terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Teresa Pires do Rio Caldeira

Vai uma Ficha, aí?

CALDEIRA, Teresa Pires do Rio.



333. James Agee, jornalista
     Foucault - ciˆncias sociais e praticas disciplinares ... pode e saber interligados em nossa sociedade

333. Creio que a pratica concreta da pesquisa de campo, mais especificamente, a rela‡„o que se estabelece entre o investigador e o informante, serve de exemplo … maneira pela qual esse regime de poder-saber e de produ‡„o encontra-se disseminado.

334. Creio, em suma, que ‚ a associa‡„o entre poder e saber cientifico que possibilita e sustenta a rela‡„o que se estabelece entre o pesquisador e o informante, que da a um condi‡”es de exercer seu trabalho (seu poder) e a outro a id‚ia da obrigatoriedade e da necessidade de se sujeitar.  Isso implica em ver, portanto, que a rela‡„o que se estabelece no campo entre o pesquisador e o seu informante ‚ uma rela‡ao que se estabelece no campo entre o pesquisador e o seu informante ‚ uma rela‡„o de poder (): rela‡„o em que um requer um depoimento e outro se vˆ na contingˆncia de responder; em que um pde que tudo seja dito nos minimos detalhes, e o outro se esforce por dizer a verdade que, no entanto, s¢ o primeiro podera revelar.

334/335. n„o estou imaginando que todos os cientistas sociais queiram, consciente e deliberadamente, saber detalhes para dominar, nem que o entrevistado se julgue t„o culpado e em suspeita ao ponto de ser obrigado a confessar tudo: certamente ao nivel da pratica consciente a rela‡„o que se estabelece entre o pesquisador e o pesquisado assume uma quantidade de outros aspectos. No entanto, n„o me parece possivel negar a atua‡„o desse dispositivo poder-saber-verdade, do mesmo jeito que n„o se pode esconder a interferˆncia da mais variada gama de fen“menos, tanto objetivos quanto subjetivos (). Todos esses fatores est„o presentes na rela‡„o pesquisador-informante, interferem no seu andamento e imprimem sua marca nas informa‡”es obtidas e com as quais o cientista trabalhara. Creio que faz parte da responsabilidade dos cientistas sociais n„o so pensar a sua pratica profissional em termos das repercuss”es do trabalho intelectual na sociedade como um todo mas tamb‚m questionar o seu trabalho ali mesmo onde ele se exerce, ou seja, na rela‡„o imediata com o seu "objeto" - as pessoas e grupos sociais a quem estuda. Creio que de pouco servira denunciar apenas as rela‡”es de poder e de explora‡„o mais gerais existentes na sociedade como um todo; praticas de poder existem de maneira difusa por todo o tecido social e o passo inicial para os cientistas sociais talvez deva ser denunciar a sua propria pratica e toma-la como realmente ‚, ou seja, uma rela‡„o de poder e uma rela‡„o que n„o ‚ neutra.

II.

335. A quest„o que esta por tras de toda inverstiga‡„o cientifia ‚ a quest„o da verdade.
... e estou pensando em pesquisa qualitativa - compartilham essa id‚ia, ...
Exemplo: antropologo interessado em saber quais as representa‡”es que os moradores da periferia de uma grande cidade tˆm do poder e da sociedade, depois de ter decidido que a melhor t‚cnica para come‡ar a obter suas informa‡”es era a realiza‡„o de entrevistas abertas na qual se procuraria obter a historia da vida, chega … casa de um informante e faz o seguinte discurso:

337. regras do jogo explicitadas
   a rela‡„o de for‡a colocada na mesa
   me parece que passa na cabe‡a dos informante ‚ que, por se tratar de uma situa‡„o de pesquisa cientifica, a sua obriga‡„o ‚ "dizer a verdade".
Mas acontece que a verdade n„o ‚ algo que existe de maneira pronta e objetiva e que, para ser descoberta, basta que o entrevistado a ponha em palavras e o pesquisador a registre. Pela propria natureza de uma situa‡„o de entrevista, esta verdade ‚ produzida a partir de uma rela‡„o.  ...que n„o ‚ neutra... mas onde esta presente o exercicio de poder.
Uma rela‡„o entre dois sujeitos., podendo sofrer variadas interferˆncias....


338.

339. historia de vida
     questionario de um survey

  sempre apareciam estas situa‡”es de desabafo embara‡osas e de detalhamento...

339. Entrevista com mulheres - problemas do casal
mulheres , mesmo sem pedir, falavam longamente dos problemas conjugais...

340. o antropologo ‚ solicitado para esclarecer varios assuntos sobre coisas diversas

   entrevista se transforma numa conversa intima e densa:...
a entrevista coloca um distanciamento do cotidiano vivido, permite ordenar um pouco peda‡os de experiˆncias que foram sendo acumulados com o correr do tempo, sob a forma de fragmentos dispersos, que ficaram sem conex”es nem explica‡”es. Por isso, ‚ comum que a entrevista se transforme em uma rela‡„o catartica que termina, freq. num tom nostalgico e triste - de quem, por exemplo, defrontou-se com o seu passado, pensou o presente, imaginou o futuro...


341. Outros aspectos envolvidos em uma situa‡„o de entrevista e de relato de historia de vida que podem ajudar a compreender tanto o aspecto verdadeiro do relato, quanto a concordƒncia fazˆ-lo.
conceder a entrevista ‚ um privil‚gio...
Distin‡ƒo, importƒncia, identidade, s„o elementos que o pesquisador e a situa‡„o de entrevista conferem aos entrevistadores, e esses aspectos se tornam mais presentes quando se trata de membros das camadas dominadas da popula‡„o.
342. reconhecimento da individualidade...

343/4. A rela‡„o de entrevista ‚ uma rela‡„o complexa onde est„o todo o tempo influindo elementos variados e frequentement opostos. O depoimento de uma senhora feito a Ecl‚a Bosi...

344.  Depoimento/Verdade/Confiss„o/Desabafo/Ajuda (ao outro ou a si proprio)/Informa‡„o. Todos esses elementos se mituram no discurso de um informante que o caracterizam. A situa‡„o de poder do pesqusiador, al‚m de servir para desencadear o discurso, marca alguns de seus aspectos, mas n„o da conta de tudo o que ocorre na rela‡„o - a partir de um momento, ela assume um outro carater, o entrevistado imprime o seu tom.  O que diz n„o ‚ um depoimento que vai ter um significado apenas para quem o solicita a fim de descobrir algo, ele ‚ significativo - e em certo sentido tamb‚m uma descoberta - para quem o fornece, para quem o vive (e revive).

Creio que esse aspecto esclarece uma das princiapis caracterisitcas de uma rela‡„o de pesquisa em ciˆncias sociais. O "Objeto" da investiga‡„o n„o ‚ por nada um objeto neutro e passivo que possa ser simplesmente observado: o seu depoimento ‚, antes de mais nada, uma a‡„o significativa para si mesmo, ‚ uma a‡„o vivida, e uma a‡„o vivida n„o de forma isolada, mas numa rela‡„o com um outro, aquele que desencadeou a a‡„o. Mas tampouco o pesquisador ‚ neutro e passivo nessa rela‡„o, apenas um observador que recolhe o seu material. Ele ‚ a todo instante incluido na a‡„o que transcorre. Em lø lugar, ‚ a ele que ‚ dirigido o relato, a confiss„o, o desabafo. Mas talvez a sua participa‡„o e inclus„o fique mais clara quando o entrevistado lhe solicita esclarecimentos, informa‡”es, opini”es lhe exige, enfim, uma resposta. Estabelece-se uma rela‡„o troca e ‚ razoalvelmente comum o surgimento de situa‡”es em que, no final da entrevista, o informante fala: ...

345.

entrevista qualitativa - rela‡„o de troca e aprendizagem esta presente, com toda clareza, em situa‡”es de entrevistas  abertas e de observa‡a” participante e, ao meu ver, isso acaba amenizando um pouco a violˆncia do exercicio do poder que se estabelece sobre o entrevistado.

345. SURVEYS - rigidez das perguntas, a ordem pr‚-estabelecida, o leque de alternativas, n„o permitem ao entrevistado praticamente nenhuma participa‡ƒo ativa na rela‡„o...
Creio que ‚ a situa‡„o onde a violˆncia do exercicio do poder na pratica da pesquisa em ciˆnciais sociais apresenta-se de forma mais crua: ao entrevistado n„o ‚ permitido nada a n„o ser submeter-se a responder aquilo que lhe ‚ solicitado; o que for dito al‚m n„o interessa, n„o ‚ anotado e n„o ‚ levado em considera‡„o...

III.

345. dois aspectos a considerar:
a) as suas rea‡”es subjetivas durante a situa‡„o de permanˆncia no campo e de relacionamento com os informantes
b) sua atitude frente ao material coletado que, como ja foi visto, inclui uma s‚rie de aspectos subjetivos e intimos do entrevistado e que foram produzidos numa rela‡„o cientifica e por nada neutra.

346. SUBJETIVIDADE DO PESQUISADO - o que parece haver ‚ uma tendˆncia geral por parte dos cientistas sociais me tratar como indesejaveis ou como "folclore" da pesquisa de campo as emo‡”es e os "mal-estares" que sentem ao tentar perceber e vivenciar o universo dos "outros" com os quais est„o se relacionando. S„o frequentes nos cadernos dos antropologos as descri‡”es de situa‡”es desse tipo, e Roberto da Matta chamou aten‡„o para a importancia de se "incorporar no campo mesmo das rotinas oficiais, ja legitimadas como parte do treinamento do antropologo, aqueles aspectos extraordinarios ou carismaticos, sempre prontos a emergir em todo o relacionamento humano. Esta seria a area dos anthropological blues, "aquela do elemento que se insinua na pratica etnologica, mas que n„o estava sendo esperado. Como um BLUE cuja melodia ganha for‡a pela repeti‡„o das suas frases de modo a cada vez mais se tornar perceptivel. Da mesma maneira que a tristeza e a saudade (… se insinuam no processo de trabalho de campo, causando surpresas ao etnologo ().
Considerar a depress„o...

346/7. quest„o da neutralidade cientifica
   ser objetivo...

347.  Mesmo que n„o se pretenda fazer uma considera‡„o psicologica, n„o custa lembrar que a rela‡„o que fornece os dados para o conhecimento em ciˆnciais sociais ‚ uma rela‡„o entre pessoas que se enfrentam como subjetividades e onde todas as atitudes de um tˆm reflexos no outro e s„o levadas em considera‡„o. Por isso mesmo, creio que as tentativas de distanciamento e de assepsia recomendadas por muitos manuais de pesquisa de campo n„o tˆm os resultados que s„o delas esperados, ou seja, objetividade, nƒo interferˆncia....
o silˆncio e as reticˆncias do pesquisador, al‚m de serem embara‡osos para ele e provocarem angustia no entrevistado, podem contruir...fantasias...desconfian‡as...
N„o acredito que manter distanciamento e o silˆncia interfira menos do que aproximar-se, emitir opini”es e fornecer respostas. Participar ou negar-se a participar tˆm, sob um aspecto, os mesmos efeitos sobre os pesquisadores: s„o atitudes que interferem e s„o levadas em considera‡„o. Pode-se optar por fazer uma coisa ou outra, at‚ considerando os efeitos que se quer realcan‡ar, mas o que n„o se pode ‚ imaginar que uma situa‡„o isola a produ‡„o de efeitos. Acredito que o silˆncio pode ser uma otima t‚cnica de pesquisa quando se deseja, por exemplo, ver como determinada popula‡„o reage … angustica, ao desconhecido... com certeza silˆncia e objetividade/neutralidade n„o s„o a mesma coisa.

347. ainda objetividade do pesquisador..

348. emo‡”es do pesquisador, mas dever converter-se em instrumento para conhecimento...
O que pode consistir na ESPECIFICIDADE E NA ORIGINALIDADE DO METODO DE PESQUISA DE CAMPO EM CIENCIA S SOCIAIS  ‚ exatamente o fato de o pesquisador utilizar a si mesmo como um instrumento de pesquisa e uma fonte de observa‡„o.  o considerar, por exemplo, que as situa‡”es que ele pode provocar e as emo‡”es e sensa‡”es que sente s„o importantes fontes de informa‡„o.  se esfor‡ar por identificar os elementos que est„o entrando em cena - inclusive os de sua propria subjetividade - ao inv‚s de tentar afasta-los como indesejaveis.  incluir os "anthropological blues" na rotinada observa‡„o.

349.

e depois, na hora da analise e interpreta‡„o??
350. interpreta‡„o e publica‡„o: hora mais violenta do poder do pesquisador...

352.  n„o for‡ar uma coerˆncia nos discursos que n„o existe...
ou negar aos dados uma coerˆncia propria e submeter modelos pr‚-estabelecidos....
Ler os dados em toda sua heterogeneidade...


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