A Poética do Frio (ou a topologia do silêncio)
No frio,
a cidade diminui o passo
e o silêncio ganha corpo
é como
se
o inverno
moldasse uma casa
I N V I S I V E L
onde
o ritmo do mundo
finalmente cede,
e ali
na lentidão necessária,
a alma
encontra o abrigo
I N T I M O
que só existe,
quanto
tudo ao redor
se aquieta
e silencia.
Topologia do Silêncio
O frio instaura uma outra ordem do tempo.
Não é apenas temperatura —
é um convite à lentidão,
um apagamento das urgências
que a cidade insiste em impor.
Quando o frio chega,
o mundo urbano hesita.
As ruas desaceleram,
os ruídos se tornam mais raros,
como se cada som precisasse
pedir licença ao ar denso
para existir.
Há um silêncio que só o inverno compreende:
um silêncio que não é ausência,
mas presença compacta,
quase material,
como se o ar fosse feito de vidro
e qualquer palavra pudesse rachá-lo.
Nesse silêncio, o corpo reaprende o ritmo.
Os passos ficam mais curtos,
os dias mais contidos,
o pensamento se recolhe
como quem busca um abrigo primordial.
A vida urbana tenta resistir —
acende luzes, acelera máquinas,
produz barulhos artificiais
para fingir que o frio não pensa.
Mas ele pensa.
E pensa devagar.
E nos obriga a pensar devagar também.
No sul, o frio cria uma pedagogia da quietude.
Ele nos devolve à nossa própria interioridade,
mostra que existe outra forma de existir
além da pressa endurecida das metrópoles.
Sob o vento cortante,
o mais íntimo se torna visível:
a necessidade de recolhimento,
de pausa,
de escuta.
Escuta de quê?
Do nada —
mas um nada cheio de forma,
cheio de densidade,
cheio desse silêncio que o inverno molda
como uma matéria discreta e sagrada.
E é nessa suspensão do ritmo
que descobrimos uma verdade antiga:
somente quando o mundo esfria
é que nossa alma pode aquecer
pela delicadeza de existir mais devagar.
Z. B.
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