quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Sri Prem Baba

Sri Prem Baba: "Autoconhecimento é o remédio para a humanidade"
Em entrevista a ZH, líder espiritual prega o silêncio como transformação
Por: Janaína Kalsing
10/11/2015 - 06h05min

Silêncio para mudar o mundo. Isso é o que propõe Sri Prem Baba — em sânscrito, o Pai do Amor —, mestre espiritual brasileiro e criador do festival Awaken Love (Amor Desperto, em livre tradução), que busca despertar a consciência amorosa em todos os segmentos da sociedade e convoca as pessoas para uma intervenção com mantras e silêncios.
— Nós nos tornamos muito barulhentos. A gente acabou se tornando viciado em pensar. O pensar se tornou compulsivo. Os pensamentos vão para direções imprevisíveis. Acabam nos levando a lugares de sofrimento, de ansiedade, gerando desejos por coisas que, às vezes, são muito distantes de nós. A mente é um veículo que precisa ser sabiamente conduzido, porque, do contrário, pode nos levar a lugares indesejados — ensina o paulista.
Batizado de Janderson Fernandes de Oliveira, nasceu no bairro Aclimação, em São Paulo, em 1965. Afirma ter tido suas primeiras dúvidas existenciais aos 12 anos, assim como as aulas de ioga. Mais tarde, formou-se em Psicologia. Atualmente, se divide entre Brasil e Índia. Na terra dos contrastes, mais precisamente na cidade Rishikech, conheceu, aos 32 anos, Raj Maharajji, um mestre que lhe acolheu e se tornou seu guia. Durante três anos, juntou e aprofundou conhecimentos de filosofias oriental e ocidental. Hoje, aos 50 anos, o líder humanitário arrasta milhares de seguidores aos seus satsangs (sat = verdade, sang = encontro), espécie de palestras nas quais discípulos e peregrinos de todas as partes dirigem perguntas direto ao guru, que as responde, a quem quiser ouvir. ´
Em Porto Alegre, não deve ser diferente. Os ingressos para "Diwali: festival das luzes", que ocorre nesta quarta-feira, no Centro de Eventos do BarraShoppingSul, estão esgotados há mais de três semanas. Antes disso, nesta terça-feira, lançará o livro "Amar e Ser Livre — As bases para uma nova sociedade", às 19h, na Livraria Cultura do Shopping Bourbon Country.
Em depoimento a Zero Hora, Prem Baba explica que seu papel no planeta é ajudar a despertar a consciência amorosa das pessoas, criando uma cultura de paz. Na entrevista a seguir, concedida por telefone, fala sobre política, educação, conflitos que a humanidade tem enfrentado, além, claro, de autoconhecimento. 

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A sua vida tem sido bem agitada. Tem conseguido ficar em silêncio?
Eu tenho uma prática muito estrita, até para dar conta de tudo que venho fazendo. Então, todo dia de manhã, me recolho. Antes de sair para o mundo, faço minha prática. Até porque tenho de dar exemplo. Tenho falado com a intenção de que as pessoas possam compreender a proposta e, com isso, possam se aventurar na experiência do silêncio. A ideia é fazer um minuto de silêncio, cinco vezes por dia, começando com 21 dias. Se nesses dias a pessoa perceber transformações na vida, então sugiro estender e fazer 40 dias. Se com 40 dias observar e identificar as transformações e os benefícios dessa prática tão simples, sugiro estender para três meses. Se ela conseguir, vai ter introjetado a prática na vida dela, pois ocorre uma alteração química no cérebro. É criada uma rede neural que vai fazer com que essa prática se torne tão natural quanto uma prática de higiene, como escovar os dentes. E aí ela vai estar criando esse campo para a experiência de algo maior, que transcende até os limites da própria mente. O silêncio faz isso.
Por que do silêncio?
Nós nos tornamos muito barulhentos. A gente acabou se tornando viciado em pensar. O pensar se tornou compulsivo. Nós não temos domínio sobre a nossa mente. Na hora que você quer parar de pensar, você para?
Não, é muito difícil.
É difícil. Na mente, ocorrem muitas coisas. Os pensamentos vão para direções imprevisíveis. Acabam nos levando para lugares de sofrimento, de ansiedade, acabam gerando desejos por coisas que, às vezes, são muito distantes de nós. A mente é um veículo que precisa ser sabiamente conduzido, porque, do contrário, a mente pode nos levar para lugares indesejados. Esse veículo pode nos levar para abismos. Esse veículo pode bater em um poste. Pode promover repetições de situações negativas, destrutivas, na vida financeira, profissional, afetiva, sexual, familiar, na saúde, na própria vida espiritual. É uma preparação para este estado onde temos a mente sob nosso domínio.

Pesquisa reafirma os benefícios da espiritualidade para o bem-estar

Enquanto psicólogo, imagino, buscava respostas na ciência. Conseguiu encontrá-las na religião?
Não me considero uma pessoa necessariamente religiosa. Fui buscar respostas na espiritualidade. Mas diferencio espiritualidade de religião. Porque a religião segue um caminho bem determinando, claro e definido. Tem seus limites bem definidos. Já a espiritualidade é universal, ela inclui a religião. Hoje, a minha religião é o amor. O amor acolhe todas as religiões, todos os partidos políticos, times de futebol, todas as diferentes classificações e denominações. Não há separação na espiritualidade. Ela une tudo. Eu realmente era um psicólogo, um cientista da mente. Eu queria encontrar repostas para o sofrimento humano, para todas as dificuldades que se vê neste mundo, através da ciência. Mas aí deparei com um limite. A ciência não tinha respostas para o que eu buscava. Anteriormente, já havia buscado na religião. Por conta disso, entrei em uma crise profunda. E foi na auge dessa crise, quando tinha 32 anos, que fiz uma oração muito sincera para o universo e falei: "olha, se existe realmente algo que esteja além das criações da própria mente, se existe algum poder que realmente nos guia, por favor, se manifeste, porque eu cheguei ao final da linha". E aí entrei em meditação e ouvi uma voz falar dentro de mim: "quando você tiver 33 anos, vá para a Índia, para Rishikech". Aí me lembrei que, quando era menino, em uma primeira vez que fiz uma prática de ioga, ouvi um canto devocional e ouvi a mesma coisa. Eu tinha pouca cultura global, nem me lembrava que existia um país chamado Índia, mas eu ouvi essa voz falar dentro de mim. Como era menino, esqueci disso. Fui tratar de viver a vida, trabalhar e seguir minha vida. Quando estava no auge dessa crise, aos 32 anos, entrei em meditação e ouvi esse velho de barbas brancas, no Himalaia, dizendo para mim: "você vai fazer 33 anos, venha para a Índia". Então, lembrei da mensagem que havia ouvido, e aí fui para a Índia. Fiz um pouco de turismo até chegar em Rishikech. Lá, bati na porta de um quarto. O mestre espiritual responsável por aquele ashram (locais para hospedagem destinados à meditação e ioga) me atendeu. Logo percebi que era o mesmo velho que havia aparecido da minha visão (o guru Sri Hans Raj Maharajji). E ali algo se transformou dentro de mim. Eu fiquei com ele, fui iniciado nesse tipo de ioga. No Brasil, quando se fala em ioga, logo se pensa nesse ioga física, que é praticada nas academias e é bem corporal. Mas existe uma ioga diferente, espiritual, que está relacionada mesmo ao processo mais profundo de iluminação da consciência. Fiquei com ele, fui aprendendo, me purificando, me autoconhecendo. Foram três anos de profundos trabalhos sobre mim mesmo. Até que, depois, cheguei em uma clareza de quem sou e do que vim fazer aqui. Foi quando recebi esse nome: Sri Prem Baba.
Quem é Sri Prem Baba?
Sri Prem Baba hoje é visto como mestre espiritual, um líder humanitário que está engajando em muitas ações sociais no mundo, para enriquecer a educação, trabalhar em prol do meio ambiente, na defesa de nascentes de água, para tentar revisar e ressignificar o sistema prisional, a gestão pública, a saúde. É um mestre espiritual porque cuida das pessoas. Mas, o mais profundo, o que me sinto hoje, é um amigo. Um amigo do ser humano, que está realmente comprometido em criar uma cultura de amor, paz e prosperidade neste planeta.

Espiritualidade chega às organizações

E você gosta de estar cercado de qual tipo de amigo?
O que gosto, mesmo, é de estar junto de outras pessoas espirituais. Pessoas comprometidas com o bem, com o amor, com a paz. É isso que me faz bem. Mas, a verdade é que amo todos, mesmo que não concorde com alguns.
Você tem falado que o sistema educacional do país está comprometido com a guerra e com a destruição do planeta. Como reverter isso?
Não vejo outro caminho para este mundo se não através da educação. Especialmente, começando pelo Ensino Fundamental, com as crianças. A nossa educação hoje está focada no medo da escassez. A nossa economia também. E educação está destinada a ajudar as crianças a ganhar dinheiro, a sobreviver neste mundo que tem base no medo da escassez. Não ensina a ser feliz, a se relacionar de uma forma harmoniosa, construtiva. Não ensina a criança a lidar com sentimentos, com o seus potenciais, a reconhecer o propósito maior da alma dela. O foco único é transformar a criança em um adulto capaz de sobreviver à competição, à disputa que se tornou a vida humana neste planeja. Então, quem acumula mais tem mais poder e pode sobreviver. Mas isso eu diria que é, no mínimo, estúpido. E nós estamos para onde está levando esse sistema. Há um desequilíbrio se manifestando em todos os segmentos da nossa sociedade.
Estaríamos olhando para a existência a partir de um viés equivocado?
A gente está lidando com a vida como um produto que pode ser comercializado, que pode ser transformado em dinheiro.
Você é contra o dinheiro?
Não. Estou visualizando a possibilidade de um novo capitalismo, que tenha base na solidariedade, na cooperação, no amor. A economia é baseada no amor. E tudo isso começa na escola. Quando a criança chega para conhecer as primeiras noções do ensino secular, que ela possa também aprender sobre o valor do silêncio, dos valores humanos, a lidar com sentimentos. Que ela possa começar a criar condições, experienciar confiança, resgatar a conexão com seu mundo espiritual interior. O que não tem nada a ver com religião. Estou falando de amor, de um olhar mais inclusivo para a vida.
Você tem feito algo para inserir essas ideias na sociedade?
Acabei criando o movimento que tenho chamado de Awaken Love, que tem a audaciosa missão de despertar a consciência amorosa, a paz em todos os lugares. Estamos fazendo isso através de uma campanha. Estou chamando toda a população, de todos os lugares e segmentos, religiões, classes sociais, para começar a viver essa experiência. De dedicar, nem que seja um único minuto, para o cultivo do silêncio. Acho que isso é um início da revolução da consciência. Além disso, o Awaken Love visa a acordar alguns valores que considero absolutamente urgentes e necessários para este momento da nossa jornada.
Quais valores são esses?
O primeiro deles é o honestidade. Estamos vivendo uma epidemia de mentiras, especialmente aqui no Brasil. A honestidade implica em integridade, em verdade. É uma manifestação do amor, absolutamente necessária neste momento. O segundo valor é autorresponsabilidade, porque acabamos nos perdendo em uma crença de que somos vítimas das coisas ruins que nos acontecem. Nos viciamos em acusar o outro, o mundo, pela nossa infelicidade, pela nossa incapacidade de amar. Terceiro é gentileza. Vamos ser gentis com pessoas que pensem diferentes de nós, que tenham filosofia de vida, religião, partido político ou time de futebol diferentes do seu. O quatro: dedicação a esta causa, com todas as forças. É fácil se perder neste mar de medo e ódio que vibra e pulsa neste mundo. O quinto é o serviço. É ter a lembrança do propósito. É saber a razão de estarmos aqui, por que acordamos de manhã. E o sexto, beleza. Um resgate da beleza. Não só a beleza demostrada pela indústria, mas aquela que vem da alma, que vem dentro. Esses valores estão sendo disseminados e trabalhados através de diferentes projetos e campanhas em diferentes setores da sociedade. Em outras palavras, estou falando de autoconhecimento. Somente se ele ocorrer em larga escala, poderemos criar uma cultura de paz no mundo.
O autoconhecimento seria o remédio para a humanidade?
É exatamente isso! Mas o remédio mesmo, que vai curar, na verdade, é a compaixão, é o amor puro e desinteressado. E isso só se revela através do autoconhecimento. Então, é verdadeiro dizer que o autoconhecimento é o remédio para a humanidade. Eu batalho para que o autoconhecimento vire política pública. Isso precisa acontecer em larga escala.
Como fazer isso em um país que não consegue resolver outras questões básicas?
Tenho várias ideias. Tenho, por exemplo, o Instituto Awaken Love Action, no qual trabalhamos na educação, no sistema prisional, no meio ambiente, na saúde e na gestão pública. Então, por exemplo, em relação à educação, temos um projeto chamado Florescer, que visa levar esses valores para as escolas públicas, para o Ensino Fundamental. A gente conseguiu fazer, recentemente, que 100% do sistema público da cidade de Nazaré Paulista, onde temos um dos nossos Ashram, está implementando esse projeto, já é uma política pública. 100% das escolas estão falando de paz. Os professores estão sendo formados dentro dessa linguagem, as pessoas que trabalham juntos com os professores passam por treinamento, o que depois é repassado para as crianças. A gente tenta incluir as famílias também, com um trabalho de mediação, para que possam entender essa cultura que estamos propondo. É uma mudança de cultura. Estamos propondo uma cultura de paz, ao invés dessa cultura de guerra que tem permeado a nossa vida.
Quem financia o instituto?
Sobrevivemos de doações. Como é muito difícil negociar com o poder público, como o governo, com as prefeituras, a gente prefere não depender deles para o instituto sobreviver. Temos apoio da iniciativa privada para levarmos uma solução para governos e prefeituras, e não levarmos um problema a mais. A gente vai atrás de apoiadores. A ideia é enriquecer o sistema de educação, porque não tem como zerar o que está aí. A gente tenta melhorar, aperfeiçoar, fazer um upgrade.
Você tem se encontrado e posado ao lado de lideranças políticas e sociais. Fotos com figuras como o ex-candidato à presidência Aécio Neves podem ser vistas nas redes sociais. Um mestre espiritual tem partido político?
Não, não tem. E também não tem religião. Eu recebo todos que tiverem vontade de chegar até mim, que estejam afinados com este propósito de cultura de paz. Que estejam dispostos a ouvir o que tenho para falar. Eu recebo todos, independentemente do partido. Assim como sentei com o Aécio, sentei com outras lideranças, de outros partidos.
Então você não vota?
Voto. Nas últimas eleições, não tenho conseguido votar por estar fora do Brasil. Tenho justificado, nas últimas eleições. Mas, claro que tenho minha visão, e ela vai variando. Já votei no PT, no PSDB, em vários partidos diferentes. Eu voto de acordo com o que sinto no momento, qual candidato está um pouco mais aberto para uma cultura de paz e de real prosperidade. Mas a gente também se engana.
Você publicou um guia chamado "Transformando o Sofrimento em Alegria". Existe um método para passar do sofrimento para a alegria? 
Ofereço um caminho, o caminho do coração. Uma metodologia que desenvolvi com base no conhecimento da psicologia e, obviamente, da espiritualidade. Um casamento entre ciência e espiritualidade, uma metodologia psicoespiritual. Ela começa ajudando a pessoa a tomar consciência daquilo que é ela carrega com ela, de personalidade, que sabotam a felicidade. Então, a gente começa através da autorresponsabilidade, olhando de frente para estes aspectos que, muitas vezes, escondemos, comprometidos com o sofrimento. A ideia é abrir espaço as origens disso. As origens são, normalmente, por choque de valor. São choques de humilhação, exclusão, abandono, rejeição, que vão gerando mecanismos de defesa, que a gente entende como maldade e acaba se voltando contra a pessoa, sabotando a própria felicidade.
Com tantos mestres, gurus e guias espirituais pipocando por aí, o senhor se considera um líder autêntico?
Você conhece uma árvore pelos frutos. Peço que observem os frutos do meu trabalho, porque quem vai dizer se sou autêntico ou não são as pessoas que se encontram comigo, que estão vendo o resultado daquilo que estou transmitindo, ensinando.
Não usa a autopropaganda?
Eu não quero que as pessoas criem fantasias. Não estou querendo pregar nenhuma doutrina. Quero que as pessoas experienciem o amor. Se ela pode experienciar por meio disso que estou transmitindo, ensinando, eu fico feliz. Agora, claro, existem critérios que determinam a veracidade de um mestre espiritual. Isso é a própria linhagem.
Qual teu papel neste momento no universo?
Fazer as pessoas experienciarem o amor puro e desinteressado, acordar a consciência amorosa. Criar uma cultura de paz.
Isso seria um sonho de vida?
É meu grande sonho. As pessoas se encontrarem e se reconhecerem como velhos conhecidos, que possam respeitar e amar uns aos outros, sem se ferir.
O amor enquanto agente transformador é recorrente na tua fala. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman diz que que vivemos tempos de amores líquidos. Onde fica a liberdade do ser humano nisso tudo?
Sinto que só uma pessoa que ama de verdade pode se sentir completamente livre. Agora, para isso, se faz realmente necessário experienciar o amor verdadeiro, o amor desinteressado. Aquele amor que está pronto para deixar o outro livre, inclusive para não te amar caso ele não queira ou não possa. É um grau de amor maduro, quando você ama de uma forma madura, a ponto de deixar o outro livre para não te amar, caso não possa, é que você também vai se sentir livre. Porque, se você está querendo prender o outro, é porque também está preso. A gente, às vezes, acaba se perdendo nas nossas carências, forçando o outro a nos dar aquilo que não tem para dar. A gente desperdiça a vida forçando o outro a nos amar.
O que as pessoas podem esperar do encontro com você em Porto Alegre? 
Espero poder oferecer experiência. As palavras, por mais interessantes que sejam, são somente uma pequena parte do que tenho para oferecer. Tenho para oferecer uma bênção, um desejo sincero de que o outro seja feliz. É o amor em movimento, em ação. Quando quero mesmo que você se realize, tenha suas necessidades atendidas. Que você possa manifestar seu melhor. Isso é bênção. Quando isso é colocado em movimento conscientemente, tem grande poder. Quero oferecer uma experiência do amor, da paz, da meditação, da presença.


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