Livro e Literatura. Ciências Sociais. Antropologia. Sociologia. Porto Isabel. Viamão. Rio Grande do Sul. Brasil.
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
Advogo
Advogo
Eu advogo em nome dos “inocentes”.
Há muito para avançar. Os inocentes não falam.
Os inocentes não possuem associação de classe. Os inocentes não possuem RG ou
Título de Eleitor. Os inocentes não assinam procurações. Portanto, advogo na
defesa deles.
Eu sei que muitos “curtem” o meu trabalho.
Outros tantos torcem o nariz ou debocham das iniciativas tomadas na defesa dos inocentes.
Eu sigo de cabeça erguida, moral elevada, mãos limpas e muita disposição. Foi
desta forma que adentrei ontem na sala da promotora. Dignidade não se negocia:
se conquista.
A iniciativa de recorrer ao Ministério Público
do Estado do Rio Grande do Sul aconteceu devido ao transcurso das investidas
anteriores. Especialmente aquela enviada ao poder legislativo local que não promoveu
o encaminhamento devido à ação. Muitos negam os direitos da “Cidadania Plena” e
tratam o Cidadão como um incapaz. Vou dar um exemplo: Eu solicitei uma cópia da
audiência pública sobre os direitos dos animais que ocorreu no ano passado e
até agora não recebi retorno da mesma. Trata-se apenas da cópia de um
documento. Imaginem todo o resto demandado. Isto não pode acontecer. O respeito
entre as autoridades e os cidadãos é uma via de mão dupla. Deve haver
reciprocidade nesta relação. Sempre.
Sigo
atento e resoluto na defesa dos bons, dos humildes, dos decentes, dos “Inocentes”.
Peço Paz e Justiça para todos os nossos.
Namaste.
domingo, 26 de janeiro de 2014
Pedro Sadi Keller
Passageiro morre em capotagem na BR-101
Passageiro morre em
capotagem na BR-101Um acidente de proporções graves foi registrado no trecho da
BR-101 em Poço Três por volta das 16h deste sábado, dia 25. A queda do Sandero
que seguia na pista Sul/Norte ceifou a vida de Pedro Sadi Keller, de 55 anos. O
Corpo de Bombeiros esteve no local. No entanto já não havia mais sinais vitais
do passageiro. O veículo em direção a Biguaçu teve outras três pessoas feridas
com a saída de pista.
Na condução estava
AAK, de 28 anos. Ele foi atendido com suspeita de traumatismo
crânio-encefálico, além de hemorragia interna. O pai, de 51 anos, teve
laceração na perna esquerda. Já uma menina de nove anos foi ferida na face,
relatou dores na coluna e teve traumatismo crânio-encefálico. Ambos foram
encaminhados ao Hospital São Donato até a estabilização do quadro e tiveram o
encaminhamento posterior ao Hospital São José de Criciúma.
Fonte
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
Império
“A Queda do Império
A radicalização do ideal republicano e abolicionista
manifestava-se por meio de ações de rebeldia popular: em toda a década de 1880,
inflamados comícios contra a escravidão e a monarquia tornaram-se comuns.
Pequenos e grandes incidentes surgiam. Em um deles, quatro meses antes da
Proclamação da República, foram disparados tiros contra a carruagem imperial.
Em conseqüência, a chefia de polícia expediu o seguinte edital:
“Faz saber a todos os
que o presente edital virem ou dele tiverem notícias que serão processados pelo
crime do artigo 90 do Código Criminal os indivíduos que, nas praças, ruas e
outros lugares públicos ou em presença de autoridades, derem vivas à república,
morras à monarquia, vivas ao Partido Republicano ou proferirem gritos e frases
igualmente sediciosas.”
Transcrição literal da página 239 - trecho do texto “A Queda do
Império” – capítulo 16 – A República da Espada (1889 – 94) dos autores Luís
César Amad Costa e Leonel Itaussu A. de Mello (Editora Scipione – São Paulo –
1999).
A Queda do Império
A Queda do Império
A radicalização do ideal republicano e abolicionista
manifestava-se por meio de ações de rebeldia popular: em toda a década de 1880,
inflamados comícios contra a escravidão e a monarquia tornaram-se comuns.
Pequenos e grandes incidentes surgiam. Em um deles, quatro meses antes da
Proclamação da República, foram disparados tiros contra a carruagem imperial.
Em conseqüência, a chefia de polícia expediu o seguinte edital:
“Faz saber a todos os
que o presente edital virem ou dele tiverem notícias que serão processados pelo
crime do artigo 90 do Código Criminal os indivíduos que, nas praças, ruas e
outros lugares públicos ou em presença de autoridades, derem vivas à república,
morras à monarquia, vivas ao Partido Republicano ou proferirem gritos e frases
igualmente sediciosas.”
Enquanto o Império naufragava, dentro do Partido (...)
Transcrição literal da página 239 - trecho do texto “A Queda do
Império” – capítulo 16 – A República da Espada (1889 – 94) dos autores Luís
César Amad Costa e Leonel Itaussu A. de Mello (Editora Scipione – São Paulo –
1999).
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
domingo, 19 de janeiro de 2014
Mario Maestri
Construtores III
A
caminhada é um tipo de construção. O ato de caminhar constrói um
percurso. O percurso, a vida.
Eu
ingressei no curso de Ciências Sociais (IFCH/ufrgs) em 1992. Naquela
oportunidade, surgiram três alternativas de caminho (a seguir): as ciências
políticas, a sociologia e a antropologia. O mais natural é que eu optasse pela
primeira, uma vez que era um militante contumaz do PT. Namorei com a
sociologia, mas foi a antropologia que se colocou “totalmente aberta” para mim.
Fiz-me antropólogo. Então, veja que, como afirmo sempre, aprendi a caminhar
andando. Parece simples, não é verdade? Eu diria que nem tanto. Vou responder
com uma pergunta? Por que intelectuais do quilate de Mário Maestri foram
“expurgados” da ufrgs? Voce sabe a resposta!? Eu também sei, mas deixa pra lá
(eu não estou autorizado para falar sobre este assunto). Vamos voltar para este
caminho.
Etnografia
de rua foi uma invenção nossa (pesquisadores formados e pesquisadores em
formação). Em 1994 eu ingressei como pesquisador voluntário no Grupo da
Professora Dra. Maria Assunta Campilongo. Ela trabalhava com Sociologia da Saúde
e eu estava prestando serviços no Instituto Dom Bosco Masculino. Havia lido
Goffman (Presídios, Manicomios e Conventos) e aquele universo de pesquisa me
atraia. Produzimos trabalhos interessantes juntos. Um exemplo? A exposição
fotográfica “Cenas da Saúde em Porto Alegre” (a minha parte no trabalho era
sobre o IPF (Instituto Psiquiátrico Forense Dr. Mauricio Cardoso). Foi bem
legal. Acho que deve haver ainda algum registro sobre isto na Universidade. Em
1995 eu ingressei como voluntário no NAVISUAL (núcleo de antropologia visual do
programa de pós graduação da antropologia / ifch / ufrgs). Em seguida passei a
atuar na equipe da Dra. Cornelia Eckert e Ana Luiza Carvalho da Rocha.
As
reuniões da equipe de pesquisadores (professores e alunos – mestres e
aprendizes) aconteciam nas manhãs das terças-feiras no prédio do ifch/sala sede
do navisual. Eu quero declarar, de público: possuo todos os trabalhos
realizados naquela época (tanto em base física papel, como em arquivos
eletrônicos). Guardo com carinho, pois remontam a uma etapa deste percurso aqui
mencionado. Não é possível que ninguém venha dizer que algo não ocorrido
ocorreu (e vice versa). Eu tenho as minhas mãos limpas. Lembram desta
afirmativa, exposta nos outros textos? Então! Elas cabem muito bem aqui
(também).
A criação
do Projeto Inventário das Ruas da Cidade surge neste contexto: do cidadão
simples que caminha e constrói um percurso. Do indivíduo preocupado com o seu
meio e interessado nas coisas do seu tempo. Do intelectual que não aceitou
determinadas “regras acadêmicas”para galgar espaço em direção ao cume. Do artista
que extrapola o plano da arte, inventando uma cidade (de letras). Todo o
discurso antagônico a este aqui proclamado é picuinha na guerra das vaidades
humanas que, dia a dia, tritura e esfola as sensibilidades dos que não se
agrupam com “os mais fortes”.
Texto
publicado em
Na Data 21/06/2013
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
O Tempo e o Vento
O Tempo e o Vento
A história do Rio Grande
do Sul pode ser desvendada com a leitura de um livro clássico da literatura
gaúcha: O Tempo e o Vento. Além de ler, podemos também assistir no cinema uma
nova versão digital da obra citada.
O gaúcho é um povo singular
e possui um sistema cultural próprio. Diversas obras literárias remontam
aspectos desta linda página do livro da cultura nacional brasileira. Mas é
Érico Veríssimo um expoente entre os demais literatos que se dedicaram a
enaltecer as coisas do sul. Neste sentido, “O Tempo e o Vento” é um clássico
que merece destaque e distinção. A saga de um povo tropeiro que, entre guerras,
lutas e peleias, forjou, a ferro e fogo, o que conhecemos hoje por Rio Grande
do Sul. Contudo, na era digital, correndo na velocidade da internet, é a versão
midiática moderna de “O Tempo e o Vento” que vem seduzir o público leitor neste
início de século XXI.
A Central Globo de
Produção Cinematográfica ofereceu, mais uma vez, oportunidade impar para os
aficcionados pela literatura gaúcha contemplar na telona a belíssima obra de
Érico Veríssimo. Sob a direção de Jayme Monjardim, o clássico da literatura foi
novamente transposto dos livros para a tele-dramaturgia. A referida obra já
havia encantado o público em produção análoga realizada pela mesma empresa a
algumas décadas atrás. Desta vez, o elenco de atores, com grande expressão
artística, contou com nomes como Tiago Lacerda que viveu o personagem Capitão Rodrigo e Fernanda
Montenegro que interpretou Bibiana, entre outros.
O clássico emociona a
quem o toca, pois é algo que vai de coração para coração. Mais do que mera
informação, extravasa sentimento e sabedoria literária. Assim é O Tempo (...) e
o Vento (...). Passam, mas ficam. O eterno artista literário, Érico Veríssimo,
viveu, sentiu e contou esta história. A emoção que sentimos diante da tela, ao
assistir o filme, acontece pelo “simples” fato de que é a história dos nossos
ancestrais, senão a nossa própria história.
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
Auto Biografia
Jaques
Xavier Jacomini
|
Santa Isabel /
Viamão
Janeiro de 2013
WWW.acidadedesantaisabel.blogspot.com
|
Auto
BIOGRAFIA
Ou
EU Por EU MESMO
Capítulo
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1
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NASCIMENTO E PRIMEIRA INFÂNCIA
Nasci às 15 horas e 35 minutos do dia 31 de agosto de 1970 no Hospital
Beneficiência Portuguesa, Cidade de Porto Alegre, Capital do Estado do Rio
Grande do Sul, extremo sul do Brasil. Primeiro filho de Bernardina Xavier
Jacomini e Zeferino Jacomini.
Vivi o primeiro ano de vida no bairro Praia de Belas, na confluência das
Avenidas Ipiranga e Praia de Belas. Mais precisamente no local onde hoje está
sendo construído o Centro de Pesquisas em Transporte, órgão do Governo do
Estado do Rio Grande do Sul, ligado ao Departamento Estadual de Estradas de
Rodagem (DAER). Em 1970, o local era ocupado por uma série de residências
populares instaladas provisoriamente, pois não possuíam registro legal ou posse
definitiva, uma vez que a área era pública.
Antes de progredir na história da minha existência, necessito apresentar
a minha progenitora:
Bernardina Xavier Jacomini, denominada pelos familiares de Nina, natural
da localidade chamada de Capivari de Baixo, distrito da Cidade de Tubarão,
Estado de Santa Catarina, havia feito uma viagem em direção ao Rio Grande
acompanhada de sua irmã, Terezinha Xavier (Hoje Terezinha Xavier Casagrande)
para visitar outro irmão já residente na capital dos gaúchos, Manoel Xavier.
Após a um período de ambientação, decidiram se instalar em definitivo na
cidade, permanecendo, inicialmente no mesmo logradouro de Manoel (Bairro
Tristeza) e depois adquirindo um lote de uma área de invasão na Avenida
Ipiranga.
Zeferino Jacomini, por sua vez, havia prestado o serviço militar na sua
Cidade natal, Passo Fundo, e não tinha lá encontrado outra opção de emprego e
subsistência que não o trabalho rural. Decide, então vir para Porto Alegre
tentar a inclusão na Brigada Militar, uma das poucas oportunidades de trabalho
assalariado formal, estável e público na época. Segundo o relato do mesmo, a
seleção feita para inclusão na BM era bastante diferente daquela que conhecemos
hoje, onde se exigi grau mínimo de instrução e o acesso somente é permitido
após a realização de processo de seleção público. Nos idos de 1970, a seleção
era feita baseada muito mais por qualidades do tipo bravura, destreza e
capacidade física, do que por qualquer outro atributo intelectual ou de
conhecimento técnico. Zeferino, apresentando os requisitos básicos, passa a
integrar o corpo de brigadianos do 1º. Batalhão de Polícia Militar com sede na
Avenida Praia de Belas, cercanias da Avenida Ipiranga. Como era oriundo do
interior do Estado do RS, o soldado JACOMINI (Nome de guerra de Zeferino
Jacomini) passa a residir nos alojamentos do próprio quartel, ou seja, passa a
ser “ratão”.[1][1]
Os caminhos de Nina e Jacomini iriam se cruzar. Nina, estabelecida na
confluência das Avenidas Praia de Belas e Ipiranga passa a desenvolver
atividades profissionais no próprio local de moradia, com vistas a sua
subsistência. Diante da demanda observada no local, Nina manda construir
pequenos quartos de aluguel em sua propriedade. Além disso, passa a oferecer
serviços de lavagem e engomação de fardamentos militares, pois uma das
exigências da época para os militares da BM era a manutenção dos uniformes militares
além de rigorosamente limpos, também engomados. Além destas atividades, Nina
também trabalhava como vendedora em uma banca de comércio de calçados de
propriedade de seu irmão que estava estabelecida no centro de Porto Alegre,
imediações da Praça XV de Novembro.
ZEFI (apelido de Zeferino) descobre a oferta destes serviços e decide
solicitar de Nina a manutenção dos seus uniformes e, mais adiante, decide
também trocar os alojamentos do quartel por um dos quartos que Nina oferecia em
locação. Com esta proximidade física, passam a ocupar um espaço comum, nasceria
uma paixão, um amor, uma família. Nasceria Jaques Xavier Jacomini.
Contextualizo o ambiente para voltar ao meu nascimento, pois foi neste
micro universo que transcorre o meu primeiro ano de vida. Por um pequeno
período vivi em um local que considero hoje como um dos mais aprazíveis da
Cidade de Porto Alegre: as margens do Rio Guaíba. É claro que o mesmo local que
hoje conhecemos totalmente urbanizado, com todas as condições necessárias de
ocupação não possuía estas mesmas feições na década de 70. Segundo relatos e
estudos realizados sobre a história de Porto Alegre, é possível estabelecer uma
“fotografia” do local[2][2]. O rio avançava para muito próximo
da Avenida PRAIA de Belas, as ruas não estavam ainda totalmente pavimentadas e
providas de sistema de esgoto cloacal e pluvial, os prédios eram, na sua grande
maioria, baixos e, em geral, de madeira, cobertos com telhas de cerâmica.
Poucos automóveis circulavam no local e o tipo humano preponderante era marcado
pelo homem branco, jovem, oriundo do interior do Estado e com desígnio militar.
Contudo, acredito que este primeiro ano de vida tenha sido muito agradável para
o início da minha existência. A partir de então, viria a sofrer o que acredito
ser o segundo grande trauma da minha vida[3][3]: a mudança para a Cidade de Viamão.
Relatam os meus pais que a situação na Avenida Ipiranga começou a ficar
complicada com tentativas de remoção de moradores das áreas irregulares
(terrenos de posse, sem escritura definitiva), ação provocada pelos reais
proprietários dos terrenos. Desde então, houve a necessidade de procurar outro
local para uma nova moradia. A aquisição de um lote na Cidade de Porto Alegre
era inviável diante da condição sócio-economica de Nina e Zefi. Qual era a
saída? Buscar uma outra opção nos arrabaldes vizinhos da capital. É assim que
meus pais encontram a publicidade de uma oportunidade viável de moradia no
Município de Viamão, Bairro de Santa Isabel. Da beira do rio para as cercanias
do Morro de Santa Ana, o deslocamento dista cerca de 18 kilometro. Passamos,
então a residir na Rua Lisboa, uma transversal da Avenida Liberdade, principal
via de acesso à Vila Santa Isabel, 4º. Distrito de Viamão (ou Distrito Passo do
Sabão). Poderíamos dizer que o meu pai foi um verdadeiro desbravador do local,
pois onde tinha apenas vegetação, passa a existir uma pequena casa de madeira,
inicialmente sem os serviços de água encanada e luz elétrica. A irmã de minha
mãe, Terezinha, também adquire um lote quase ao lado do nosso e passa a residir
no local.
A minha primeira infância, a partir de um ano e alguns meses de idade,
passa a se desenvolver neste local. Vivencio, juntamente com os meus pais,
diversas dificuldades de sobrevivência nesta época, especialmente pela
inexistência de água encanada e pelas adversidades naturais de um meio ambiente
ainda não urbanizado, distante de equipamentos essências de saúde, lazer e
cultura. A instrução básica, pelo menos, estava garantida, pois estávamos a
poucos metros da Escola Estadual de Ensino Fundamental Walt Disney.
E a água? Sem água não existe vida, certo? De imediato, contando com a
caridade de uma vizinha próxima (distante, cerca de 350 metros), passamos a
coletar água de um poço, transportando-a através de baldes. Era um esforço
físico bastante grande e a qualidade da água deficitária. Surge, então outra
alternativa: em acordo entre a diretora da escola citada e meu pai, os mesmos
decidiram ajudar-se mutuamente. Zefi, colaborava com a escola na limpeza e
manutenção periódica da caixa de água que abastecia o local e a diretora, por
sua vez, permite que a nossa família colete água do mesmo reservatório através
de uma mangueira. Esta água vinha de um poço artesiano localizado nas
proximidades da Capela de Nossa Senhora Medianeira, duas quadras abaixo da
escola, uma quadra da Avenida Liberdade, Rua Dr. Nilo. A água era bombeada com
uma bomba elétrica até chegar nos reservatórios da escola.
A instalação da rede de abastecimento de luz elétrica veio logo em
seguida, mas a rede de água demorou longos anos para chegar. Diante desta
dificuldade, os meus pais passaram a avaliar a possibilidade de mudar de local
de residência em busca da tão necessária água potável encanada. Como
alternativa, o meu pai, Jacó, abriu uma linha de financiamento junto ao
Instituto de Previdência do Estado do RS (IPE), selecionou um imóvel próximo em
uma região da cidade onde já havia rede de água instalada, Vila Florença e,
quando faltavam apenas alguns trâmites burocráticos para se efetuar a compra do
imóvel, veio a notícia tão aguardada: a rede de água potável seria instalada em
poucos dias. Houve então a desistência da nova mudança de endereço e a extinção
do financiamento junto ao IPE. Lembro que cheguei a ir visitar o novo imóvel na
Vila Florença com quatro ou cinco anos de idade.
Ganhei um irmãozinho com uns três anos de idade, Charles Xavier
Jacomini. A primeira infância passa a contar com a presença deste companheiro
que divide as primeiras brincadeiras e atividades que lembro com mais precisão.
Como éramos uma família de poucos recursos financeiros, o espaço lúdico de
criação era também bastante restrito. Mas, por incrível que pareça, quanto
maior são as limitações financeiras, maior também é a criatividade do indivíduo
em criar alternativas que viabilizem o seu desenvolvimento. Tenho constatado
isto nas observações que realizo em comunidades carentes em que já trabalhei ou
em que, eventualmente, visito. Outro dia, passando pela vila que margeia o lago
do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) observei um trabalho fantástico de um morador: com
garrafas vazias de refrigerante de 2 litros em material plástico, as chamadas
PET, o indivíduo produziu uma cerca com mais de 1,5 metros de altura. Considero
admirável esta capacidade das pessoas humildes de encontrar alternativas
criativas para o seu dia a dia com materiais que para muitos não passa de lixo.
Conosco, não era diferente, lembro da criatividade que eu e meu irmão
possuíamos ao inventar brincadeiras simples, mas interessantes e proveitosas
para o nosso desenvolvimento humano.
Só para citar alguns exemplos, lembro que tínhamos por costume brincar
de comerciantes, simulando um estabelecimento comercial do tipo açougue, um
desempenhava o papel de vendedor e o outro de cliente. A carne e/ou os produtos
eram representados por folhas de mamoneira que ficavam pendurados em ganchos de
arame no espaço utilizado para a brincadeira. Outra criação lúdica recorrente
era a que desempenhávamos os papéis de motorista e / ou cobrador de ônibus. O
volante do veículo se resumia ao acento de um banquinho e os pedais eram
representados por chinelos virados apoiados no chão, imediatamente ao lado do
banquinho. Usávamos também cobertores velhos e outros tipos de tecidos para
brincar de acampamento, simulando barracas onde passávamos tardes ou manhãs
inteiras imaginando situações que viríamos a viver na vida adulta. Dentro deste
contexto, lembro que o brinquedo mais especializado que tive na infância foi um
“Forte Apache” que ganhei do meu padrinho, David Giacomini. Outro fato que
marcou nesta época e vale a pena ser aqui lembrado foi o dia em que aprendi a
escrever o meu nome. Antes mesmo de iniciar a carreira de aluno no sistema
formal de ensino, tínhamos por costume brincar de escola. Em nosso quarto,
havia um guarda roupas com uma porta de correr de madeira compensada escura que
utilizava-mos como quadro negro. As roupas depositadas no interior do guarda
roupas ficavam, obviamente cheias de pó de giz. Mas o que realmente importava é
que, com o auxílio da minha mãe, aprendemos as primeiras palavras. Em
determinado dia, após longos treinos, havia conseguido escrever o meu nome.
Minha mãe ficou muito feliz e disse que, quando meu pai chegasse, eu deveria
escrever na presença dele para provar o feito. No final da tarde, quando o pai
chegou, minha mãe deu a notícia para ele que, de imediato, se declarou
incrédulo. Minha mãe reafirmou a informação e pediu para ele ir até ao quarto,
para assistir a escrita feita no guarda roupas. Quando presenciou o fato,
vendo-me escrever com giz no nosso “quadro negro”, o pai ficou muito feliz,
abraçando-me e beijando-me com ternura e satisfação. Começava ai uma vida
dedicada à leitura, à escrita e aos trabalhos intelectuais de modo geral.
Dentre os fatos lamentáveis que recordo neste período que considerei
como primeira infância e que vai até aos 6 anos de idade, idade que antecede a
minha inserção na escola, destaco a lembrança das cenas protagonizadas pelo meu
pai ao beber em excesso e, apresentando estados de embriaguez, ficava sem se
alimentar e sem falar conosco. Eram momentos muito tristes vividos no interior
de nosso lar, pois sofria o meu pai que fazia uso indevido de bebidas
alcoólicas, sofria minha mãe que apresentava estados emocionais abalados
devidos aquela situação e sofríamos nós, crianças em formação, que não
entendíamos muito bem o que estava acontecendo.
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2
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SEGUNDA INFÂNCIA
Para fins de organização cronológica deste texto, considero segunda
infância o período que vai de março de 1976 até março de 1980. Oriento-me pelas
fases do socialização e desenvolvimento humano que todas as crianças vivem nas
sociedades ocidentais contemporâneas capitalistas, .
No meu caso, dois fatores são importantes destacar. Em primeiro lugar,
do ponto de vista prático, eu poderia ter ingressado antes na escola formal,
pois tinha bastante vontade e disposição para os estudos, mas, no entanto, a
legislação vigente não permitia que crianças com menos de 6 anos e meio de
idade ingressassem no sistema formal de ensino público. Pelo fato de residir
muito próximo a escola e presenciar diariamente o movimento dos escolares que
passavam em frente a minha casa, muitas vezes solicitava para a minha mãe que
me levasse no Walt Disney (Escola Estadual), a fim de visitar a escola, falar
com as professoras, enfim, vivenciar aquele ambiente em que tudo era novidade e
descobrimento para uma criança com a minha idade. Em segundo lugar, percebi bem
mais tarde que acabei, involuntariamente, queimando uma importante etapa na
carreira de estudante, a pré-escola. Na época, não havia nenhuma alternativa de
escola que me oferecesse o curso pré-escolar na região em que morava, além
disso, era bastante raro que este tipo de curso fosse oferecido na rede publica
de ensino e não possuíamos recursos para buscar atendimento em uma escola
privada.
No primeiro ano do curso primário, talvez a experiência mais importante
tenha sido o início do processo de socialização em que me inseri, uma vez que
eu já estava praticamente alfabetizado com os ensinamentos recebidos em casa.
Com o início da carreira escolar, iniciava também um longo período de
discriminação social devido a minha obesidade. Com o peso sempre um pouco acima
da média ideal para um menino da minha idade, passei a ser alvo freqüente de
brincadeiras maldosas e de apelidos do tipo “gordo”, “gordinho”, “baleia fora
d’água”, entre outros do gênero. Isto me incomodava bastante e passei a viver
um novo trauma que só viria a entende-lo por completo bem mais tarde ao estudar
temas da psicologia como estigma, normalização da sociedade, etc.
Outro fator que me parece importante de destacar, neste período da
segunda infância é o referente ao universo dominado por uma criança nas
condições ambientais em que vivia. Quem era o Jaques que chega para estudar na
Escola Estadual de 1º. Grau Incompleto Walt Disney ? Uma criança de 6 anos e
meio de idade que tinha como centro de atuação e desenvolvimento social a sua
própria casa, e nada mais do que isso. O nível de deslocamento permitido era o
que circundava um eixo de, mais ou menos, 36 metros de distância da minha casa,
ou seja, a casa da minha tia que ficava imediatamente após a nossa. Não havia oportunidades
de freqüentar praças, clubes, parques ou qualquer outro tipo de equipamento
urbano de socialização, educação e entretenimento. Não possuíamos um grupo de
amigos ativo, ou visitas freqüentes à parentes ou outro grupo de pessoas. Não
possuíamos ainda aparelho de televisor, aparelho de telefone, assinatura de
jornais ou qualquer outro tipo de periódico. Se não me falha a memória, o
primeiro tipo de informação em base de papel, impresso mecanicamente, que tive
acesso foi alguns “Gibis” (Pequenos livros de estórias em quadrinhos) que a
minha tia, Terezinha, trazia da casa onde trabalhava como doméstica, uma vez
descartados pelos seus patrões.
Mas voltando a questão do deslocamento que realizava até a escola e a
conseqüente ampliação do universo de descobrimento do meio em que vivia,
percebo que posso desenvolver mais este tema, em função da sua importância para
o contexto geral das informações trazidas para este texto. Sabemos que a
criança possui uma fase do seu desenvolvimento marcado pelo o que se chama em
psicologia de “egocentrismo”, onde considera o seu próprio Eu como centro do
universo e solicita para si todas as atenções do seu meio. Esta fase
“egocêntrica” é colocada em cheque justamente quando vai para a escola e passa
a viver em um grupo social bem mais amplo que a sua família. Na escola, a
criança percebe que algo mudou, pois não tem mais um atendimento direto e
exclusivo como o oferecido pelos pais em seu lar original e que agora ela
precisa conquistar espaço, território, afeições entre colegas, professores e
demais membros da comunidade escolar. Mesmo vencido este período inicial de
socialização oferecido pela comunidade escolar, os indivíduos guardam (uns
menos mais, outros menos) para a idade adulta aspectos definidores deste
comportamento “egocêntrico” e continuam visualizando, vivenciando, inventando o
seu mundo, as suas ações a partir do seu próprio corpo e do entorno
imediatamente posterior a este. É da natureza humana e por isso não cabe aqui
nenhum tipo de debate sobre o tema e o aprofundamento não se faz necessário,
pois busco apenas introduzir de forma inteligível a minha experiência de
descobrimento do mundo, do meu micro universo nesta etapa que denominei de
segunda infância.
Saio, então de um micro universo de atuação social centrado na minha
própria residência (Rua Lisboa, 495) para atuar em um novo espaço centrado no
eixo entre a minha casa e a Escola Estadual Walt Disney (Rua Medianeira,
esquina com a Rua Lisboa). Dada a proximidade dos dois prédios citados, a
distância física não deve ultrapassar cerca de 150 metros, pode parecer que meu
universo de atuação foi ampliado muito modestamente, no entanto, para a minha
experiência de vida, estes poucos metros representavam muito. Foi neste novo
deslocamento diário que ganhei a experiência de transitar na rua, uma rua crua,
de chão batido, com muita poeira, sem meio fio, sem proteção para pedestre, mas
era a minha rua que agora poderia descobri-la mais amplamente. Foi neste
deslocamento que vivenciei a primeira briga com um aluno da escola, o primeiro
enfrentamento físico com um semelhante da mesma raça, do mesmo porte, do mesmo
meio. Foi neste deslocamento que aprendi usar o buraco de uma cerca como atalho
para buscar um caminho mais curto até a escola. Enfim, foi neste deslocamento que
começo a dar os primeiros passos sem o acompanhamento dos pais e vivenciar os
medos e ansiedades que isto causava em uma criança da minha idade.
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3
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TERCEIRA INFÂNCIA
Em dezembro de 1979, vencida a 4ª. Série do ensino fundamental, concluo
a minha estada na Escola Walt Disney. É necessário ampliar novamente o micro
universo de atuação social, buscando uma escola pública que oferecesse o curso
ginasial.
O período que denomino de terceira infância, inicia em março de 1980,
quando passo a estudar na Escola Municipal de 1º. Grau Alberto Pasqualini.
ATENÇÃO
Está página
está em processo de construção.
Em breve será
publicado a segunda parte do trabalho.
Aguarde!
Anexo
O Conteúdo a
seguir não está diretamente relacionado com o conteúdo desta página.
Notas de pé de página.
Banco de Imagens
A formação do Banco de Imagens da Cidade de
Santa Isabel é um dos projetos do Centro de Estudos Sociais e
Antropológicos Jerônimo de Ornelas (CESAJO), atualmente com sede própria
situada na Avenida Liberdade, Santa Isabel, Viamão / RS.
O Acervo conta com uma grande quantidade de imagens
fotográficas em formato digital e analógico, além de iconografias, aquarelas,
desenhos, entre outros. Dispomos ainda de uma mapoteca com exemplares
históricos que remontam a períodos remotos da nossa história moderna.
A parte do acervo composta por imagens atuais da Cidade de Santa Isabel está (temporariamente) sendo periodicamente publicada no site Panoramio (link abaixo):
El Cabello
El cabello es la
manifestación física de nuestros pensamientos y una extensión de nosotros
mismos.
Tan puros y
sagrados son como los pensamientos mismos de la madre tierra, la cual deja
crecer su cabello... largo y fragante.
Como gente de la
Nación nativa caminamos el sendero sagrado de la manifestación física del
creador - creadora.
Nuestro cabello
es una extensión de nuestros pensamientos, nos ayuda a direccionar nuestro
caminar por la vida. Los hombres y mujeres de medicina son reconocidos por el
largo de su cabello. Es importante mantener pensamientos puros para que nada
pueda ser usado para vencerte, pues es a partir de pensamientos perturbadores
que uno puede ser derrotado.
Cree en el poder
del creador, el cabello largo es una manifestación de tu medicina.
Fonte:
(del muro de
Jakurri)
Edição JacquesJa
.
[1][1] Termo utilizado no jargão militar para denominar os militares
que vivem no interior dos quartéis.
[2][2] Achylles
Porto Alegre em “História Popular de Porto Alegre” fala assim da Praia de
Belas: “Vista do meio do rio, a Praia de Bela, com a longa curva que se lhe
segue, é de um pitoresco encantador. Não sei por que, me lembra a baía de
Nápoles, que conheço de estampas. Daquele molhe de Pedras, de formação
vulcânica que se ergue lá perto do canal, o panorama que a cidade nos exibe é
empolgante. De manhã, dessas manhãs diáfanas de um azul transparente, o
espetáculo que se desenrola aos olhos é não só maravilhoso, como cheio de uma
ânsia de movimento, de atividade.”
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