domingo, 17 de novembro de 2013

As Festas Populares Religiosas de Santa Isabel e de Nossa Senhora da Imaculada Conceição: uma análise comparativa entre os dois maiores festejos católicos da Cidade de Viamão

TRABALHO  MONOGRÁICO  APRESENTADO  NA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL
Disciplina: Teorias da Cultura









DENOMINADO


-   As Festas  Populares  Religiosas  de  Santa  Isabel  e  de  Nossa Senhora  da  Imaculada  Conceição: uma análise  comparativa  entre  os  dois  maiores  festejos  católicos  da  Cidade  de  Viamão  -   














Autor: Jaques  Jacomini





INDICE




Introdução .............................................................................................. 03


1. Os traços identitários formadores das santidades em debate
1.1 Santa Isabel ................................................................................. 05
1.2 Nossa Senhora da Imaculada Conceição...................................... 07

2. Os festejos populares religiosos pesquisados
      2.1 A Festa de Santa Isabel ............................................................. 09
      2.2 A Festa de Nossa Senhora da Imaculada Conceição ................. 11

3. Dados históricos sobre as comunidades estudadas ............................ 13

4. Análise comparativa entre as duas festas populares religiosas pesquisadas 16


Conclusão .............................................................................................. 19

Bibliografia ............................................................................................ 21

Anexos ................................................................................................... 23





INTRODUÇÃO

A presente monografia representa o esforço de concluir os trabalhos realizados na cadeira Teorias da Cultura, ministrada pelo Professor Ruben Oliven, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social / Instituto de Filosofia e Ciências Humanas / Universidade Federal do Rio Grande do Sul, através da análise de um tema específico no âmbito do conhecimento das teorias da cultura.
As festas populares de cunho religioso estão presentes em quase todo o território nacional. Cada localidade ou cidade possui traços característicos e uma dinâmica bastante peculiar, segundo a tipologia de significação e de simbolização que os agentes religiosos e comunitários imprimem nos seus eventos. Diante deste contexto mais geral, selecionamos duas festas religiosas que acontecem no município de Viamão para fazer uma análise comparativa entre as suas principais características. No contexto mais teórico, nos embasamos no pressuposto de que “nenhum objeto, nenhuma coisa é ou tem movimento na sociedade humana, exceto pela significação que os homens lhe atribuem” (SAHLINS, 1979). Portanto, tentaremos perceber, com base na pesquisa realizada, os aspectos concernentes a carga de simbolização e de construção social dos significados que envolvem, delimitam ou delineiam estas duas festas populares.
A cidade de Viamão é uma das maiores, em termos de população (220.000 habitantes) e extensão territorial (1.487 Km2), da região metropolitana de Porto Alegre (Ver anexo 1). Neste município existe uma divisão distrital que aponta para a formação de dois grandes centros urbanos: região central, sede administrativa e política do município, e região da Grande Santa Isabel, centro comercial ligado mais diretamente a Porto Alegre. Percebendo que existe duas festas religiosas populares ligadas a cada um destes dois pólos físico-geográficos, proponho realizar uma análise etnográfica e historiográfica de alguns aspectos sociais ligados a religiosidade destas duas localidades, através dos eventos anuais mais significativos para estas comunidades: a festa de suas padroeiras.
 A região da grande Santa Isabel tem a sua devoção pela santa que a denomina,  Santa Isabel (Ver anexo 2) e a região central de Viamão tem a sua devoção voltada para Nossa Senhora da  Imaculada Conceição (Ver anexo 3). Orientado por uma perspectiva relacional e dialética, iniciarei o trabalho com a descrição das principais características e especificidades das santas e das festas em debate, investigando  os principais aspectos das festividades realizadas em torno da adoração de ambas as santas. Em um segundo momento, trabalho com alguns dados históricos que colaboram no entendimento da atual dinâmica social observada nas comunidades observadas. Na parte final do trabalho, me proponho a realizar uma análise comparativa entre as duas festas, resgatando e apontando as suas principais semelhanças e diferenças, relacionando-as com a dinâmica social e história destas duas localidades. Nos anexos apresento iconografias referentes as construções textuais deste trabalho que enriquecem e reapresentam alguns dados já expostos no corpo da monografia.
Quanto a metodologia empregada, é importante destacar que abordo o meu objeto de estudo através  do método etnográfico,  (pesquisa qualitativa), incorporando as técnicas de observação direta e participante, complementadas com a realização de entrevistas e com a produção de imagens fotográficas e  iconográficas. Destaco que entendo a observação participante como uma importante técnica de pesquisa, pois trata-se de “um processo pelo qual mantém-se a presença do observador numa situação social com a finalidade de realizar uma investigação científica. O Observador está em relação face-a-face com os observados e, ao participar da vida deles no seu cenário natural, colhe dados. Assim, o observador é parte do contexto sob observação, ao mesmo tempo modificando e sendo modificado por este contexto.”[1]













1. OS  TRAÇOS  IDENTITÁRIOS  FORMADORES  DAS  SANTIDADES  EM  DEBATE

1.1 SANTA  ISABEL

“Ó Deus,
destes para nós o exemplo de vida de Santa Isabel
que reconheceu e venerou Cristo nos pobres e doentes.
Daí a todos nós, por sua inercessão,
Seguir o exemplo de vida, no serviço aos pobres e aflitos,
Amando-os como Cristo os amou.
Amém.
Ave Maria ...
Santa Isabel, rogai por nós !”

Oração à Santa Isabel

Delinear os traços formadores e fundadores das santidades em debate, foi um anseio deste pesquisador na construção do presente trabalho, diante da carga simbólica e imaginativa que estão empregnados. Atividade que não foi muito fácil devido as fontes disponíveis para pesquisa. Lançamos mão de alguns panfletos, livros e outros impressos cedidos pelas paróquias e colhemos relatos dos padres que são responsáveis pelas igrejas pesquisadas, a fim de ter algumas informações básicas sobre as santas Isabel e Imaculada Conceição.
Segundo as informações colhidas nas entrevistas com o Padre Carlos e Padre Leoclides, párocos da Igreja Matriz de Santa Isabel, esta santa nasceu na Hungria em 1207, ainda muito jovem casou-se com o Duque Luís IV, tornando-se rainha da Hungria. Isabel era de caráter vibrante e muito dedicada à oração, possuindo grande amor para com os pobres e doentes e trabalhava contra toda injustiça feita ao seu povo. O seu marido a apoiava neste intuito de auxiliar os mais necessitados, porém com a morte de seu marido em uma batalha campal, ela foi obrigada, pela sogra e cunhadas, a deixar a corte, com vinte anos e mãe de três filhos. A sua expulsão aconteceu justamente pela sua opção de auxiliar e apoiar com afinco e retidão os mais pobres e necessitados, contrariando assim a sua orientação social de nobre que a cobrava um outro tipo de postura diante dos pobres. Desde então, abandonou a sua condição social anterior e passou a dedicar-se exclusivamente aos pobres. Ingressou na Ordem Terceira Franciscana, dedicando-se com afinco no auxílio a pessoas doentes. O desfecho desta história acontece com a sua morte que aconteceu em 17 de novembro de 1231, quando possuía apenas 24 anos e encontrava-se em uma situação de extrema pobreza e sofrendo de uma doença não nominada, mas mencionada como irreversível para os níveis tecnológicos da medicina praticada na época.
Como podemos perceber pelos relatos dos religiosos entrevistados, é muito presente no seu imaginário a opção da santa pelos pobres e doentes, o sofrimento que passou na defesa destes, a sua expulsão do castelo em que morava devido a esta opção, após a morte do seu marido, fatos que delineiam a conduta moral e social da Santa Isabel.
 A opção pelos pobres e pela justiça social colhida da história de Isabel orienta toda a filosofia de trabalho e organização da paróquia da Santa Isabel até hoje. Os religiosos declaram que, na oportunidade da fundação da paróquia, a comunidade que procurava uma santa para ser a sua padroeira fez a sua opção pela Santa Isabel justamente pelo fato de que estas características da sua trajetória de vida eram significativas para esta comunidade formada por pessoas muito humildes, pobres e sofredoras devido a uma série de carências econômicas e sociais. Perguntados sobre os detalhes desta escolha, os religiosos comentam que a opção pode ter sido realmente definida muito mais por influência da vivência dos párocos da época que eram europeus e traziam na bagagem um pouco da história da Isabel da Hungria do que pela ansiedade popular de possuir uma padroeira com quem se identificassem, uma vez que os primeiros moradores da região não tinham contato com este tipo de informação.   
Na sua imagem esculpida em gesso presente na Igreja Matriz da Santa Isabel merece destaque alguns ornamentos, cores e formas. As cores predominantes na sua vestimenta são o vermelho, o azul e o verde e o dourado da sua coroa. Em uma mão ela carrega um cesto com rosas e na outra, uma espécie de bastão. Segundo o Padre Carlos, em determinada situação, Santa Isabel, ainda rainha da Hungria, havia pegado um cesto de pães para distribuir entre os pobres em uma atitude que contrariava a sua família devido a situação social que ocupava. Ao distribuir os pães, as suas cunhadas e sua sogra surprenderam-na, tentando impedila de tal ato. Isabel, tentando simular a sua investida, evitando assim o conflito com sua família haveria realizado o seu primeiro milagre, através da transformação dos pães em rosas.





1.2 NOSSA  SENHORA  DA  IMACULADA  CONCEIÇÃO[2]

“Se o Brasil nasceu à sombra da Cruz, organizou-se, cresceu, prosperou amparado sempre pela mãe santíssima, venerada ternamente e invocada sob numerosos títulos, cada qual mais belo e expressivo ... Entre os títulos marianos prevalece o da Imaculada, que exorna, com muitos secundários, mais de 350 dos templos principais. E era natural. Desde os primórdios floresceu em Terras de Santa Cruz a devoção à Imaculada Conceição de Maria, implantada pelos descobridores.”

Papa Pio XII numa alocução de 1954

A tradição que envolve a cultuação à Imaculada Conceição de Maria Santíssima está intimamente relacionada a cultura portuguesa e aos colonizadores portugueses que aportaram no Brasil na época do descobrimento. Em 1646 o Rei D. João IV consagrou Portugal e todos os seus domínios (inclusive o Brasil) a Nossa Senhora da Conceição. Alguns teólogos afirmam que o culto à Imaculada Conceição faz parte das mais antigas e veneráveis tradições brasileiras e que desde o seu nascimento, o Brasil vive sob o manto e o patrocínio de Maria Imaculada.
Nos primeiros séculos da história da igreja, o privilégio da Imaculada Conceição era tranqüilamente e sem contestações professado de modo implícito, no paralelo, com muita freqüência estabelecido pelos padres da igreja, entre Eva e Maria.
Assim como a antiga Eva saíra pura e imaculada das mãos divinas, assim também a nova Eva, Maria, deveria ter saído das mãos do criador, pura e imaculada. Isto é tanto mais razoável quanto a primeira Eva haveria de legar a morte a toda a sua descendência, enquanto a Segunda Eva daria a todos os seus filhos o oposto, ou seja, a vida. Seria contraditório que tivesse incorrido na culpa de Eva precisamente aquela que foi ordenada por Deus para a reparação de tal culpa.
Também era freqüente, nos padres da igreja, tanto do Oriente quanto do Ocidente, a proclamação da absoluta pureza e santidade de Nossa Senhora e nessa proclamação estava, sem dúvida, implícita a verdade da Imaculada Conceição, pois a mancha do pecado original não poderia compaginar-se com tão ilibada pureza e tão exímia santidade.   
Nossa Senhora da Conceição é conhecida também como Patrona do Exército Brasileiro. A “Canção do Soldado”, hino do exército, era um antigo cântico em louvor da Imaculada. Segundo narração do General Dionísio Cerqueira, em suas memória sobre a Guerra do Paraguai, que na véspera da Batalha de Tuiuti (23 de maio de 1866) “ao toque de recolher, às oito da noite, todos os corpos formaram. Depois da chamada, os sargentos puxaram as companhias para a frente da bandeira e rezou-se o terço. Alguns praças, os melhores cantores, entoaram em voz vibrante, sonora e cheia de sentimento, a velha canção do soldado brasileiro: Ó Virgem da Conceição, Maria Imaculada, vós sois a advogada dos pecadores, e a todos encheis de graça com a vossa feliz grandeza. Vós sois dos céus, princesa, e do Espírito Santo,  Esposa. Maria mãe de graça, mãe de misericórdia, livrai-nos do inimigo e protegei-nos à hora da morte, Amém.”[3] Durante a Guerra do Paraguai, todas as noites o exército brasileiro se perfilava e, em conjunto, rezava o terço, sendo acompanhado pelas bandas de música.
Nossa Senhora da Conceição é também padroeira do Seminário Maior de Viamão e nomina a sua instituição de ensino: Faculdade de Filosofia Nossa Senhora da Imaculada Conceição (FAFIMC). Esta é a única instituição de ensino superior do município, situa-se na margem da RS-040 (parada 48) e traz na parte superior do prédio uma grande imagem da santa na cor branca, juntamente a um grande relógio. Durante a noite, para quem transita pela RS, a imagem da santa é bastante visível e chama bastante a atenção das pessoas que por ali passam devido a sua beleza, imponência e a um bom sistema de iluminação que facilita a visualização mesmo a quilômetros de distância da imagem. 
Na sua imagem esculpida  presente na Igreja Matriz de Viamão merece destaque alguns ornamentos, cores e formas. As cores predominantes na sua vestimenta são o vermelho, o azul  e o dourado da sua coroa. Tem as mãos postas e está coberta por um vasto manto bastante colorido.







2. OS  FESTEJOS  POPULARES  RELIGIOSOS  PESQUISADOS

2.1 A  FESTA  DE  SANTA  ISABEL

As principais atividades da festa da padroeira da Santa Isabel são realizadas  na semana que circunda a data da morte da Santa, 17 de novembro, porém os festejos mais gerais acontecem durante todo o mês de novembro. Isto acontece em função de que os festejos são divididos em duas programações, uma programação chamada de “Social” e outra denominada de “Religiosa”. O centro dos eventos é a própria paróquia e a organização fica a cargo de uma comissão de organização chamada de “festeiros” composta por 30 pessoas na oportunidade em que acompanhamos. Nos meses que antecedem o evento, os festeiros fazem diversas reuniões na igreja antecipando todos os procedimentos necessários para a realização da festa da padroeira. Estas reuniões e a organização como um todo são realizadas em parceria com as Comunidades Eclesiais de Base (CEBES) e as capelas  localizadas nas vilas próximas ao núcleo central da Vila Santa Isabel ligadas à igreja matriz.
A programação religiosa tem por objetivo reunir os devotos da santa mais ligados as atividades regulares da paróquia em torno das missas especiais, grupos de orações, procissões, entre outras celebrações religiosas. Na oportunidade em que acompanhamos as atividades da festa, observamos que esta programação religiosa iniciou no dia quinze de novembro com uma missa onde estiveram presentes todas as comunidades religiosas ligadas à Igreja Matriz de Santa Isabel e o tema era em “Louvor e Partilha das Santas Missões”. O encerramento das atividades do programa religioso aconteceu no dia vinte e um de novembro, denominado como o “Domingo da Padroeira”, com missa temática, “Sede Santos como vosso Pai é Santo”, procissão e uma missa solene após a procissão com o tema “A Exemplo de Santa Isabel caminhamos à Santidade”. Talvez um dos momentos mais esperados desta programação tenha sido a procissão luminosa que aconteceu no dia dezenove de novembro com saída da Igreja Matriz em direção à Comunidade Scalabrini, uma das dez comunidades religiosas ligadas à matriz que localiza-se na Vila Luciana, proximidades da Vila Santa Isabel. Nesta oportunidade a fé e a adoração da santa sai do universo paroquiano e ganha a publicidade popular pelas principais ruas da vila, com uma grande adesão dos moradores que não estão ligados diretamente a igreja, fiéis e seguidores mais freqüentes. 
A programação social tem por objetivo reunir a comunidade de um modo geral, tentando propiciar a possibilidade de participação daqueles agentes sociais que não estão ligados mais diretamente as atividades de cunho estritamente religioso. É  a oportunidade para que as personalidades públicas como o prefeito da cidade e demais autoridades públicas, empresários, etc. participem dos festejos populares religiosos emprestando o seu prestígio social para o evento e, ao mesmo tempo, aproveitando um espaço público de grande adesão da comunidade local para divulgar as suas idéias, externar as suas posições através de um pronunciamento oficial ou mesmo atuando nos bastidores da festa. Na oportunidade em que acompanhamos as atividades da festa, observamos que esta programação social iniciou no dia seis de novembro com um jantar dançante com música ao vivo, onde foi servido churrasco, galeto, feijão mexido, abóbora caramelada e buffet de saladas, além de outros pratos quentes. O encerramento das atividades do programa social aconteceu no dia vinte e oito de novembro, com a realização de um chá de confraternização onde foi realizado um concurso de escolha da Rainha Infantil da Festa.
Um dos momentos mais esperados desta programação para uma grande parte de comunidade carente da região talvez seja  o “Almoço da Solidariedade”. No dia quatorze de novembro aconteceu um almoço especial oferecido para pessoas pobres e carentes da comunidade da Santa Isabel. Esta é uma atividade impregnada de significado religioso defendida pelos padres e responsáveis pela paróquia que afirmam: sendo a Santa Isabel protetora e zeladora dos pobres e doentes, este momento dos festejos é voltado especialmente para aquelas pessoas que não possuem recursos para participar dos outros momentos da festa onde são cobrados ingressos, convites, etc. Para ter acesso a este almoço, as pessoas interessadas procuram com antecedência a secretaria da igreja, declarando a sua situação de carência, para serem cadastradas, recebendo uma ficha que deve ser apresentada no dia do almoço. Paralelo ao “Almoço da Solidariedade”, acontece o “Almoço Festivo da Padroeira” no “Domingo da Padroeira”, domingo mais próximo no calendário ao dia da santa, 17 de novembro. Este é o ponto alto da programação social e aconteceu no dia vinte e um de novembro na oportunidade em que acompanhávamos as festividades do ano de 1999. O cardápio básico é composto por galeto e buffet de saladas e pratos quentes. Além do almoço festivo, oportunidade em que o salão paroquial ficou inteiramente tomado pela comunidade com a presença de, aproximadamente, 500 pessoas, nesta mesma oportunidade aconteceram brincadeiras do tipo “Pescaria”, realização de rifas promocionais e sorteio de brindes. No almoço estiveram presentes autoridades do município como o prefeito municipal, vereadores e empresários. Após ao almoço aconteceu uma “domingueira”, baile ao estilo gaúcho com presença de músicos tradicionalistas que animaram a festa até o início da noite de Domingo.


2.2 A  FESTA  DE  NOSSA  SENHORA  DA  IMACULADA  CONCEIÇÃO

“... havia um povo que, no final do ano, lá pelo mês de dezembro, reunia-se para louvar e agradecer o amor de Deus pai manifestado em Nossa Senhora, que em sua Imaculada Conceição trouxe salvação ao mundo. Juntos eles revezavam, refletiam e celebravam ! Com alegria e fé, foram passando essa tradição adiante ...
Agora no ano de 1999, você e sua família estão convidados para participar da novena e da festa de Nossa Senhora da Conceição. Será um momento de encontros, reencontros e, sobretudo, de muita fé. Venha ! Sua presença é muito importante para continuarmos esta história ! ”

 Texto divulgado no panfleto chamando a comunidade para a festa da Nossa Senhora da Imaculada Conceição


As principais atividades da festa da padroeira de Viamão são realizadas  no mês de dezembro. Os festejos possuem uma programação geral com atividades religiosas e sociais. O centro dos eventos é a própria paróquia e a organização fica a cargo de uma comissão de organização chamada de “festeiros” composta por 27 pessoas na oportunidade em que acompanhamos. Nos meses que antecedem o evento, os festeiros fazem diversas reuniões na igreja antecipando todos os procedimentos necessários para a realização da festa da padroeira. Estas reuniões e a organização como um todo são realizadas em parceria com as capelas localizadas nas vilas próximas ao núcleo central da  igreja matriz de Viamão.
A programação observada iniciou no dia 29 de novembro e se estendeu até o dia 8 de dezembro. No período de 29 de novembro a 07 de dezembro foi realizada uma Novena em louvor à Nossa Senhora da Conceição. Cada dia da novena foi dedicado a um tema específico do tipo: “Maria, Mãe fiel e corajosa”, “Maria Mãe dos caminhantes”, “Maria, rainha das famílias”, ... O tema central da festa do ano de 1999 foi: “Com Maria rumo ao Novo Milênio”. Entre os dias 1º  e 3 de dezembro aconteceram  apresentações artístico-culturais na frente da igreja, atividade que envolveu um grande número de viamonenses, especialmente no dia 03 de dezembro, oportunidade na qual a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA) se apresentou pela primeira vez na cidade de Viamão. Para a realização desta atividade houve uma espécie de parceria entre a paróquia e a Prefeitura Municipal de Viamão, através da Secretaria Municipal de Cultura. No dia 5 de dezembro ocorreu o almoço festivo à Nossa Senhora da Conceição no salão paroquial da matriz, reunindo cerca de 300 pessoas. Entre elas, estiveram presentes representantes dos poderes público executivo e legislativos, entre outras autoridades. O prefeito municipal, o presidente da Câmara de Vereadores e demais integrantes dos poderes executivo e legislativo prestigiaram o evento. O cardápio principal do almoço era composto de churrasco e buffet de saladas. Um comunicador, através de um sistema de som com alto-falantes distribuídos no entorno da igreja, fazia o trabalho de emissão de recados e animador da festa.  Após ao almoço foi realizada uma missa e uma procissão. No encerramento das festividades, dia 8 de dezembro, houve novamente um almoço comemorativo, uma missa e uma procissão luminosa pelo centro da cidade de Viamão.
A programação pesquisada e observada que tem por objetivo reunir a comunidade de um modo geral, tentando trazer um bom número de viamonenses a participar das festividades da padroeira merece um destaque. Pelo fato de que as grandes vilas populares de Viamão e, portanto, a maior densidade da massa populacional encontram-se nas margens da RS 040, especialmente no trecho entre as paradas 32 e 42, a adesão destes viamonenses nas festividades da padroeira realizada no centro da cidade não acontece de uma forma expressiva. Agrega-se a estes aspectos geográficos e populacionais uma “Cultura” de deslocamento do tipo pendular desta população citada em direção ao centro de Porto Alegre e não ao centro de Viamão.
Segundo relatos dos religiosos entrevistados, a Festa do Divino Espírito Santo que acontece anualmente no centro de Viamão talvez tenha uma expressão e uma adesão popular maior que as festividades realizadas em torno da padroeira da cidade. Esta festa possui características semelhantes a festa da padroeira, especialmente devido a sua origem cultural de cunho luso-brasileira.







3. ALGUNS  DADOS  HISTÓRICOS  SOBRE  AS  COMUNIDADES  EM  DEBATE

Nesta parte do trabalho, trazemos alguns dados históricos que remontam ao início do povoamento das comunidades que estamos investigando. Cabe destacar as diferenças entre os períodos histórico de fundação da Paróquia do Centro de Viamão em contraste com o período histórico que define a fundação da Paróquia da Santa Isabel.
 Segundo alguns historiadores como Clóvis Silveira de Oliveira, o surgimento da “Freguesia de Viamão” está ligada às viagens que João de Magalhães faz por volta de 1714 por orientação do então Governador do Rio de Janeiro D. Francisco de Távora que pretendia “fazer vistorias nos lados do sul”[4].  O povoamento do extremo sul do Brasil acontece, segundo o historiador Walter Spalding, com a chegada de Dona Ana da Guerra, irmã do Capitão-mor Francisco de Brito Peixoto, fundador de Laguna e um dos grandes tropeiros da época, mais seu genro, João de Magalhães, que estabeleceram-se nos “Campos de Viamão” [5]. Ali, em terras de Dona Ana, foi erguida uma capelinha em louvor de Nossa Senhora da Conceição e Santana e, ao seu redor, logo se formaria uma pequena localidade que ficou conhecida por Lombas de Santana[6]. Neste momento se materializa, através da capela, o primeiro ato efetivo de adoração à Nossa Senhora da Imaculada Conceição.
Em meados  de 1740, fato semelhante provocaria o surgimento de um outro povoado. Francisco Carvalho da Cunha doaria uma légua de terra para a construção de uma outra capela, a de Nossa Senhora da Conceição do Viamão, que logo se transformaria em uma igreja. Esta segunda capela chegou a categoria de igreja e permanece no local onde ainda hoje encontramos a Igreja Matriz de Viamão.  Em volta desta igreja fundou-se um grande  povoado, povoado de Viamão, que já em 1747 era elevado à categoria de freguesia.
Já relacionando a ocupação do centro de Viamão com a sua periferia, é interessante destacar um outro dado que remonta à dinâmica social e espacial desta época e que sugere um tipo de interpretação que aqui empenhamos. Na sua relação com o mundo exterior, o povoado de Viamão estava distante do mar (cerca de 120 Km) e sem possibilidade de erguer qualquer tipo de porto na sua costa,  só possuía comunicação com o restante do Brasil por terra. Porém, em determinado momento, descobriram, a mais ou menos 60 Km de distância da sede do povoado, uma grande lagoa denominada de “Guaybe” pelos indígenas. Este fato levou os habitantes de Viamão a criarem um porto naquele local, o Porto de Viamão. Este mesmo porto passaria a ser denominado Porto do D’Ornelas ou Porto do Dorneles, quando da radicação de Jerônimo de Ornelas (mais seus agregados e parentes) naquele mesmo local e de Porto do Dionísio, quando utilizado como escoadouro da estância de Dionísio Rodrigues Mendes (Fundador da Capela de Nossa Senhora de Belém, hoje Belém Velho). A chegada dos casais açorianos, em 1752, marca o início da   colonização do então Porto de Viamão (nome dado a um ancoradouro nos fundos da Sesmaria de Jerônimo de Ornellas, onde está agora a Praça da Alfândega). Instalados em casas de palha no local onde encontramos hoje a atual Praça da Alfândega, os casais vindos das Ilhas dos Açores inauguravam o que viria a ser “um arraial bastante fértil”. [7]
A primeira ocupação do trecho inicial no eixo “Porto de Viamão” – “Freguesia de Viamão” (Rio Guaiba até a atual divisa dos Municípios de Viamão e Porto Alegre) acontece no momento em que Jerônimo de Ornelas se estabelece no Porto de Viamão e escolhe o Morro Santana para construir a sede da sua sesmaria (Segundo Oliveira nas imediações da atual Escola de Agronomia da UFRGS). Nas medidas atuais, essa sesmaria teria uma área de aproximadamente 14.000 hectares, abrangendo assim a atual área da Santa Isabel [8]. Contudo, uma ocupação mais efetiva observada na área da Santa Isabel remonta aos anos 50 e 60 do século XIX  foi uma das primeiras a sofrer a ocupação urbana característica da segunda metade deste século no município. Segundo a nossa pesquisa, percebemos que até ao final da década de 40, toda esta área, situada a Leste do Morro Santana, num extenso vale, era rural, compreendida por várias chácaras e tambos de leite. O primeiro loteamento a surgir foi denominado “Lomba do Sabão”, inscrito  no Cartório de Registro de Imóveis do Município em 07 de janeiro de 1944. A ocupação efetiva dos altos da atual Avenida Liberdade (Via do Trabalhador), no entanto, só ocorreu a partir de 1953, com o loteamento “Nossa Senhora Medianeira” .
O referido loteamento surgiu no lugar onde se situava a chácara do agrimensor  Francisco Hormes, que adquiriu a propriedade de Breno Alves (morador de Porto Alegre). Hormes veio de Taquara e como devoto de Nossa Sra. Medianeira, ao fazer o loteamento, reservou um pedaço de área verde para a construção de um santuário, a primeira capelinha católica da região, localizada na rua Dr. Nilo. Desta forma, inicia-se a ocupação urbana do território, surgindo também os equipamentos de infra-estrutura. Ao lado da área reservada à Capela foi instalado uma bomba d’água com poço artesiano para o abastecimento, identificada pela população como “Bica”, cujo vertedouro ainda existe bem como a referida bomba d’água. Com o passar dos anos, o local foi abandonado e ocupado por moradias irregulares. Somente na década de 80 é que membros da comunidade católica reiniciaram o processo de utilização da Capela, que já foi ocupada por uma escola que incendiou e mais tarde foi instalado no local um posto policial. Atualmente a área é utilizada por um Clube de Mães.
A Igreja da Santa Isabel[9] teve sua primeira sede onde hoje localiza-se a Escola Estadual Walt Disney e o centro Espirita Caminho da Luz, confluência das ruas Medianeira e Lisboa (Ver mapa anexo). Sobre as razões que ocasionaram a mudança do local da igreja, existem duas afirmativas recorrentes nas falas dos nossos informantes. A primeira indica que os padres perceberam que havia um maior fluxo de pessoas nas imediações da atual Avenida Liberdade,  resolvendo, portanto transferi-la para onde ela está atualmente. A Segunda depõe sobre  uma calamidade acontecida em torno de um grande vendaval que destruiu a igreja localizada na confluência das Ruas Lisboa e Medianeira e esta seria uma das razões do deslocamento do centro religioso para um outro local, em função de existir uma avaliação que a atual localização não era mais viável para o centro religioso. Existe um questionamento popular sobre a posse do primeiro sino da Igreja da Santa Isabel que, após ao vendaval, haveria sido transportado, juntamente com o resto dos materiais de construção da igreja para a comunidade Santo Agostinho na Vila Augusta. O sino que era da Santa Isabel, ainda está, segundo depoimento de moradores entrevistados, na igreja da Vila Augusta.           





4. ANÁLISE  COMPARATIVA  ENTRE  AS  FESTAS  POPULARES  RELIGIOSAS   PESQUISADAS

A comparação analítica que realizamos entre a festa da padroeira de Viamão com a festa da padroeira da Santa Isabel  nos permite traçar alguns eixos distintivos entre estes dois eventos populares viamonenses.
A festa da padroeira de Viamão, Nossa Senhora da Imaculada Conceição, possui um caráter mais oficial a nível da municipalidade local, quando comparada a festa da padroeira da Santa Isabel, uma vez que trata-se da festa da padroeira ca Cidade de Viamão, independente da maior ou menor adesão de seus munícipes. Esta oficialidade é observada claramente, por exemplo, diante da parceria entre a paróquia da matriz de Viamão e o poder público municipal que entra como patrocinador direto e co-organizador dos eventos festeiros da matriz como ocorreu em 1999, onde houve todo um engajamento da prefeitura, através da sua Secretaria Municipal de Cultura, no sentido de viabilizar as apresentações artísticos-musicais durante os festejos, especialmente a apresentação da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Neste sentido, a festa de Santa Isabel tem um caráter mais comunitário e popular e menos oficial, no que concerne na sua relação com a administração pública local. Os agentes sociais que atuam na sua organização são mais informais, oriundos das camadas mais populares das redondezas da paróquia, emprestam uma originalidade de festa popular de cunho religioso típico de cidades mais interioranas. Ao passo que a festa da Imaculada conceição não contando com uma adesão popular das mesmas proporções da Santa Isabel, possui um caráter mais formal e institucional, pois conta com o apoio profissional de técnicos da administração pública local que colabora na sua organização. Portanto, temos a festa da Imaculada Conceição com uma adesão popular muito menor do que a festa da Santa Isabel. Segundo a nossa perspectiva de análise social e diante da realidade observada em campo, isto acontece devido ao contexto social em que encontram-se estas duas paróquias. A paróquia de Santa Isabel encontra-se em meio a cerca de 15 vilas populares onde a  população conta com uma renda média que não ultrapassa dois salários mínimos, nível de escolaridade que circunda as iniciais séries do 1º grau, enfim trata-se de uma comunidade carente em todos os sentidos. A paróquia da Matriz de Viamão encontra-se em uma área nobre da cidade, um dos centros históricos de maior expressão da região metropolitana, com uma população de alto poder aquisitivo, atendida na maior parte de suas necessidades de estrutura físico-social como saneamento, rede de água e eletricidade, sistema bancário e de serviços públicos, etc.
Analisando o material de divulgação das festa religiosas em debate (Ver anexo 6), observamos alguns detalhes que devem ser aqui lembrados. O material de divulgação da festa da padroeira de Santa Isabel é bem mais simples, não contendo lista de empresários colaboradores, se comparado ao material de divulgação da festa da Imaculada Conceição que traz uma lista extensa de apoios de empresários locais. Esta observação reforça a tese anteriormente exposta, no que diz respeito ao nível de popularidade dos dois eventos. O material da Santa Isabel representa ter um custo financeiro menor do que o produzido pela matriz de Viamão que possui um colorido mais rico e expressivo do que o anterior. Neste materiais é interessante destacar também que no chamamento da festa de Nossa Senhora da Imaculada Conceição a imagem central é a do templo religioso e não a da santa. Isto não acontece no material de chamamento para a festa de Santa Isabel que traz uma imagem com baixa qualidade gráfica de um busto da santa e não a do seu templo. A constatação direta para esta opção se dá pelo fato de que o templo da Conceição é um prédio histórico construído no século passado, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional, sendo por isso muito procurado e contemplado por pessoas que diariamente o visitam com objetivo de simples contemplação ou mesmo para fins de pesquisa e análise científica.   
Para concluir esta comparação analítica, não poderíamos de dar destaque para as origens culturais e étnicas fundadoras das duas igrejas que tem reflexo direto nas festividades por elas organizadas. Fica bem claro para nós a origem luso-brasileira na fundação da Igreja da Nossa Senhora da Imaculada Conceição, ligada aos traços dos primeiro colonizadores que aqui chegaram nos séculos passados. Já em 1549, quando D. João III, Rei de Portugal, determinou enviar ao Brasil o Governador-Geral Tomé de Sousa, e com este vieram o Padre Manuel da Nóbrega e os primeiros jesuítas, temos a nominação desta santa em um dos três navios de Tomé de Souza: o Salvador, Nossa Senhora da Ajuda e Nossa Senhora da Conceição. Foram essas as invocações das três primeiras igrejas edificadas na cidade do Salvador, onde Tomé de Souza fixou a sede do seu governo: São Salvador (que deu nome à capital); Nossa Senhora da Ajuda e Nossa Senhora da Conceição da Praia que ficava então nos arredores e hoje fica dentro da cidade. No caso das origens fundadoras da Igreja de Santa Isabel, percebemos que a influência que incide sobre a sua fundação remete para um outro período histórico bem mais recente, décadas de 40 e 50 do século XIX e que a descendência cultural e étnica também possuem uma outra matriz. Foram imigrantes europeus[10] oriundos da Itália, Alemanha e Suécia os primeiros fomentadores do projeto de se ter a comunidade religiosa reunida em torno de um templo católico. Diante da necessidade de se eleger a padroeira da localidade, sederam a alternativa trazida pelo pároco da época que era de origem sueca e propôs que se elegesse a Santa Isabel da Hungria[11], em função das suas características populares e assistenciais. Estes imigrantes viviam em uma realidade social bastante difícil, diante da necessidade de fundar de fato toda uma estrutura e um aparato de cidade que não possuíam, frente a uma série de carências econômicas optaram pela sugestão do pároco Guilherme Span, primeiro padre desta paróquia.
  




















CONCLUSÃO

Os sistemas simbólicos (alimentares, de vestuário, publicitários, religiosos, etc.) possuem processos dinâmicos de significação que lhe atribuem sentido, segundo o contexto social e cultural[12] em que estão inseridos. Esta é um eixo conclusivo deste trabalho que realizamos, segundo a orientação das teorias da cultura. Ou seja, as festas populares religiosas pesquisadas estão inseridas em um sistema simbólico de cunho religioso com processos próprios de significação construídos conforme o contexto social em que estão inseridas. A exemplo do que nos ensina Sahlins existe uma razão cultural em nossos hábitos alimentares, de vestimenta e de cunho religioso que define a nossa relação com os elementos inseridos dentro destes sistemas de significado. Alexandre Bergamo destaca um   pressuposto muito próximo deste que citei de Sahlins quando afirma: “O Sentido da moda está em que a roupa significa algo, e esse significado, além de diferir em função do grupo pesquisado e de sua posição no interior da estrutura social, imprime e direciona diferentes condutas para esses diversos grupos sociais.” (BERGAMO, 1998)
Ao propor o relacionamento  duas festas populares religiosas das padroeiras de Santa Isabel e de Viamão, não havíamos travado contato com o trabalho de Geertz – Os Usos da diversidade – mas até parece que já havíamos, pois na afirmativa “Imaginar diferenças continua sendo uma ciência da qual todos nós temos necessidade” (GEERTZ, 1999) está contida toda a nossa intenção e a nossa necessidade de refletir sobre as prováveis diferenças entre os dois contextos sociais aqui expostos. Para além das criações grotescas e desconexas com as realidades sociais devidas, esta necessidade de que fala Geertz está intimamente ligada a um pressuposto bachalardiano. Esta percepção do poder da imaginação é um tema essencialmente bachelardiano e, segundo o meu ponto de vista, deve ser assim encarado. Bachelard vai propor a fenomenologia da imaginação, conjugada com uma fenomenologia da imagem poética, destacando “a imagem vem antes do pensamento” (No sentido de uma arqueologia das imagens). Tomando a casa como exemplo, Bachelard mostra como a imaginação é capaz de sobrepujar as percepções do real: “Ao seu valor de proteção, que pode ser positivo, ligam-se também valores imaginados, e que logo se tornam dominantes.” (Bachelard, 1988)
A nossa hipótese inicial de trabalho, no que concerne as diferenças sociais entre as duas comunidades estudadas, se confirmam no encerramento desta monografia. Através da análise dos festejos populares em destaque, percebemos que as diferenças na ocupação do território, bem como a distinta formação étnica e social das áreas avaliadas se refletem hoje na organização das comunidades religiosas e nas dinâmicas populares e sociais de um modo geral presentes nestas localidades. Percebemos, portanto que “o significado é socialmente construído”  (GEERTZ, 1999), segundo a  realidade e o contexto social em que estão inseridos. Os esquemas de significação social referentes a Santa Isabel diferem dos esquemas de significação social do restante de Viamão devido aos diferentes contextos histórico-sociais que estas comunidades se fundaram e se construíram. Os dados históricos e etnográficos demonstraram que a “diferença imaginada” por este pesquisador, segundo os resultados deste trabalho, foi verificada nos dados colhidos em campo. Para finalizar esta conclusão, gostaria de destacar a importância que a antropologia tem neste trabalho de relação com as diferenças sociais, diante da sua proposta de sempre relativizar os nossos pré-conceitos no processo de construção e de investigação dos nossos objetos de estudo. Dentro da área antropológica, a etnografia merece ser lembrada, a exemplo do que Geertz avalia sobre os usos da etnografia: “Ela é a grande inimiga do etnocentrismo, do confinamento de pessoas em planetas culturais onde as únicas idéias que precisam invocar são ‘aquelas em torno daqui’, não porque assuma que as pessoas são todas iguais, mas porque sabe quanto elas não o são e como são incapazes, ainda assim, de se desconsiderarem mutuamente. Mesmo que um dia tenha sido possível e mesmo que hoje provoque saudades, a soberania do familiar empobrece a todos; (...) A Etnografia, ou uma delas em todo caso, é sem dúvida fornecer, como fazem a história e as artes, narrativas e cenários para refocalizar a nossa atenção.” (GEERTZ, 1999)









BIBLIOGRAFIA


1.     BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

2.     BERGAMO, Alexandre. “O Campo da Moda”. Revista de Antropologia, vol. 41, No. 2, 1998.

3.     COELHO, Marcos de Amorim. Geografia do Brasil. São Paulo: Ed. Moderna, 1990.

4.     GANDIM, Jairo. História da Paróquia da Santa Isabel. Mimeo. Viamão: 29 de abril de 1997.

5.     GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Zahar Ed. , 1978.

6.     ---------------------. “Os Usos da Diversidade”. Porto Alegre: Ed. Da UFRGS. Horizontes Antropológicos, No. 10, 1999, p. 13-34

7.     MACEDO, Francisco Riopardense de. Porto Alegre: origem e crescimento. Porto Alegre: Ed. Sulina, 1968.

8.     OLIVEN, Ruben George. “Nação e Tradição na Virada do Milênio.” In. A Parte e o Todo: a diversidade cultural no Brasil-Nação. Porto Alegre, Vozes, 1992, p.13

9.     ORTIZ, Renato. “Modernidade-Mundo e identidades.” In: Um Outro Território. Ensaios sobre a Mundialização. São Paulo. Olho D’Água, s/d. p. 67-89

10.      -------------------. “Uma Cultura Internacional-Popular”. In. Um Outro Território. Ensaios sobre a mundialização. São Paulo: Olho d’água, s/d, p. 67-89.

11.      SAHLINS, Marshall. “La Pensée Bourgeoise.” In. Cultura e Razão Prática. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.

12.      SANTOS, Armando Alexandre dos. O Brasil sob o manto da Imaculada. São Paulo: Ed. Artpress, 1996.

13.      VELHO, Gilberto. O Desafio da Cidade. Novas Perspectivas da Antropologia Brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1980.





































ANEXOS

As imagens que compõe os anexos estão disponíveis no Site 
http://www.panoramio.com/user/5198529





[1] Lévi-Strauss, Aula Inaugural  citado por ZALUAR, 1955 em Desvendando Máscaras Sociais.
[2] “Virgem bendita, que pela vossa Conceição anunciaste o próximo despontar do Divino Sol, sêde, nós vos rogamos, a luz do nosso espírito, alegria do nosso coração, a nossa defesa nos perigos, sustento nas tentações, auxílio naquelas virtudes que vos tornaram tão admirável aqui na terra e tão gloriosa no céu.”  Oração à Imaculada Conceição
[3] Reminiscências da Campanha do Paraguai, Editora da Biblioteca do Exército, Rio de Janeiro, 1980, p.155.
[4] Grifo do historiador citado.
[5] Campos de Viamão: nome genérico utilizado na época para referir toda a área que conhecemos hoje no entorno da Cidade de Viamão (Palmares do Sul, Águas Claras, Tavares, Itapuã e alguns municípios da Grande Porto Alegre como Alvorada, Gravatai, Cachoeirinha, ...)

[6] Onde atualmente se encontra o Distrito de Águas Claras / Município de Viamão.
[7] Expressão usada na primeira referencia registrada em documento sobre a povoação que se formava no então Porto de Viamão, a qual se desenvolvia rapidamente para os padrões da época.
[8] Investigações arqueológicas do Museu Joaquim José Felizardo em parceria com o Núcleo de História da UFRGS, apontam para a confirmação desta hipótese.
[9] Oficialmente a primeira missa da paróquia foi rezada no dia 3 de abril de 1960 às 10 horas pelo padre Guilherme Sponn da Congregação dos Oblatos de São Francisco de Sales.
[10] Marcos de Amorim Coelho em Geografia do Brasil demonstra graficamente que a imigração para o Brasil foi bastante expressiva entre os anos de 50 a 55.
[11] Segundo relatos dos padres existe mais de uma Santa Isabel na Igreja Católica, portanto eles reafirmam Santa Isabel da Hungria.
[12] Trabalhamos com o conceito de cultura conforme ORTIZ em Um Outro Território.

Nenhum comentário: