UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO
DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO
DE CIÊNCIAS SOCIAIS
UM OLHAR
SOBRE A CIDADE
DE PORTO ALEGRE
SEGUNDO A SUA
RELAÇÃO E INTERAÇÃO
COM O RIO
GUAÍBA: A CONSTRUÇÃO DOS SENTIMENTOS, DO
IMAGINÁRIO E DA
MEMÓRIA DE UM
POVO QUE TEM AS SUAS
RAÍZES SOCIAIS E
CULTURAIS CONSTRUÍDAS SOBRE
A REGIÃO DO
GRANDE LAGO.
Nome do Autor: JACQUES JACOMINI
Projeto de Pesquisa Integrado : “ Estudo Antropológico de Itinerários Urbanos, Memória Coletiva e
Formas de Sociabilidade no Meio Urbano Contemporâneo.”
Pesquisadoras: Professoras Dra. ANA LUIZA C. DA ROCHA
Dra.
CORNELIA ECKERT
Projeto Individual A: “Antropologia
do Cotidiano e Estudo das Sociabilidades a Partir das Feições dos Medos e das
Crises na Vida Metropolitana.”
Professora Executora: Dra. Cornelia Eckert
Projeto Individual B: “Banco de Imagens da Cidade de Porto Alegre.”
Professora Executora: Dra. Ana Luiza C. da Rocha
SUMÁRIO
Os Primórdios
de Uma Civilização
Notadamente
Marcada
Pela Fluvialidade do Rio Guaíba
............................................................... 03
Os Primeiros
Pilares de Uma
Cidade Oriunda da
Dinâmica Fluvial:
contexto e aspectos
da Construção
da Porto
Alegre Antiga (1752 - 1911)
........................................................................ 05
Um Olhar
Etnográfico Sobre a
Atual Dinâmica
Vivenciada no
Caís do Porto
da Cidade
de Porto
Alegre : caminhando pelo
que restou
de um
período de pujança
e desenvolvimento de
uma cidade
outrora voltada para o seu
rio ............................................................... 09
Bibliografia
..................................................................................................................... 19
OS PRIMÓRDIOS
DE UMA CIVILIZAÇÃO
NOTADAMENTE MARCADA PELA
FLUVIALIDADE DO RIO
GUAÍBA
A
|
relação dos
habitantes de Porto Alegre com o Rio Guaíba remonta um período histórico que
antecede a configuração da cidade propriamente dita. Alguns historiadores,
arqueólogos e antropólogos propõe pensar a região, sobre a qual viria se formar
a cidade de Porto Alegre, desde o ano 3.000 a C. para falar dos “habitantes da
região do Grande Lago.” Neste período é marcante a presença dos Povos Guaranis
que, com a sua cultura e a sua busca incessante da “terra sem males”, deixam
gravadas aqui as suas tradições as quais penetrariam na constituição da cidade
de Porto Alegre, bem como na relação dos seus habitantes com o “grande lago”.
São lendas, mitos e crenças, além de toda uma cosmovisão transmitidas por um
arsenal histórico e cultural que, simbolicamente, falam o tempo todo para as
novas gerações de porto-alegrenses.
Neste
trabalho, propomos analisar um pouco desta relação dos habitantes da cidade com
o seu rio (ou lago) [1],
tentando perceber como ela acontece e se desenvolve em determinados períodos
históricos. Realizamos assim uma incursão pela espacialidade de alguns
perímetros citadinos, quando, por exemplo, pensamos na lógica que determina a
construção de um muro que vai dividir dois espaços urbanos: Caís do Porto e
perímetro urbano ou espaço intra-muros e espaço extra-muros. Assim procedemos,
pois acreditamos que “el interés del hombre pur el espacio tiene raíces
existenciales: deriva de una necessidad de adquirir relaciones vitales en el
ambiente que le rodea para aportar sentido y ordem a um mundo de acontecimentos
y acciones.” (Norberg-Schulz, 1975)
No
primeiro bloco, denominado Os Primeiros Pilares de Uma Cidade Marcada Pela
Dinâmica Fluvial: contexto e aspectos da construção da Porto Alegre Antiga
(1752 - 1911), realizamos uma incursão
panorâmica sobre a história da cidade, destacando a relação e a
interação dos seus habitantes com o Rio Guaíba e de que forma esta relação foi
se alterando diante de vários momentos distintos e diante dos desafios que
foram sendo colocados para estes habitantes.
No
segundo bloco, denominado Um Olhar Etnográfico Sobre a Atual Dinâmica
Vivenciada no Caís do Porto da Cidade de Porto Alegre: caminhando pelo o que
restou de um período de pujança e desenvolvimento de uma cidade outrora voltada
para o seu rio, descrevemos o resultado das etnografias de rua realizadas no
centro da cidade de Porto Alegre e no seu Caís do Porto, onde destacamos o
atual contexto social e urbano que circundam e definem a cidade na sua atual
organização espacial e estrutural. Depoimentos e narrativas dos atuais atores
sociais da cidade enriquecem e complementam a nossa etnografia que, de certa
forma, traça um paralelo comparativo com a descrição da Porto Alegre Antiga,
realizada no bloco anterior.
Em
resumo, poderíamos dizer que trazemos para este trabalho a tentativa de analisar
um pouco do imaginário que leva as construções subjetivas e simbólicas
dos porto-alegrenses sobre a cidade e as suas urbanidades. Trata-se também da
tentativa de mapear os contornos de uma Porto Alegre antiga, que guarda as
lembranças de grandes enchentes, como a de 1941, “justificando” a existência de um muro de
proteção em contraste com uma Porto Alegre moderna que incorpora ao seu
imaginário as “feições de crise e de medo” (ECKERT, 1997) , oriundas de uma
dinâmica citadina urbana contemporânea.
OS
PRIMEIROS PILARES DE
UMA CIDADE ORIUNDA
DA DINÂMICA FLUVIAL:
CONTEXTO E ASPECTOS
DA CONSTITUIÇÃO DA
PORTO ALEGRE ANTIGA (1752 - 1911)
A
|
chegada dos
casais açorianos, em 1752, marca o início da
colonização do então Porto de Viamão (nome dado a um ancoradouro nos
fundos da Sesmaria de Jerônimo de Ornellas, onde está agora a Praça da
Alfândega). Instalados em casas de palha no local onde encontramos hoje a atual
Praça da Alfândega, os casais vindos das Ilhas dos Açores inauguravam o que
viria a ser “um arraial bastante fértil”. [2]
Neste
período, a relação dos primeiros habitantes com o Rio Guaíba é bastante
intensa, especialmente por duas razões. Em primeiro lugar, pelo fato de terem
chegado até aqui navegando pelas suas águas, portanto em um primeiro contato
bastante emocional com o rio. Em segundo lugar, pelo fato de terem as suas
primeiras sociabilidades definidas por um contato diário e intimo com o rio,
pois as suas primeiras casas foram construídas nas suas margens. Neste local,
passam a se desenvolver atividades econômicas voltadas para a dinâmica fluvial
do Rio Guaíba como a construção de barcos e a comercialização de bens de
consumo. A instalação da Alfândega em 1804 e a abertura dos portos em 1808 veio
a incrementar estas atividades comerciais e a transformar Porto Alegre em um
importante centro comercial. O rápido crescimento do então vilarejo,
impulsionado pelas atividades econômicas locais, traz a necessidade de se
ampliar o perímetro que circundava o centro comercial de Porto Alegre, pois o
espaço ficara pequeno para todas as atividades que ali se desenvolviam. Devido
a esta necessidade de se ampliar o centro, surge uma alternativa que se
tornaria recorrente na história da cidade: o aterramento de alguns trechos de
ribeiras do Rio Guaíba. Isto acontece pela primeira vez em 1850, quando o
aterro proporciona a abertura de mais uma rua no centro comercial da cidade,
atual rua Sete de Setembro. Este avanço sobre as águas só vai terminar em 1978,
quando um outro grande aterro propicia a construção de dois grandes parques na
cidade, Parque Marinha do Brasil e o Parque Maurício Sirotski Sobrinho.
Com
o crescimento da cidade vieram os primeiros problemas ambientais observados já
em 1866. Nesta época foi proibida a coleta de água no canal do Guaíba que
começava a ter as suas margens poluídas pelos excrementos da população
depositados diariamente pelos “cubeiros”[3]
e por outros dejetos produzidos a partir das inúmeras atividades ribeirinhas.
Juntamente com estes problemas ambientais, surgem as primeiras ocorrências de
doenças contagiosas e pestes, como a epidemia de cólera que se abateu sobre a
cidade entre 1875 e 1876. Assim passam a ser pensadas alternativas que
colaborassem para o saneamento e a melhoria das condições de higiene do rio e
das suas ribeiras.
Em
1911 surge uma alternativa, entendida na época como uma proposta ideal para
estas necessidades de melhoramento e saneamento do local, a construção do Caís
do Porto. Assim, no mesmo ano, começa a ser construído o atual Caís do Porto de
Porto Alegre que tinha dois objetivos em especial: Unificar a porta de entrada
da cidade, melhorando o aspecto para quem aportava em Porto Alegre e
higienizar / normalizar [4]
as atividades econômicas locais, uma vez que nesta época, por volta de 1900,
existiam mais de 30 trapiches na área central da cidade, onde eram
desenvolvidas inúmeras atividades comerciais.
Ao ser concluído, o novo porto, além de melhorar o escoamento da produção
industrial crescente, enfim podia ser considerado como uma nova e ampliada
porta de entrada da cidade que se construía e se pretendia grande e
desenvolvida.
Em 1914, durante a implantação do Plano de
Melhoramentos da Capital, elaborado pelo arquiteto João Maciel, Otávio Rocha dá
mais uma passo decisivo em direção a esta preocupação da higienização da
cidade, criando um órgão público com este objetivo específico, a Diretoria de
Higiene [5].
Na
década de 20, a cidade havia crescido bastante, incrementado suas atividades
industriais e comerciais, e o seu crescimento trazia mais um desafio a ser
encarado pelos porto-alegrenses: aumentar a produção de energia elétrica que
era insuficiente para atender a demanda crescente da cidade. Neste momento,
mais uma vez, o Rio Guaíba viria a fornecer e possibilitar as condições
necessárias ao enfrentamento deste desafio. Cederia as suas águas à duas
atividades essenciais para a expansão da produção de energia elétrica, através
da implantação da Usina Termelétrica do Gasômetro: por elas embarcações trariam o carvão a ser
ali processado e, ao mesmo tempo, as suas águas eram usadas para refrigerar os
condensadores da usina, atividade que exigia uma grande quantidade de água.
A
relação do porto-alegrense, especialmente o morador do centro da cidade, com o
Caís do Porto e com o Rio Guaíba viria a se transformar bastante a partir de
1971. A intima relação e a extensa interação dos moradores da cidade com o
“Grande Lago”, observados desde os seus primórdios, passa a ser cerceada pela
construção de um extenso muro de concreto na Avenida Mauá [6].
Concluído em 1974, gestão do prefeito Telmo Thompson Flores, o muro abre uma
série de questionamentos e debates a cerca da sua funcionalidade e da sua
necessidade, travados entre os porto-alegrenses, desde então. O principal
questionamento que está colocado no imaginário dos moradores mais antigos passa
pelas lembranças e pela percepção de uma cidade antiga voltada para o seu rio
em contraste com uma cidade moderna que renegou o seu passado fluvial e assumiu
uma dinâmica citadina urbana, delineada pela velocidade dos automóveis, pela
violência e caos no trânsito, e pelas feições do medo e das crises individuais
e coletivas.
Os depoimentos de alguns moradores remontam
lembranças dos estragos provocados pela enchente de 1941 [7],
mas estes mesmos moradores não
transformam estas lembranças em uma razão lógica para a existência do
muro que viria, supostamente, proteger a cidade de outras inundações
semelhantes a ocorrida em 1941.
Na
tentativa de ultrapassar um pouco a narrativa estritamente histórica e
documental e perceber outros aspectos que estes documentos não nos possibilitam
acessar, passaremos a descrever uma etnografia de rua que realizamos no Caís do
Porto. Caminhando, etnografando e explorando os
atores sociais, a dinâmica e a espacialidade do atual Caís do Porto,
levantamos alguns dados ainda inéditos neste esforço de mapear a relação do
porto-alegrense com o seu rio, segundo a evolução e desenvolvimento de uma
cidade notadamente marcada por uma dinâmica fluvial.
UM OLHAR
ETNOGRÁFICO SOBRE A
ATUAL DINÂMICA VIVENCIADA NO CAÍS
DO PORTO DA
CIDADE DE PORTO
ALEGRE: Caminhando pelo o que restou de um período de pujança e
desenvolvimento de uma cidade outrora voltada para o seu rio.
“(...)O Porto, em
que acreditávamos tanto, terminou em frustração, com o projeto de
transformar-se em área de lazer. Os barcos e os trens nos abandonaram, dando
lugar aos caminhões. A indústria fabril, depois de um ciclo de prosperidade, migrou
para outras paragens. O capital internacional não acha muitos atrativos numa
área de caminhos estrangulados e de comunicações roucas.(...)” (Franco, 1997)
A
|
s palavras,
supra citadas, do historiador Sérgio da Costa Franco sobre Porto Alegre e, em especial, sobre o Caís do
Porto refletem um pouco do imaginário que os porto-alegrenses atualmente
constróem sobre a sua cidade, diante das inúmeras transformações ocorridas no
últimos anos. Neste imaginário
encontramos narrativas que constróem um misto de desesperança, regado com um
pouco nostalgia e uma porção de medo: medo do futuro, do novo milênio, da
violência ou até medo do medo [8],
enfim de uma verdadeira “Cultura do Medo”.
Recorremos
aqui à etnografia de rua, a fim de percebermos um pouco da base empírica destas
construções elaboradas e vivenciadas pelos porto-alegrenses. Passamos então a
enfrentar o desafio que se assemelha a “(...) tentar ler (no sentido de
‘construir uma leitura de’) um manuscrito estranho, desbotado, cheio de
elipses, incoerências, emendas suspeitas e comentários tendenciosos, escrito
não com os sinais convencionais do som, mas com exemplos transitórios de
comportamento modelado.” (GEERTZ, 1978)
A
descrição da minha etnografia inicia a partir do momento que me aproximo do
Largo Glênio Peres e arredores do Mercado Público de Porto Alegre. Ao passar
pelo largo, observo muitas pessoas que circulam pelo local com toda a “pressa”
originária de um grande centro urbano. Apesar da “pressa” (ou aparente falta de
tempo), algumas pessoas param e ficam observando os “artistas” que atuam
naquele local. Destacaria o tradicional vendedor de remédios naturais que, com
recursos diversos (aparelho de som, animais exóticos como cobras, apelo teatral
e dramático), tenta vender os seus produtos no Largo e nas praças da cidade,
sendo assim já bastante conhecido da população; e um músico que tocava violino,
utilizando alguns recursos sonoros como caixas de som e amplificadores,
chamando bastante a atenção das pessoas que por ali passavam. Pude observar o
Mercado Público que, totalmente restaurado, estava enfeitado com painéis e
desenhos alusivos a Primeira Bienal do Mercosul, evento cultural que tem
mobilizado muitas pessoas na capital. Vencido o Largo, nos aproximamos da
Prefeitura Municipal de Porto Alegre, passo a me encomodar um pouco com o
grande fluxo de pessoas e procuro então me afastar das ruas mais centrais,
andando em direção a Avenida Mauá, onde se encontra o Caís do Porto, ponto
principal desta etnografia de rua. A tentativa de evitar o grande fluxo de
pessoas, afastando-me das ruas centrais, e caminhando pela Av. Mauá não foi
muito promissora, pois também ali o tráfego estava complicado, principalmente
em função de alguns caminhões que descarregavam cargas nas proximidades do
Prédio dos Correios e Telégrafos, prejudicando assim o trânsito de pedestres
naquele local. Passo a mapear os principais vizinhos do Caís do Porto, dentre
eles os Correios e Telégrafos, Secretaria da Fazenda, Delegacia Regional do
Trabalho, terminais de ônibus coletivos urbanos de Porto Alegre e grande Porto
Alegre (Viamão) e o Instituto Santa Marta (SUS).
A
travessia da Av. Mauá (em direção ao Cais do Porto) é, sem nenhuma dúvida, “uma
manobra bastante arriscada”. Neste local o trânsito de veículos é muito grande
e a velocidade média dos automóveis, caminhões e coletivos também é alta em
função da avenida ser extensa (uma grande reta), larga (com 3 faixas de rolagem) e não existir
nenhum dispositivo inibidor da velocidade (com exceção do semáforo). Existe uma
faixa de segurança e uma semáforo quase em frente a entrada principal do Caís
do Porto, o que, teoricamente, facilitaria a travessia dos pedestres, no
entanto nem sempre é bem assim. Os motoristas costumam aproveitar ao máximo o tempo
destinado para a sua travessia, transitando no momento em que o sinal fica no
amarelo e até nos primeiros instantes em que o sinal aponta a cor vermelha, ou
seja, propõe a sua parada e permite a passagem para o pedestre. Portanto, o fato de o sinal estar apontando a
travessia para o pedestre (vermelho para os motoristas) não representa uma
situação de travessia segura para este. Uma outra situação que representa
bastante risco para o transeunte que decide atravessar a Avenida é aquela em
que o sinal muda quando o pedestre encontra-se no meio ou quase no final da
travessia da Avenida. Neste caso, a pessoa precisa correr ou pular a fim de que
não sege apanhada por um veículo, pois observei que os motoristas decidem
aproveitar ao máximo todos os segundos destinados a sua travessia, não abrindo
mão assim dos primeiros instantes da exposição do sinal verde, mesmo que o
pedestre ainda se encontre no meio da sua travessia. Em resumo, atravessar uma
avenida no centro da cidade não é uma tarefa muito fácil e nem muito tranqüila,
pois exige do pedestre bastante atenção e perspicácia para perceber o momento
exato que a travessia pode ser realizada sem nenhum risco para a sua segurança
pessoal. Esta situação pode ser bem mais problemática para os idosos, crianças,
gestantes e deficientes físicos por razões óbvias.
Vencida
a travessia da Avenida Mauá, entro no portão principal do Caís do Porto.
Entrando, a minha esquerda, encontro o posto da guarda portuária, onde um
funcionário faz a segurança no local. Decidi solicitar informações sobre como
deveria proceder para realizar a visitação naquele local. Fui informado que
deveria me dirigir ao prédio da administração do Porto, onde deveria solicitar
uma autorização (por escrito) para realizar a visita. Assim procedi, subindo ao
quarto andar do prédio apontado pelo guarda, onde em contanto com a funcionária
Dulce consegui a permissão, após ter me identificado e externado o objetivo da
minha visita. De posse da autorização, me dirigi ao portão de acesso do Caís,
apresentei a autorização para um outro guarda que a reteu, permitindo a minha
entrada e informando que eu poderia visitar todo o Caís em sua parte que estava a minha direita, e a parte que
ficava a minha esquerda não poderia ser acessada por ser “área operacional”,
palavras dos funcionários para referir a parte onde existe intensa atividade de
carregadores, guindastes, carga e descarga de containers, etc.
Neste
momento, já na beira do Rio, acontece o
meu primeiro contato com algo que me acompanharia, ou até me indicaria uma
determinada trajetória nesta visita ao Cais do Porto do Rio Guaíba: os trilhos utilizados para a locomoção de
algumas máquinas e / ou guindastes que
carregam e descarregam as cargas dos navios. Observo que estes trilhos estão
sendo usados pelos guindastes que estão a minha esquerda (lado operacional). Na
minha direita os trilhos continuam existindo, mas parecem não estar sendo
usados para o deslocamento dos guindastes observados a minha esquerda , fato
que me leva a supor uma provável restruturação físico-espacial deste local,
pois a existência dos trilhos no meu lado direito supõe a existência destes
mesmos guindastes operando em um outro momento (outra época e organização deste
espaço) anterior a este.
A
minha direita, tenho o Barco Cisne Branco ancorado com alguns homens no seu
interior, parece que trabalham e organizam algumas coisas no barco. Observando
o barco estão um grupo de alunos de uma escola que realizam uma visita ao Caís.
Fotografam e são fotografados, conversam com os seus professores sobre o barco,
sobre o rio, ... parecem estar gostando bastante do passeio, pois aparentam
muita satisfação, descontração e interesse por tudo o que vêem ao seu redor. De
fato, penso que nem poderia ser diferente, entre outros motivos, por estarmos vivendo
um dia muito ensolarado, com temperaturas altas, céu claro e uma brisa gostosa
a sombra.
O
Barco Cisne Branco traz um sistema do som que ligado, espalha pelo ambiente
músicas veiculadas por uma rádio local da cidade de Porto Alegre. Esta
sonoridade traz, segundo o meu entendimento, consigo uma sensação de
descontração para as pessoas que visitam o Caís.
Olhando
para o interior do rio, vejo a primeira embarcação que circula pelo local, ela
traz uma carga de areia e se desloca lentamente pelas águas calmas do Rio
Guaiba. Na mesma direção podemos observar o topo de prédio que se encontra na
Ilha do Presídio, ponto próximo ao Cais.
Ainda
a minha esquerda, após passar pelo barco Cisne Branco, encontro trabalhadores
que descarregam determinada carga de uma carreta estacionada neste local.
Vou
caminhando a fim de explorar a região que me foi permitida o acesso, ou seja,
lado direito de quem entra no portão principal do Caís do Porto. Após passar
pelo primeiro armazém B1 (no seu interior estão grande rolos de papel, e
pequenos pacotes também de papel), onde trabalhadores trabalhavam na descarga
de determinado produto, me encontro nos fundos do prédio da administração, onde
a bem pouco tempo estava solicitando a autorização para realizar esta
visitação. Após este prédio, passo por um outro armazém (B2) fechado e sem
nenhuma movimentação de pessoas.
Estacionado
neste local, duas grandes carretas com cargas que parecem ser grandes
transformadores de energia elétrica. Os caminhões que puxam a carreta são
caminhões do tipo “fora de estrada”,
realmente muito grandes e contam com sinalizações especiais que chamam a
atenção para o seu excesso de largura e comprimento (diante das dimensões
normais utilizadas pelos veículos tradicionais). Ao me aproximar de uma das
carretas, vejo que a altura das rodas
chegam próximo ao meu ombro. Como tenho 1,76 m de altura, a altura das rodas
chegam a, aproximadamente, 1,40 m, são, portanto bastante expressivas.
Após
as carretas, vejo mais três prováveis transformadores colocados em linha, os
quais suponho estarem esperando para serem carregados. Faixas estão colocadas
nestes transformadores estampando o nome da empresa de destino (ou de origem),
COENSA.
Olhando
a minha esquerda, avisto a Ponte do Rio Guaíba (em direção a cidade de Guaíba)
e algumas ilhas do mesmo rio. Na minha frente mais um prédio, onde leio
Fundação Nacional de Saúde (Vigilância Sanitária), local onde funciona algum
setor deste órgão.
Logo
a minha direita existe um portão que
encontra-se aberto e dá acesso ao Caís do Porto. Ao contrário do portão
principal, neste não existem guardas nem outro tipo de segurança que dificultem
o acesso. Esta observação leva ao entendimento que existe uma “ritualização”
envolvendo o Caís no que concerne ao seu acesso, de uma forma diferenciada para “os de fora” em ralação “aos de dentro”.
Pois “os de dentro”, conhecedores das barreiras, portões e cercas de
delimitação deste espaço, certamente usariam este portão para chegarem à beira
do rio e não o principal pelo qual entrei.
Passo pelo portão e começo a percorrer a rua que é paralela ao rio, no
interior do muro da Mauá, ou seja, entre o muro e o rio.
Percorrendo
esta rua, chego ao primeiro (de uma série) ancoradouro na seqüência de quem vem
do portão principal do Caís do Porto em direção a cidade de Canoas. O primeiro
é um ancoradouro onde encontramos apenas alguns barcos de pequeno porte. Neste
local existe uma placa onde leio: “Grêmio Náutico União, Estação Fluvial Nilton
Silveira Neto, Embarque, Sede Ilha do Pavão”. Nas proximidades do prédio do
Palácio do Comércio, me deparo com a estação dos bombeiros. Na parede está
estampada os símbolos e uma mensagem (ou lema) do 3o. grupo de
bombeiros da brigada militar : “Homem do salvamento, estar seguro, trabalhar
com segurança, produzir segurança, mais do que um lema, uma filosofia em ação.”
Passo
a perceber que, em verdade, o Caís do Porto possui toda uma cultura muita
própria e muito sua. Cada ancoradouro, cada espaço ou cada ator social que aqui
atua está inserido numa lógica e numa racionalidade que para ser percebida em
sua integralidade demandaria uma investigação muito mais minuciosa e elaborada
do que por ora realizo. É um pouco óbvio o que estou afirmando, no entanto é
interessante de registrar esta minha percepção de que somente um envolvimento e
uma interação maior com este local me permitiria perceber e reconstruir a
“subjetividade portuária”, fato que nos revelaria, em detalhes, a verdadeira
dinâmica, a real estruturação, organização e normalização deste “espaço não -
urbano” da cidade de Porto Alegre.
Voltando
a descrição físico-espacial do lugar, caminhando mais um pouco, me aproximo do
prédio C3, onde leio garagem e oficina APPA - Portão 01. Atento para a cobertura da rua que estou
percorrendo que é de pedras do tipo paralelepípedo. Caminho no sentido centro
bairro (no caso Centro de Porto Alegre - Canoas) e a minha direita tenho um
trilho (o mesmo que começou o seu traçado logo na entrada do Caís) que percorre
toda a rua, decido seguir a sua trajetória, pois percebo que, apesar de estar
atualmente em desuso, este trilho já representou uma determinada dinâmica de
trabalho do Caís do Porto. Seguí-lo, ou percorrê-lo é atitude óbvia para quem
tenta perceber o que este trilho e o que este chão podem estar querendo “falar”
para quem o “escuta” (ou quem com ele dialoga). Avisto o prédio C4 que tem as
portas abertas e máquinas no seu interior, no entanto não existe movimento de
trabalhadores neste momento (viria a saber, mais tarde que o que estava ali
acondicionado era sal). Uma placa estampa a mensagem “Proibida a entrada” ao
lado deste prédio (na verdade estas placas foram encontradas em vários locais
do Caís, denotando as estratégias de contenção e normalização deste espaço,
porém nem sempre elas pareceram atuais e operantes). Percorrendo mais um trecho
da rua, chego a um outro ancoradouro (2o.) onde estão atracados navios de
grande porte, Navio Taquari, Itapuã, ...
Fiquei tão impressionado com o tamanho das embarcações que passei a
tentar quantificar o seu tamanho: eles teriam, aproximadamente, uns 10 metros
de largura e uns 30 de comprimento. Neste mesmo ancoradouro, observo várias
outras embarcações de menor porte que as três anteriores, apresentando um
péssimo estado de conservação o que permite supor até que elas estão totalmente
fora de atividade.
Continuo
caminhando, em certo momento o capim esconde os trilhos e passo a pensar se
estou seguindo a trajetória dos trilhos ou são os trilhos que acompanham a
minha caminhada ? A resposta não é minha neste momento. Avisto um outro prédio
que está mal conservado e tem escrito em suas paredes anúncios de venda de
gelo.
Me
aproximando da Elevada da Conceição, olho para o muro que separa a cidade do
Rio e percebo a “força”[9]
deste muro. É realmente um aparelho delimitador espacial que remonta a
perspectiva da percepção “intra-muros” e “extra-muro” como a que já trabalhei
em casos de realidades institucionais do estilo manicomial. Em outras palavras,
a cidade está excluída deste espaço e vice-versa, o que nos coloca claramente a
necessidade de se separar o que é urbano do “não - urbano”, ou a lógica urbana
da lógica “não - urbana”. Esta proposta de delimitação passa a existir no
Brasil a partir do século passado e está intimamente relacionada com o
movimento que aqui já mencionamos: a higienização dos aparelhos públicos. Este é um ponto (espacialidade do Caís) de
análise deste local e desta lógica local que demandaria também um esforço maior
de análise e de interação, como já havia afirmado antes. Nas proximidades da
Elevada da Conceição, observo uma espécie de portão (na extensão do muro) que
parece não ser utilizado visto a suas características de conservação e dos
capins que o entornam.
Caminhando
mais um pouco, avisto um outro prédio onde leio: Centro Integrado de
Comercialização agrícola e, novamente, Venda de Gelo. Este prédio está
desocupado e desabitado, além de mal conservado como o anterior. Ao lado do
muro encontro bastante lixo neste trecho da caminhada, parece que na medida em
que nos afastamos do portão principal do Caís do Porto aumenta o desleixo, a
sujeira, a má conservação dos prédios, inexistência de atividades nos prédios,
etc. Ou seja, na medida em que nos afastamos do “centro” deste local o que era
belo, policiado e bem cuidado agora é o oposto de tudo isso.
Chego
ao terceiro ancoradouro e observo alguns
barcos de grande porte. Uma das embarcações é parecida com as que carregam
areia, não sei exatamente o nome específico. Posso perceber, então,
mais um bloco de prédios que é o (c6), onde observo algumas caixas
garrafas de bebidas sendo transportadas. O
prédio ao lado esta aparentemente sem atividade, não tem pessoas que
circulam ou que estão trabalhando neste local. Alguns carros passam por mim e
suponho que são funcionário que, nesse momento são 11:25, estão talvez indo para de almoço. Me
encontrava agora nas proximidades da rodoviária e da elevada da Conceição.
Passo a ter a impressão que esta estrada
vai mais longe do que eu imaginei, portanto seria necessário ter uma condução
para explorá-la em toda a sua extensão.
Tenho
a minha direita o terminal do Trensurb, onde pessoas aguardam a chegada do
trem. Me parece que este seria o terminal Estação Rodoviária. Vejo dois
caminhões velhos estacionados ao lado do referido prédio. O
Trensurb acaba de chegar no terminal e as pessoas que o aguardavam passam a
trafegar nele. Neste momento, passo por cima dos trilhos que eu
estava acompanhando, (ou dos trilhos que acabaram por definir a minha trajetória,
ou trilhos me trouxeram até aqui, ou ...) ou seja eles cruzaram a rua em direção
ao rio. Neste momento fico admirado com o que estou vendo: uma caminhão, do tipo tombadeira, estaciona
ao lado do prédio C6, operários colocam
caixas de garrafas de vidro neste caminhão e ficam quebrando as
garrafas. Parece que garrafas de vidros realmente não são mais importante, pois estão
quebrando e colocando dentro da tombadeira. Hoje, a hegemonia dos recipientes
para acondicionamento de refrigerantes é do plástico.
Sinto
a necessidade e a curiosidade de adentrar e explorar mais essa estrada que
continua a minha frente, porém vou retornar, até porque os trilhos me trouxeram até aqui. Neste momento acontece
algo muito interessante: vejo um funcionário, um senhor de aproximadamente 60
anos, sair do prédio onde os operários quebravam as garrafas e decido passar a
caminhar ao seu lado conversando com ele (em direção ao portão principal do
Caís, ou seja, retornando), a fim de conhecê-lo e, ao mesmo tempo, conseguir
algumas informações sobre a dinâmica do Caís que até então se apresentavam como uma incógnita para mim. Foi
um diálogo curto, porém muito interessante, pois o contato direto com um ator
social local foi imprescindível para percebermos alguns detalhes da organização
e da espacialização do Caís.
Sanislau,
trabalhador do porto a mais de 30 anos, falou-me das suas percepções a cerca da
situação atual do Caís, da existência do Muro da Mauá, das lembranças da
enchente de 1941, entre outras coisas. Sobre a questão do muro, ele afirmou que
“o muro matou o caís, olha isso aí, tudo parado ! Antes o movimento era grande, havia muito
trabalho, (...)”.
Nas
suas palavras, são claras as construções mnemônicas sobre as transformações
negativas, segundo o seu ponto de vista, que a construção do muro da Mauá
trouxe para as dinâmicas do Caís do Porto, reportando e relacionando a situação
atual com um tempo de pujança e de
intensa atividade portuária, anterior à
construção do muro. Além disso, a sua fala traz um veio de esperança, no
sentido da possibilidade de que haja um retorno ao período áureo do Caís, a um
passado promissor que reconstrói na sua memória, verbalizando: “Parece que vão
derrubar isso daí (aponta para o muro)”.
Perguntado
sobre a enchente de 1941, Sanislau afirma: “Foi coisa feia meu filho. A água ia
lá na Rua da Praia. Eu estava aqui e vi tudo.”
Mas, quando questiono-o sobre a possibilidade da ocorrência de uma nova
enchente na cidade, semelhante a de 1941, a qual justificaria a existência do
muro como proteção, irônico ela afirma: “É, ‘eles’ estão esperando uma outra
enchente daquelas a mais de 50 anos.”
Externa assim uma posição pessoal clara sobre a não funcionalidade do
muro como proteção da cidade em caso de enchentes e sim como um dispositivo que
interrompeu o desenvolvimento das atividades portuárias.
Na
sua integra, foi uma conversa muito interessante de, aproximadamente, 20
minutos com seu Sanislau que, como outros antigos funcionários do Caís do
Porto, integra o grupo dos maiores guardiões da memória deste lugar tão
significativo para a constituição da cidade de Porto Alegre. Dentro do esforço
de um trabalho etnográfico, recuperar esta memória e reconstruir o “edifício
das memórias coletivas” (JEUDY, 1986) destes guardiões é a atividade que nos
possibilitará avançar no entendimento da relação dos porto-alegrenses com o seu
rio.
BIBLIOGRAFIA
1. COSTA,
Elmar Bones da. História Ilustrada de Porto Alegre. Porto Alegre : Ed. Já
Editores, 1997.
2.
ECKERT, Cornelia. Antropologia do Cotidiano e Estudo
das Sociabilidades a Partir das Feições do Medo e das Crises na Vida
Metropolitana. Porto Alegre: UFRGS. Projeto de Pesquisa, 1997.
3.
FRANCO, Sérgio da Costa. Guia Histórico de Porto
Alegre. Porto Alegre: Ed. da Universidade / PMPA, 1988.
4.
________ , ___________ . Porto Alegre e Seu Comércio.
Porto Alegre: Ed. Associação Comercial de Porto Alegre, 1983.
5.
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de
Janeiro: Ed. Zahar, 1978.
6.
NORBERG-SCHULZ, Christian. Nuevos Caminhos De La
Arquitectura - Existencia, Espacio y Arquitectura. Barcelona: Ed. Blume, 1975.
[1] Segundo
denominação geográfica, o Rio Guaíba é lago, pois une dois grandes volumes de
águas navegáveis, o Rio Jacuí e a Lagoa dos Patos. O Jacuí desce em turbulência
de sua nascente localizada no Planalto, cerca de 400 metros acima do nível do
mar. Ao atingir a Depressão Central, a 100 metros de altitude, suas águas
correm para o leste e vão diminuindo a velocidade, de acordo com o suave
declive da planície. No trajeto final, próximo a Porto Alegre, o Jacuí recebe
as águas do Taquari, do Caí, do Sinos e do Gravatai, formando um delta, uma
enorme bacia de decantação onde se acumula a terra arrancada das encostas do
Planalto. Essas águas calmas e barrentas são despejadas no Guaíba, apenas cinco
metros acima do nível do mar. O Guaiba desemboca na Lagoa dos Patos que lança
suas águas no Oceano Atlântico, 250 Km ao sul.
[2]
Expressão usada na primeira referencia registrada em documento sobre a povoação
que se formava no então Porto de Viamão, a qual se desenvolvia rapidamente para
os padrões da época.
[3] Cubeiros
- indivíduos que carregavam e limpavam os “Cubos”, recipientes onde eram
armazenados os excrementos das residências mais abastadas. Uma vez cheios, eram
levados até as margens do rio pelos escravos (e depois pelos funcionários da
prefeitura que assumiram este serviço) e ali descarregados e lavados para
voltarem a ser utilizados nas residências.
[4] Um
relatório da época dizia: “É preciso melhorar o porto tanto do ponto de vista
econômico como estético e sobretudo higiênico.”
[5] O
princípio de “isolar espacial e temporalmente implica reunir ordenadamente”,
difundido pelo movimento que se conhece como “medicalização (ou normalização /
higienização) das cidades” observados no Brasil durante a segunda metade do
século passado é abordado de uma forma bastante interessante por Roberto
Machado Et All em “Danação da Norma : Medicina Social e
Constituição da Psiquiatria no Brasil”.
[6] Alguns
historiadores sustentan que de 1773 a 1778 teria sido construído uma grande
muralha na cidade, com o objetivo de proteger os seus habitantes dos invasores
espanhóis. O suposto muro percorreria as atuais ruas Washington Luís, Riachuelo
e Pinto Bandeira, com começo e fim à beira d’ água. O portão desse muro ficaria
ao lado do lugar onde agora está o Viaduto Loureiro da Silva.
[7] A maior
enchente da história da cidade de Porto Alegre que trouxe muitos danos e
transtornos para os moradores e para os seus patrimônios pessoais.
O primeiro
registro de enchente em Porto Alegre é de 1833. Outras aconteceram em 1841,
1847 e 1850, mas nenhuma delas foi como a de 1873 que desabrigou famílias às
margens do Guaíba e do Riacho. Mais sete aconteceram em 1897, 1898, 1905 e três
em 1912 e se chega então a maior de todas, a de 1941, considerada uma
catástrofe como definida pelos jornais da época. Na enchente de 1926 começaram
as medições. Naquele ano a precipitação foi de 313,7 mm; na de 1928 foi de
225,5 mm; na de 1936 foi de 316 mm e na de 1941 foi de 619,4 mm, a maior de
todas.
[8] Nome
dado pelos psiquiatras e psicólogos para um tipo de distúrbio emocional,
observado especialmente nas grandes cidades, marcado pelas tensões, fobias, e
agregação de vários tipos de medos sentidos simultaneamente pelos pacientes.
[9] Força
social e simbólica.
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