sexta-feira, 10 de março de 2017

Clifford Geertz





Atividade acadêmica de FICHAMENTO (IFCH-UFRGS)


Autor do fichamento: JAcQUES  JACOMINI



Obra trabalhada

GEERTZ, Clifford. “Pessoa, tempo e conduta em Bali”  In. A Interpretação das   
        Culturas. Rio de Janeiro, Zahar, 1978.


A Natureza Social do Pensamento

O autor inicia falando da natureza social do pensamento:
“O Pensamento humano é rematadamente social: social em sua origem, em suas funções, social em suas formas, social em suas aplicações”, momento em que deixa claro o objetivo do seu texto: realizar um “exame do aparato cultural nos termos do qual o povo de Bali define, percebe e reage às pessoas individuais, isto é, o que pensa sobre elas.” (Pg. 225)
Após a uma incursão no tema “O Estudo da Cultura”, onde fala de SÍMBOLOS – “veículos materiais do Pensamento” – PADRÕES CULTURAIS – “amontoados ordenados de símbolos siginificativos, que o homem encontra sentido nos acontecimentos através dos quais ele vive” e CULTURA – “a totalidade acumulada de tais padrões”, Geertz começa a trabalhar um objetivo mais específico: “Ver o amontoado de padrões culturais que os balineses usam para caracterizar os indivíduos em termos dessa divisão salienta, na forma mais sugestiva, as relações entre as concepções de IDENTIDADE SOCIAL, AS CONCEPÇÕES DE ORDEM TEMPORAL e as CONCEPÇÕES DE ESTILO COMPORTAMENTAL que, como veremos, estão implicitas neles.”
CONSÓCIOS – “são indivíduos que se encontram realmente, pessoas que se encontram umas com as outras em qualquer lugar no curso da vida cotidiana. Eles compartilham, assim, embora breve ou superficialmente, de uma comunidade não apenas no tempo, mas também no espaço. (...) Os amantes, pelo menos enquanto dura o amor, as consócios, da mesma forma que os esposos, até que se separem, ou os amigos, até que deixem se sê-lo.”
CONTEMPORÂNEOS – “São pessoas que partilham uma comunidade no tempo, mas não no espaço: eles vivem (mais ou menos) no mesmo período da história e muitas vezes mantém relações sociais muito tênues entre si, porém não se encontram – pelo menos no curso normal das coisas.”
PREDECESSORES e SUCESSORES – “São indivíduos que não partilham nem mesmo de uma comunidade no tempo e portanto, por definição, não podem interagir. Assim eles formam uma espécie de classe única em relação a ambos, tanto os consócios como os contemporâneos, que podem interagir e o fazem. (...) Os PREDECESSORES, já tendo vivído, podem ser conhecidos ou, de forma mais correta, pode-se saber bastante sobre eles (...) Os SUCESSORES, por sua vez, não podem ser conhecidos, nem se pode saber nada sobre eles, pois eles são os ocupantes ainda não nascidos de um futuro ainda não chegado” (Pg. 232).

 

As Ordens Balinesas da Definição-Pessoa

Em Bali existem seis tipos de RÓTULOS que uma pessoa pode aplicar a uma outra a fim de identificá-la como  indivíduo:
1.    Nomes Pessoais
2.    Nomes na ordem de nascimento
3.    Termos de parentesco
4.    Tecnônimos
5.    Títulos de status
6.    Títulos públicos

NOMES  PESSOAIS

Ordem simbólica menos complexa em termos formais e a menos importante em termos sociais. Todos os balineses têm nomes pessoais mas raramente os usam para referir-se a si mesmos como aos outros. Pelo fato de apenas as crianças serem indicadas e muitas vezes até chamadas pelos nomes pessoais, esta denominação é considerada nome de “criança” ou de “pequenos”.
CARACTERÍSTICAS
Os nomes pessoais , entre as pessoas comuns (90 % da população), são arbitrariamente cunhados como sílabas sem sentido. Não possui nenhuma relação com os ancestrais ou graus de parentesco.
A suplicação dos nomes pessoais dentro de uma única comunidade é cuidadosamente evitado.
Os nomes pessoais são monômios e não indicam, portanto, as ligações familiares ou o fato de serem membros de qualquer tipo de grupo.

NOMES NA ORDEM DO NASCIMENTO  
São os rótulos concedidos a uma criança no instante do seu nascimento conforme é o primeiro, segundo, terceiro, quarto, etc..
“Esses nomes na ordem de nascimento são os termos mais freqüentemente utilizados dentro da povoação, tanto para se dirigir como para se referir às crianças, homens e mulheres jovens que ainda não produziram herdeiros. Em sua forma vocativa, eles são sempre usados simplesmente, isto é, sem o acréscimo do nome pessoal.” (Pg. 236)

TERMOS DE PARENTESCO

Sistema em que um indivíduo classifica seus parentes basicamente de acordo com a geração que eles ocupam em relação à sua própria. “Isso quer dizer que os irmãos, os meios irmãos e os primos (e os irmãos de seus esposos, etc.) são agrupados juntos sob o mesmo termo; todos os tios e tias de ambos os lados são classificados terminologicamente com a mãe e o pai (...)”O quadro geral é como se fosse um bolo em camadas de parentes, consistindo cada camada numa geração diferente de parentesco – a dos pais do ator ou de seus filhos, dos seus avós ou dos seus netos, e assim por diante, ficando a sua camada, aquela a partir da qual são feitos os cálculos, exatamente no meio do bolo.” (Pg. 238)

TECNÔNIMOS

“Logo que o primeiro filho de um casal recebe o seu nome, as pessoas passam a dirigir-se a eles como “Pai de ...” e “Mãe de ...” Regreg, Pula (fulano, beltrano) ou qualquer que seja o nome da criança. Eles continuam a ser chamados assim até que nasça seu primeiro neto, ocasião em que passsam a ser chamados e a ser designados como “Avô de ...” e “Avó de ...”(...)” (Pg. 241)

EFEITOS  (ou RESULTADOS)  DA TECNONÍMIA (Enorme importância para o par marital e a prociração)
1. “Seu primeiro efeito é identificar o par formado pelo marido e pela mulher, em vez de a noiva assumir o sobrenome do noivo, como acontece em nossa sociedade; aqui, porém, não é o ato do casamento que cria a identificação, mas o de procriação. (...)
Esse casal marido-mulher – mais acertadamente, pai-mãe – tem uma enorme importância em termos econômicos, políticos e espirituais.”
2. Estratos procriacionais – “do ponto de vista de qualquer ator, seus companheiros de povoação estão divididos em pessoas sem filhos, pessoas com filhos, pessoas com netos e pessoas com bisnetos
     Status procriativos – “de um homem é um elemento principal em sua identidade social, tanto a seus próprios olhos como aos olhos de todos os outros.” (Pg. 243)
3. “não é a simples capacidade reprodutiva como tal, ou quantos filhos alguém produzir, que é crítica. Um casal com dez filhos não recebe mais honrarias que um casal com cinco filhos (...) o que conta é a continuidade reprodutiva, a preservação da capacidade da comunidade de se perpetuar (...)

TÍTULOS  DE  “STATUS”

“O tipo de desigualdade humana incorporado ao sistema de títulos de status e ao sistema de etiquetas que o expressa não é nem moral, nem econômico, nem político – é religioso. (...)
Em teoria – na teoria balinesa – todos os títulos provêm dos deuses. Cada um deles foi concedido, nem sempre sem alterações, de pai para filho, como alguma herança sagrada, e a diferença no valor do prestígio dos diversos títulos decorre do grau variável em que os homens  cuidaram desses títulos observaram as condições espirituais a eles incorporadas.” (Pg. 247)
“Os títulos são rótulos aplicados aos homens indivíduais (...) O valor espiritual e aposição social coincidem.” (Pg. 249)

TÍTULOS  PÚBLICOS

Aquilo que chamamos de ocupação, os balineses chamam de “assento”, “local”, “ancoradouro”.
“Essa noção de ‘assento’ repousa na existência, no pensamento e na prática balinesa, de uma distinção extremamente aguda entre os setores cívico e doméstico da sociedade”

Um Triângulo Cultural de Forças

Neste momento do texto, o autor chama a nossa atenção para dois paradoxos (segundo a sua avaliação) na questão discutida: pessoa, tempo e conduta em Bali.
1º - “O paradoxo esclarecedor das formulações balinesas da condição de pessoa é que elas são – pelo menos em relação aos nossos termos – despersonalizantes”.
2º - “Ligada à sua concepção despersonalizada da condição de pessoa, existe uma concepção atemporalizante (pelo menos do nosso ponto de vista) do tempo.” (Pg. 257)

 

 






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