quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A CONDIÇÃO PÓS-MODERNA




UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
Disciplina: Sociologia Contemporânea II
Semestre: 1997/II
Professor: Luciano Fedozzi












-    A  CONDIÇÃO  PÓS-MODERNA : UMA PESQUISA SOBRE AS ORIGENS DA MUDANÇA CULTURAL   -   DAVID  HARVEY    -













Aluno: JAQUES XAVIER JACOMINI
Matrícula: 1409/92.7






HARVEY, David. A Condição Pós-Moderna - uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: Ed. Loyola, 1993.


PANORAMA GERAL DO LIVRO


A obra de Harvey que nos ocupamos neste momento é, sobre o meu ponto de vista, um trabalho instigante e muito interessante sobre uma das temáticas mais discutidas e analisadas nas ciências sociais contemporâneas, a pós-modernidade. O livro, no seu todo, traz um texto rico de conceituações, discussões e pressupostos colocados dentro deste campo de debate, modernidade X pós-modernidade. Além do texto, propriamente dito, encontramos ainda nesta obra uma série de recursos iconográficos, (gravuras, fotos, imagens de algumas obras de arte, ...), de tabelas, esquemas e de gráficos ilustrativos que tornam o seu conteúdo ainda mais interessante e esclarecedor. Portanto, em resumo, trata-se de uma publicação da mais alta relevância para todos os intelectuais e pesquisadores interessados em empenhar este debate, moderno X pós-moderno, tão presente e tão necessário no meio acadêmico e científico.
O livro está dividido em 4 partes, mais uma introdução que o autor chama de “a tese”, um prefácio e a parte dos agradecimentos. Para este fichamento, nos determos somente sobre a parte 4a. - A Condição Pós-Moderna - pois seguimos a orientação do professor da cadeira neste sentido.
Um aspecto que chama a atenção do leitor no livro, no que concerne a sua estrutura, é a forma pontual como aborda os temas que propõe discutir. Nesta parte 4, por exemplo, temos 9 pontos (ou tópicos) que abordam diversas questões que estão colocadas no seio da discussão moderno X pós-moderno, desenvolvidos de uma forma pontual, sintética e divididos entre si dentro do corpo geral do livro.





19

A Pós-Modernidade como condição histórica


Este ponto do texto vai discutir  “As práticas estéticas e culturais têm particular suscetibilidade à experiência cambiante do espaço e do tempo exatamente por envolverem a construção de representações e artefatos espaciais a partir do fluxo da experiência humana.  Elas sempre servem de intermediário entre o Ser e o Vir-a-Ser”. (pag. 293)
Surge, dentro desta perspectiva de uma abordagem espacial e temporal, a abordagem da estética como um elemento constituinte da pós-modernidade. Neste sentido, o autor afirma:  “É possível escrever a geografia histórica da experiência do espaço e do tempo na vida social, assim como compreender as transformações por que ambos têm passado, tendo por referência condições sociais e materiais. (...)   Aí, as dimensões do espaço e do tempo têm sido sujeitas à persistente pressão da circulação e da acumulação do capital, culminando (em especial durante as crises periódicas de superacumulação que passaram a surgir a partir da metade do século passado) em surtos desconcertantes e destruidores de compressão do tempo-espaço.
As respostas estéticas a condições de compressão do tempo-espaço são importantes, e assim têm sido desde que a separação, ocorrida no século XVIII, entre conhecimento científico e julgamento moral criou para elas um papel distintivo. 










20

Economia com espelhos


Para empenhar uma discussão sobre o que chama de “o triunfo da estética sobre a ética” e sobre “a construção de imagem na política”, Harvey toma uma situação social-econômica e política  no contexto histórico recente dos E. U. A . .
“Economia vodu” e “Economia de espelhos” são metáforas que o autor utiliza para realizar uma crítica sobre as situações sócio - econômicas que envolvem a eleição de Ronald Reagan, “um ex-ator de cinema”, e a política desencadeada por esta eleição que Harvey denomina de “política mediatizada moldada apenas por imagens.” (pag. 295)
O autor coloca algumas conseqüências econômicas e sociais sobre esta situação política que destaca no cenário dos E. U. A .:
“Uma maré montante de desigualdade social engolfou os Estados Unidos nos anos Reagan, alcançando em 1986 o ponto mais alto do período de pós-guerra; na época os 5 % mais pobres da população, que tinham melhorado gradualmente sua parcela da renda nacional para uma proporção de quase 7% no início dos anos 70, viram-se com somente 4,6%.  Entre 1979 e 1986, o número de famílias pobres com filhos aumentou 35 % e, em algumas grandes áreas metropolitanas, como Nova Iorque, Chicago, Baltimore e Nova Orleans, mais da metade das crianças vivia em famílias com renda abaixo da linha de pobreza. (...)
Um aumento do número de pessoas sem moradia marcou um estado geral de deslocamento social caracterizado por confrontos. Os doentes mentais foram devolvidos aos cuidados. de suas  comunidades, (...)” (pag. 296)
Harvey continua discutindo este panorama socio-econômico norte-americano, salientado as suas mazelas e introduzindo as idéias do que denomina de uma “economia de cassino”, e de uma nova cultura yuppie, com seus atavios de pequena nobreza , estreita atenção ao capital simbólico, à moda e ao design e de qualidade de vida urbana”. (pag. 300)
Para clarear mais ainda as suas posições, o autor traz gráficos que remontam alguns aspectos econômicos que está discutindo, bem como relatos de pessoas que tiveram suas vidas permeadas por estas mazelas sociais que coloca como fruto de uma ordem política e social implantada pelo governo norte-americano da época:

“Tenho 37 anos.  Pareço ter 52.  Algumas pessoas dizem que a vida nas ruas é livre e fácil... Ela não é livre nem fácil.  Não se recebe dinheiro nenhum.  O pagamento é a sua saúde e a sua estabilidade mental.”

“O nome do meu país é apatia.  Minha terra está coberta de vergonha.  O meu olhar vê as hordas sem teto passando pela chama túrgida do serviço de bem-estar social.  Ele procura quartos e calor, alguns cabides em lugar protegido, uma gaveta; um lugar quente para tomar sopa - para isso serve a liberdade.”

Este ponto é finalizado com o autor falando de  “um mundo abarrotado de ilusão, de fantasia e de fingimento”.


















21

O Pós-Modernismo como o espelho dos espelhos


Este ponto do texto é bastante breve e inicia com a afirmação do autor de que  “Uma das condições principais da pós-modernidade é o fato de ninguém poder ou dever discutí-la como condição histórico-geográfica.” Isto é dito para introduzir uma discussão dicotômica posterior onde entra no debate a economia e a cultura.
O autor vai afirmar que “o pós-modernismo surgiu em meio a este clima de economia vodu, de construção e exibição de imagens políticas e de uma nova formação de classe social” (pag. 301), mapeando o que considera como os primórdios do pós-modernismo. Considera ainda o fenômeno já citado anteriormente: “ (...) a passagem da ética para a estética como sistema de valores dominante”.


















22

Modernismo fordista versus pós-modemismo flexível, ou a
interpretação de tendências opostas no capitalismo como um todo.


Este ponto é marcado por uma tabela (pag. 304) onde o autor coloca aspectos característicos de dois momentos históricos distintos, “o modernismo fordista” e o pós-modernismo flexível”. Chama a atenção para o fato de que realizou esta tarefa utilizando uma técnica muito em voga na pós-modernidade, “a colagem.” Trata-se de uma análise comparativa realizada com base em pressupostos trabalhados por outros autores.
Referindo a tabela, Harvey afirma que  “Ela ajuda a explicar como O Capital de Marx é tão rico em percepções daquilo que constitui o foco do pensamento atual. Ela também auxilia a compreensão das razoes por que as forças culturais que atuavam, por exemplo, na Viena fin-de-siècle constituíram uma mistura tão complexa que é quase impossível dizer onde começa ou termina o impulso modernista.  Com a sua ajuda, podemos dissolver as categorias do modernismo e do pós-modernismo num complexo de oposições que exprime as contradições culturais do capitalismo.” (Pag. 305)
 Para maiores detalhes, vide-tabela.










 



23

A  lógica transformativa e especulativa do capital.


Com a afirmação de que “O capital é um processo, e não uma coisa”, o autor inicia mais este tópico do texto, com o objetivo de empenhar uma discussão sobre cultura e capital (ou capitalismo).
Após algumas explicitações sobre o capitalismo, o autor afirma: “Costuma-se considerar a vida cultural um plano  exterior a esta lógica capital. (...)  Considero este argumento errôneo em dois sentidos (...).” (pag. 307)
Em resposta a esta discussão, destacaria o trecho em ele afirma: “Precisamente porque o capitalismo é excursionista e imperialista, a vida cultural , num número cada vez maior de  áreas, vai ficando ao alcance do nexo do dinheiro e da lógica de circulação do capital.”
(pag. 308)
Harvey chama Bourdieu para este debate, dizendo: “É esse o ponto em que podemos voltar a invocar a tese de Bourdieu (...) segundo a qual cada um de nós possui poderes de improvisaçao regulada, moldada pela experiência, que nos permite ter 'uma capacidade interminável de engendrar produtos - pensamentos, percepções, expressões, ações - cujos limites são fixados pelas condições historicamente situadas' de sua   produção; (...) E, sugere Bourdieu, por meio de mecanismos desse tipo que toda ordem estabelecida tende  a produzir ‘a naturalização de sua própria arbitrariedade’, expressa no 'sentido de limites' e no ‘sentido de realidade, que formam por sua vez, a base de uma 'adesão inerradicável à ordem estabelecida' (...)” (pag. 308)







24

A obra de arte na era da reprodução eletrônica e dos bancos de imagens.


A temática da “produção cultural” e da “formação de juízos estéticos” no contexto da pós-modernidade é o eixo central de análise deste ponto do texto.
Para iniciar a discussão, Harvey cita Benjamin lembrando : “Em princípio, uma obra de arte sempre foi reprodutível”, mas lembra que “a reprodução mecânica 'representa uma coisa nova'”. Neste sentido, o autor coloca que “os avanços nas tecnologias da reprodução eletrônica e da capacidade de armazenar imagens acentuaram consideravelmente as previsões de Benjamim” (pag. 311), ou seja o nível tecnológico atual permitiu uma aceleração extremamente grande da reprodução, armazenamento, recuperação e emissão de obras de arte, de textos, documentos, imagens enfim de tudo o que é produzido nos meios ópticos e eletrônicos.
O trecho a seguir explana o cerne da questão discutida neste tópico do texto: “O que de fato está em jogo aqui, contudo, é uma análise da produção cultural e da formação de juízos estéticos mediante um sistema organizado de produção e de consumo mediado por divisões do trabalho, exercícios promocionais e arranjos de marketing sofisticados.  E, em nossos dias, o sistema inteiro é dominado pela circulação do capital (com freqüência multinacional).” (pag. 311)
Dentro de todo este debate proposto até aqui, Harvey propõe a análise de “duas questões importantes que se destacam pela sua relevância direta para a compreensão da condição da pós-modernidade como um todo.”
Para desenvolver a primeira questão, o autor chama Benjamim novamente para o debate, fala de “capital simbólico”, esclarecendo: “Em primeiro lugar as relações de classe vigentes nesse sistema de produção e de consumo são  de um tipo peculiar.  Sobressai aqui antes o puro poder do dinheiro como meio de domínio do que o controle direto dos meios de produção e do trabalho assalariado no sentido clássico.  Um efeito colateral tem sido reavivar o interesse teórico pela natureza do poder do dinheiro (em oposição ao de classe) e pelas assimetrias passíveis de daí advirem (cf. o extraordinário tratado de Símmel sobre The philosophy of money).” (Pag. 312)
Para exemplificar, cita o caso das “Estrelas da Mídia”:  “As estrelas da mídia, por exemplo, podem receber altos salários, mas ser espantosamente exploradas pelos seus agentes, gravadoras, magnatas da mídia etc.  Tal sistema de relações monetárias assimétricas vincula-se à necessidade de mobilizar a criatividade cultural e a inventividade estética não somente na produção de um artefato cultural, mas também em sua promoção, embalagem e transformação em algum tipo de espetáculo de sucesso.  Mas o poder monetário assimétrico não promove necessariamente a consciência de classe.  Ele leva a exigências de liberdade individual e de livre iniciativa. (...)” (pag. 312)
Para desenvolver a segunda questão, o autor renova o debate com Benjamim, afirmando:  “Em segundo lugar, o desenvolvimento de uma produção e de um markenting culturais numa escala  global também foi um agente primordial de compressão do tempo-espaço, em parte porque projetou um musée imaginaire, um clube de jazz ou uma sala de concerto na sala de estar de todos, mas também por várias outras razões que Benjamin considerou:

“As nossas tavernas e as nossas ruas metropolitanas, os nossos escritórios e salas mobiliadas, as nossas estações ferroviárias e as nossas fábricas pareciam ter nos aprisionado irremediavelmente.  Surgiu então o filme e explodiu esse mundo-prisão com a dinamite de um milésimo de segundo, de modo que agora, em meio às suas ruínas e detritos espalhados, seguimos calma e audaciosamente.  Com o close-up, o espaço se expande; com a câmara lenta, o movimento é estendido... Evidentemente, abre-se para a câmera uma natureza distinta da que se abre para o olho nu - no mínimo porque um espaço inconscientemente penetrado é substituído por um espaço conscientemente explorado (Benjamin, 1969, 236)” .  (pag. 313)





25

Respostas à compressão do tempo-espaço


Neste tópico a discussão central é a “compressão do espaço-tempo” e as suas várias respostas. O autor vai trabalhar com 4 linhas:
“ A primeira  linha de defesa é a fuga para um tipo de silencio exaurido, blasé ou encoraçado  e inclinar-se diante do sentido avassalador de quão vasto, intratável e fora do controle individual ou mesmo coletivo tudo é. A informação excessiva, afirma-se, é uma das melhores induções ao esquecimento. (...)
Dentro deste campo de análise, o autor aborda a questão do “desconstrucionismo”, afirmando que  o desconstrucionismo terminou, apesar das melhores intenções dos seus praticantes mais radicais, por reduzir o conhecimento e o significado a um monte desordenado de significantes . Assim fazendo, produziu uma condição de niilismo que preparou o terreno para o ressurgimento de uma política carismática e de proposições ainda mais simplistas do que as que tinham sido desconstruídas.” (pag. 315)
“A segunda   eqüivale a uma negação voluntariosa da complexidade do mundo, e a uma inclinação a representar essa complexidade em termos de proposições retóricas com alto grau de simplificação.  São abundantes os slogans, da direita até a esquerda do espectro político, sendo apresentadas imagens sem profundidade para captar sentidos complexos.  Supõe-se que as viagens, mesmo imaginárias e vicárias, ampliam a mente, mas, com a mesma freqüência, elas terminam por confirmar preconceitos.” (pag. 315)
“A terceira resposta tem sido encontrar um nicho intermediário para a vida intelectual e política que recusa a grande narrativa, mas nem por isso deixa de cultivar a possibilidade de uma ação limitada.  Trata-se do ângulo progressista do pos-modernismo, que acentua a comunidade e a localidade, as resistências locais e regionais, os movimentos sociais, o respeito pela alteridade etc. Trata-se de uma tentativa de extrair ao menos um mundo apreensível da infinidade de mundos possíveis que nos são  mostrados diariamente na tela da televisão. (...)”
“A quarta resposta tem sido tentar montar no tigre da compressão do tempo-espaço mediante a construção de uma linguagem e de imagens capazes de espelhá-la e, quem sabe, dominá-la.  Eu ponho os escritos frenéticos de Baudrillard e Vírilio nessa  categoria, porque eles parecem diabolicamente  inclinados a fundir-se com a
compressão do tempo-espaço e a reproduzi-la em sua  própria retórica  extravagante. Já vimos esse tipo de resposta antes, mais especificamente nas extraordinárias evocações feitas por Níetzsche em A Vontade de Poder. (...)



























26

A crise do materialismo histórico


Retomando um pouco a discussão  anterior, neste tópico o autor a firma que “o estranho é quão radicais algumas dessas respostas deram a impressão de ser e quão difícil foi para a esquerda, em  oposição à direita, lidar com elas.”
 A partir de então, ele passa a analisar as percepções existentes na “direita tradicionalista” e na “nova esquerda”:
“Da perspectiva da direita tradicionalista, os excessos dos anos 60 e a violência de 1968 pareciam subversivos ao extremo.  Talvez por isso a descrição de Daniel Bell em The cultural contradictions of capitalism, embora partindo inteiramente de um ponto de vista direitista que visava à restauração do respeito pela autoridade, tenha sido mais precisa que muitas tentativas esquerdistas de perceber o que estava acontecendo.  Outros autores, como Toffler e até McLuhan. viram a significação da compressão do tempo-espaço e das confusões por ela geradas de modo que a esquerda não podia ver, justamente por estar tão profundamente envolvida em criar a confusão. (...)”
“A nova esquerda preocupava-se com uma luta para libertar-se das algemas duais   da política da velha esquerda, particularmente em sua representação por partidos comunistas tradicionais e pelo marxismo 'ortodoxo', e dos poderes repressivos do capital corporativo e das instituições burocratizadas (o Estado, as universidades, os sindicatos etc.). Ela via a si mesma, desde o começo, como uma força cultural e político-econômica, tendo ajudado a produzir a virada para a estética que o pós-modernismo representava. (...)” (pag. 319)
Neste mesmo sentido, o autor coloca que “a nova esquerda tendia a abandonar a sua fé tanto no proletariado como instrumento de mudança progressista como no materialismo histórico enquanto modo de análise.  André Gorz deu adeus à classe operária e Aronowitz anunciou a crise do materialismo histórico. Assim, a nova esquerda perdeu sua capacidade de ter uma perspectiva crítica sobre si mesma e sobre  os processos sociais de transformação que estiveram na base da emergência de modos pós-modernos de pensamento.
Na continuação, o autor segue na sua crítica aos autores citados e as suas propostas desconstrutivistas do materialismo histórico, dizendo:
“Insistindo que eram a cultura e a política que importavam, e que não era razoável nem adequado invocar a determinação econômica mesmo em última instância (para não falar de invocar teorias da circulação e da acumulação do capital ou de relações de classe necessárias na produção), ela foi incapaz de conter  sua própria queda em posições ideológicas que  eram fracas no confronto com a força recém-encontrada dos neo-conservadores, e que a forçavam a competir no mesmo terreno da produção de imagens, da estética e do poder ideológico quando os meios de comunicação estavam nas mãos dos seus oponentes.” (pag. 320)






















27

Rachaduras nos espelhos, fusões nas extremidades


Este tópico inicia com uma pequena provocação analítica, com a frase “Sentimos que o pós-modernismo acabou”, que vai reintroduzir a discussão do “desconstrutivismo” no cenário da pós-modernidade. A partir de então, o autor retoma uma perspectiva analítica que já havia traçado sobre situações conjunturais econômicas e sociais da sociedade norte-americana, a fim de introduzir um debate sobre o que P. Lévy (1996)[1] chamaria de virtualização das sociedades contemporâneas, ou seja “a influencia do capital fictício” e as operações econômicas realizadas via on-line, através das redes informatizadas que atuam no hiperespaço (eu prefiro cyberespaço). Destacaria alguns trechos:
“ Fortunas feitas da noite para o dia pelos jovens, agressivos e implacáveis operadores no, hipe     respaço das operações financeiras instantâneas se perderam com muito maior, velocidade do que foram adquiridas. A economia da cidade de Nova Iorque e de outros      importantes centros financeiros foi ameaçada pela rápida queda do volume negociado.  Mas o resto do mundo permaneceu estranhamente imóvel.  'Mundos diferentes', foi a manchete do Wall Street Journal, ao comparar a visão 'misteriosamente distante' de Main Street, EUA, com a de Wall Street.
Sobre esta questão dos “mundos diferentes”, lembro um pouco a atual crise das bolças que se observou a nível mundial como um contraponto interessante com esta situação levantada por Harvey, feita com base em aspectos econômicos e sociais do final da década de 80. Não proporia um debate, neste momento, mas fica a dúvida se hoje ainda poderíamos considerar a situação mundial, com base no caso das crises nas bolsas observadas em praticamente todo o globo, como “mundos diferentes”, sugerida pelo autor em questão.
“A influencia do capital fictício é ainda mais hegemônica; ele cria seu próprio mundo fantástico de riqueza e ativos nominais enormes. (...)”

O autor recoloca a metáfora das “rachaduras” para referir crises vivenciadas tanto no plano econômico, como do plano intelectual, onde vai falar de “rachaduras num edifício intelectual”.
Retomando a afirmativa do próprio título deste tópico (ou capítulo), - Rachaduras nos espelhos, fusões nas extremidades - , Harvey vai dizer que : “As rachaduras nos espelhos podem não ser muito grandes e as fusões nas extremidades podem não ser muito marcantes, mas o fato de todas elas existirem sugere que a condição da pós-modernidade passa por uma súbita evolução, talvez alcançando um ponto de autodissolução em alguma coisa diferente. Mas o quê ?” (Pag. 325)
Seguindo nesta perspectiva, o autor coloca a sua posição pessoal sobre o questionamento supra mencionado, afirmando que “não é possível dar resposta fazendo abstração das forcas político-econômicas que ora transformam o mundo do trabalho, das finanças, (...)”.  A partir de então vai tecendo algumas análises a nível mundial das tendências que considera como verdadeiras para os próximos anos, no campo social, político e econômico. Chama novamente W. Wenders para o debate, definindo-o como neo-romântico (fato que discordo, pois considero que o cineasta em questão se aproxima mais de uma “neo-arqueologia”, ou mesmo de uma antropologia pós-moderna do que de um “neo-romantismo” [2]) e reafirma sua tendência marcadamente marxista, fato que perpassa todo o texto, defendendo os pressupostos que encerram esta obra, dentro da idéia “de que nem tudo está perdido” (ou alguma coisa assim):
“Além disso, há uma renovação do materialismo histórico e do projeto do Iluminismo. Por meio do primeiro, podemos começar a compreender a pós-modernidade como condição histórico-geográfica. Com essa base crítica, torna-se possível lançar um contra-ataque da narrativa contra a imagem, da ética contra a estética (...). Uma renovação do materialismo histórico-geográfico pode na verdade promover a adesão a uma nova versão do Projeto do Iluminismo. (...)” (pag. 325)
A frase derradeira: “Há alguns que desejam que retomemos ao classicismo e outros que buscam que trilhemos o caminho dos modernos.  Do ponto de vista destes últimos, toda época tem julgada a realização da 'plenitude do seu tempo, não pelo ser, mas pelo vir-a-ser'. Minha concordância não poderia ser maior.” (pag. 326)






[1] Afirmação feita com base na leitura de LÉVY, Pierre. O Que é o Virtual. São Paulo: Ed. 34, 1996.
[2] Afirmação feita com base na leitura  WENDERS, Wim. A Paisagem Urbana (La Verité des Images). Paris, Lárche, 1992. In. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Um comentário:

Jacomini disse...

Atenção

Professor da urguês,
estou registrando uma grande quantidade de acessos nesta publicação.
Penso que a mesma tem sido usada
RECORTA E COLA
pela juventude tresloucada que não quer estudar e fica copiando conteúdo na internet.