Maeterlinck*
A Inteligência das Flores
Nota Introdutória
Título Original: “A Inteligência
das Flores” (Lisboa, 1916)
A
nota introdutória faz-se necessário para preparar o nosso leitor sobre o que
vai encontrar nas páginas que seguem. O próprio tradutor, Candido de
Figueiredo, utiliza este recurso. Nas primeiras linhas você lê: Nota prévia.
Mas, a intenção aqui é transcrever um trecho de “A inteligência das flores”. Da
mesma forma como trabalhamos em “O Tesouro dos Humildes”.
Adendo
nesta nota o fato lamentável de não termos uma biblioteca na nossa comunidade.
A grande maioria das cidades pequenas (além das médias), pela Europa a fora,
possuem pelo menos uma biblioteca. As vezes comunitária, ou lendária (em termos
de tradição do lugar), muito pequena, com instalações discretas, mas há. Aqui
não. E como nós estamos em dezembro, gostaria de registrar que eu tentei. A
mais ou menos quatros anos atrás, preparei um material de divulgação e distribui
entre algumas pessoas mais próximas. O objetivo era reunir doações de livros,
revistas, CDs, DVDs, etc. para agregar ao acervo que já temos, com fins de
iniciar o trabalho de uma biblioteca comunitária. Sabe qual foi o retorno?
Praticamente zero. Não consegui sensibilizar os meus semelhantes quanto a
necessidade de fundação de um equipamento urbano deste tipo entre nós. Não
raramente, ao percorrer as ruas do condado, a pé ou de bicicleta, encontro nas
lixeiras livros, revistas, etc.
Deste
breve relato, duas conclusões importantes. Em primeiro lugar, as pessoas deste
lugar, de um modo geral, levam para a lixeira, junto ao lixo comum, material
reciclável. Entre o material reciclável, há livros e outras obras análogas que
poderiam estar abastecendo o acervo de uma biblioteca pública e/ou comunitária.
Não há a sensibilidade necessária dos meus co-cidadãos para as demandas da área
da cultura e educação. A cultura local é: o poder público que faça. E, aí,
entro no segundo ponto: não é responsabilidade apenas do poder público o fato
de não termos uma biblioteca pública aqui no “Condado”. Mas, especialmente do
poder público que já poderia ter atendido esta demanda da Cidade de Santa
Isabel. Para concluir o ponto, é importante frisar que nós tínhamos uma biblioteca
local. Ela chamava-se “Biblioteca Pública Municipal Mário Quintana” e
funcionava junto ao terminal da Avenida do Trabalhador (atualmente espaço da
Praça Santa Isabel). O Poder Público Local, na época sob a administração de
Senhor Alex Sander Alves Boscaini, decidiu extinguir o referido terminal e
transferir o acervo da biblioteca para o interior da Escola Municipal Alberto
Pasqualini. A decisão tornou a única biblioteca pública em mais uma biblioteca
escolar e a comunidade sem a possibilidade de acessar o equipamento como
ocorria outrora. Páginas tristes na
história de uma comunidade com sede de cultura, lazer e sociabilidades
educativas.
Vejam
os senhores, eu estou um pouco lá e um pouco aqui. Explico: a transcrição
provoca uma série de reflexões de cunho prático e também sobre o conteúdo do
texto trabalhado. Neste momento, me atenho apenas as primeiras causas
declaradas. A distância temporal que nos separa da confecção desta obra é de,
aproximadamente, um século. Como (e talvez por que) chegamos aqui neste
encontro hoje? Este que vos tecla vive em uma cidade que não existe biblioteca,
mas viaja diariamente até a academia para realizar um “Curso de Letras”. Neste
centro de saber topa com esta preciosidade (A falar. Falar e silenciar). Vivo
na América (extremo sul do Brasil). O autor viveu na Europa, centro do
vertedouro científico e literário de boa parte de toda a sociedade
contemporânea. E este encontro agora? Justo agora no momento em que os jovens
(meus semelhantes) nem sequer lêem como liam os seus progenitores. Tão apegados
aos novos suportes da informação que consomem a essência das obras literárias,
vivem de restos de uma cultura que, de tão decadente, espezinhada e ofendida,
por certo, em breve, se extinguirá como vapor a plasmar nuvens de um presente
que virou passado.
A
verdade é que esta transcrição não absolve ninguém da “pena” de Maurício
Maeterlinck. Temos (todos) o dever de conhecer esta obra, até para não cair na
infâmia traduzida pela célebre frase: Eu não sabia de nada. Como assim?
Simplesmente se esquivar de verdades tão sublimes já apresentadas
magnificamente por Maeterlinck a mais de um século. Ficou o registro da labuta
intelectual deste mestre das letras e também ficou a herança literária super
qualificada para os meus contemporâneos. Se agora preferem “drogas diversas”
que nem sabem a procedência, o que fazer? Eu vou continuar fiel a minha
linhagem de ancestrais que optaram por acreditar e trabalhar na defesa dos
bons, dos mansos, dos honestos e dos humildes.
ASPECTOS DA OBRA
A
folha de rosto do livro diz que esta é uma tradução feita por Candido de
Figueiredo. A procedência do livro é Lisboa/Portugal, datado de 1916. Deu
entrada na biblioteca da PUC/RS em 1951 e traz um carimbo da Faculdade Livre de
Educação, Ciências e Letras de Porto Alegre. Um detalhe importante a se
destacar aqui é que transcrevo conforme o original. É necessário ratificar: o
texto original é Frances, traduzido para a língua portuguesa de Portugal.
Portanto há diferenças tanto na semântica como na grafia se comparado com a
nossa língua oficial (português – Brasil). Pode ocorrer ainda que o software
(editor de texto) tenha puxado alguma grafia para o português Brasil, pois é
difícil de controlar as configurações automáticas do programa. Há que se considerar
também esta possibilidade. Eu lamento (profundamente) pela falta de
sensibilidade dos profissionais da biblioteconomia que gostam de colar selos e
mais selos em obras raras como esta que estou trabalhando. O que me parece é
que eles seguem um protocolo rígido de normas superiores que impõe este tipo de
agressão funesta às obras literárias. Este tipo de compendio nem devia estar
disponível para empréstimos focados no público em geral de acadêmicos mais
preocupados com as somas das médias aritméticas ao final dos períodos letivos,
do que com a formação profissional e intelectual, propriamente dita. Voltando
aos selos. Colam e sobrecolam, com objetivos, no mínimo, discutíveis e
parciais, selos, tarjas, etiquetas, papeletas de suporte para carimbos e arestos
diversos. Eu falei lá atrás em “pena” e se você abre o “A Inteligência das
Flores” é justamente o que você vai encontrar: uma palavra escrita com
equipamento que já foi tombado para peça de museu histórico. Há muita diferença
entre aquele tempo e hoje. Há uma distância muito grande de realidades vividas
lá e aqui. O que continua é a estupidez humana de não reconhecer preciosidades
que não estejam marcadas com cifrões.
Na pagina 232, leio ...
A
Inteligência das Flores
VIII
Por outro lado, como respondemos
nós a pregunta, quando já se não trata de nós, mas daquilo que respira conosco
sobre a terra?
Importamo-nos nós por
acaso da sobrevivência dos animais? O cão mais fiel, o mais inteligente, o mais
afectuoso, assim que morre, não passa de uns restos repugnantes, de que nós nos
desembaraçamos, o mais depressa possível. Nem sequer nos parece possível que
preguntemos a nós mesmos se alguma coisa da vida, já espiritual, que nele
amamos, subsiste apenas em a nossa recordação, e se existe outro mundo para os
cães. Parecer-nos-ia altamente ridículo que o tempo e o espaço conservassem
preciosamente , durante a eternidade, entre os astros e nos palácios ilimitados
do éter, a alma de um pobre animal, constituída de cinco ou seis hábitos
enternecedores, mas muito ingênuos, e do desejo de beber, de comer, de dormir e
de saudar os seus semelhantes, do modo que sabemos.
Demais, que restaria
daquela alma, formada inteiramente de algumas necessidades de um corpo
rudimentar, quando esse corpo já não existisse? Mas com que direito imaginamos,
entre nós e o animal, um abismo, que nem sequer existe entre o mineral e o
vegetal, entre o vegetal e o animal?
Seria mister examinar,
antes de tudo, esse direito de nos julgarmos tão distantes e tão diferentes de
tudo que vive na terra, assim como a pretensão de nos colocarmos numa categoria
e num reino, a que os próprios deuses que nós criamos nem sempre teriam acesso.
Continua na
Pag 234
CONCLUSÃO
A sensibilidade é plantada no coração do ser logo da sua chegada nesta esfera
(ou quem sabe antes). Os pré-destinados, os seres sensíveis, os escolhidos
pelos Deuses possuem este dom natural e não precisam “fazer força” para serem o
que “São”. O que são por essência? Senão: sensíveis, amáveis, gentis, enfim
especiais luzes.
Volta e meia, observo “deboches” dos rudes
aos especiais, justamente pela sua condição de “especialidade”. Os rudes, os
ardilosos, os bravios e vilipendiosos se regozijam em molestar os seres
sensíveis e especiais. Para eles é como um jogo onde vale golpe baixo. O
preconceito é real e vive entre nós. Contudo, concluo em grande estilo: Viva
Maurício! Este ser mais que especial. Antes de todos nós, já estava desperto e
de prontidão para falar da temática animal versus Homem com tanta sabedoria e
elevação. Ele tem toda a razão: pretencioso é o homem que se julga mais que um
não humano. É muito bom ler isto naqueles que nos antecederam. É animo puro
para quem respira esta luta anti-especicista, a exemplo do que decidimos
empenhar com tenacidade e honradez.
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