sábado, 4 de julho de 2015

Noel Rosa




3.1 Noel Rosa e a Vila Isabel do Rio de Janeiro

Inicie o tópico – Arte Popular – destacando os valores expressos na Cultura de Rua denominada de Hip Hop. No entanto, o universo carnavalesco também é uma forma de expressão de cultura popular muito significativa e intimamente relacionada com a africanidade e a afro-descendencia. O trabalho antropológico realizado por Liliane Guterres sobre a escola de samba Imperadores do Samba é uma das leituras que realizei para basear tecnicamente esta monografia. Na época em que participei do grupo de trabalho em antropologia visual (NAVISUAL/IFCH/UFRGS) tive a oportunidade de compartilhar pessoalmente com esta pesquisadora os temas que envolvem este estudo. Auxilie a equipe que montou a exposição fotográfica sobre este importante trabalho que foi a sua dissertação de mestrado apresentado junto ao programa de pós- graduação em antropologia social (PPGAS).
Noel de Medeiros Rosa (1910 — 1937) foi um sambista, cantor, compositor, bandolinista, violonista brasileiro e um dos maiores e mais importantes artistas da música no Brasil. Teve contribuição fundamental na legitimação do samba de morro e no "asfalto", ou seja, entre a classe média e o rádio, principal meio de comunicação em sua época - fato de grande importância, não só para o samba, mas para a história da música popular brasileira.
Noel Rosa nasceu de um parto muito difícil, que incluiu o uso de fórceps pelo médico obstetra, como medida para salvar as vidas da mãe e bebê. Além disso, nasceu com hipoplasia (desenvolvimento limitado) da mandíbula (provável Síndrome de Pierre Robin) o que lhe marcou as feições por toda a vida e destacou sua fisionomia bastante particular.
Nascido na Rua Teodoro da Silva número 130, no bairro carioca de Vila Isabel, foi primeiro filho do comerciante Manuel Garcia de Medeiros Rosa e da professora Martha de Medeiros Rosa, Noel era de família de classe média, tendo estudado no tradicional Colégio de São Bento, onde apesar da inteligência notável, não era aplicado nos estudos.
Adolescente, aprendeu a tocar bandolim de ouvido e tomou gosto pela música — e pela atenção que ela lhe proporcionava. Logo, passou ao violão e cedo se tornou figura conhecida da boemia carioca. Em 1931 entrou para a Faculdade de Medicina, mas logo o projeto de estudar mostrou-se pouco atraente diante da vida de artista, em meio ao samba e noitadas regadas à cerveja. Noel foi integrante de vários grupos musicais, entre eles o Bando de Tangarás desde 1929, ao lado de João de Barro (o Braguinha), Almirante, Alvinho e Henrique Brito.
Desde os sete anos de idade acompanho o universo mítico-cultural da cena carnavalesca isabelense (Viamão/RS). A quadra de ensaios ficava bem próxima a residência da nossa família na Rua Nova, Vila Miguelina, Santa Isabel/Viamão/RS. Posteriormente foi removida para a Praça da Bica onde está atualmente. A atual gestão pública municipal tem por objetivo remover novamente a Escola de Samba Unidos de Vila Isabel para outra área. Esta mudança tem gerado debates acalorados entre os que são favoráveis e os contrários a mudança. Não é meu objetivo entrar no âmago desta questão, pois o meu objetivo é destacar a minha relação com a referida entidade e também demosntrar que permaneço atento a todas estas questões atuais da cena urbana de Santa Isabel/Viamão/RS.
A partir de um registro fotográfico realizados pelos meus pais na década de 70 do século passado, onde figuro ainda bebê brincando no pátio da nossa antiga residência na Praia de Belas (Porto Alegre/RS) realizei atividade de edição digital de imagens, agregando outras duas estampas. Agreguei a imagem original uma imagem fotográfica mais atual em que estou junto a Gruta da Medianeira. O registro fotográfico é de autoria de William Metz e foi realizado durante a pesquisa, pois neste local também existe um “olho d’água” que liga um espaço mítico ritual formado por um contexto hídrico associado ao Aqüífero Guarani (Bica do Jarí, Bica da Lascy, Bica da Marcelino e Bica do Beco da Passagem). Agreguei ainda a estampa que reproduz o brasão da Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, compondo assim uma imagem com três elementos distintos que coloca em tela o pesquisador desde a sua origem até uma cena mais atual na relação com a cultura afro-centrada (Ver Anexo 07).
Ari Rodrigues (Estandarte de Ouro do Carnaval de Porto Alegre por diversas vezes) é uma personalidade local. Poeta, cantor e compositor, Arizinho, como é conhecido na Vila, foi o puxador oficial da Escola de Samba Unidos de Vila Isabel por quase duas décadas. Este artista fez carreira aqui e também no Rio de Janeiro. Conhecedor profundo da cultura afro-brasileira e da arte carnavalesca, propõe uma conexão entre a Vila Isabel de Viamão e a Vila Isabel do Rio de Janeiro. Operacionalizou esta conexão através da obra de Noel Rosa.
O poeta da Vila Isabel do Rio de Janeiro, Noel Rosa, cantou: “São Paulo dá café, Minas dá leite e a Vila Isabel dá Samba”. O poeta da Vila Isabel do Rio Grande do Sul (Arizinho) iniciava os ensaios carnavalescos de forma a lembrar a afinidade sócio-cultural entre as duas comunidades carnavalescas, cantando os versos de Noel Rosa. Ari é um grande talento musical, pois soube criar diversas peças artísticas próprias. Um exemplo disso é a expressão: Vamos Trabalhar?!
O artista em tela destacava de uma forma muito original que as músicas que criava eram fruto do seu labor artístico, ou seja, do seu trabalho artístico-cultural vivenciado no âmbito da Escola Unidos de Vila Isabel. Da mesma forma, no início dos ensaios, estendia esta concepção de labor artístico para toda a comunidade reunida no barracão. A frase utilizada nesta situação era: “Vamos trabalhar, trabalhar, trabalhar. Alô, família de Vila Isabel, vamos trabalhar!!!” A partir deste momento todos os componentes da escola (bateria, abre alas, baianas, passistas, convidados, platéia, etc.) passavam a cantar o samba enredo um uníssono com muita dedicação e empolgação. Neste sentido, cabe destacar que neste universo mítico-cultural, escola de samba, também existe muito presente o sentimento de pertença étnico-racial, pois se trata de um grupo de indivíduos afro-descendentes, com forte relação com os valores das cosmologia de matriz africana e muito mobilizado em torno de um objetivo comum, reunido em no espaço ritual (escola de samba) criado por um ancestral mítico que representa a vontade de fazer durar no tempo os aspectos referentes a raiz de matriz africana, Tio Marino (Já falecido – Ver imagem no anexo 04).
A Sede da Agremiação denominada Grêmio Recreativo, Educativo Assistencial e Cultural Unidos de Vila Isabel está no seguinte logradouro: Rua Marcelino Pacheco, 131, Santa Isabel, Viamão/RS. O lugar tem como marca registrada um marco fontenário hídrico (A Bica da Santa Isabel). É tradição do lugar, colher água em vasilhas diversas na Bica, pois esta possui, segundo a população local, propriedades especiais. Portanto, apesar das residências da região estar, em sua grande maioria, conectadas ao sistema público de abastecimento de água potável, muitos moradores deslocam diariamente até a este local com baldes, canecos, garrafas, galões, entre outras vasilhas para se abastecerem deste líquido que, segundo especialistas do setor hidrológico, verte água límpida e potável desde o centro do Aqüífero Guarani. Sobre esta tradição observada na Santa Isabel, Ari Rodrigues também tinha um equacionamento muito interessante. Além de cantar o refrão: Água da Bica, Ca, Ca, Ca (...) afirmava que todos os isabelenses que bebiam da água da bica não saiam mais desse lugar. Portanto, em função destas razões rapidamente expostas, entre outras que poderiam ainda ser elencadas, a Escola de Samba Unidos de Vila Isabel é um patrimônio cultural da Cidade de Viamão. Necessita de reconhecimento oficial, através de registro em livro tombo específico pelo poder público local. Cabe aqui um destaque: no trabalho realizado na década de noventa do século passado denominado “Inventário Participativo” a referida entidade foi elencada pela Secretaria Municipal e Cultura (Prefeitura Municipal de Viamão) como bem cultural municipal necessitando de medidas protetivas especiais.
Realizei registro fotográfico demonstrando os aspectos do lugar que também é conhecido como “Praça da Bica”. Figuro nesta imagem em trajes de ciclista. O registro foi realizado no momento em que colho uma amostra da água que jorra no verte douro da “Bica da Marcelino”. A imagem fotográfica é de autoria de Berenice Castilhos Rosa. (Ver anexo 06)

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