UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO
DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO
DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL
Disciplina:
Método e técnica de pesquisa
Semestre 99/II
-
Exercício de Aula -
Aluno:
JACQUES JACOMINI
UFRGS -
IFCH - PPGAS
ESTUDO ANTROPOLÓGICO
DE UM ESPAÇO
URBANO SINGULAR: CAIS DO
PORTO DE PORTO
ALEGRE (OU DA
CIDADE QUE TEM
PORTO ATÉ NO
NOME)
ENTREVISTA No. 05
DADOS DE
IDENTIFICAÇÃO
BAIRRO:
SOBRENOME
DO ENTREVISTADO: Oddi
NOME DO ENTREVISTADO: Paulo
NOME
CARACTERÍSTICO (se houver):
DATA DA REALIZAÇÃO
DA ENTREVISTA: 21 / 07 / 98.
ENDEREÇO: Av.
Mauá. / Cais Mauá.
FONE:
HORÁRIO
REALIZAÇÃO DA ENTREVISTA:
9 H 30 min
DURAÇÃO DA
ENTREVISTA: 1 h 30 min
ENTREVISTADOR: Jaques
INDICAÇÃO:
......................................................................................................................
DESCRIÇÃO DO CONTEXTO:
Fui recebido no escritório do Dr. Paulo Oddi, administrador
do Cais Mauá / Cais do Porto de Porto Alegre no horário combinado para a
entrevista. O encontro foi acompanhado por uma funcionária administrativa que
desempenha funções de assessora de imprensa junto a este órgão.
A entrevista foi pautada pela
praticidade e tecnicidade do Engenheiro Oddi que destacou na sua fala,
essencialmente, os aspectos administrativos do Caís, bem como os aspectos de
controle, normalização, segurança e contenção deste (e neste) espaço urbano.
Chamou a minha atenção, uma pergunta
formulada pelo entrevistado, no final da entrevista, sobre a opção dos
portalegrenses em estarem constantemente presentes no cais do porto
contemplando-o, curtindo o por do sol, etc. Ele indagava sobre porque não
contemplar o por do sol de qualquer outro lugar da cidade que não o porto.
Ficou claro o tom inquisitivo e, de certa forma, arrogante, na pergunta do
administrador sobre o nosso nível de conhecimento sobre aquele espaço urbano e
as suas relações com os cidadãos desta cidade. Utilizei os nossos conhecimentos
históricos da formação da própria cidade, resgatando aspectos da chagada dos
Casais Açorianos, relacionados com a história atual da cidade para respondera
esta indagação.
De um modo geral, a entrevista foi
bastante interessante. Ao final da entrevista, o administrador se colocou a
disposição para colaborar com o nosso projeto de pesquisa no que fosse
necessário e sugeriu que visitássemos a biblioteca do Cais do Porto onde estão
vários documentos históricos que remontam várias épocas da existência deste
importante espaço urbano.
TRANSCRIÇÃO DA FITA
Jaques – O
Sr. Trabalha para o DEPREC ?
Paulo –
Estou vinculado a secretaria de transportes, administro os portos e hidrovias,
portos interiores, porto de Porto
Alegre, de Pelotas, porto de Cachoeira e mais 700 quilômetros de hidrovias
navegáveis. Essa é a função principal da superintendência de portos e hidrovias
que é constituído de três diretorias básicas: uma de grande porte interiores,
uma diretoria de hidrovias e uma diretoria financeira-administrativa, tudo isso
coordenado por uma superintendente que executa as atividades (como autarquia
estadual).
Jaques –
Vejo nos muros do porto a inscrição DNOS. Ainda existe este departamento ?
Paulo - Foi extinto na era Color. Foi o que fez a
cortina da Mauá, é uma das obras do DNOS que mais chama a tenção, mas este
órgão foi instinto não tem mais.
Jaques –
Então a administração do porto está somente a nível estadual ?
Paulo – A
administração portuária é estadual, a superintendência é uma autarquia estadual
que administra sob concessão da união que concede ao estado o gerenciamento dos
portos e hidrovias. Tudo isso é patrimônio da união e o estado criou uma
autarquia para gerenciar esta concessão em nome da união.
Jaques –
Quanto a operacionalidade do cais de Porto Alegre ?
Paulo –
Antes da lei 8.630, a lei de modernização dos portos, de 1993, toda a
movimentação do cais do porto era feita pela própria autarquia, a partir daí, então
os serviços de operação no cais, movimentação horizontal de carga, operação de
carga e descarga, recebimento e entrega de carga nos armazéns, foi sendo
terceirizado gradativamente. Hoje todo movimento de carga é feito por terceiros
(serviço privado). Os serviços, o gerenciamento, o monitoramento,
disciplinamento ainda é feito pela autoridade portuária, pela administração do
porto, mas a execução dele é feita por operadores portuários privados. Isso vem
de 1993 para cá, gradativamente vai sendo mudado o modelo. Parte dos
investimentos, equipamentos, tudo é feito pelo privado no sentido de melhorar
e aperfeiçoar a operação.
Jaques –
Estes funcionários, pessoas que vejo carregando e descarregando os navios são
funcionários do porto ?
Paulo – não
são funcionários do porto, são funcionários de portuários privados. Nosso
pessoal trabalha somente na coordenação das atividades, no monitoramento e no
disciplinamento das atividades.
Jaques – A
parte da segurança ... ?
Paulo –
segurança, normalização, tarifas, horário, enfim tudo que envolva a organização
da operação como um todo é feita pela administração que executa os serviços.
Nas empresas portuárias privadas nós não interferimos neste processo, isso é no
Brasil inteiro, alguns portos são mais avançados, outros menos, mas todos
caminham para isso, e tudo começou em 1993 com a lei de modernização dos
portos. Está mudando radicalmente o perfil operacional dos portos de Rio
Grande, por exemplo, que já está com toda a sua operação feita por privados,
gradativamente estão se adaptando a nova legislação.
Jaques –
Então o quadro de pessoal não é muito grande hoje ?
Paulo – É
muito reduzido. É mais a parte administrativa e manutenção. Temos uma equipe
mínima de manutenção das instalações que é o patrimônio do porto, mas reduziu
bastante o número de funcionáros, eu diria drasticamente.
Jaques –
Aproximadamente, quantos funcionários?
Paulo –
Hoje a superintendência que envolve Porto Alegre, Pelotas, Cachoeira, Rio Pardo
e as hidrovias, entre pessoal de manutenção e pessoal administrativo são uns
200, no máximo e tende a diminuir cada vez mais. Isso a superintendência de
portos e hidrovias, nada a ver com o porto de Rio Grande, porto de Rio Grande
separado, eu falo Pelotas, Porto Alegre, e hidrovias interiores, pessoal carregado
de fazer a manutenção da dragagem, sinalização, isto é, para garantir a segurança da navegação.
Jaques –
Sobre as mudanças que estão previstas dentro do projeto Porto dos Casais, como
o senhor vê estas mudanças?
Paulo – Eu
diria que o porto de Porto Alegre vai se transformar enormemente com o advento
do porto dos casais. A vinda da GM e da Ford vai trazer uma transformação tão
grande como foi na década de 1970 com o
complexo de soja que revolucionou o sistema portuário gaúcho, tanto que Porto Alegre,
como Rio Grande, isto na parte dos granéis da época, (...) Hoje eu diria que o
porto de Porto Alegre passa por uma explosão, uma transformação de atividades
dentro de um complexo das cargas, em geral manufaturados (...). Eu diria, me
atrevo a dizer que é a maior
transformação que Porto Alegre vai enfrentar nestes próximos anos a
partir destes investimentos grandes maciços. Vai ser fantástico ! Nós não
conseguimos nem imaginar, é imaginável o volume de carga, o volume de carga que
pode representar para o porto, eu diria até que nos próximos 20 anos o porto
vai ser insuficiente para atender toda a demanda de carga gerada, decorrente destes investimentos nas cidades
vizinhas do porto: GM, FORD, GODYEAR,
PYRELE e outras inúmeras empresas que vão se instalar aqui decorrente
destes movimentos mais a transformação visual que o porto dos casais vai causar, também vai ser
um atrativo comercial de grande circulação e demanda de negócios que nós hoje
nem conseguimos imaginar.
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