias urbanas mais intelectualizadas () mas, de fato, aparece em outros segmentos e grupos sociais, dificultando mais uma vez o estabelecimento e blocos monolíticos na estrutura social brasileira. Concordo com DUARTE (1986), quando REGISTRA TENDÊNCIAS HOLISTAS DOMINANTES NAS CLASSES TRABALHADORES ENQUANTO AS IDEOLOGIAS INDIVIDUALISTAS ENCONTRARIAM MAIS TERRENO E EXPRESSÃO EM CAMADAS MEDIAS E ELITES. Mas  creio ser interessante matizar e procurar perceber como os sistemas podem se interpretar, particularmente, repito, quando lidamos com indivíduos específicos.


55. sugestões: ...
WRIGHT MILLS A imaginação sociológica = vincular mais sistemática e criativamente biografia e estrutura social.
56. compreender melhor como a GRAMÁTICA SOCIAL E CULTURAL SE EXPRESSA AO NÍVEL BIOGRÁFICO.  Por outro lado, sem negar a psicologia mas não sendo psicologistas, poderíamos reinterpretar o espaço para que o indivíduo, através de suas interações e ações, possa ser percebido, mesmo em momento limitados, como sujeito e não mero objeto e joguete. ...

90. CAPITULO 6:
    PAIXÃO E RACIONALIDADE

    problematica da paixão: reveste-se de uma tonalidade racionalista.
nas entrevistas nos capítulos anteriores (4,5), a opção deliberada e assumida por ideologias individualistas, onde o privado desbanca o publico. Mas o interessa individual não pode ser  visto como algo essencialmente pragmático, utilitarista. Ha uma forte valorização de laços afetivos, da importância da vida particular, amorosa.
A experiência psicanalitica, direta ou indiretamente, influencia um ETHOS onde a sexualidade e o inconsciente são a contrapartida dos projetos individuais apoiados na razão e no livre-arbitrio. 

91. No entanto, cabe lembrar que a PSICANÁLISE É UM DISCURSOS QUE PRETENDE EXPLICAR, CONHECER OS PROCESSOS AFETIVOS, DESEJOS etc.

 parece haver uma aceitação da irrupçâo do irracional na vida dos indivíduos. A forma privilegiada par ao surgimento dessas situações é a experiência da paixão. Esta categoria é do próprio discurso do universo e embora apareçam outras como maior, atração, desejo, ha um tom particularmente vigoroso quando aparece ou é verbalizada a paixão, proa. dita.

91/92. LER VIVEIROS DE CASTO E ARAÚJO (1977) - em que discutem a noção de amor associada ao desenvolvimento de valores individualistas.

94. suicídio passional. - própria natureza complexa da construção social da realidade na sociedade contemporânea.  ... ha uma coexistência contraditória entre códigos e valores. ... em outro contexto, algumas pessoas pesquisasses, racionalizantes, materialistas, etc, recorrem a astrologia, ao tarô e a outras atividades esotéricas e/ou ocultistas. ...

 ou seja, a paixão aparece aqui como parte de uma vertente desses ETHOS E VISA DE MUNDO que classifico, com alguma arbitrariedade, de irracionalista;

95. A vertente da racionalidade enfatiza, a partir da definição de interesses específicos, a organização de projetos, de condutas organizadas com o objetivo de atingi-los. Isto envolve  as mais diversas dimensões, inclusive a própria administração da vida afetiva. A irrupção da paixão não está, pelo menos, ao nível da representação consciente, prevista, embora seja encarada como possibilidade. Quanto à subjetividade, em seus termos mais amplos e complexos, coloca-se a problematica da VONTADE. Uma vez definido um certo conjunto de valores, mesmo ambíguos e contraditórios surge a questão de como são implementatados através de uma ação social associada e uma vontade que para se manifestar precisa, seguindo SIMMEL, de individuos-sujeitos ()  Voltamos a alguns pontos que falei ao citar a obra de RAYMOND FIRTH (cap. 3). Quanto a organização social, é preciso verificar quais são as condições que delineiam reais possibilidades de mudança a partir de decisões e opções individuais. A relação entre VONTADE E PROJETO é complexa e Os posso deixar aqui algumas sugestões em função da categoria paixão, e como é percebida e vivida no segmento geracional pesquisado.

96. A noção de PROJETO conforme SCHUTZ () implica uma avaliação de meios e fins estando, portanto, fortemente vinculada a uma adequação a uma realidade objetiva, externa. Implica, Tb. é claro, uma avaliação consciente de condições subjetivas. No entanto, a paixão, como foi visto, vem muito associada ao inexplicável, até mesmo ao misterioso, certamente ao incontrolavel. Nas diferentes e polêmicas discussões sobre vontade ha, sem duvida, um espaço, maior ou menor, para reconhecer, ao nível da subjetividade, o irracional, o desejo, as forças vitais incontrolaveis. Mas a vontade é tb. uma forma de expressar o domínio do sujeito, sua afirmação. Creio ser possível, em nível teórico, procurar aproximar as noções de PROJETO e VONTADE para tentar lidar, em uma perspectiva de cientista social, com o domínio das emoções. No caso desse grupo de indivíduos que estudei, a paixão, sem duvida, implica sempre um DRAMA SOCIAL que envolve diferentes atores nos termos de VICTOR TURNER.

97. De alguma forma, envolve uma REDE SOCIAL que inclui aliados e adversários. Já se disse que qualquer situação dessa natureza sempre registra Capulettos e Montechios, mesmo que não existissem previamente....

97. paixão - ...

98. Sabemos que as emoções têm por definição, sempre uma dimensão social. Mas o espaço para sua expressão está sujeito, por isso mesmo, as regras. Parece ser uma temática profícua para discussões mais gerais sobre NATUREZA e CULTURA.
Cabe registrar que a vivência da paixão, como é percebida nesses depoimentos, constitui uma experiência única, ao mesmo tempo que revela, de maneira dramática, o processo de individualização, no sentido de ser fundamental para a elaboração de uma CULTURA SUBJETIVA. Por mais ameaçadora e perigosa que possa ser, ou por isso mesmo, existe a crença de que é enriquecedora em termos da elaboração da subjetividade. Assim, parece-me ter até um certo caráter pedagógico. Se isto é verdade, permanece a evidência de que os indivíduos acreditam em se aperfeiçoar, em se tornarem melhores, mais SUJEITOS. A esfera privada, (à mais uma vez parece ser o domínio privilegiado para o nosso universo, me contraste com o publico. A PAIXÃO, por outro lado, em algum momento, precisa se adequar, minimamente, às regras da aliança. Talvez aí, então, sendo domesticada, muda de natureza. Passando a ser algo mais estabilizado, rotinizado, transforma-se em um sentimento socialmente mais previsível, mais controlável.
A dicotomia razão e emoção atravessa o discurso e a experiência do universo. A psicanálise é uma das formas de tentar lidar com as tensões e contradições dai decorrentes. Essa dicotomia não sendo a única é, no entanto, uma das maneiras de se perceber a fragmentação da experiência do mundo moderno e de tentar situa-la.  De qualquer forma, ha uma tentativa, cujo grau de consciência varia, de procurar uma harmonia que garanta um patamar básico de segurança e estabilidade existenciais. Não ha a menor duvida de que esta problematica atravessa séculos de historia do Ocidente.
...

99. Além da psicanálise () a procura das soluções ditas alternativas como homeopatia, astrologia, tarô, dança e expressão corporal, etc... podem se combinar e se articular de diferentes maneiras.
Neste universo encontramos, portanto, algum sincretismo, embora tenda a predominar, ao nível do discurso, uma tônica racionalista que procura, mesmo que precariamente, dar conta da dimensão emocional e afetiva. A crença na paixão, embora possa ser matizada por tentativas de explanação racional, foi, ao nível das representações, o que encontrei de mais forte da vertente que classifiquei como irracionalista. O exercício da vontade, no caso da PAIXÃO, implica caminhar até um determinado ponto, correndo o risco fundamental da perda de controle.... superação das rotinas do cotidiano... descobrir algo de novo, de definitivo.
Associada ao ETHOS descrito uma outra CRENÇA importante. Passa pela valorização do sofrimento como fonte de conhecimento.

100. Todas as crenças mencionadas giram em torno de uma ideologia individualista agonistica que é, mais uma vez, marca registrado do universo pesquisado. ...

101. CAPITULO 7:
     CONCLUSÕES
102. importância particularidade individual... depoimentos: tensão entre valorizar a experiência particular que sublinha o indivíduo e a tendência de nivelar as experiências individuais dentro de um processo histórico e social mais amplo. Creio que, sem nunca acabar com a tensão, predomina, em geral, a valorização do INDIVIDUO-SUJEITO e de suas potencialidades. Ai, as minhas preocupações teóricas de recuperar a importância do indivíduo na historia e na sociedade levam-se ma fazer uma leitura e interpretação que focalizam mais certos aspectos do que outros, forçosamente. ...

SIMMEL e NIETZCHE - as diferenças individuais podem se tornar histórica e socialmente relevantes.

VELHO - tb. valorizo as potencialidades individuais que podem ser ou não atualizadas existencialmente.  Preocupo-me, junto com meus "personagens", com as dificuldades de efetivar esta atualização. O descompasso das culturas objetiva e subjetiva recebo como objeto de preocupação, através de SIMMEL, e vejo essa dificuldade na vida dos indivíduos da categoria social investigada e nas representações que apresentam sobre a sociedade o mundo.

103. sobre o grupo pesquisado.
103. O objeto de meu estudo foram essas experiências e, sobretudo, as representações que elabora o universo, o significado e a interpretação que dão a, pelo menos, certos domínios de sua vida e da sociedade.
103/104. Privilegio a questão da liberdade e do determinismo, com tudo que envolve a construção do SUJEITO NO MUNDO, suas potencialidades, circunstâncias e limitações.  Procurei expor a natureza da dialética indivíduo e sociedade, como é representada no universo, e de que forma são percebidas suas possibilidades de intervenção no mundo externo e nas suas próprias vidas.

104. historia de vida -
     valores e juízos do pesquisador
Acredito que na sociedade moderna o indivíduo tende a ser unidade básica significativa, a medida de todas as coisas. Admitindo que isto não é um fenômeno universal e que existem sociedades e modelos hierarquizantes, holistas, relacionais, etc., as ideologias individualistas, de diferentes matizes, dominam, de maneira significativa, a visão de mundo de boa parte das categorias sociais. Isto fica particularmente evidente em camadas médias intelectualizadas. Sei que no próprio universo de camadas médias ha variações significativas, e podemos encontrar a presença de uma visão de mundo holista, hierarquizante. isto se manifestara, por exemplo, em certas ocupações mais do que em outras. A lembrança mais obvia talvez seja a dos militares; mas, forçaria, possivelmente, a imagem, para dizer que em se tratando de camadas médias temos cada vez mais o desenvolvimento de individualismos, embora persistam "ilhas" holistas. Em termos da sociedade brasileira, como um todo, a questão já é bem mais complexa. Certamente, não concordaria com a idéia de que existem "ilhas" individualistas cercadas por um oceano holista.

105. Quais as conseqüências da dominância de uma ideologia individualista para o universo aqui examinado e discutido?
.... No caso em pauta, pode-se argumentar haver, na origem, uma conotação hedonista e/ou narcisica na sua constituição (LER LASCH, The age of narcisism 1978). A extrema valorização do privado, em detrimento do publico, em uma relação desequilibrada, parece estar irremediavelmente vinculada a uma conjuntura histórica que acentuou as tendências acima mencionadas. Não ha indícios de modificações a partir das mudanças ocorridas nos últimos dois anos no Brasil. Pelo contrario, a interpretação da categoria social investigada tende a sublinhar, mais ainda, sua rejeição de politica, tanto no sentido restrito do termo como no mais amplo. O investimento existencial é, desta forma, concentrado na área do privado. Isto produz uma elaboração particular da SUBJETIVIDADE. A relação com a cultura objetiva se da de forma especifica desde que, de saída, ha uma tendência à exclusão de vinculação com domínios, em principio, significativos para própria constituição desta CULTURA OBJETIVA. ...