domingo, 19 de janeiro de 2014

Mario Maestri





Construtores III

 

A caminhada é um tipo de construção. O ato de caminhar constrói um percurso. O percurso, a vida.

 

Eu ingressei no curso de Ciências Sociais (IFCH/ufrgs) em 1992. Naquela oportunidade, surgiram três alternativas de caminho (a seguir): as ciências políticas, a sociologia e a antropologia. O mais natural é que eu optasse pela primeira, uma vez que era um militante contumaz do PT. Namorei com a sociologia, mas foi a antropologia que se colocou “totalmente aberta” para mim. Fiz-me antropólogo. Então, veja que, como afirmo sempre, aprendi a caminhar andando. Parece simples, não é verdade? Eu diria que nem tanto. Vou responder com uma pergunta? Por que intelectuais do quilate de Mário Maestri foram “expurgados” da ufrgs? Voce sabe a resposta!? Eu também sei, mas deixa pra lá (eu não estou autorizado para falar sobre este assunto). Vamos voltar para este caminho.

 

Etnografia de rua foi uma invenção nossa (pesquisadores formados e pesquisadores em formação). Em 1994 eu ingressei como pesquisador voluntário no Grupo da Professora Dra. Maria Assunta Campilongo. Ela trabalhava com Sociologia da Saúde e eu estava prestando serviços no Instituto Dom Bosco Masculino. Havia lido Goffman (Presídios, Manicomios e Conventos) e aquele universo de pesquisa me atraia. Produzimos trabalhos interessantes juntos. Um exemplo? A exposição fotográfica “Cenas da Saúde em Porto Alegre” (a minha parte no trabalho era sobre o IPF (Instituto Psiquiátrico Forense Dr. Mauricio Cardoso). Foi bem legal. Acho que deve haver ainda algum registro sobre isto na Universidade. Em 1995 eu ingressei como voluntário no NAVISUAL (núcleo de antropologia visual do programa de pós graduação da antropologia / ifch / ufrgs). Em seguida passei a atuar na equipe da Dra. Cornelia Eckert e Ana Luiza Carvalho da Rocha.

 

As reuniões da equipe de pesquisadores (professores e alunos – mestres e aprendizes) aconteciam nas manhãs das terças-feiras no prédio do ifch/sala sede do navisual. Eu quero declarar, de público: possuo todos os trabalhos realizados naquela época (tanto em base física papel, como em arquivos eletrônicos). Guardo com carinho, pois remontam a uma etapa deste percurso aqui mencionado. Não é possível que ninguém venha dizer que algo não ocorrido ocorreu (e vice versa). Eu tenho as minhas mãos limpas. Lembram desta afirmativa, exposta nos outros textos? Então! Elas cabem muito bem aqui (também).

 

A criação do Projeto Inventário das Ruas da Cidade surge neste contexto: do cidadão simples que caminha e constrói um percurso. Do indivíduo preocupado com o seu meio e interessado nas coisas do seu tempo. Do intelectual que não aceitou determinadas “regras acadêmicas”para galgar espaço em direção ao cume. Do artista que extrapola o plano da arte, inventando uma cidade (de letras). Todo o discurso antagônico a este aqui proclamado é picuinha na guerra das vaidades humanas que, dia a dia, tritura e esfola as sensibilidades dos que não se agrupam com “os mais fortes”.

 

Texto publicado em


Na Data 21/06/2013

 

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