UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO
DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO
DE CIÊNCIAS SOCIAIS
Disciplina:
Sociologia Contemporânea II
Semestre:
1997/II
Professor:
Luciano Fedozzi
-
A CONDIÇÃO PÓS-MODERNA : UMA PESQUISA SOBRE AS ORIGENS
DA MUDANÇA CULTURAL - DAVID
HARVEY -
Aluno:
JAQUES XAVIER JACOMINI
Matrícula:
1409/92.7
HARVEY, David. A Condição Pós-Moderna - uma pesquisa sobre as
origens da mudança cultural. São Paulo: Ed. Loyola, 1993.
PANORAMA GERAL DO LIVRO
A obra de Harvey que nos ocupamos neste momento é,
sobre o meu ponto de vista, um trabalho instigante e muito interessante sobre
uma das temáticas mais discutidas e analisadas nas ciências sociais
contemporâneas, a pós-modernidade. O livro, no seu todo, traz um texto rico de
conceituações, discussões e pressupostos colocados dentro deste campo de
debate, modernidade X pós-modernidade. Além do texto, propriamente dito,
encontramos ainda nesta obra uma série de recursos iconográficos, (gravuras,
fotos, imagens de algumas obras de arte, ...), de tabelas, esquemas e de
gráficos ilustrativos que tornam o seu conteúdo ainda mais interessante e
esclarecedor. Portanto, em resumo, trata-se de uma publicação da mais alta
relevância para todos os intelectuais e pesquisadores interessados em empenhar
este debate, moderno X pós-moderno, tão presente e tão necessário no meio
acadêmico e científico.
O livro está dividido em 4 partes, mais uma introdução
que o autor chama de “a tese”, um prefácio e a parte dos agradecimentos. Para
este fichamento, nos determos somente sobre a parte 4a. - A Condição
Pós-Moderna - pois seguimos a orientação do professor da cadeira neste sentido.
Um aspecto que chama a atenção do leitor no livro, no
que concerne a sua estrutura, é a forma pontual como aborda os temas que propõe
discutir. Nesta parte 4, por exemplo, temos 9 pontos (ou tópicos) que abordam
diversas questões que estão colocadas no seio da discussão moderno X
pós-moderno, desenvolvidos de uma forma pontual, sintética e divididos entre si
dentro do corpo geral do livro.
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A Pós-Modernidade como condição histórica
Este ponto do texto vai
discutir “As práticas estéticas e
culturais têm particular suscetibilidade à experiência cambiante do espaço e do
tempo exatamente por envolverem a construção de representações e artefatos espaciais
a partir do fluxo da experiência humana.
Elas sempre servem de intermediário entre o Ser e o Vir-a-Ser”. (pag.
293)
Surge, dentro desta perspectiva de
uma abordagem espacial e temporal, a abordagem da estética como um elemento
constituinte da pós-modernidade. Neste sentido, o autor afirma: “É possível escrever a geografia histórica da
experiência do espaço e do tempo na vida social, assim como compreender as
transformações por que ambos têm passado, tendo por referência condições
sociais e materiais. (...) Aí, as
dimensões do espaço e do tempo têm sido sujeitas à persistente pressão da
circulação e da acumulação do capital, culminando (em especial durante as crises
periódicas de superacumulação que passaram a surgir a partir da metade do século
passado) em surtos desconcertantes e destruidores de compressão do
tempo-espaço.
As respostas estéticas a condições
de compressão do tempo-espaço são importantes, e assim têm sido desde que a
separação, ocorrida no século XVIII, entre conhecimento científico e julgamento
moral criou para elas um papel distintivo.
20
Economia
com espelhos
Para empenhar uma discussão sobre o
que chama de “o triunfo da estética sobre a ética” e sobre “a construção de
imagem na política”, Harvey toma uma situação social-econômica e política no contexto histórico recente dos E. U. A . .
“Economia vodu” e “Economia de
espelhos” são metáforas que o autor utiliza para realizar uma crítica sobre as
situações sócio - econômicas que envolvem a eleição de Ronald Reagan, “um
ex-ator de cinema”, e a política desencadeada por esta eleição que Harvey
denomina de “política mediatizada moldada apenas por imagens.” (pag. 295)
O autor coloca algumas conseqüências econômicas e
sociais sobre esta situação política que destaca no cenário dos E. U. A .:
“Uma maré montante de desigualdade social engolfou os
Estados Unidos nos anos Reagan, alcançando em 1986 o ponto mais alto do período
de pós-guerra; na época os 5 % mais pobres da população, que tinham melhorado
gradualmente sua parcela da renda nacional para uma proporção de quase 7% no
início dos anos 70, viram-se com somente 4,6%.
Entre 1979 e 1986, o número de famílias pobres com filhos aumentou 35 %
e, em algumas grandes áreas metropolitanas, como Nova Iorque, Chicago,
Baltimore e Nova Orleans, mais da metade das crianças vivia em famílias com
renda abaixo da linha de pobreza. (...)
Um aumento do número de pessoas sem
moradia marcou um estado geral de deslocamento social caracterizado por
confrontos. Os doentes mentais foram devolvidos aos cuidados. de suas comunidades, (...)” (pag. 296)
Harvey continua discutindo este
panorama socio-econômico norte-americano, salientado as suas mazelas e
introduzindo as idéias do que denomina de uma “economia de cassino”, e de uma
nova cultura yuppie, com seus atavios de pequena nobreza , estreita atenção ao
capital simbólico, à moda e ao design e
de qualidade de vida urbana”. (pag. 300)
Para clarear mais ainda as suas
posições, o autor traz gráficos que remontam alguns aspectos econômicos que
está discutindo, bem como relatos de pessoas que tiveram suas vidas permeadas
por estas mazelas sociais que coloca como fruto de uma ordem política e social
implantada pelo governo norte-americano da época:
“Tenho 37 anos. Pareço ter
52. Algumas pessoas dizem que a vida nas
ruas é livre e fácil... Ela não é livre nem fácil. Não se recebe dinheiro nenhum. O pagamento é a sua saúde e a sua
estabilidade mental.”
“O nome do meu país é apatia.
Minha terra está coberta de vergonha.
O meu olhar vê as hordas sem teto passando pela chama túrgida do serviço
de bem-estar social. Ele procura quartos
e calor, alguns cabides em lugar protegido, uma gaveta; um lugar quente para
tomar sopa - para isso serve a liberdade.”
Este ponto é finalizado com o autor
falando de “um mundo abarrotado de
ilusão, de fantasia e de fingimento”.
21
O
Pós-Modernismo como o espelho dos espelhos
Este ponto do texto é bastante
breve e inicia com a afirmação do autor de que
“Uma das condições principais da pós-modernidade é o fato de ninguém
poder ou dever discutí-la como condição histórico-geográfica.” Isto é dito para
introduzir uma discussão dicotômica posterior onde entra no debate a economia e
a cultura.
O autor vai afirmar que “o
pós-modernismo surgiu em meio a este clima de economia vodu, de construção e
exibição de imagens políticas e de uma nova formação de classe social” (pag.
301), mapeando o que considera como os primórdios do pós-modernismo. Considera
ainda o fenômeno já citado anteriormente: “ (...) a passagem da ética para a
estética como sistema de valores dominante”.
22
Modernismo
fordista versus pós-modemismo
flexível, ou a
interpretação
de tendências opostas no capitalismo como um todo.
Este ponto é marcado por uma tabela
(pag. 304) onde o autor coloca aspectos característicos de dois momentos
históricos distintos, “o modernismo fordista” e o pós-modernismo flexível”.
Chama a atenção para o fato de que realizou esta tarefa utilizando uma técnica
muito em voga na pós-modernidade, “a colagem.” Trata-se de uma análise
comparativa realizada com base em pressupostos trabalhados por outros autores.
Referindo a tabela, Harvey afirma que “Ela ajuda a explicar como O Capital de Marx é tão rico em percepções
daquilo que constitui o foco do pensamento atual. Ela também auxilia a
compreensão das razoes por que as forças culturais que atuavam, por exemplo, na
Viena fin-de-siècle constituíram uma
mistura tão complexa que é quase impossível dizer onde começa ou termina o
impulso modernista. Com a sua ajuda,
podemos dissolver as categorias do modernismo e do pós-modernismo num complexo
de oposições que exprime as contradições culturais do capitalismo.” (Pag. 305)
Para maiores
detalhes, vide-tabela.
23
A lógica
transformativa e especulativa do capital.
Com a afirmação de que “O capital é
um processo, e não uma coisa”, o autor inicia mais este tópico do texto, com o
objetivo de empenhar uma discussão sobre cultura e capital (ou capitalismo).
Após algumas explicitações
sobre o capitalismo, o autor afirma: “Costuma-se considerar a vida cultural um
plano exterior a esta lógica capital.
(...) Considero este argumento errôneo em dois sentidos (...).” (pag.
307)
Em resposta a esta discussão,
destacaria o trecho em ele afirma: “Precisamente porque o capitalismo é excursionista
e imperialista, a vida cultural , num número cada vez maior de áreas, vai ficando ao alcance do nexo do
dinheiro e da lógica de circulação do capital.”
(pag. 308)
Harvey chama Bourdieu para este
debate, dizendo: “É esse o ponto em que podemos voltar a invocar a tese de
Bourdieu (...) segundo a qual cada um de nós possui poderes de improvisaçao
regulada, moldada pela experiência, que nos permite ter 'uma capacidade
interminável de engendrar produtos - pensamentos, percepções, expressões, ações
- cujos limites são fixados pelas condições historicamente situadas' de
sua produção; (...) E, sugere Bourdieu,
por meio de mecanismos desse tipo que toda ordem estabelecida tende a produzir ‘a naturalização de sua própria
arbitrariedade’, expressa no 'sentido de limites' e no ‘sentido de realidade,
que formam por sua vez, a base de uma 'adesão inerradicável à ordem
estabelecida' (...)” (pag. 308)
24
A obra de arte na era da reprodução eletrônica e dos
bancos de imagens.
A temática da “produção cultural” e
da “formação de juízos estéticos” no contexto da pós-modernidade é o eixo
central de análise deste ponto do texto.
Para iniciar a discussão, Harvey
cita Benjamin lembrando : “Em princípio, uma obra de arte sempre foi
reprodutível”, mas lembra que “a reprodução mecânica 'representa uma coisa
nova'”. Neste sentido, o autor coloca que “os avanços nas tecnologias da reprodução
eletrônica e da capacidade de armazenar imagens acentuaram consideravelmente as
previsões de Benjamim” (pag. 311), ou seja o nível tecnológico atual permitiu
uma aceleração extremamente grande da reprodução, armazenamento, recuperação e emissão
de obras de arte, de textos, documentos, imagens enfim de tudo o que é
produzido nos meios ópticos e eletrônicos.
O trecho a seguir explana o cerne
da questão discutida neste tópico do texto: “O que de fato está em jogo aqui,
contudo, é uma análise da produção cultural e da formação de juízos estéticos
mediante um sistema organizado de produção e de consumo mediado por divisões do
trabalho, exercícios promocionais e arranjos de marketing sofisticados. E, em nossos dias, o sistema inteiro é
dominado pela circulação do capital (com freqüência multinacional).” (pag. 311)
Dentro de todo este debate proposto
até aqui, Harvey propõe a análise de “duas questões importantes que se destacam
pela sua relevância direta para a compreensão da condição da pós-modernidade
como um todo.”
Para desenvolver a primeira questão,
o autor chama Benjamim novamente para o debate, fala de “capital simbólico”,
esclarecendo: “Em primeiro lugar as relações de classe vigentes nesse sistema
de produção e de consumo são de um tipo
peculiar. Sobressai aqui antes o puro
poder do dinheiro como meio de domínio do que o controle direto dos meios de
produção e do trabalho assalariado no sentido clássico. Um efeito colateral tem sido reavivar o
interesse teórico pela natureza do poder do dinheiro (em oposição ao de classe)
e pelas assimetrias passíveis de daí advirem (cf. o extraordinário tratado de
Símmel sobre The philosophy of money).”
(Pag. 312)
Para exemplificar, cita o caso das
“Estrelas da Mídia”: “As estrelas da mídia,
por exemplo, podem receber altos salários, mas ser espantosamente exploradas
pelos seus agentes, gravadoras, magnatas da mídia etc. Tal sistema de relações monetárias
assimétricas vincula-se à necessidade de mobilizar a criatividade cultural e a
inventividade estética não somente na produção de um artefato cultural, mas
também em sua promoção, embalagem e transformação em algum tipo de espetáculo
de sucesso. Mas o poder monetário assimétrico
não promove necessariamente a consciência de classe. Ele leva a exigências de liberdade individual
e de livre iniciativa. (...)” (pag. 312)
Para desenvolver a segunda questão,
o autor renova o debate com Benjamim, afirmando: “Em segundo lugar, o desenvolvimento de uma produção
e de um markenting culturais numa escala
global também foi um agente primordial de compressão do tempo-espaço, em
parte porque projetou um musée
imaginaire, um clube de jazz ou uma sala de concerto na sala de estar de
todos, mas também por várias outras razões que Benjamin considerou:
“As nossas
tavernas e as nossas ruas metropolitanas, os nossos escritórios e salas
mobiliadas, as nossas estações ferroviárias e as nossas fábricas pareciam ter
nos aprisionado irremediavelmente.
Surgiu então o filme e explodiu esse mundo-prisão com a dinamite de um
milésimo de segundo, de modo que agora, em meio às suas ruínas e detritos
espalhados, seguimos calma e audaciosamente.
Com o close-up, o espaço se expande; com a câmara lenta, o movimento é
estendido... Evidentemente, abre-se para a câmera uma natureza distinta da que
se abre para o olho nu - no mínimo porque um espaço inconscientemente penetrado
é substituído por um espaço conscientemente explorado (Benjamin, 1969, 236)”
. (pag. 313)
25
Respostas à
compressão do tempo-espaço
Neste tópico a discussão central é a “compressão do
espaço-tempo” e as suas várias respostas. O autor vai trabalhar com 4 linhas:
“ A primeira linha de defesa é a fuga para um tipo de
silencio exaurido, blasé ou
encoraçado e inclinar-se diante do
sentido avassalador de quão vasto, intratável e fora do controle individual ou
mesmo coletivo tudo é. A informação excessiva, afirma-se, é uma das melhores induções
ao esquecimento. (...)
Dentro deste campo de análise, o
autor aborda a questão do “desconstrucionismo”, afirmando que o desconstrucionismo terminou, apesar das
melhores intenções dos seus praticantes mais radicais, por reduzir o
conhecimento e o significado a um monte desordenado de significantes . Assim
fazendo, produziu uma condição de niilismo que preparou o terreno para o
ressurgimento de uma política carismática e de proposições ainda mais
simplistas do que as que tinham sido desconstruídas.” (pag. 315)
“A segunda eqüivale a uma negação voluntariosa da
complexidade do mundo, e a uma inclinação a representar essa complexidade em
termos de proposições retóricas com alto grau de simplificação. São abundantes os slogans, da direita até a
esquerda do espectro político, sendo apresentadas imagens sem profundidade para
captar sentidos complexos. Supõe-se que
as viagens, mesmo imaginárias e vicárias, ampliam a mente, mas, com a mesma
freqüência, elas terminam por confirmar preconceitos.” (pag. 315)
“A terceira resposta tem sido
encontrar um nicho intermediário para a vida intelectual e política que recusa
a grande narrativa, mas nem por isso deixa de cultivar a possibilidade de uma ação
limitada. Trata-se do ângulo
progressista do pos-modernismo, que acentua a comunidade e a localidade, as
resistências locais e regionais, os movimentos sociais, o respeito pela
alteridade etc. Trata-se de uma tentativa de extrair ao menos um mundo
apreensível da infinidade de mundos possíveis que nos são mostrados diariamente na tela da televisão.
(...)”
“A quarta resposta tem sido tentar montar no tigre da
compressão do tempo-espaço mediante a construção de uma linguagem e de imagens
capazes de espelhá-la e, quem sabe, dominá-la.
Eu ponho os escritos frenéticos de Baudrillard e Vírilio nessa categoria, porque eles parecem
diabolicamente inclinados a fundir-se
com a
compressão do tempo-espaço e a reproduzi-la em
sua própria retórica extravagante. Já vimos esse tipo de resposta
antes, mais especificamente nas extraordinárias evocações feitas por Níetzsche
em A Vontade de Poder. (...)
26
A crise do materialismo histórico
Retomando
um pouco a discussão anterior, neste
tópico o autor a firma que “o estranho é quão radicais algumas dessas respostas
deram a impressão de ser e quão difícil foi para a esquerda, em oposição à direita, lidar com elas.”
A partir de então, ele passa a analisar as percepções
existentes na “direita tradicionalista” e na “nova esquerda”:
“Da perspectiva da direita tradicionalista,
os excessos dos anos 60 e a violência de 1968 pareciam subversivos ao
extremo. Talvez por isso a descrição de
Daniel Bell em The cultural
contradictions of capitalism, embora partindo inteiramente de um ponto de
vista direitista que visava à restauração do respeito pela autoridade, tenha
sido mais precisa que muitas tentativas esquerdistas de perceber o que estava
acontecendo. Outros autores, como
Toffler e até McLuhan. viram a significação da compressão do tempo-espaço e das
confusões por ela geradas de modo que a esquerda não podia ver, justamente por
estar tão profundamente envolvida em criar a confusão. (...)”
“A nova esquerda preocupava-se com
uma luta para libertar-se das algemas duais
da política da velha esquerda, particularmente em sua representação por
partidos comunistas tradicionais e pelo marxismo 'ortodoxo', e dos poderes
repressivos do capital corporativo e das instituições burocratizadas (o Estado,
as universidades, os sindicatos etc.). Ela via a si mesma, desde o começo, como
uma força cultural e político-econômica, tendo ajudado a produzir a virada para
a estética que o pós-modernismo representava. (...)” (pag. 319)
Neste mesmo sentido, o autor coloca que “a nova
esquerda tendia a abandonar a sua fé tanto no proletariado como instrumento de
mudança progressista como no materialismo histórico enquanto modo de
análise. André Gorz deu adeus à classe
operária e Aronowitz anunciou a crise do materialismo histórico. Assim, a nova
esquerda perdeu sua capacidade de ter uma perspectiva crítica sobre si mesma e
sobre os processos sociais de
transformação que estiveram na base da emergência de modos pós-modernos de
pensamento.
Na continuação, o autor segue na sua crítica aos
autores citados e as suas propostas desconstrutivistas do materialismo
histórico, dizendo:
“Insistindo que eram a cultura e a política que
importavam, e que não era razoável nem adequado invocar a determinação
econômica mesmo em última instância (para não falar de invocar teorias da
circulação e da acumulação do capital ou de relações de classe necessárias na
produção), ela foi incapaz de conter sua
própria queda em posições ideológicas que
eram fracas no confronto com a força recém-encontrada dos
neo-conservadores, e que a forçavam a competir no mesmo terreno da produção de
imagens, da estética e do poder ideológico quando os meios de comunicação
estavam nas mãos dos seus oponentes.” (pag. 320)
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Rachaduras nos espelhos, fusões nas extremidades
Este tópico inicia com uma pequena provocação
analítica, com a frase “Sentimos que o pós-modernismo acabou”, que vai
reintroduzir a discussão do “desconstrutivismo” no cenário da pós-modernidade.
A partir de então, o autor retoma uma perspectiva analítica que já havia
traçado sobre situações conjunturais econômicas e sociais da sociedade
norte-americana, a fim de introduzir um debate sobre o que P. Lévy (1996)[1]
chamaria de virtualização das sociedades contemporâneas, ou seja “a influencia
do capital fictício” e as operações econômicas realizadas via on-line, através
das redes informatizadas que atuam no hiperespaço (eu prefiro cyberespaço).
Destacaria alguns trechos:
“ Fortunas feitas da noite para o
dia pelos jovens, agressivos e implacáveis operadores no, hipe respaço das operações financeiras
instantâneas se perderam com muito maior, velocidade
do que foram adquiridas. A economia da cidade de Nova Iorque e de outros importantes centros financeiros foi
ameaçada pela rápida queda do volume negociado.
Mas o resto do mundo permaneceu estranhamente imóvel. 'Mundos diferentes', foi a manchete do Wall Street Journal, ao comparar a visão
'misteriosamente distante' de Main Street, EUA, com a de Wall Street.
Sobre esta questão dos “mundos
diferentes”, lembro um pouco a atual crise das bolças que se observou a nível
mundial como um contraponto interessante com esta situação levantada por
Harvey, feita com base em aspectos econômicos e sociais do final da década de
80. Não proporia um debate, neste momento, mas fica a dúvida se hoje ainda
poderíamos considerar a situação mundial, com base no caso das crises nas
bolsas observadas em praticamente todo o globo, como “mundos diferentes”,
sugerida pelo autor em questão.
“A influencia do capital fictício é ainda mais hegemônica;
ele cria seu próprio mundo fantástico de riqueza e ativos nominais enormes.
(...)”
O autor recoloca a metáfora das “rachaduras” para
referir crises vivenciadas tanto no plano econômico, como do plano intelectual,
onde vai falar de “rachaduras num edifício intelectual”.
Retomando a afirmativa do próprio título deste tópico
(ou capítulo), - Rachaduras nos espelhos, fusões nas extremidades - , Harvey
vai dizer que : “As rachaduras nos espelhos podem não ser muito grandes e as fusões
nas extremidades podem não ser muito marcantes, mas o fato de todas elas
existirem sugere que a condição da pós-modernidade passa por uma súbita evolução,
talvez alcançando um ponto de autodissolução em alguma coisa diferente. Mas o
quê ?” (Pag. 325)
Seguindo nesta perspectiva, o autor coloca a sua posição
pessoal sobre o questionamento supra mencionado, afirmando que “não é possível
dar resposta fazendo abstração das forcas político-econômicas que ora
transformam o mundo do trabalho, das finanças, (...)”. A partir de então vai tecendo algumas
análises a nível mundial das tendências que considera como verdadeiras para os
próximos anos, no campo social, político e econômico. Chama novamente W.
Wenders para o debate, definindo-o como neo-romântico (fato que discordo, pois
considero que o cineasta em questão se aproxima mais de uma “neo-arqueologia”, ou
mesmo de uma antropologia pós-moderna do que de um “neo-romantismo” [2])
e reafirma sua tendência marcadamente marxista, fato que perpassa todo o texto,
defendendo os pressupostos que encerram esta obra, dentro da idéia “de que nem tudo
está perdido” (ou alguma coisa assim):
“Além disso, há uma renovação do materialismo
histórico e do projeto do Iluminismo. Por meio do primeiro, podemos começar a
compreender a pós-modernidade como condição histórico-geográfica. Com essa base
crítica, torna-se possível lançar um contra-ataque da narrativa contra a
imagem, da ética contra a estética (...). Uma renovação do materialismo
histórico-geográfico pode na verdade promover a adesão a uma nova versão do
Projeto do Iluminismo. (...)” (pag. 325)
A frase derradeira: “Há alguns que desejam que
retomemos ao classicismo e outros que buscam que trilhemos o caminho dos
modernos. Do ponto de vista destes
últimos, toda época tem julgada a realização da 'plenitude do seu tempo, não
pelo ser, mas pelo vir-a-ser'. Minha concordância não poderia ser maior.” (pag.
326)
Um comentário:
Atenção
Professor da urguês,
estou registrando uma grande quantidade de acessos nesta publicação.
Penso que a mesma tem sido usada
RECORTA E COLA
pela juventude tresloucada que não quer estudar e fica copiando conteúdo na internet.
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