Esse negócio de "ficha" é um saco, convenhamos.
E se já tem uma pronta ...
Vai mais uma aí!
E se já tem uma pronta ...
Vai mais uma aí!
VELHO, Gilberto. Individualismo e
cultura. Notas para uma Antropologia da Sociedade Contemporânea.
INTRODUÇÃO
p. 7 - ... a questão da unidade e
continuidade dos sistemas sociais permanece sendo referência central da
disciplina Quer se privilegie o consenso ou o conflito, quer se parta do
indivíduo ou da sociedade e/ou cultura, estamos sempre lidando com o dilema da
estabilidade e da descontinuidade. Como se estabelecem pactos? Como se efetiva
a dominação? De que forma são socializados e incorporados os indivíduos? Como é
possível exercer o poder e que padrões de reciprocidade sustentam redes de
relações sociais?
PREOCUPAÇÃO TEÓRICA - a questão da
construção da realidade
da constituição de universos
simbólicos
do problema da cultura propriamente
dito
Método - etnografia, bibliografia
p. 8 PREOCUPO-ME: com motivações,
relevâncias, projetos, dentro de uma linha fenomenologica à la Schutz. Tento
vincular essas questões à construção de uma teoria da cultura enquanto rede de
significados , seguindo Geertz. Ao mesmo tempo, tenho a preocupação sociológica
de distinguir grupos sociais, de vê-los operando e atuando politicamente. ...
Através das Escolas Classes
(Velho:) procuro repensar as noções de indivíduo, sociedade, cultura e suas
complexas e múltiplas relações.
Teoricamente Dumont
- a influência interacionista, a
teoria do desvio e acusações
p. 12. PARTE 1. p. 13. CAPITULO
1. Projeto, emoção e orientação em
sociedades complexas.
15. I. A NATUREZA DAS SOCIEDADES
COMPLEXAS.
- estudo das sociedades complexas,
o que é isso?
15/16. Que fronteiras entre
sociedade "não-complexa" e complexa??? Que critérios e variáveis
serão determinantes????
16. p/ Velho, soc. complexa - tem
em mente a noção de uma sociedade na qual a divisão social do trabalho e a
distribuição de riquezas delineiam categorias sociais distinguíveis com
continuidade histórica; sejam classes sociais, estratos, castas.... Por outro
lado a noção de complexidade traz também a idéia de uma heterogeneidade
cultural que deve ser entendida como a coexistência, harmoniosa ou não, de uma
pluralidade de tradições cujas bases podem ser ocupacionais, étnicas,
religiosas, etc.
16. relação dimensões: divisão
social do trabalho e a heterogeneidade cultural.
16. é importante verificar quando e
como as diferentes tradições culturais de uma sociedade complexa podem ou devem
ter como explicação a divisão social do trabalho ...
16. Uma questão interessante em
antropologia é, justamente, a procura de localizar experiências suficientemente
significativas para criar fronteiras simbólicas.
17. ...estamos lidando com
conjuntos de símbolos que vão ser utilizados pelas pessoas nas suas interações
e opções cotidianos, num processo criativo ininterrupto havendo alguns mais
eficazes e duradouros do que outros. A relação entre o desempenho de papais e
esses conjuntos de símbolos constitui uma questão estratégica para a
antropologia social.
17. II A SOCIEDADE COMPLEXA
MODERNO-CONTEMPORANEA.
Distinção importante: entre
sociedades complexas tradicionais e as modernas, industriais...., isto é,
sociedade complexa moderno industrial, onde a grande metrópole contemporânea é
sua expressão aguda e nítida desse modelo de vida, locus das realizações e
traços
17. Simmel e Wirth, entre outros,
chamaram atenção para essa especificidade da vida metropolitana, com sua
heterogeneidade e variedade de experiências e costumes, contribuindo para a
extrema fragmentação e diferenciação de papéis e domínios, dando um contorno
particular à vida psicológica individual.
18. III. FRONTEIRAS CULTURAIS.
como os próprios nativos,
indivíduos do universo investigado, percebem e definem tais domínios para não
cairmos na armadilha muito comum de impormos nossas classificações a culturas
cujos critérios e crenças possam ser inteiramente diferentes dos nossos ou que
possam parecer semelhantes em certos contextos para diferirem radicalmente em
outros. Isso não significa, que o
pesquisador Os possa analisar uma sociedade a partir do próprio sistema
classificatório nativo. As ciências sociais desenvolveram conceitos e
instrumentos de trabalho que são usados para comparar diferentes culturas e
sociedades. Mas estamos preocupados com
as categorias nativas... é importante ficar claro se estamos nos referindo a
percepções do grupo que estudamos ou a conceitos particulares de nossa cultura,
produtos de uma experiência socio-historica especifica.
18.
para além de aspectos geográficos, espaciais, termos físicos... aspectos
, dimensões traços podem ser as fronteiras mais significativas - a religião, a
identidade étnica, a ideologia politica etc.
18... lindo
18. Tomando-se como referência
qualquer sociedade, poder-se-ia dizer que ela vive permanentemente a
contradição entre as particularizações de experiências restritas a certos
segmentos, categorias, grupos e até indivíduos e a UNIVERSALIZAÇÃO de outras
experiências que se expressam culturalmente através de conjuntos de símbolos
homogeneizadores - paradigmas, temas, etc.
Na realidade, esse é , por
excelência, o problema básico da própria existência do que chamamos de CULTURAL:
O QUE PODE SER COMUNIDADE? COMO AS EXPERIÊNCIAS PODEM SER PARTILHADAS? COMO A
REALIDADE PODE SER NEGOCIADA E QUAIS ASO OS LIMITES PARA A MANIPULAÇÃO DE
SÍMBOLOS? Qual o grau de impermeabilidade às mensagens e como se mantêm
subculturas? O que significa o desvio, o comportamento desviante enquanto
manipulação ou rejeição de normas e regras dominantes? Qual a eficácia
potencial da universalização de códigos particulares?
19. IV. CLASSES SOCIAIS E UNIVERSO
SIMBÓLICO.
Entramos então em um problemas crucial.
Os indivíduos participam diferencialmente de códigos mais restritos ou mais
universalizantes. Segundo Basil Bernstein, essa diferença () é resultado de
relações especificas entre o modo de expressão cognitiva e experiências
diferenciadas em função da classe social especifica a que pertençam os
indivíduos (Bernstein, 1971). O autor distingue a classe média da classe
trabalhadora, em termos de contextos socializadores, mostrando que a expressão
cognitiva vai ser diferente em função do predomínio nas famílias de uma
linguagem formal no primeiro caso e de uma linguagem publica no segundo...
20... o tipo de trajetória social
(Bourdieu, 1974) ou a natureza da rede de relações sociais (network) em que se
movem os indivíduos, mais ou menos aberta (Bott, 1971). Ora, a experiência de
mobilidade social, a ascensão ou descenso introduz variáveis significativas na
experiência existencial seja de pessoas oriundas da classe trabalhadora ou da
classe média que são forçosamente diferentes de uma situação de estabilidade e
permanência. Por outro lado, o contato com outros grupos e círculos pode afetar
vigorosamente a visão de mundo e estilo de vida de indivíduos situados em uma
classe socio-econômica particular, estabelecendo diferenças internas. A
interação com redes de relações mais amplas e diversificadas afeta o desempenho
dos papéis sociais. Questão importante Tb. a ser considerada é a própria noção
de SOCIALIZAÇÃO. Se esta for encarada
como um processo continuo que atravessa a vida adulta, ligado a vários tipos de
experiência existencial como casamento, carreira, etc., pode-se duvidar ainda
mais de um determinismo de classe de origem (Beckert, 1970). Ha que lembrar
ainda toda a problemática da comunicação de massa que, sem cair em exageros,
tem algum efeito de difusão de informações e hábitos. De qualquer forma não ha
duvida de que Bernstein coloca um problema central para o estudo das sociedades
complexas - a descontinuidades sociológicas correspondem diferenças no uso da
linguagem e na expressão cognitiva.
20. limites possíveis em Bernstein:
fixismo classista, p.e.
21. é importante para a nossa
discussão perceber a relação entre emoção e expressão da emoção através de uma
linguagem mais ou menos universalizante. O peso especifico da origem da classe
neste processo precisa ver verificado e pesquisado em confronto com outras
dimensões da vida social. Em termos mais
gerais, trata-se de colocar o problema de como os indivíduos expressam suas
emoções e sentimentos através da linguagem verbal. ...
21. ha que perceber quais são, dentro dos
diferentes segmentos de uma sociedade complexa, os temas valorizados, as
escalas de valores particulares, as vivências e preocupações cruciais. Isso não
elimina a constatação de Bernstein de que os desempenhos na aprendizagem variam
em função de um prévio adestramento na utilização de uma linguagem verbal e de
que as classes trabalhadoras revelam maiores dificuldades. Em outro nível é a
mesma coisa que Bourdieu diz ao mostrar a reprodução das elites através de um
domínio de um código cultural especifico de que estão excluídas total ou
parcialmente as camadas menos privilegiadas (Bourdieu, 1964).
22. emoção. p/ elites, experiência
individual, biografia, preocupações e temas centrais.
23. V. INDIVÍDUO, INDIVIDUALISMO e
PROJETO.
23. problematica central da obra de
Louis Dumont. Na Índia: a idéia de indivíduo é subordinada à de todo e à de
hierarquia.
23. dificuldades obra de Dumont.
23.
Dumont situa a Idade média ocidental como uma cultura em que a religião
era o elemento ordenador e totalizador de uma visão de mundo hierarquizada em
que os agentes empíricos (indivíduos biológicos) estavam enquadrados em
categorias sociais mais amplas, as ordines, por exemplo. A noção de indivíduo como a conhecemos
contemporaneamente seria inteiramente subordinada. ...Dumont aponta com
precisão importantes diferenças culturais na historia do Ocidente. Mas, quando a investigação se aproxima de
conjunturas ou situações mais limitadas, ha que primeiramente relativizar essas
afirmações.
24.P R O J E T O - A noção de que
os indivíduos escolhem ou podem escolher é a base, o ponto de partida para se
pensar em projeto.
24. Tendo por referencia Dumont e
Mauss, ha que reconhecer que: Mesmo nas cultural mais TOTALIZADAS OU
ORGANIZADAS EM TERMOS DE HIERARQUIA? HA A POSSIBILIDADE DE Individualização
como no caso dos renunciantes na Índia.
tensões existentes na ordem e
hierarquias tradicionais... movimentos messiânicos...
24/25. nas modernas sociedades
industriais individualistas encontram-se dimensões e instâncias
desindividualizadoras. Sem contar a religião que permanece como possibilidade
para amplas camadas sociais, embora tenha perdido sua dominância em relação à
Idade Media, ha outras alternativas de desindividualização através da carreira,
da participação em certas instituições, da própria família. Ou seja, a
multiplicidade de instituições da sociedade complexa contemporânea conduz
esquematicamente a duas alternativas básicas. A individualização radical pode
surgir exatamente da necessidade de o agente empírico ser obrigado a mover-se a
manipular instituições, dimensões e "mundos" diferentes e
possivelmente contraditórios (Simmel 1967 e Becker 12977). Outra possibilidade, diante da angustia da
opção e do desmapeamento é o mergulho em um desses mundos cujos estereótipos
podem ser o "cientista louco", o "burocrata ritualista", a
"beata", a "ame de família", embora, como se vera adiante,
possa ser uma alternativa particularmente frágil em certos momentos. É claro
que mesmo nesses casos a desindividualização não deixa de ser, em algum nível,
uma solução individual, embora existam subculturas em que, sendo a
desindividualização a regra, pouca margem possa haver para escolhas diferentes.
Em toda sociedade existe, em principio, a possibilidade da individualização. Em
algumas ser a mais valorizada e incentivada do que em outras. De qualquer forma
o processo de individualização não se da fora de normas e padrões por mais que
a liberdade individual possa ser valorizada. Quando vai de encontro às
fronteiras simbólicas de determinado universo cultural - ou as ultrapassa -
ter-se-a então, provavelmente, uma situação de DESVIO com acusações e, em
certos casos, estigmatização (Becker 1966 e VELHO 1971). Ou seja, ha regras para
a individualização, mais ou menos explicitas.
Em grande parte das sociedades tribais, das tradicionais e das complexas
tradicionais o agente empírico é basicamente valorizado enquanto parte de um
todo - linhagem, família, clã Tc - não se constituindo na unidade
significativa. A sociedade de castas hindu, estudada por Dumont, seria o caso
clássico. Mas, como foi exemplificado com a Europa do século XII, isso só pode
ser entendido como tendência, em certa situações - dominância, mas nunca como
uma anulação ou exclusão da individualidade em qualquer contexto. Os rituais
são, de certa maneira, um mecanismo para tentar lidar com a permanente
ambigüidade de fragmentação individual e totalização social ( ). .
Processo de nomeação soc.
ocidental, individualista... prénome individualizante e sobrenome inclui o
indivíduo em uma categoria mais ampla, no caso a família. ...Prénome não é
sempre inteiramente individualizante, pode se homenagem a um pai, padrinho
,etc, trata-se de um compromisso entre a individualização e a inserção em
categorias mais amplas. A manipulação do nome, o nome "artístico", a
supressão de sobrenomes, os apelidos, etc, são formas de enfatizar ou marcar a
individualidade, de sublinhar a particularidade...
26. formas de mapear, situando o agente
empírico dentro de uma categoria mais ampla e significativa.
26. VI. PROJETO E CAMPO DE
POSSIBILIDADES.
projetos individuais vinculada a
contextos socio-culturais específicos - ambigüidade fragmentação-totalização...
...
Schutz - havendo agentes empíricos
ha conduta desde que esta não pressupõe um PROJETO. quando ha ação com algum
objetivo predeterminado ter-se-a o PROJETO Schutz 01971.
DUMONT + SCHUTZ - pode-se perguntar
que é o SUJEITO DO PROJETO.
em alguma medida o indivíduo
enquanto construção cultural , o agente empírico em algum nível toma decisões e
age com objetivos predeterminados....
Berstein - mesmo dentro de uma
sociedade especifica - no caso, em função da classe social - pode haver forte
variação quanto à ênfase e preocupação que é dedicada às peculiaridades,
gostos, preferências, traços particulares dos agentes empíricos. Isso se associa
não Os a uma VISÃO DE MUNDO OU UM EIDOS em que a noção de biografia é central,
com uma concepção de tempo bastante definida mas também a um ETHOS? UM ESTILO
DE VIDA, UMA ORGANIZAÇAO DAS EMOÇÕES (Bateson 1958 e Geertz 1978) EM QUE A
EXPERIÊNCIA DO AGENTE EMPÍRICO SACRALIZADA COMO INDIVIDUAL é foco e referência
básica. Coloca-se como problema a relação entre projetos individuais e os
círculos sociais em que o agente se inclui ou participa. A idéia central é que,
primeiramente, reconhece-se não existir um projeto individual PURO, sem
referência ao outro ou ao social. Os PROJETOS são elaborados e construídos em
função de experiências socio-culturais, de um código, de vivências e interações
interpretadas. Mas como se identifica um projeto? É claro que se podem deduzir
as rações da conduta dos indivíduos, interpretar suas ações e especular sobre
suas motivações. O problema é saber se o resultado obtido corresponde ao que os
indivíduos, em pauta, realmente projetaram.
27. verbalizaçâo... indica projetos
individuais
27. BERNSTEIN - para refletir sobre
a relação entre tipo de linguagem, mapas cognitivos e desempenho de papéis.
Estabelece-se uma diferença entre projetos verbalizados e não -verbalizado. É
essencial frisar o caráter consciente do processo de projetar e que vai
diferencia-lo de outros processos determinantes ou condicinadores da ação que
não sejam conscientes. Coloca-se o problema da reflexão e explicação que o
sujeito faz sobre a sua ação e conduta. Se a ação se encerrou num ATO? processo
acabado, ter-se-a uma explicação referida a um tempo passado. A lógica da ação
surge revelada explicitamente com ela já acabada. Num outro extremo, ter-se-ia
a declaração de intenções do sujeito antes da ação, esta estando portanto no
tempo futuro. A outra possibilidade é a explicação dada pelo sujeito enquanto
ela age, paralelamente, no tempo presente.
De qualquer forma, o projeto não é
um fenômeno puramente interno, subjetivo. Formula-se e é elaborado dentro de um
campo de possibilidades, circunscrito histórica e culturalmente, tanto em
termos da própria noção de indivíduo como dos temas, prioridades e paradigmas
culturais existentes. Em qualquer cultura ha um repertório limitado de
preocupações e problemas centrais ou dominantes; Ha uma linguagem um código
através dos quais os projetos podem ser verbalizados com maior ou menor
potencial de comunicação. Portanto, insistindo, o projeto é algo que pode ser
comunicado. A propor condição de uma existência é a possibilidade de
comunicação. Não é, nem pode ser fenômeno puramente subjetivo. ha sem duvida,
uma relação entre Projeto e fantasias, que não pretendo explorar...mas o
projeto para existir precisa expressar-se através de uma linguagem que visa o
outro, é potencialmente publico. Sua matéria-prima é cultural e, em alguma
medida, tem de "fazer sentido", num processo de interação com os
contemporâneos, mesmo que seja rejeitado (). Outra idéia importante é a de que
os projetos mudam, um pode ser substituindo por outro, podem-se transformar. O
"mundo" dos projetos é essencialmente dinâmico, na medida em que os
atores têm uma biografia, esto é, vivem no tempo e na sociedade, ou seja,
sujeitos à ação de outros atores e às mudanças socio-historicas.
28. emoções/projeto...
Em certas culturas e/ou subculturas
toda a atenção será dada às diferenças, enquanto em outras o foco privilegiado
será a semelhança. Umas serão mais individualistas do que outras, na medida em
que a unidade significativa de experiência for o indivíduo particular e
idiossincratico, com suas peculiaridades sublinhadas.
O projeto enquanto conjunto de
idéias, e a conduta estão sempre referidos a outros projetos e condutas
localizáveis no tempo e no espaço. Por isso é fundamental entender a natureza e
o grau maior ou menos de abertura ou fechamento das redes sociais em que se
movem os atores.
28. código ético-moral...
28/29. sociologia dos
projetos=sociologia das emoções.
29.religião, rituais
29.
29. VII. PAPEIS SOCIAIS, REDES DE
RELAÇÕES E EXPERIÊNCIA CULTURAL.
29. o projeto, sendo consciente,
envolve algum tipo de calculo e planejamento, não do tipo HOMO OECONOMICUS, mas
alguma noção, culturalmente situada, de riscos e perdas quer em termos
estritamente individuais, quer em termos grupais. Não ha parâmetros universais
para em .. dir isso. O relativismo cultural permite, potencialmente,
contextualizar os valores envolvidos em função de experiência socio-historicas
particulares. A racionalidade...
31.
... A diversidade e a fragmentação de papéis, em contraste com as
sociedades simples de pequena escala, introduzem uma variável fundamental para
se entender a noção de projeto.
GLUCKMAN:
Nesse tipo de sociedade as noções
de maturidade, integridade, equilíbrio, coerência etc, precisam levar em conta
essa fragmentação da experiência de que já falava SIMMEL, ... Ao ter uma visão linear da personalidade
e uma noção de indivíduo não-relativizada, os terapeutas tendem a simplificar
uma problematica muito complexa em que a compreensão do contexto é fundamental
e não residual ou complementar.
Entendendo a personalidade social como um CLUSTER OF ROLES (). há que
entender os diferentes contextos em que são desempenhados os papéis para
perceber a gramática e lógica do comportamento individual, inclusive as
possíveis incompatibilidades e contradições.
31.
O projeto, creio, deve ser uma tentativa consciente de dar um sentido ou
uma coerência a essa experiência fragmentada. Como já foi dito antes, o
individualismo é uma possível solução diante da diversidade de domínio e áreas.
Outra seria o mergulho radical em um tipo de experiência que, a partir de certo
momento, pelo fato de ser "totalizadora", prescindiria de maiores
explicações - ela se justifica por si mesma. Você é ou não é um "cientista
louco", uma "beata", um "burocrata ritualista" ou uma
"mãe de família". Gluckman admite que mesmo nas sociedades urbanas
modernas podem ser encontrados pockets of social relations emq ue PAPEIS
MULTIPLEX POSSAM SER ENCONTRADOS.
32.
GOFFMAN
GLUCKMAN
LEACH
TURNER DA MATTA RITUAIS
32. Juntando Gluckman com Simmel e
Wirth, creio que, de qualquer forma, especialmente na grande metrópole,
contrastando com sociedades de pequena escala - tribais, camponesas ou mesmo
aldeias e cidades menores - fica claro que a fragmentação de papéis e a
heterogeneidade de experiências cria uma situação particular em termos
existências. HA TIPOS DE ATORES QUE, MESMO NESSES AMBIENTES, MOVEM-SE EM
CÍRCULOS BASTANTE FECHADOS E EM REDES DE RELAÇÕES RESTRITAS.
32. regiões moiras - Park
32. SIMMEL - personalidade blasé...
como adaptação a esse estilo de vida, com toda a marca do individualismo...
Quanto mais exposto estiver o ator
a experiências diversificadas, quanto mais tiver de dar conta de ETHOS e visões
de mundo contrastantes, quanto menos fechada for sua rede de relação ao nível
do seu cotidiano, mais marcada será a sua autopercepção de INDIVIDUALIDADE
SINGULAR.
33. VIII. PROJETO INDIVIDUAL E
PROJETO SOCIAL
33. Em uma sociedade complexa
moderna os mapas de orientação para a vida social são particularmente ambíguos,
tortuosos e contraditórios. A construção da identidade e a elaboração de
projetos individuais são feitas dentro de um contexto em que diferentes
"mundos" ou esferas da vida social se interpenetram, se misturam e
muitas vezes entram em conflito. A possibilidade da formação de grupos de
indivíduos com um PROJETO SOCIAL que englobe, sintetize ou incorpore os
diferentes projetos individuais, depende de uma percepção e vivência de
interesses comuns que podem ser os mais variados, como já foi mencionado -
classe social, grupo étnico, grupo de status, família, religião, vizinhança,
ocupação, partido político, etc. A estabilidade e a continuidade desses
projetos supra-individuais dependerão de sua capacidade de estabelecer uma definição
de realidade convincente, coerente e gratificante - em outras palavras, de sua
eficácia simbólica e politica propriamente dita. Pode-se dizer que em uma
sociedade complexa moderna coexiste N projetos em diferentes grupos de
desenvolvimento e complexidade, alguns praticamente imperceptíveis, outros
explicitados e anunciados. Na medida em que um PROJETO SOCIAL represente algum
GRUPO DE INTERESSE, terra uma dimensão politica, embora não se esgote a esse
nível pois a sua visibilidade politica propriamente dependera de sua eficácia
em mapear e dar um sentido as emoções e sentimentos individuais. Ai tem de ser
somatório e síntese. O desempenho de uma multiplicidade de papéis no cotidiano
da grande metrópole em mundos muitas vezes física e espacialmente separados, as
transformações na rede de parentesco e vizinhança e a nuclearização da família
são algumas das variáveis que concorrem para essa destotalização da experiência
individual em contraste com as sociedades tradicionais. O mergulho em um mundo
especifico, como os antes mencionados, é uma alternativa muitas vezes frágil
diante da invasão e interpenetração de domínios, fartamente ilustrada no cinema
e literatura. A INTERDEPENDÊNCIA DOS MUNDOS E A FLUIDEZ DE SUAS FRONTEIRAS FAZ
COM QUE UM CÓDIGO DE EMOÇÕES, UM ETHOS E UM ESTILO DE VIDA FORTEMENTE ANCORADOS
EM UM DOMÍNIO EXCLUSIVO POSSAM SE CONSTITUIR EM TERRÍVEIS ARMADILHAS. Nesse
sentido poder-se-ia até dizer que os projetos mais EFICAZES seriam aqueles que
apresentassem um mínimo de plasticidade simbólica, uma certa capacidade de se
apoiar em domínios diferentes, um razoável potencial de metamorfose. Os
projetos constituem, portanto, uma dimensão DA CULTURA? na medida em que sempre
são expressão simbólica?. Sendo conscientes
e potencialmente públicos, estão diretamente ligados à organização social e aos
processos de mudança social. Assim, implicando relações de poder, são sempre
políticos. Sua eficácia dependera do instrumental simbólico que puderem
manipular, dos paradigmas a que estiverem associados, da capacidade de
contaminação e difusão da linguagem que for utilizada, mais ou menos restrita,
mais ou menos universalizante. Nem tudo nos projetos é político, mas, quando
são capazes de aglutinar grupos de interesses, ha que procurar entender sua
RIQUEZA SIMBÓLICA E SEU POTENCIAL DE TRANSFORMAÇÃO. Em toda sociedade complexa
podem ser identificados grupos que, através de suas trajetorias e posição em
relação ao resto da sociedade, têm mais possibilidades de divulgar seus
projetos. Sem duvida ha todo um conjunto de variáveis - como poder econômico,
militar, etc - que afetam o espaço cultural possível, mas é importante
verificar o potencial intrínseco de um projeto social que Os pode ser
compreendido através do conjunto de símbolos a que esta associado e que veicula...
CAPITULO 2:
39.
PRESTIGIO E ASCENSÃO SOCIAL DOS LIMITES DO INDIVIDUALISMO NA SOCIEDADE
BRASILEIRA
p. 41 classe média - diferenças de
motivação vinculadas a trajetorias e leituras especificas do sistema simbólico
que constitui a cultura de que participam. Essas diferenças estão associadas a
variações da escala de valores mais ampla e da própria construção social da
realidade - fortes descontinuidades me termos de ethos e visão de mundo - ele
explora estudando a mobilidade social e dos valores a ela associados, e as
ordens simbólicas em questão, voltado para a construção social da realidade
desse universo da sociedade brasileira
p. 42 - _ Expressão de um sistema
simbolico-cultural, é uma expressão, ao nível individual, de representações
coletivas, importa relacionar essas representações com experiências
sociológicas especificas
p. 42 prestigio e ascensão social
43 - o que significa morar em
Copacabana
p. 43 - noção de PROJETO - Schutz -
enfatiza a margem de manobra existente na sociedade para opções e alternativas
p. 44 Creio ser fundamental
procurar distinguir a ideologia individualista que, segundo Dumont, seria a
própria produtora e expressão da modernidade me suas diferentes manifestações e
contextos. Mais ainda cumpre perceber
diferentes tipos de ethos individualistas que podem ter pouco ou nada a ver com
essa vertente ideológica do pensamento ocidental
as noções de prestigio e ascensão
social - vinculadas, a diferentes formas de viver e lidar com a questão da
individualidade na sociedade contemporânea.
Fazem parte, por sua vez, de um processo mais amplo de construção social
da identidade.
p. 44 parte IV
a construção da identidade é
problema universal da sociedade..
Mauss e Dumont - importância e a
ênfase no indivíduo agente empírico podem variar
- indivíduo é isto ou aquilo, parte
de uma categoria social que, dependendo do contexto, poderá ser valorizada ou
ser objeto de discriminação ou estigmatização
- aqui interacionistas, grupos
desviantes
p. 45 - é problema crucial perceber
é natureza e qualidade de englobamento do agente empírico por uma unidade mais
ampla
- GILBERTO PROPÕE: estudar
situações especificas com grupos particulares para delimitar e distinguir os
diferentes níveis em que a ideologia individualista pode atuar. Cabe distinguir
o lugar do indivíduo na construção social da identidade de qualquer grupo ou
sociedade e o desenvolvimento de uma ideologia individualista que, em
principio, estaria vinculada a tipos particulares de experiência e historia
45 - questão de honra, Pitt-Rivers,
Peristiany - a tensão entre a individualização propriamente dita e a inserção
em uma categoria mais ampla parece ser problema universal, a consciência desta
tensão, emerge com mais nitidez com a própria ideologia individualista .. Weber
e protestantismo - ethos individualista
45 MAPEAR O ESPAÇO DO
INDIVIDUALISMO
45 - ter raízes em Copacabana
45/46 - a partir do espaço social
em que lhe é conferido ou obtido, o indivíduo agente empírico desempenha papeis
que permitirão a elaboração de uma identidade mais ou menos solida, respeitada,
gratificante. importância da família etc
46 - tensão entre individualização
ou pertencimento ) renuncia,
47 - feudalismo europeu
holismo, distinção de domínios e o
desenvolvimento de ideologias individualistas constituem relações e processos
complexos e não lineares.
48 - a pesquisa do Gilberto
49 - regiões morais -Park
A modernidade da vida metropolitana
consiste nessa variedade de estímulos e experiências que permite o pluralismo
de grupos e individualidades como mostrou Simmel
- toda sociedade desenvolve
mecanismos para definir um lugar para o individuo-agente empírico
50 - relação com pertencimentos a
mundos religiosos
p. 50 PARTE VI
Não ha um único individualismo.
- ascensão e prestigio social
50 - prestigio - situação de
estabilidade
51 - ascensão - de mudança
51 - Quando um indivíduo agente
empírico se torna um indivíduo sujeito moral ou quando se move dentro da lógica
da hierarquia????
- historia de vida - tensão entre os
dois modelos
GILBERTO VELHO - Palestra 14 de
abril 1994
Minha palestra é sobre negociação
da realidade
A palavra chave na Antropologia é
cultura, nos termos de Geertz como redes de significados, universos simbólicos
Todo sistema vida social implica
numa reciprocidade e alianças que remetem as
diferenças.
Fala-se em sociedades simples, mas
elas não são simples, elas são diferentes das sociedades modernas pelo grau de
complexidade, pelo menor grau de complexidade no que diz respeito as forças de
expansão da sociedade, onde na sociedade o grau de complexidade é inédito,
tecnologia, industria, globalização, coexistem diferenças culturais, Exemplo
Chicago, da moça filha de portugueses.
Aspectos de heterogeneidade na
sociedade complexa.
Sociedade heterogênea, desempenho
de vários papéis
As sociedades coexistem - valores
contraditórios assumir um papel - aderir a um sistema de valores que podem ser
contraditórios a outros esquemas de valores
consistência de identidade - coerência
mínima ou não
DIFERENÇA E IDENTIDADE +
fragmentação: as pessoas circulam suas experiências e trocam uma com as outras
Simmel cultura objetiva externas
desenvolve. forças produtivas diferente de cultura subjetiva, desenvolvimento
interno aos indivíduos, romantismo iluminismo e Goethe influenciam Simmel.
Desequilíbrio entre cultura
objetiva e subjetiva
Influência também de Sapir que
diferencia cultura autêntica e inautêntica, Simmel faz esta leitura, distingue
mundo externo do mundo interno.
Como é possível ser sujeito numa
sociedade assim fragmentada, de valores contraditórios sujeito aquele que tem
alguma consistência.
Projetos, conduta organizada para
atingir fins objetivos
Sujeitos/indivíduos...diferentes
opções...com racionalidade, plano do que querem alcançar
Ação individual : comportamento
ético, formação cultural religiosa
2. Reconhecer (Alfred Schutz) campo
de possibilidades (exemplo família - marcar a diferença o que não lhe parece um
valor universal o de querer ser diferente.
Projeto poder idealizar diante de
um quadro de possibilidades que não é estático é dinâmico - negociação da
realidade diferentes autores posições, valores encontro indivíduo/grupos
valores diferentes negociação da realidade, poder/político.
Indivíduos - sociabilidade construida
a partir da diferença, heterogeneidade algumas diferenças proscritas,
discriminadas
Os indivíduos mudam seus projetos
Identidade colada ao projeto
Papéis sociais
Simmel - atitude blasé, atitude
passível frente as mudanças, é possível viver na metrópole sem ser blasé,
porque é possível acionar a metamorfose.
consistência biografia, valor
passado dos heróis
Potencial de metamorfose,
potencialidade de se mudar frente a todos estas mudanças
- que tipo de trajetória permite
maior grau de metamorfose
- mensagem contraditórias
transmitem valores heterogêneos
Produto destas interações - algum
tipo de comportamento social
- acordos provisórios e não
consensos absolutos de comportamento social
- acordos implícitos e explícitos
em função de valores prévios
Firth - diferencia estrutura e
organização social, estrutura como organizações duradouras e organização social
como ligado ao cotidiano, desempenho de papéis, processos ao nível do cotidiano
que ao nível de longo prazo afetam a estrutura social.
VELHO, Gilberto. Subjetividade e
sociedade. Uma experiência de geração. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1986. 9 a
56, 90 a 106.
Apresentação
9. estudar as relações entre a
subjetividade e a sociedade
10. não abre mão da vincularão
básica com o trabalho acadêmico em Antropologia Social... mas Tb. preocupado
com sua sociedade (como autor e cidadão)
13. Introdução
13. Para Simmel a sociabilidade é a
play-form (forma lúdica) da associação.
Sua principal característica é não estar presa a necessidades e
interesses específicos. Mas o autor chama a atenção de que em todos os tipos de
associação, de alguma maneira, a sociabilidade esta presente:
"Mas acima e além de seu
conteúdo especifico, todas essas associações estão acompanhadas por um
sentimento positivo, por uma satisfação pelo próprio fato de se estar associado
a outros e de a solidão do indivíduo ser resolvida através da proximidade, da
união com outros". (Simmel, 1971, p. 128).
13. Velho explica que para Simmel o
exercício da sociabilidade é mesclada a condutas motivadas por interesses
específicos. Simmel constata a existência da sociabilidade como um fim em si
mesmo, algo difícil de ser compreendido pelos materialistas de todas as épocas.
No entanto, os antropólogos conhecem Mauss e Lévi-Strauss que, através de caminhos
diferentes, tb contribuem para a compreensão desse domínio, esfera ou forma
social.
14. importa o homem social,
processo de INTERAÇÃO com os outros e assim constitui a sociedade, ao mesmo
tempo, que vai sendo constituído, num processo permanente, sem fim.
14. Mas Simmel Tb. acredita no
indivíduo não apenas como unidade biológica passível de ser representado como
valor básico em certas culturas. Sua preocupação com a SUBJETIVIDADE é
fundamental para o meu trabalho... O
homem é um organismo superior, com um self cujas potencialidades podem ser
desenvolvidas. Não preciso insistir que Simmel coloca-se dentro de uma longa e
complexa tradição do pensamento ocidental, em que a idéia de uniqueness do
indivíduo é crucial. Toda a idéia de self-cultivation, presente de maneira ou
de outra, em pensadores como Goethe, reaparece com todo o vigor em Simmel,
através da noção de cultura SUBJETIVA (subjective culture). Para ele, existe
uma cultura objetiva (objective culture)
externa ao indivíduo, sempre interagindo com ele. Mas são dimensões
diferentes, sem relações mecânicas. A cultura objetiva de uma sociedade pode
ser complexa; diferenciada, heterogênea, e a cultura subjetiva de seus membros
pode nada ter a ver com isso. Este,
alias, seria um dos paradoxos da modernidade, pois o desenvolvimento da
tecnologia e da civilização material, a complexificação e fragmentação da vida
social não produziriam indivíduos com uma CULTURA SUBJETIVA mais elaborada.
Segundo vários pensadores dar-se-ia exatamente o contrario.
Para mim, neste momento é mais
relevante mostrar como Simmel distingue a CULTURA OBJETIVA da SUBJETIVA.
Esta deve ser compreendida como uma
totalidade cujo aperfeiçoamento passaria pela busca de harmonia entre as
diferentes potencialidades, capacidades, características.
Simmel: Em um sentido mais preciso,
os dois usos do conceito de cultura não são absolutamente análogos, pois a
cultura subjetiva é o objetivo principal. Sua medida é a extensão em que o
processo de vida psíquica utiliza esses bens e realizações objetivas.
Obviamente não pode haver cultura subjetiva sem cultura objetiva, pois o
desenvolvimento ou a condição de um sujeito é a cultura, através da
incorporação de objetos cultivados com que se defronta. Em contraste, a cultura
objetiva pode ser parcialmente independente da cultura subjetiva, na medida em
que foram criados objetos 'cultivados' - ou sendo cultivados - para fins
culturais que não se limitam a sua utilização por sujeitos. Particularmente em
períodos de complexidade social e de intensa divisão do trabalho, as
realizações da cultura constituem, por assim dizer, um domínio autônomo. As
coisas tornam-se mais aperfeiçoadas, mais intelectuais e, de certa forma, mais
controladas por uma lógica objetiva interna ligada a sua instrumentalidade. Mas
a elaboração, o cultivo supremo, que é o dos sujeitos, não cresce na mesma
proporção. Na realidade, diante do enorme desenvolvimento da cultura objetiva,
onde o mundo das coisas é partilhado por incontáveis trabalhadores, a cultura
subjetiva não poderia desenvolver-se. Assim, pelo menos até aqui, o
desenvolvimento histórico tem se dirigido a uma crescente e constante separação
entre a produção cultural objetiva e o nível cultural do indivíduo. A
dissonância da vida moderna - em particular como se manifesta no
desenvolvimento da técnica em todas as áreas e a concomitante e profunda
insatisfação com o progresso técnico - é causada, em grande parte, pelo fato de
que as coisas estão ficando cada vez mais cultivadas, enquanto os homens estão
cada vez menos aptos a transpor a perfeição dos objetos para o aperfeiçoamento
da vida subjetiva (Simmel p. 1971, p. 234).
p. 16. Velho: Estou
fundamentalmente interessado em: PARTIR DESTAS REFLEXÕES DE SIMMEL P/
ESTABELECER ALGUMAS RELAÇÕES ENTRE SUBJETIVIDADE E SOCIABILIDADE. Parece-me, de
sadia, que, ainda na pista de Simmel, o desenvolvimento de culturas subjetivas
pode estar associado ao exercício de atividade associativa. Creio que a
SOCIABILIDADE, propriamente dita, pelo menos em certos grupos sociais, pode ser
vista como um caminho privilegiado para tal desenvolvimento.
16. A tradição de Simmel, e a sua
própria releitura, é importante na obra de autores que muito me influenciaram
como Howard Becker e Erving Goffmann. Outros, Geor Mead e H. Blummer, ligados
ao interacionismo, renovaram e reinterpretaram noções e conceitos que aqui
discuto.
p.16 A Escola Sociológica Francesa
- relevante para ESTABELECER PONTES ENTRE O SUBJETIVO E O SOCIAL. É um terreno
complexo e movediço onde tento me movimentar ha algum tempo e nem sempre
fácil... É importante tb. a influência de existencialista como Sartre e Camus
(influência menos implícita em Velho).
17. Velho lida com material
etnográfico que resulta de seus vários anos de pesquisa + auto-reflexão, pois
sempre se vê fazendo parte do universo social em que tem lidado.
17. Método: narrativas + historias
de vida.
17/18. Subjetividade do
pesquisador,... permanentemente, não só levada em consideração, mas incorporada
ao processo de conhecimento desencadeado.
18. Isto é, não esconder a
interferência da subjetividade, mas aprender a lidar com ela. Velho: Assim permaneci comprometido com a
obtenção de uma conhecimento mais objetivo, sem que isso significasse uma
estéril tentativa de anulação ou neutralização de meus sentimentos, emoções,
crenças.
18/19. Varias questões no seu texto
estão indissoluvelmente vinculadas.
l°) O SUJEITO NO MUNDO - A clássica
dicotomia individuo-sociedade, as ideologias individualistas, a problematica da
aliança, os códigos contraditórios, tudo isso remete a problematica do sujeito.
Ao privilegiar SUBJETIVIDADE e SOCIABILIDADE: estou SUGERINDO O RETORNO, A
RETOMADA DE DISCUSSÕES ANTIGAS, ainda não esgotadas.
Isto sobre método: observação
participante + entrevista
2°) O ETHOS E A VISÃO DE MUNDO -
analisados focalizam com muita ênfase a sociabilidade num sentido muito próximo
ao de Simmel, com a valorização das amizades, dos encontros, das reuniões,
despidos de um carretar mais instrumental. As conversas, os diálogos, as
tertulias aparecem sempre como uma atividade que se justifica por si mesma. As
festas mais fechadas e restritas de grupos de pares, onde as pessoas procuram
reforçar seus laços e vínculos, aproximam-se muito de uma perspectiva que
avalia o desenvolvimento de uma CULTURA SUBJETIVA associada a uma sociabilidade
qualificada.
19/20. esclarecimentos s/ pesquisa
20. Velho: a preocupação com o
sujeito no mundo é minha, mas estou convencido de que, em outros termos, é
marca característica e vigorosa do ethos do universo aqui apresentado; Uma das questões que quero salientar com
destaque especial é aquela que coloca a relação SELF-SOCIEDADE. Há toda uma
vertente teórica em ciências humanas que vê seja o SELF, o espirito, o ego, a
alma, o indivíduo ou a consciência como anteriores ao processo de interação
social. (..) . Por outro lado, essa é vista por outra tradição como
construtora, constituinte do SELF ou mesmo do indivíduo enquanto valor.
21. Assim, seja a interação, a
sociedade ou a cultura, a subjetividade - o INTERNO - é produzida,
condicionada, fabricada pelo externo. O indivíduo ou o self, dependendo da
vertente, é essencialmente social. Ou como representação ou como conteúdo, o
INTERNO Os pode ser explicado pelo EXTERNO.
Dependendo da teoria, a ênfase pode ser colocada na ideologia
individualista, no desempenho de papéis, na divisão social do trabalho, etc. Já
na primeira vertente mencionada, o SELF como conceito, noção ou conteúdo, pode
e deve ser distinguido de seu desempenho, performance e atualização no mundo. Pode
ser visto em termos de anterioridade lógica, de potência, de estrutura,
essência. A idéia de inner self é bastante conhecida entre os interacionistas
como algo que pode ser apreendido ou deduzido por detrás do desempenho dos
diferentes papéis sociais. Em outros termos colocam-se questões que podem ser
dramáticas - eu sou o que os outros acham que sou? Sou o que faço? Sou o
somatório dos diversos papéis que desempenho e, portanto, de minhas diferentes
performances? Ou então - tenho uma marca anterior ao que faço e aos papéis que
desempenho? Tenho um self independente da visão que o(s) outro (s) tem de mim?
Trata-se da clássica discussão que
atravessa o pensamento ocidental sobre a elaboração da identidade social e
individual.
22. Interpretar as entrevistas:
Como se pode ser sujeito no mundo? Quão significativas são as diferenças
individuais? O que é comum a uma geração e a um grupo? Como são produzidas
nossas performances? E mais uma vez, como se RELACIONAM SUBJETIVIDADE E
SOCIABILIDADE?
22. Universo de pesquisa: membros
das camadas médias superiores, residentes na Zona Sul do Rio de Janeiro. (+ dimensão geracional). Pode-se dizer que
formam uma REDE SOCIAL, na medida em que quase todos estão relacionados, mesmo
que indiretamente. Dentro do UNIVERSO DA PESQUISA por outro lado, encontro,
eventualmente, GRUPOS DE INDIVÍDUOS QUE INTERAGEM DE FORMA REGULAR E QUE CHEGAM
A SE AUTODEFINIR, EM CERTOS CASOS, COMO GRUPO.
22. material etnográfico:
depoimentos, historias de vidas e as observações que Gilberto Velho faz sobre
suas vidas.
23. CAPITULO 1: ALIANÇA E CASAMENTO
NA SOCIEDADE MODERNA: SEPARAÇÃO E AMIZADE.
23. a antropologia tem procurado
definir as características da sociedade moderna contemporânea. ... referência
contrastava as sociedades tribais e tradicionais.
diversos aspectos tomados para efetuar este contraste,
eu - qual contraste? O HOMEM TRADICIONAL/
O HOMEM MODERNO
Velho - ha um aspecto que tomo em
especial para desenvolver neste trabalho. Trata-se da questão do CÓDIGO DA
ALIANÇA, de sua existência e de sua importância relativa em diferentes
sociedades e culturas. Embora Lévi-Strauss () seja o principal expoente e
articulador teórico desta problematica, ha todo um vasto campo de debate
repleto de nuances em que muitos autores, de diferentes tendências aparecem.
Frise-se que o tema da aliança esta imediatamente associado ao da
reciprocidade, principalmente através das formulações de MALINOWSKI e MAUSS...
Portanto, é peça essencial para o DESENVOLVIMENTO DE IMPORTANTES TEORIAS SOBRE
A SOCIEDADE, sua ORGANIZAÇAO E ESTRUTURA.
23/24. O casamento, dentro do
código da aliança, estabelece relações entre grupos através de união de seus
membros. Inclui-se e, ao mesmo tempo, produz reciprocidade nos mais diferentes
níveis da vida social. Estabelece canais de comunicação, delimita fronteiras e
elabora identidades.
24. Por outro lado ha uma forte
ênfase em trabalhos e tradições variadas sobre o carretar individualista da
sociedade moderna. (Ler aqui SIMMEL e
WIRTH, talvez tb. LASCH.. eu: LUIZ FERNANDO). Individualismo tem diversas
acepções e, portanto, da margem a discussões um tanto desencontradas. Entende-se
aqui que significa uma valorização, ao nível da representação, da ideologia, do
indivíduo biológico como sujeito, unidade mínima significativa da vida social
(AQUI LER DUMONT, 1970 e 1977).
24. VELHO 1981 - não ha como falar
em individualismo pura e simplesmente mas em indivualismos, desde que ha varias
maneiras de realizar o movimento desta valorização. Os domínios onde a
ideologia individualista vai se expressar com mais nitidez e vigor é que a
qualificara. A construção do sujeito pode ter como referências básicas o
econômico, o político, a sexualidade, o discurso, etc. com diferentes pesos e
ênfase (ler FOUCAULT, 1981). Sem duvida, de alguma maneira, esses domínios
podem se articular mas, em principio, ha um foco principal de onde se irradiam
experiências e valores, com maior ou menor intensidade e coerência.
24/25. A idéia de uma
PSICOLOGIZAÇAO da sociedade procura, justamente, dar conta do que seria um
processo generalizado em que o sujeito psicológico passa, de fato, a ser medida
de todas as coisas (LER FIGUEIRA 1978 E LUIZ FERNANDO DUARTE 1983).
Não é o homem econômico ou político mas o INDIVÍDUO PORTADOR DE UMA
ESPECIFICIDADE INTERNA PARTICULAR - de carretar, personalidade, psiquismo, etc
- que se torna a referência dominante em um discurso que tende a se espraiar,
culminando nas diversas correntes psicanaliticas.
25.
A pesquisa de VELHO. - é intensamente psicanalizado... indivíduos
fizeram terapia de base analítica, como as categorias e o discurso
psicanalitico impregnam seu cotidiano, de maneira mais ou menos consistente.
A valorização do indivíduo passa, portanto, por um modelo
psicologizante, quando não psicanalitico propriamente dito. Assim, existe uma
forte ênfase na "descoberta de si mesmo", na "liberação das repressões",
na "busca da autenticidade" (expressões dos informantes) focalizando
sempre as possibilidades de realização e/ou expansão de uma individualidade
aceita como premissa.
26. É a partir desse panorama, em
que se configura um ethos fortemente marcado pela psicologização, que
procurarei retomar a problematica da aliança e, particularmente, do
matrimônio. (LER TESE DE DOUTORADO DE
VELHO Nobres e anjos - um estudo de tóxicos e hierarquia, 1975).
casamento - sociedade contemporânea
- escolha reciproca, critérios afetivos, sexuais e baseado tb. na noção de
amor. MAIS UMA VEZ A IDÉIA DO SUJEITO ATUANDO, OPERANDO E OPTANDO É DOMINANTE.
No entanto, ha que nuançar este
quadro em se tratando de sociedades e grupos sociais especificos, mesmo aqueles
considerados como mais modernos, ao nível do senso comum. Por exemplo, no
universo estudado ha vários casos evidentes da importância crucial das FAMÍLIAS
DE ORIGEM na efetivação de certos matrimônios, facilitando ou criando
obstáculos a sua realização. A expressão "fazer gosto" por mais que
soe antiquada ou tradicional faz parte da experiência de indivíduos que se
casaram, pela primeira vez, ha 10, 15 no máximo 20 anos.
terminologia - "fazer gosto", papel da família na composição
do casal... referência que aparece
mesmo nos chamados casais modernos (LER MARIA LUIZA HEILBORN Compromisso de
modernidade - casal, vanguarda e individualismo, 1980...). Casais modernos
valorizam fortemente o aspecto intransferível da escolha pessoal.
A questão é saber até que ponto, em grupos sociais como o investigado, o
estabelecimento do vinculo matrimonial, sua estabilidade e eventual término são
assuntos das famílias de origem e como se delineiam as relações sociais nesse
contexto.
27. dimensão da aliança enfatizada
em diferentes instâncias...
estão em jogo IDENTIDADE, INTERESSES, VALORES DE GRUPOS QUE SE
VINCULARAM através de dois de seus membros.
grupos que se relacionam (em rituais e festas, por ex.)
É importante observar que este tipo
de aliança envolve não só parentes como amigos. Redes de sociabilidade são
fortalecidas ou criadas através da união de dois indivíduos. Sem duvidas, ha os
casos notórios de afastamento de pessoas que não se dão bem com um dos
cônjuges. ... Mas... p. 28 define-se uma rede de relações sociais, com novos
papéis, tipos de solidariedade e situações de sociabilidade. novas intercessões
e cruzamentos na rede... As festas são ocasiões privilegiadas para essas
observações, com rituais de incorporação e integração progressiva dos dois
grupos.
casamento - rede de amigos e
parentesco podem se cruzar, ou não, .. pode por exemplo, haver um convívio com
intimidade.
28. Com quem o casal mais se
relaciona, com parentes ou amigos? em termos de freqüência de contato como
apoio cotidiano, compartilhar de dificuldades, etc....
Quando ha filhos, papel dos parentes, avos, etc.
29. Filhos - em geral reaproximação
com a família de origem (?). LER AS HISTORIAS DE VIDA, ADIANTE.
29. Crise conjugal e a separação -
alteram drasticamente este conjunto e a rede de relações constituídos através
do casamento que agora se desfaz. Não só as duas famílias de origem mas os
amigos do casal sofrem as conseqüências do evento: aliança desfeita em geral...
REMAPEAMENTO ou RESTRUTURAÇÃO do
campo social. (LER TESE de ANA LUIZA ROCHA
Dialética do estranhamento, e de TÃNIA SALEM Um estudo de papéis e
conflitos familiares ou seu artigo "O casal grávido".)
30. Isso não impede que relações
individualizadas possam se manter.. Mas a fissão do conjunto, previamente
existente, é um fato indiscutível.
30. Separação conflituosa -
estabelecem-se verdadeiras facções... caráter dramático, disputa por
legitimidade, prestigio, estima e reconhecimento social. A responsabilidade
pelo fracasso do casamento (da aliança?) é que esta essencialmente em jogo.
31. avaliação de papéis...
31. acusações, boatos, intrigas...
"epidemia"...
posições de solidariedade por sexo, por idade, etc... nem sempre...
31. na pesquisa de Velho, a mulher
separada evitada por amigos do ex-marido, "situação perigosa"...
acentua processo de fissão.
Depois de alguns meses de uma separação, pode-se traçar um mapa social
bastante diferente, não só como resultado das fissões e facções, como do contato
com outras redes sociais e conjuntos onde os ex-cônjuges, eventualmente, podem
buscar novos espaços e contatos. Fazer novas amizades, restabelecer antigas,
explorar outros ambientes, parece ser um processo bastante típico de uma
sociedade metropolitana, altamente diferenciada, que permite um campo de
manobra maior do que sociedades tribais, camponesas, tradicionais. É por aí que
o individualismo do habitante da grande metrópole encontra base, estimulo e
espaço para a expressão.
32. Diferenciação - proliferação de
contextos... O numero de indivíduos não é importante, mas a multiplicidade de
alternativas contextuais.
32. Coloca-se o problema de
verificar O ESTATUTO DE UM CÓDIGO DE ALIANÇA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E, ...
SUA PERTINÊNCIA PARA A COMPREENSÃO DO ETHOS E DA VISÃO DE MUNDO DE GRUPOS E
SEGMENTOS ESPECÍFICOS. Pesquisa de
Velho: (segmento camada média) especifico...
mas levanta questões sobre casamento, família, parentesco e amizade na
grande metrópole (LER FIGUEIRA e VELHO 1981).
pode ajudar a explicitar a TENSÃO ENTRE INDIVIDUALIZAR-SE E
INCORPORAR-SE OU SER ENGLOBADO (LER DUMONT E DUARTE)
32. A aliança entre grupos é
relativamente precária se comparada com outras sociedades estudadas por
antropólogos. É instável e cheia de ambigüidades. Obviamente, o domínio e a
linguagem do parentesco não têm um papel determinante, comparável ao de
sociedades tribais, não podendo, no entanto, ser simplesmente descartados pois,
como se viu, têm alta significação na construção da identidade social. Esta é
elaborada a partir da própria diferenciação da sociedade moderna metropolitana,
com sua heterogeneidade e seus múltiplos domínios. Isto se acentua, em se
tratando de um segmento com grande mobilidade, apoiado por forte ideologia
individualista. As pessoas circulam mais por diferentes REGIÕES MORAIS (Ler
aqui PARK "A cidade: sugestões para a investigação do comportamento humano
no meio urbano") do que uma pequena classe média da Zona Norte do Rio de Janeiro, ou a maioria dos grupos de
baixa renda. Essa camada média intelectualizada, psicologizada, de Zona Sul,
conta com recursos materiais e simbólicos que permitem que sua identidade
dependa menos da família, ou de uma rede de vizinhança como grupo de referência
mais exclusivo.
33. Velho sugere: verificar como
ficam as pessoas separadas que passam a viver, tendo ou não filhos, sós - sem
marido ou mulher..
33/34. O fato é que se elaboram
estratégias de sobrevivência, baseadas em crenças e valores, que permitem a
constituição de identidade, não passando pelos mecanismos clássicos de aliança.
A ideologia individualista, como se manifesta neste segmento, permite ao
indivíduo manter-se, enquanto membro de uma REDE DE SOCIABILIDADE que pode
incluir sua família de origem, mas que se centra, basicamente, em torno da
amizade enquanto valor. Velho: não creio que a amizade substitua o
parentesco... amigos, gira em torno da especificidade da vida dos segmentos
mais individualizados na sociedade metropolitana moderna.
A valorização e a possibilidade da
escolha reforçam a autopercepção do indivíduo. Nem o parentesco, nem a religião
englobam esses indivíduos que circulam entre diferentes domínios e
instituições. ... casamento diferente de amizade.
34. Seria interessante aprofundar
em termos de ANALISE DE ETHOS, a noção de AMIZADE COLORIDA... relações afetivas
e sexuais que não constituem um casamento, mas que não se esgotam em encontros
isolados.... tensões familiares...
34. HONRA - não se pode imaginar
que a problematica da HONRA não exista neste universo, e o comportamento moral
e sexual das mulheres é foco privilegiados para evidenciar isto (LER LUIZ
TARLEI DE ARAGAO "Em nome da mãe", estudo do código de honra). Isto
é, o bom nome da família, o zelo pela moral e integridade do filhos são alguns
argumentos acionados nessa busca de controle.
35 É importante lembrar, mais uma
vez, que desfeita a aliança com o fim do casamento, tende a aumentar a
dependência em relação a família de origem. No caso da mulher que fica com os
filhos, isso se torna mais agudo. De qualquer forma, homem ou mulher, o
separado ou o solteiro, encontram espaço neste universo para a elaboração de
uma identidade, apoiados em outros domínios como o trabalho que, sem duvida, é
dos mais significativos.
35. A rede de amigos e a
sociabilidade por ela permitida fornecem outras alternativas que, no quadro da
grande metrópole associadas as opções de espaços e contextos diferenciados,
possibilitam um campo de manobra maior e mais rico do que em sociedades de
pequena escala ou em cidade do interior. OS PROJETOS INDIVIDUAIS SE VIABILIZAM
ATRAVÉS DE FORMAS DE RECIPROCIDADE REGIDAS POR NORMAS TALVEZ MAIS AMBÍGUAS, mas
com um variado leque de alternativas. Existem amizades duradouras mas o
importante é que se podem fazer ou desfazer. OU seja, se os laços entre amigos
não obedecem a padrões rigidamente definidos de trocas e obrigações, ha maiores
possibilidades de se estabelecer novas relações que substituam, completem ou
ampliem as tradicionalmente dadas pelo universo da família e do parentesco em
geral, onde o código da aliança se expressaria com maior nitidez. A AMIZADE não
pode ser definida negativamente ou como complementar aos laços de parentesco.
Trata-se de UM TIPO DE SOCIABILIDADE ESPECIFICA, caracterizada pela grande
ênfase da liberdade de escolha individual. É evidente que ha uma relação entre
a possibilidade de separar-se e a mobilidade e a plasticidade do domínio da amizade.
36. no universo urbano, metrópole -
separação e adultos vivendo sozinhos, aponta para diferentes formas de
sociabilidade e construção da identidade social.
Mudanças no nível da pratica como das representações, no tocante a
relação do indivíduo com a sociedade em que se insere. ... extensão das
transformações.. a pesquisar...
37. CAPITULO 2:
A BUSCA DE COERÊNCIA, COEXISTÊNCIA E CONTRADIÇÕES.
O processo de psicologização da
sociedade é comumente visto como continuo, homogeneizador e progressivo.
Velho quer mostrar através das
pesquisas camada média carioca - esse processo é complexo, longe esta de dar
conta das diversas visões de mundo existentes nas sociedade brasileira, mesmo
nos seus segmentos usualmente reconhecidos como mais expostos a uma
socialização em que a psicologia, a psicanálise etc. exercem papel fundamental.
(ESTUDO DE DUARTE SOBRE CLASSES TRABALHADORAS, DEMONSTRA A EXISTÊNCIA DE OUTROS
SISTEMAS DE REPRESENTAÇÕES dos expostos por Velho).
37. Nosso universo: ideologias
individualistas + mecanismos socioculturais em que a RECIPROCIDADE entre
grupos, particularmente de parentesco, ocupa posição central na construção e
elaboração das identidades sociais dos indivíduos.
O tema separação - procurei
ressaltar o seu significado e sua repercussão para uma rede de relações mais
ampla, envolvendo parentes e amigos. Ou
seja, por mais que o casamento, a união entre dois parceiros, esteja envolvido
por um forte halo de escolha, de opções, de liberdade, fica claro que esta
fortemente vinculado e ancorado a um conjunto mais abrangente, que é legitimado
por valores e representações em que o indivíduo esta longe de ser a força-motor
ou o ponto nodal. (BOURDIEU POR EXEMPLO).
38/39. Uma das características básicas
para a definição da sociedade complexa moderna é a existência de múltiplos
domínios que, embora coexistam relacionados, apresentam especificidade e
relativa autonomia. (LER VELHO E VIVEIROS DE CASTO "O conceito de cultura
e o estudo das sociedades complexas, 1978".)
ha diferentes códigos operando em função das diferenças de domínio.
39. Registra-se: família,
parentesco, trabalho, politica, amizade, religião, sexualidade, lazer, etc. ...
classificação implica distinções por parte do investigador, que se referem às
representações existentes na própria sociedade. Por outro lado, as noções de
sociedade e cultura, por si mesmas, têm a dimensão de abrangência pretendida
por investigadores que buscam uma lógica e coerência sistêmicas entre os
diferentes domínios (ou níveis) da vida social. Um dos meus propósitos, neste
capitulo, é apontar como a especificidade desse domínios esta associada a
diferenças de ETHOS e representações do próprio indivíduo, gerando algumas das
características mais marcantes e dramáticas da nossa sociedade. Cabe frisar que
esta se distingue das tradicionais e tribais, entre outras singularidades, pelo
fato de se ter constituído como um fenômeno de massas que é complementar ao seu
alto processo de diferenciação e heterogeneização. Particularmente na grande
metrópole isto vai ficar mais evidente. Encontra-se grande numero de
indivíduos, de forma inédita na historia da humanidade, diferenciados a aprtir
da divisão social do trabalho, de grupos de status, de origem étnica e
regional, de crenças religiosas e de uma longa série de atividades, ocupações e
valores.
39/40. Os grupos que Velho estuda -
aparecem como os portadores mais característicos da vertente psicologizante das
ideologias individualistas. De uma maneira esquemática, podemos diferenciar
essas ideologias em função da maior ou menor ênfase e importância que dão aos
domínios do publico e do privado. Ora,
no discurso psicologizante, particularmente na psicanálise, sem querer ignorar
os diferentes matizes e variações, é justamente a dimensão privada mais
intimista que é incorporada por esses grupos de camadas médias da Zona sul
carioca. "A idéia de uma psicologização da sociedade procura, justamente,
dar conta do que seria um processo generalizado, em que o sujeito psicológica passa,
de fato, a ser a medida de todas as coisas (LER FIGUEIRA 1978 e DUARTE 1983).
Não é o homem econômico ou político, mas o indivíduo portador de uma
especificidade interna particular - de caracter, personalidade, psiquismo, etc
- que se torna a referência dominante em um discurso que tende a se espraiar,
culminando nas diversas correntes psicanaliticas".
Esses indivíduos atuam no domínio do publico
+
as diferenças entre o ethos
masculino e o feminino são importantes. Mas em principio tanto homens como
mulheres trabalham e têm algum tipo de participação ou inserção na vida
publica, com maiores ou menores responsabilidades. A própria condição social
dos grupos investigados, suas ocupações e atividades levam-nos, como profissionais
liberais, artistas, intelectuais etc., a desempenhar um papel que acentue uma
"personalidade publica". Na apropria medida em que ficam mais velhos,
deixando de ser talentos em potencial para se tornarem profissionais mais
conhecidos, com maior ou menor sucesso, tende a aparecer com maior realce e
peso essa dimensão publica. As diferenças como já mencionado, entre homens e
mulheres não são triviais. .... esfera doméstica importância inarredavel,
principal. havendo filhos. (Ler Lins de Barros "Testemunho de vida",
e DAUSTER .. ).
41. No universo estudado por Velho
- aparece uma tensão entre as vivências nos domínios do publico e do privado.
Ha uma descontinuidade cujas origens historias podem ser encontradas,
discutidas, por exemplo, nas obras de Ariés, Sennet e Foucault. (VER)
Família nuclear + experiência
individual analisada... A própria
participação na vida publica, como no caso das mulheres, é valorizada muito a
aprtir do peso e significado do doméstico, com suas eventuais conseqüências
negativas para seu desenvolvimento mais pleno enquanto indivíduos. Ou seja, ha,
neste nível, uma oposição clara entre o publico e o privado. Se a participação
no mundo extradoméstico talvez seja um sinal de libertação para as mulheres,
pode, no entanto, aparecer como estratégia privilegiada de reconstrução de um
indivíduo cuja realização plena se da ao nível de sua vida intima, afetiva,
sexual, amorosa. ..; DESCONTINUIDADE ENTRE OS DOIS DOMÍNIOS, com uma
desvalorização implícita do publico.
42. Família...
dicotomias ao nível dos discursos e representações.
43. ethos psicologizante não
implica em despolitizante, alienante ou qualquer qualificativo desse tipo.
Mas... aparece associado a uma dificuldade de lidar com o domínio do publico.
43. Se as raízes dos principais
problemas humanos estão nas complexas relações entre id, ego e superego (), é
inevitável que haja uma precedência estabelecida onde todo o resto é
decorrência, conseqüência do subproduto... Ora, se os valores associados ao
publico são decifrados por uma ótica psicologizante mais rala, este domínio
torna-se muito pouco atraente. O auto-controle pode ser hipocrisia ou ausência
de espontaneidade. A responsabilidade pode ser encarada como sinônimo de
repressão dos outros e de si mesmo. A disciplina é castradora e a hierarquia uma forma de despotismo e
abuso do poder. Fica patente que a estética de existência não encontra, dentro
desta visão um pouco extremada, nada de muito belo e atraente foge? da
intimidade amorosa do privado. ... o "sufoco"... onde esta a
liberdade? em nenhum lugar e em todas as partes... mais uma vez, dentro da
lógica do discurso psicologizante, é uma solução individual....
44. A questão aparece cada vez mais
incorporada de preocupações sociais, encontrar uma coerência cuja medida é,
basicamente, o bem-estar individual. Passa a aparecer, cada vez com maior
nitidez, o contorno de um bom senso intelectualizado, produto sincrético de
vários conhecimentos e ideologias, onde se busca um meio-termo entre os
determinismos e fatalismos da aliança e um individualismo agonistico, de base
psicológica.
44/45. O fato é que a participação
no mundo do trabalho, a profissionalização, associada a determinadas crenças
sobre mérito, esforço, disciplina, responsabilidade e, por que não, sucesso e
poder... o discurso psicologizante associado a diferentes correntes
"contraculturais" tendeu a desqualificar essa dimensão. A valorização
de uma felicidade ou bem estar individuais, possíveis devido a um afastamento
estratégico para as fronteiras da sociedade, torna-se cada vez mais inviável,
certamente no caso brasileiro, para os já não tão jovens herdeiros das camadas
médias da zona sul. ... crença na realização genuína de uma indivíduo
construído pela psicologização que tudo permeia. Não só o trabalho, mas a vida
publica, propriamente, com suas possibilidades de atuação politica, contribui
para a existência de um ETHOS em que o HEDONISMO tem que ceder espaço a outros
valores.
46. O indivíduo sujeito psicológico
esta permanentemente presente, através das constantes manifestações de fé e
crença. Por detrás dos múltiplos papéis, dos códigos contraditórios, ha algo a
ser apreendido que pode dar consistência e coerência às existências. Este
parece ser o valor, causa e conseqüência, de todo o movimento descrito e,
certamente, é uma das demonstrações mais agudas do processo de psicologização
da sociedade.
47. Para esses grupos, a coerência,
como um valor é essencial para a constituição e continuidade das identidades
sociais, criando um verdadeiro circulo vicioso entre a fragmentação da
experiência cotidiana e a permanente procura de consistência em termos
existências mais amplos (). A psicologia
é a primeira e a ultima palavra... mas sob roupagens diferentes..segundo
percepções e experiências particulares.
47.
... coexistência e contradições entre códigos se dão em dois planos
fundamentais:
l°) tensão entre uma visão de mundo
hierárquica, onde a aliança e a reciprocidade são fundamentais e as ideologias
individualistas que se manifestam com particular intensidade no universo em
pauta.
2°) Em outro plano constata-se a
tensão entre as diferenças de ênfase e ethos na avaliação e percepção do
indivíduo.
47/48.
49. CAPITULO 3
CULTURA ENQUANTO HETEROGENEIDADE:
BIOGRAFIA E EXPERIÊNCIA SOCIAL
49. É fundamental na antropologia
contemporânea a noção de que o homem vive, socialmente, em uma "rede de
significados" (Geertz, 1978). A própria concepção de indivíduo, para
correntes importantes, não seria natural mas construida histórica e
socialmente, delimitada e circunscrita, portanto, a sociedades especificas. A
obra de DUMONT expressa isto... DUMONT: a nossa sociedade ocidental,
moderna-contemporânea, longe de ser a regra, seria a exceção entre a maioria
esmagadora daquelas que não teriam no indivíduo o seu valor básico
significativo, como sujeito moral. Portanto, fala-se, nesses termos, na
existência da ideologia ou ideologias individualistas que produziriam essa
configuração particular, opondo-se a culturas holistas, onde o indivíduo
biológico estaria contido, subordinado, englobado por uma concepção hierárquica
de mundo.
Vive-se neste web que expressa a
existência e a pressão de uma sociedade e cultura que nos precedem e englobam.
Seja holista ou individualista a ideologia dominante, o conjunto de crenças e
valores a ela associado é determinante na elaboração da identidade social dos
membros da sociedade.
50. DISCUTIR: questão clássica de
DETERMINISMO E LIBERDADE. Ler RAYMOND FIRTH (1974)... distingue estrutura de
organização social. ... O que me parece mais estimulante é a idéia de mudança e
desempenho individual ao nível da organização social, enquanto a estrutura é,
por definição, mais permanente, estável e imune a curto prazo à ação dos
indivíduos em suas decisões cotidianos.
Além de Firth ha uma série de
outros autores e perspectivas que podem ajudar a explorar o que chamei de CAMPO
DE POSSIBILIDADES.( Ler VELHO capitulos 1 e 2)
Creio que o INTERACIONISMO e seus
predecessores clássicos como SIMMEL, é fundamental para encaminhar essa
analise.
A INTERAÇÃO VISTA COMO PROCESSO SOCIAL BÁSICO DA AOS ATORES QUE
INTERAGEM UM PAPEL DE, não apenas agentes de reprodução, MAS DE REINVENTORES DA
VIDA SOCIAL.
complexidade - diferenças entre os atores
sociais
51. ora aponta-se ao
pertencimento... O interacionismo, obviamente, não ignora essa possibilidade.
interessa: coexistência problematica das diferenças
Privilegia, nesse nível, as
diferenças de origem, background, trajetória, experiência social, em geral.
Enfatiza, por conseguinte, a individualidade dos fenômenos. Neste sentido todos
os processos internos da diferenciação de uma sociedade são relevantes. Classes,
grupos de status, estratos, assim como o pertencimento a minorias étnicas e
regionais, grupos desviantes, religiões especificas são pistas fundamentais
para o mapeamento dessa diversidade. Nesta perspectiva o conflito coloca-se
como possibilidade permanente, desde que ha interesses e valores diferentes e,
muitas vezes, antagônicos. Podem traduzir desde uma inserção polarizada me uma
sociedade de classes, como pontos de vista e avaliações discrepantes dentro de
um grupo social aparentemente homogêneo. Portanto, é evidente que ha diferenças
e diferenças, nem todas correspondendo a fossos ou barreiras intransponíveis,
nem conduzindo irremediavelmente a conflitos cataclismicos. O confronto é uma
possibilidade dentro do complexo jogo de negociação da realidade, e sempre é
difícil prever ou antecipar em que domínios ele poderá ocorrer.
51/52. Sabemos que em uma sociedade
capitalista a relação capital-trabalho é permanente foco de tensão, assim como
é o risco de poluição social em uma sociedade hierarquizada como a de castas,
na India clássica. Ha, por conseguinte,
probabilidades de irrupção de conflitos quando certas regras fundamentais são
contestadas ou ameaçadas.
52. o que é novo em uma sociedade
complexa e heterogênea como a brasileira??? o que é consensual, dominante...
Manuela CARNEIRO DA CUNHA (1985) =
evitar visão imobilista da sociedade
53. mudança social =
53. É importante assinalar que a
heterogeneidade por si mesma não implica mudança permanente e automática. Um
risco oposto ao do culturalismo reificante é de ver novidade me tudo, sem
perceber que, mais uma vez remetendo a FIRTH, há instituições e valores de
grande permanência e estabilidade, constituintes da identidade de grupos e
indivíduos. Creio que um ponto fundamental é que estes participam
diferencialmente, mesmo havendo um repertório aparentemente comum, dos temas e
valores da sociedade em que estão inseridos. Ou seja, não se trata
necessariamente de participar ou não, mas da forma e do tipo de utilização, uso e acesso. Podemos pensar, por exemplo, no caso
brasileiro, desde a própria língua portuguesa, passando pelo catolicismo, pela
moral, vestuário, caluniaria, musica, politica, até percebemos como os hábitos
e costumes podem assinalar e expressar leituras malcriadamente diferentes e
desiguais no peso, densidade e formas de articulação.
53/54. o ponto mais relevante: é a
vivência individual da heterogeneidade. Mesmo contextualizando a noção de
indivíduo, cabe registrar que é ao nível das biografias de indivíduos
específicos que encontramos com mais vigor e dramaticidade a coexistência de
orientações e códigos diferenciados. Isso porque nessas BIOGRAFIAS ASSINALAM-SE
TRAJETORIAS E PAPEIS COMPLEXOS EM QUE OPOSIÇOES DO TIPO TRADICIONAL X MODERNO
OU HOLISTA X INDIVIDUALISTA ASO PERCEBIDAS COMO CONSTITUINTES DE IDENTIDADES
INDIVIDUAIS COM TUDO QUE POSSA HAVER DE DRAMÁTICO NISSO. Valores
contraditórios, anomia, desmapeamento são algumas formas de classificar estas
situações.
Sendo as diferenças entre grupos
sociais, com fronteiras mais ou menos claras, detectáveis num plano mais
tipicamente sociológico, quando chegamos ao nível individual passamos a um
terreno forçosamente inter. ou transdisciplinar.
54. A pesquisa de tradição
antropológica, pelo próprio fato de lidar diretamente com indivíduos, obriga o
investigador, por razões cientificas e morais, a enfrentar esse quadro.
Percebe-se a complexidade da REDE DE SIGNIFICADOS ao nível de biografia, suas
contradições e seus conflitos. Voltando a FIRTH, a performance e o desempenho individuais
e as interações são constituintes da organização social. É importante assinalar
que um indivíduo, em momentos e contextos específicos, pode apresentar
comportamentos e atitudes classificáveis como novos ou modernos e, em outros,
apresentar-se ligado a uma visão de mundo dita tradicional. Isso pode ser
evidente quando distinguimos domínios, podendo, por exemplo, constatar que no
terreno do trabalho o desempenho pode ser moderno e nas relações familiares
tradicional. Isso pode ser evidente
quando distinguimos domínios, podendo, por exemplo, constatar que no terreno do
trabalho o desempenho pode ser moderno e nas relações familiares
tradicional. Mas, sobretudo, no domínio
da moral fica nítida a variação, a tensão e a heterogeneidade. Este fenômeno pode
ser mais evidente nas camadas médias urbanas mais intelectualizadas () mas, de
fato, aparece em outros segmentos e grupos sociais, dificultando mais uma vez o
estabelecimento e blocos monolíticos na estrutura social brasileira. Concordo
com DUARTE (1986), quando REGISTRA TENDÊNCIAS HOLISTAS DOMINANTES NAS CLASSES
TRABALHADORES ENQUANTO AS IDEOLOGIAS INDIVIDUALISTAS ENCONTRARIAM MAIS TERRENO
E EXPRESSÃO EM CAMADAS MEDIAS E ELITES. Mas
creio ser interessante matizar e procurar perceber como os sistemas podem
se interpretar, particularmente, repito, quando lidamos com indivíduos
específicos.
55. sugestões: ...
WRIGHT MILLS A imaginação
sociológica = vincular mais sistemática e criativamente biografia e estrutura
social.
56. compreender melhor como a GRAMÁTICA
SOCIAL E CULTURAL SE EXPRESSA AO NÍVEL BIOGRÁFICO. Por outro lado, sem negar a psicologia mas
não sendo psicologistas, poderíamos reinterpretar o espaço para que o
indivíduo, através de suas interações e ações, possa ser percebido, mesmo em
momento limitados, como sujeito e não mero objeto e joguete. ...
90. CAPITULO 6:
PAIXÃO E RACIONALIDADE
problematica da paixão: reveste-se de uma tonalidade racionalista.
nas entrevistas nos capítulos
anteriores (4,5), a opção deliberada e assumida por ideologias individualistas,
onde o privado desbanca o publico. Mas o interessa individual não pode ser visto como algo essencialmente pragmático,
utilitarista. Ha uma forte valorização de laços afetivos, da importância da
vida particular, amorosa.
A experiência psicanalitica, direta
ou indiretamente, influencia um ETHOS onde a sexualidade e o inconsciente são a
contrapartida dos projetos individuais apoiados na razão e no
livre-arbitrio.
91. No entanto, cabe lembrar que a
PSICANÁLISE É UM DISCURSOS QUE PRETENDE EXPLICAR, CONHECER OS PROCESSOS
AFETIVOS, DESEJOS etc.
parece haver uma aceitação da irrupçâo do
irracional na vida dos indivíduos. A forma privilegiada par ao surgimento
dessas situações é a experiência da paixão. Esta categoria é do próprio
discurso do universo e embora apareçam outras como maior, atração, desejo, ha
um tom particularmente vigoroso quando aparece ou é verbalizada a paixão, proa.
dita.
91/92. LER VIVEIROS DE CASTO E
ARAÚJO (1977) - em que discutem a noção de amor associada ao desenvolvimento de
valores individualistas.
94. suicídio passional. - própria
natureza complexa da construção social da realidade na sociedade
contemporânea. ... ha uma coexistência
contraditória entre códigos e valores. ... em outro contexto, algumas pessoas
pesquisasses, racionalizantes, materialistas, etc, recorrem a astrologia, ao
tarô e a outras atividades esotéricas e/ou ocultistas. ...
ou seja, a paixão aparece aqui como parte de uma
vertente desses ETHOS E VISA DE MUNDO que classifico, com alguma
arbitrariedade, de irracionalista;
95. A vertente da racionalidade
enfatiza, a partir da definição de interesses específicos, a organização de
projetos, de condutas organizadas com o objetivo de atingi-los. Isto
envolve as mais diversas dimensões,
inclusive a própria administração da vida afetiva. A irrupção da paixão não
está, pelo menos, ao nível da representação consciente, prevista, embora seja
encarada como possibilidade. Quanto à subjetividade, em seus termos mais amplos
e complexos, coloca-se a problematica da VONTADE. Uma vez definido um certo
conjunto de valores, mesmo ambíguos e contraditórios surge a questão de como
são implementatados através de uma ação social associada e uma vontade que para
se manifestar precisa, seguindo SIMMEL, de individuos-sujeitos () Voltamos a alguns pontos que falei ao citar a
obra de RAYMOND FIRTH (cap. 3). Quanto a organização social, é preciso
verificar quais são as condições que delineiam reais possibilidades de mudança
a partir de decisões e opções individuais. A relação entre VONTADE E PROJETO é
complexa e Os posso deixar aqui algumas sugestões em função da categoria
paixão, e como é percebida e vivida no segmento geracional pesquisado.
96. A noção de PROJETO conforme
SCHUTZ () implica uma avaliação de meios e fins estando, portanto, fortemente
vinculada a uma adequação a uma realidade objetiva, externa. Implica, Tb. é
claro, uma avaliação consciente de condições subjetivas. No entanto, a paixão,
como foi visto, vem muito associada ao inexplicável, até mesmo ao misterioso,
certamente ao incontrolavel. Nas diferentes e polêmicas discussões sobre
vontade ha, sem duvida, um espaço, maior ou menor, para reconhecer, ao nível da
subjetividade, o irracional, o desejo, as forças vitais incontrolaveis. Mas a
vontade é tb. uma forma de expressar o domínio do sujeito, sua afirmação. Creio
ser possível, em nível teórico, procurar aproximar as noções de PROJETO e
VONTADE para tentar lidar, em uma perspectiva de cientista social, com o
domínio das emoções. No caso desse grupo de indivíduos que estudei, a paixão,
sem duvida, implica sempre um DRAMA SOCIAL que envolve diferentes atores nos
termos de VICTOR TURNER.
97. De alguma forma, envolve uma
REDE SOCIAL que inclui aliados e adversários. Já se disse que qualquer situação
dessa natureza sempre registra Capulettos e Montechios, mesmo que não
existissem previamente....
97. paixão - ...
98. Sabemos que as emoções têm por
definição, sempre uma dimensão social. Mas o espaço para sua expressão está
sujeito, por isso mesmo, as regras. Parece ser uma temática profícua para
discussões mais gerais sobre NATUREZA e CULTURA.
Cabe registrar que a vivência da
paixão, como é percebida nesses depoimentos, constitui uma experiência única,
ao mesmo tempo que revela, de maneira dramática, o processo de
individualização, no sentido de ser fundamental para a elaboração de uma
CULTURA SUBJETIVA. Por mais ameaçadora e perigosa que possa ser, ou por isso
mesmo, existe a crença de que é enriquecedora em termos da elaboração da
subjetividade. Assim, parece-me ter até um certo caráter pedagógico. Se isto é
verdade, permanece a evidência de que os indivíduos acreditam em se
aperfeiçoar, em se tornarem melhores, mais SUJEITOS. A esfera privada, (à mais
uma vez parece ser o domínio privilegiado para o nosso universo, me contraste
com o publico. A PAIXÃO, por outro lado, em algum momento, precisa se adequar,
minimamente, às regras da aliança. Talvez aí, então, sendo domesticada, muda de
natureza. Passando a ser algo mais estabilizado, rotinizado, transforma-se em
um sentimento socialmente mais previsível, mais controlável.
A dicotomia razão e emoção
atravessa o discurso e a experiência do universo. A psicanálise é uma das
formas de tentar lidar com as tensões e contradições dai decorrentes. Essa
dicotomia não sendo a única é, no entanto, uma das maneiras de se perceber a
fragmentação da experiência do mundo moderno e de tentar situa-la. De qualquer forma, ha uma tentativa, cujo
grau de consciência varia, de procurar uma harmonia que garanta um patamar
básico de segurança e estabilidade existenciais. Não ha a menor duvida de que
esta problematica atravessa séculos de historia do Ocidente.
...
99. Além da psicanálise () a
procura das soluções ditas alternativas como homeopatia, astrologia, tarô,
dança e expressão corporal, etc... podem se combinar e se articular de
diferentes maneiras.
Neste universo encontramos,
portanto, algum sincretismo, embora tenda a predominar, ao nível do discurso,
uma tônica racionalista que procura, mesmo que precariamente, dar conta da
dimensão emocional e afetiva. A crença na paixão, embora possa ser matizada por
tentativas de explanação racional, foi, ao nível das representações, o que
encontrei de mais forte da vertente que classifiquei como irracionalista. O
exercício da vontade, no caso da PAIXÃO, implica caminhar até um determinado
ponto, correndo o risco fundamental da perda de controle.... superação das
rotinas do cotidiano... descobrir algo de novo, de definitivo.
Associada ao ETHOS descrito uma
outra CRENÇA importante. Passa pela valorização do sofrimento como fonte de
conhecimento.
100. Todas as crenças mencionadas
giram em torno de uma ideologia individualista agonistica que é, mais uma vez,
marca registrado do universo pesquisado. ...
101. CAPITULO 7:
CONCLUSÕES
102. importância particularidade
individual... depoimentos: tensão entre valorizar a experiência particular que
sublinha o indivíduo e a tendência de nivelar as experiências individuais
dentro de um processo histórico e social mais amplo. Creio que, sem nunca
acabar com a tensão, predomina, em geral, a valorização do INDIVIDUO-SUJEITO e
de suas potencialidades. Ai, as minhas preocupações teóricas de recuperar a
importância do indivíduo na historia e na sociedade levam-se ma fazer uma
leitura e interpretação que focalizam mais certos aspectos do que outros,
forçosamente. ...
SIMMEL e NIETZCHE - as diferenças
individuais podem se tornar histórica e socialmente relevantes.
VELHO - tb. valorizo as
potencialidades individuais que podem ser ou não atualizadas existencialmente. Preocupo-me, junto com meus
"personagens", com as dificuldades de efetivar esta atualização. O
descompasso das culturas objetiva e subjetiva recebo como objeto de
preocupação, através de SIMMEL, e vejo essa dificuldade na vida dos indivíduos
da categoria social investigada e nas representações que apresentam sobre a
sociedade o mundo.
103. sobre o grupo pesquisado.
103. O objeto de meu estudo foram
essas experiências e, sobretudo, as representações que elabora o universo, o
significado e a interpretação que dão a, pelo menos, certos domínios de sua
vida e da sociedade.
103/104. Privilegio a questão da
liberdade e do determinismo, com tudo que envolve a construção do SUJEITO NO
MUNDO, suas potencialidades, circunstâncias e limitações. Procurei expor a natureza da dialética
indivíduo e sociedade, como é representada no universo, e de que forma são
percebidas suas possibilidades de intervenção no mundo externo e nas suas
próprias vidas.
104. historia de vida -
valores e juízos do pesquisador
Acredito que na sociedade moderna o
indivíduo tende a ser unidade básica significativa, a medida de todas as
coisas. Admitindo que isto não é um fenômeno universal e que existem sociedades
e modelos hierarquizantes, holistas, relacionais, etc., as ideologias
individualistas, de diferentes matizes, dominam, de maneira significativa, a
visão de mundo de boa parte das categorias sociais. Isto fica particularmente
evidente em camadas médias intelectualizadas. Sei que no próprio universo de
camadas médias ha variações significativas, e podemos encontrar a presença de
uma visão de mundo holista, hierarquizante. isto se manifestara, por exemplo,
em certas ocupações mais do que em outras. A lembrança mais obvia talvez seja a
dos militares; mas, forçaria, possivelmente, a imagem, para dizer que em se
tratando de camadas médias temos cada vez mais o desenvolvimento de
individualismos, embora persistam "ilhas" holistas. Em termos da
sociedade brasileira, como um todo, a questão já é bem mais complexa.
Certamente, não concordaria com a idéia de que existem "ilhas"
individualistas cercadas por um oceano holista.
105. Quais as conseqüências da
dominância de uma ideologia individualista para o universo aqui examinado e
discutido?
.... No caso em pauta, pode-se
argumentar haver, na origem, uma conotação hedonista e/ou narcisica na sua
constituição (LER LASCH, The age of narcisism 1978). A extrema valorização do
privado, em detrimento do publico, em uma relação desequilibrada, parece estar
irremediavelmente vinculada a uma conjuntura histórica que acentuou as
tendências acima mencionadas. Não ha indícios de modificações a partir das
mudanças ocorridas nos últimos dois anos no Brasil. Pelo contrario, a
interpretação da categoria social investigada tende a sublinhar, mais ainda,
sua rejeição de politica, tanto no sentido restrito do termo como no mais
amplo. O investimento existencial é, desta forma, concentrado na área do
privado. Isto produz uma elaboração particular da SUBJETIVIDADE. A relação com
a cultura objetiva se da de forma especifica desde que, de saída, ha uma
tendência à exclusão de vinculação com domínios, em principio, significativos
para própria constituição desta CULTURA OBJETIVA. ...
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