Vai uma Ficha, aí?
CALDEIRA, Teresa Pires do Rio.
333. James Agee, jornalista
Foucault - ciˆncias sociais e praticas disciplinares ... pode e saber
interligados em nossa sociedade
333. Creio que a pratica concreta
da pesquisa de campo, mais especificamente, a rela‡„o que se estabelece entre o
investigador e o informante, serve de exemplo … maneira pela qual esse regime
de poder-saber e de produ‡„o encontra-se disseminado.
334. Creio, em suma, que ‚ a
associa‡„o entre poder e saber cientifico que possibilita e sustenta a rela‡„o
que se estabelece entre o pesquisador e o informante, que da a um condi‡”es de
exercer seu trabalho (seu poder) e a outro a id‚ia da obrigatoriedade e da
necessidade de se sujeitar. Isso implica
em ver, portanto, que a rela‡„o que se estabelece no campo entre o pesquisador
e o seu informante ‚ uma rela‡ao que se estabelece no campo entre o pesquisador
e o seu informante ‚ uma rela‡„o de poder (): rela‡„o em que um requer um
depoimento e outro se vˆ na contingˆncia de responder; em que um pde que tudo
seja dito nos minimos detalhes, e o outro se esforce por dizer a verdade que,
no entanto, s¢ o primeiro podera revelar.
334/335. n„o estou imaginando que
todos os cientistas sociais queiram, consciente e deliberadamente, saber
detalhes para dominar, nem que o entrevistado se julgue t„o culpado e em
suspeita ao ponto de ser obrigado a confessar tudo: certamente ao nivel da
pratica consciente a rela‡„o que se estabelece entre o pesquisador e o
pesquisado assume uma quantidade de outros aspectos. No entanto, n„o me parece
possivel negar a atua‡„o desse dispositivo poder-saber-verdade, do mesmo jeito
que n„o se pode esconder a interferˆncia da mais variada gama de fen“menos,
tanto objetivos quanto subjetivos (). Todos esses fatores est„o presentes na
rela‡„o pesquisador-informante, interferem no seu andamento e imprimem sua
marca nas informa‡”es obtidas e com as quais o cientista trabalhara. Creio que
faz parte da responsabilidade dos cientistas sociais n„o so pensar a sua
pratica profissional em termos das repercuss”es do trabalho intelectual na
sociedade como um todo mas tamb‚m questionar o seu trabalho ali mesmo onde ele
se exerce, ou seja, na rela‡„o imediata com o seu "objeto" - as
pessoas e grupos sociais a quem estuda. Creio que de pouco servira denunciar
apenas as rela‡”es de poder e de explora‡„o mais gerais existentes na sociedade
como um todo; praticas de poder existem de maneira difusa por todo o tecido
social e o passo inicial para os cientistas sociais talvez deva ser denunciar a
sua propria pratica e toma-la como realmente ‚, ou seja, uma rela‡„o de poder e
uma rela‡„o que n„o ‚ neutra.
II.
335. A quest„o que esta por tras de
toda inverstiga‡„o cientifia ‚ a quest„o da verdade.
... e estou pensando em pesquisa
qualitativa - compartilham essa id‚ia, ...
Exemplo: antropologo interessado em
saber quais as representa‡”es que os moradores da periferia de uma grande
cidade tˆm do poder e da sociedade, depois de ter decidido que a melhor t‚cnica
para come‡ar a obter suas informa‡”es era a realiza‡„o de entrevistas abertas
na qual se procuraria obter a historia da vida, chega … casa de um informante e
faz o seguinte discurso:
337. regras do jogo explicitadas
a rela‡„o de for‡a colocada na mesa
me parece que passa na cabe‡a dos informante ‚ que, por se tratar de uma
situa‡„o de pesquisa cientifica, a sua obriga‡„o ‚ "dizer a verdade".
Mas acontece que a verdade n„o ‚
algo que existe de maneira pronta e objetiva e que, para ser descoberta, basta
que o entrevistado a ponha em palavras e o pesquisador a registre. Pela propria
natureza de uma situa‡„o de entrevista, esta verdade ‚ produzida a partir de
uma rela‡„o. ...que n„o ‚ neutra... mas
onde esta presente o exercicio de poder.
Uma rela‡„o entre dois sujeitos.,
podendo sofrer variadas interferˆncias....
338.
339. historia de vida
questionario de um survey
sempre apareciam estas situa‡”es de desabafo embara‡osas e de
detalhamento...
339. Entrevista com mulheres -
problemas do casal
mulheres , mesmo sem pedir, falavam
longamente dos problemas conjugais...
340. o antropologo ‚ solicitado
para esclarecer varios assuntos sobre coisas diversas
entrevista se transforma numa conversa intima e densa:...
a entrevista coloca um
distanciamento do cotidiano vivido, permite ordenar um pouco peda‡os de
experiˆncias que foram sendo acumulados com o correr do tempo, sob a forma de
fragmentos dispersos, que ficaram sem conex”es nem explica‡”es. Por isso, ‚
comum que a entrevista se transforme em uma rela‡„o catartica que termina,
freq. num tom nostalgico e triste - de quem, por exemplo, defrontou-se com o
seu passado, pensou o presente, imaginou o futuro...
341. Outros aspectos envolvidos em
uma situa‡„o de entrevista e de relato de historia de vida que podem ajudar a
compreender tanto o aspecto verdadeiro do relato, quanto a concordƒncia
fazˆ-lo.
conceder a entrevista ‚ um
privil‚gio...
Distin‡ƒo, importƒncia, identidade,
s„o elementos que o pesquisador e a situa‡„o de entrevista conferem aos
entrevistadores, e esses aspectos se tornam mais presentes quando se trata de
membros das camadas dominadas da popula‡„o.
342. reconhecimento da
individualidade...
343/4. A rela‡„o de entrevista ‚
uma rela‡„o complexa onde est„o todo o tempo influindo elementos variados e
frequentement opostos. O depoimento de uma senhora feito a Ecl‚a Bosi...
344. Depoimento/Verdade/Confiss„o/Desabafo/Ajuda
(ao outro ou a si proprio)/Informa‡„o. Todos esses elementos se mituram no
discurso de um informante que o caracterizam. A situa‡„o de poder do
pesqusiador, al‚m de servir para desencadear o discurso, marca alguns de seus
aspectos, mas n„o da conta de tudo o que ocorre na rela‡„o - a partir de um
momento, ela assume um outro carater, o entrevistado imprime o seu tom. O que diz n„o ‚ um depoimento que vai ter um
significado apenas para quem o solicita a fim de descobrir algo, ele ‚
significativo - e em certo sentido tamb‚m uma descoberta - para quem o fornece,
para quem o vive (e revive).
Creio que esse aspecto esclarece
uma das princiapis caracterisitcas de uma rela‡„o de pesquisa em ciˆncias
sociais. O "Objeto" da investiga‡„o n„o ‚ por nada um objeto neutro e
passivo que possa ser simplesmente observado: o seu depoimento ‚, antes de mais
nada, uma a‡„o significativa para si mesmo, ‚ uma a‡„o vivida, e uma a‡„o
vivida n„o de forma isolada, mas numa rela‡„o com um outro, aquele que
desencadeou a a‡„o. Mas tampouco o pesquisador ‚ neutro e passivo nessa
rela‡„o, apenas um observador que recolhe o seu material. Ele ‚ a todo instante
incluido na a‡„o que transcorre. Em lø lugar, ‚ a ele que ‚ dirigido o relato, a
confiss„o, o desabafo. Mas talvez a sua participa‡„o e inclus„o fique mais
clara quando o entrevistado lhe solicita esclarecimentos, informa‡”es, opini”es
lhe exige, enfim, uma resposta. Estabelece-se uma rela‡„o troca e ‚
razoalvelmente comum o surgimento de situa‡”es em que, no final da entrevista,
o informante fala: ...
345.
entrevista qualitativa - rela‡„o de
troca e aprendizagem esta presente, com toda clareza, em situa‡”es de
entrevistas abertas e de observa‡a”
participante e, ao meu ver, isso acaba amenizando um pouco a violˆncia do
exercicio do poder que se estabelece sobre o entrevistado.
345. SURVEYS - rigidez das
perguntas, a ordem pr‚-estabelecida, o leque de alternativas, n„o permitem ao
entrevistado praticamente nenhuma participa‡ƒo ativa na rela‡„o...
Creio que ‚ a situa‡„o onde a
violˆncia do exercicio do poder na pratica da pesquisa em ciˆnciais sociais
apresenta-se de forma mais crua: ao entrevistado n„o ‚ permitido nada a n„o ser
submeter-se a responder aquilo que lhe ‚ solicitado; o que for dito al‚m n„o
interessa, n„o ‚ anotado e n„o ‚ levado em considera‡„o...
III.
345. dois aspectos a considerar:
a) as suas rea‡”es subjetivas
durante a situa‡„o de permanˆncia no campo e de relacionamento com os
informantes
b) sua atitude frente ao material
coletado que, como ja foi visto, inclui uma s‚rie de aspectos subjetivos e
intimos do entrevistado e que foram produzidos numa rela‡„o cientifica e por
nada neutra.
346. SUBJETIVIDADE DO PESQUISADO -
o que parece haver ‚ uma tendˆncia geral por parte dos cientistas sociais me
tratar como indesejaveis ou como "folclore" da pesquisa de campo as
emo‡”es e os "mal-estares" que sentem ao tentar perceber e vivenciar
o universo dos "outros" com os quais est„o se relacionando. S„o frequentes
nos cadernos dos antropologos as descri‡”es de situa‡”es desse tipo, e Roberto
da Matta chamou aten‡„o para a importancia de se "incorporar no campo
mesmo das rotinas oficiais, ja legitimadas como parte do treinamento do
antropologo, aqueles aspectos extraordinarios ou carismaticos, sempre prontos a
emergir em todo o relacionamento humano. Esta seria a area dos anthropological
blues, "aquela do elemento que se insinua na pratica etnologica, mas que
n„o estava sendo esperado. Como um BLUE cuja melodia ganha for‡a pela repeti‡„o
das suas frases de modo a cada vez mais se tornar perceptivel. Da mesma maneira
que a tristeza e a saudade (… se insinuam no processo de trabalho de campo,
causando surpresas ao etnologo ().
Considerar a depress„o...
346/7. quest„o da neutralidade
cientifica
ser
objetivo...
347. Mesmo que n„o se pretenda fazer uma
considera‡„o psicologica, n„o custa lembrar que a rela‡„o que fornece os dados
para o conhecimento em ciˆnciais sociais ‚ uma rela‡„o entre pessoas que se
enfrentam como subjetividades e onde todas as atitudes de um tˆm reflexos no
outro e s„o levadas em considera‡„o. Por isso mesmo, creio que as tentativas de
distanciamento e de assepsia recomendadas por muitos manuais de pesquisa de
campo n„o tˆm os resultados que s„o delas esperados, ou seja, objetividade, nƒo
interferˆncia....
o silˆncio e as reticˆncias do
pesquisador, al‚m de serem embara‡osos para ele e provocarem angustia no
entrevistado, podem contruir...fantasias...desconfian‡as...
N„o acredito que manter
distanciamento e o silˆncia interfira menos do que aproximar-se, emitir
opini”es e fornecer respostas. Participar ou negar-se a participar tˆm, sob um
aspecto, os mesmos efeitos sobre os pesquisadores: s„o atitudes que interferem
e s„o levadas em considera‡„o. Pode-se optar por fazer uma coisa ou outra, at‚
considerando os efeitos que se quer realcan‡ar, mas o que n„o se pode ‚
imaginar que uma situa‡„o isola a produ‡„o de efeitos. Acredito que o silˆncio
pode ser uma otima t‚cnica de pesquisa quando se deseja, por exemplo, ver como
determinada popula‡„o reage … angustica, ao desconhecido... com certeza
silˆncia e objetividade/neutralidade n„o s„o a mesma coisa.
347. ainda objetividade do
pesquisador..
348. emo‡”es do pesquisador, mas
dever converter-se em instrumento para conhecimento...
O que pode consistir na
ESPECIFICIDADE E NA ORIGINALIDADE DO METODO DE PESQUISA DE CAMPO EM CIENCIA S
SOCIAIS ‚ exatamente o fato de o
pesquisador utilizar a si mesmo como um instrumento de pesquisa e uma fonte de
observa‡„o. o considerar, por exemplo, que as
situa‡”es que ele pode provocar e as emo‡”es e sensa‡”es que sente s„o
importantes fontes de informa‡„o. se esfor‡ar por
identificar os elementos que est„o entrando em cena - inclusive os de sua
propria subjetividade - ao inv‚s de tentar afasta-los como
indesejaveis. incluir os "anthropological blues" na
rotinada observa‡„o.
349.
e depois, na hora da analise e
interpreta‡„o??
350. interpreta‡„o e publica‡„o:
hora mais violenta do poder do pesquisador...
352. n„o for‡ar uma coerˆncia nos discursos que
n„o existe...
ou negar aos dados uma coerˆncia
propria e submeter modelos pr‚-estabelecidos....
Ler os dados em toda sua
heterogeneidade...
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