UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO
DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO
DE CIÊNCIAS SOCIAIS
Disciplina:
Ensino da Sociologia no II Grau
Semestre:
1997/I
Professora:
Luíza Helena Pereira
- RELATÓRIO
SOBRE ATIVIDADES DE AULA: -
I - CONSIDERAÇÕES SOBRE A ADOÇÃO DE UMA CARTILHA PARA SE
TRABALHAR NA DISCIPLINA DE SOCIOLOGIA NO ENSINO DE 2O. GRAU;
II - CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTADO ATUAL DO ENSINO DE
SOCIOLOGIA NO 2O. GRAU
Aluno:
JAQUES XAVIER JACOMINI
Matrícula:
1409/92.7
I
- CONSIDERAÇÕES SOBRE A ADOÇÃO DE UMA CARTILHA PARA SE TRABALHAR NA DISCIPLINA
DE SOCIOLOGIA NO ENSINO DE 2O. GRAU.
Para
esta atividade selecionei dois livros de introdução à sociologia:
I - ÁVILA, Fernando B. Introdução à
Sociologia.
Observações:
Sobre este livro não é possível avaliá-lo de uma maneira mais detalhada, pois
tive contato apenas com o seu sumário. Mesmo sem ter entrado no seu conteúdo, é
possível realizar algumas observações:
A
- O autor do livro é um religioso (padre), portanto suponho que esta obra
contem um viés voltado para a religiosidade ou para a teologia;
B
- O livro está dividido em 4 partes. A quarta parte, denominada “O Plano
Cultural”, é dedicada a temática da cultura. Em função disto, suponho que
esteja implícita nesta obra uma preocupação em discutir alguns temas de cunho
mais antropológico e isto, sob o meu ponto de vista, é muito bem vindo as
atividades pedagógicas no 2o. grau;
C
- Um fato que me chamou a atenção é a existência da denominação “mobilidade
social” na 3a. parte do livro, denominada “O Plano Social”, capitulo
XI - Os Grupos Amplos. A existência deste nomenclatura deixa transparecer uma
suposta preocupação do autor com a temática das transformações ou mudanças
sociais que remeteriam a uma mobilidade social. Esta hipótese só poderia ser
conferida com uma análise de conteúdo desta obra.
D
- Concluo que esta obra poderia ser adotada em partes para o ensino de
sociologia no 2o. grau. Neste caso, elegeria a 4a. parte
do livro (O Plano Cultural) para trabalhar, em função do seu viés mais
antropológico, área das ciências sociais que tenho realizado um maior
envolvimento teórico e metodológico.
II - BINS, Milton. Introdução à Sociologia
Geral.
Observações:
Sobre este livro é possível, ao contrário do primeiro, avaliá-lo ao nível do
seu conteúdo, uma vez que já trabalhei com esta obra em outras oportunidades.
Sobre ele destacaria as seguintes observações:
A
- É um livro bastante introdutório, as suas definições e conceitos são claros e
concisos, auxiliados por esquemas gráficos, resumos, etc. fatos que o aproximam
do nível de conhecimento desejável para o ensino de 2o. grau. Atende
a necessidade básica de dar as primeiras noções sobre o que é sociologia e
quais são os seus principais pontos de vista, escolas e pressupostos teóricos;
B
- Contém uma predominância da teoria marxista na sua parte final, fato que não
chega a desmerecer a sua importância enquanto obra que propõe iniciar o leitor
no estudo da sociologia;
C
- Poderia ser adotado para o ensino da sociologia do 2o. grau se
tomado em partes, o seja, não como uma cartilha para ser trabalhada durante todo o período do ano (ou semestre)
na disciplina de sociologia.
Adotar
ou não adotar uma cartilha para o ensino de sociologia no 2o. grau ?
Para avaliar esta situação, gostaria de citar a minha experiência[1] como estagiário na
disciplina de sociologia realizada no Colégio de Aplicação da UFRGS. Naquela
oportunidade seria extremamente inviável a adoção de uma cartilha para
desenvolver o trabalho, uma vez que os conteúdos que estavam planejados
dificilmente seriam encontrados (reunidos) em um único livro e também em função
do estrito espaço de tempo que dispúnhamos para trabalharmos com os alunos [2]. Decidimos então trabalhar
com textos diversos, extraídos de fontes diversas, bem como com vídeos
ilustrativos, desenhos e iconografias. A dinâmica do trabalho exigia algo mais
do que uma cartilha poderia nos proporcionar.
Com base nesta experiência, considero que a adoção de uma cartilha
para se trabalhar a disciplina de sociologia no 2o. grau não atende
as necessidades da dinâmica que este processo de ensino exige. Ou seja, além de
não encontrarmos em um único livro diversos assuntos reunidos na forma como
gostaríamos de trabalhar, ainda temos a considerar que os textos escritos são
limitados. Há a necessidade de trabalhar-mos com textos escritos, porém há
também a necessidade de utilizarmos outros recursos didáticos que auxiliam e
complemetam este suporte escrito, como os recursos audiovisuais, informáticos e
sócio-interativos.[3]
Considero que agindo assim o professor do ensino de sociologia no 2o.
grau consegue um melhor aproveitamento do seu trabalho, uma vez que a tipologia
do aluno (adolescente na sua grande maioria) deste nível de aprendizagem exige
uma dinamicidade e uma inovação em termos de educação.
II - CONSIDERAÇÕES Sobre o Estado Atual do Ensino da
Sociologia no 2o. Grau
Esta não é uma atividade muita fácil, uma vez que a situação da
educação não só do 2o. grau, mas de um modo geral, no Brasil é muito
complexa e o seu perfeito entendimento demandaria uma extensa pesquisa
histórica, teórica e metodológica. No entanto, partindo das pesquisas
realizadas pelos colegas nas escolas em que entramos em contato, a fim de
averiguar alguns aspectos da atual situação do ensino da sociologia no 2o.
grau, recuperando algumas observações e sensações
(constatações) feitas durante a
realização da cadeira da Prática de Ensino em Sociologia e retomando algumas
leituras realizadas na cadeira durante o semestre, é possível realizarmos
algumas breves análises.
De um modo geral, o horizonte não é muito promissor para o
profissional e para o setor em si. Observamos que o ensino da sociologia não é
prioridade nos estabelecimentos de ensino e ocupa, na maioria das vezes, um
lugar secundário se comparado com outras disciplinas. Consequentemente essa
disciplina nem sempre é ministrada por um profissional da área (sociólogo) que
é substituído por pedagogos, historiadores e profissionais de outras áreas.
Quanto a carga horária, por ser reduzida na maioria das escolas públicas, o
professor de sociologia acaba assumindo outras atividades as mais diversas [4], a fim de complementar a sua carga horária
mínima exigida (20 ou 40 horas semanais).
Para entendermos melhor estas constatações empíricas, Meksenas
traz um suporte teórico bastante interessante em “O Ensino da Sociologia na
Escola Secundária” que nos permite um entendimento mais completo de toda uma
trajetória histórica desta disciplina no Brasil. O autor realiza um verdadeiro
mapeamento no tempo e no espaço e vai
nos mostrando como as situações conjunturais brasileiras, ora propícias para o
ensino da sociologia, ora não propicia para o ensino da sociologia, foram
evoluindo desde o século passado até aos nossos dias atuais. Destacaria um
trecho do texto referido:
“Em
1890, Benjamin Constant (...) propôs uma reforma no ensino, na qual a
sociologia era introduzida como disciplina obrigatória nos cursos superiores,
no secundário regular e militar. (...)” Meksenas
É interessante perceber também o período que é apontado pelo autor
como o período dos “anos dourados” da disciplina, onde ela contava com grande
prestígio e divulgação entre as pessoas, especialmente entre os integrantes das
classes médias e das elites:
“(...)
podemos afirmar que o período que se estende de 1925 a 1942, representa os anos
dourados no ensino da sociologia. Seu prestígio sai do mundo acadêmico e atinge
o cotidiano das classes médias ilustradas. Termos sociológicos se popularizam. Sua divulgação ocorre por meio da imprensa
escrita e do rádio, que cada vez mais passa a utilizar o jargão sociológico em
sua linguagem. (...)” Meksenas
Existem outros vários trechos da obra deste autor que são bem
interessantes, no entanto as dimensões deste trabalho não me permitem uma
análise mais alongada. De um modo geral, poderíamos dizer que para perceber a
atual situação da sociologia na escola de 2o. grau é necessário um
estudo e uma pesquisa ampla e diversificada, a exemplo do que fez Meksenas. O
seu estudo nos permite uma boa introdução neste campo da investigação dos rumos
da disciplina que escolhemos para trabalhar. Inclusive este autor noz faz uma
espécie de provocação intelectual na página 71. Ou seja, ele diz que teses, em especial
as que lidam com história oral, (estudos, trabalhos, pesquisas, ...) deveriam
ser construídas a fim de perceber e reconstruir um pouco da época “dos anos
dourados” da sociologia, pois assim poderíamos disponibilizar material para o
estudo e entendimento da situação atual e das perspectivas futuras desta
disciplina.
Seria interessante ressaltar que algumas mudanças no ensino de 2o.
grau estão por acontecer brevemente, principalmente ao que concerne a
organização curricular. A nova Lei de Diretrizes e Bases insere paulatinamente
algumas mudanças que, aparentemente, proporcionarão uma situação de maior
destaque para o ensino das ciências humanas. Segundo reportagem recente de um
jornal local [5]
“O novo currículo será composto de uma base comum nacional e de uma parte
diversificada, a ser estabelecida individualmente pelas escolas. A base comum,
seguida por todos os colégios do país, representará 75 % das 2,4 mil horas /
aula do 2o. grau, com aulas de disciplinas tradicionais, como
português, matemática, biologia, física, química, história, geografia e língua
estrangeira, entre outras. Como novidade, os secundaristas passarão
obrigatoriamente a ter noções de filosofia, sociologia e de fundamentos
científicos e tecnológicos. As matérias serão agrupadas em três grandes áreas
do conhecimento: códigos e linguagens, sociedade e cultura e ciência e
tecnologia.”
Esta abordagem que já havia feito de forma mais intuitiva na
primeira versão deste trabalho, com base em leituras de alguns periódicos,
foram complementadas e ratificadas com a leitura de Meksenas. Este autor, no
texto já referido aborda em determinado momento as mudanças que ocorrerão com a
disciplina de Sociologia, em função da implantação da nova LDB.
Portanto, apesar de constatarmos que o horizonte não é muito
promissor para o setor nem para o profissional que decide atuar no ensino da
sociologia no 2o. grau, o fato de estar previsto algumas mudanças em
razão da nova LDB, já proporciona uma expectativa que parece ser positiva.
Neste sentido, me parece necessário que dedicássemos alguns encontros (ou
momentos) da cadeira para analisarmos e discutirmos os princípios básicos desta
nova Lei e quais as reais conseqüências que a sua implantação acarretará sobre
a nossa provável futura atuação profissional.
A Sociologia no Ensino de 2o. Grau - entre o cimento
armado e a terra fértil, de I. R. VALLE e C. S. TOMQUIST, é outro texto que
colabora bastante para nós que iniciamos no trabalho e nas questões que estão
colocadas sobre a situação atual de ensino da sociologia no 2o.
grau. Apesar de ser um documento que levanta uma realidade local e, portanto,
bem específica, o estudo feito pela Secretaria de Educação de Santa Catarina
levanta questões que podem ser perfeitamente aproveitadas para a nossa reflexão
e análise.
Um dos aspectos levantados no texto que percebo como sendo bem
interessante para o debate que aqui nos propomos é o que fala da formação dos
profissionais que atuam hoje no ensino da sociologia. A sociologia hoje é o que
os profissionais da área são, portanto a sua formação e atuação é um aspecto
que deve ser avaliado. No final da página 13 destacaria um pequeno trecho que
levanta esta questão:
“Assim,
os profissionais que atuam na rede de 2o. grau, formados em sua
maioria nos períodos de 84 a 89, nos cursos de pedagogia e, em alguns casos,
das ciências humanas, tiveram acesso, na sua formação, a referencias que
sustentam este tipo de preocupação crítica, identificados com as correntes
marxistas estruturalistas. (...)” Valle et al
A “des-profissionalização”
apontada pela pesquisa da realidade em Santa Catarina é outro aspecto que,
sobre o meu ponto de vista, vale para a nossa realidade local. Ou seja, o
professor desprestigiado pela comunidade, mau remunerado, desestimulado pela
profissão, diante de inúmeros problemas e dificuldades técnicas e de condições
de trabalho passa a ter a atividade docente como um “bico”. Ao invés de comprar
livros, participar de eventos como seminários, simpósios e palestras, enfim de
qualificar a sua profissão e a sua carreira docente ele tende a assumir outras
atividades extras como as da economia informal (vender bugigangas, atuar como
sacoleiro, vendedor de perfumarias, ...), a fim de complementar a renda
familiar e obter uma vida social mais “digna” e economicamente mais frouxa. É
uma triste realidade que os professores vivem atualmente, pois a péssima
remuneração os empurra para atividades alternativas como citei ou para
assumirem uma carga horário extremamente alongada o que não deixa de ser
pernicioso e perturbador para a sua vida pessoal. O professor de sociologia,
enquanto profissional da educação está dentro deste quadro de penúria pelo qual
os profissionais de outras áreas também enfrentam.
De um modo geral, portanto o quadro, como já havia afirmado não é
o dos melhores. No entanto, prefiro imaginar que as mudanças e a necessidade do
ensino da sociologia como uma disciplina estratégica para o auxílio na formação
da tão falada “cidadania” brasileira, nos coloque em uma situação um pouco mais
confortável logo ali adiante.
[1]
Colocarei em anexo alguns textos que foram trabalhados nesta oportunidade, bem
como o planejamento destas atividades para auxiliar o entendimento das
afirmações que estou realizando neste trabalho.
[2] O
estágio propriamente dito foi realizado
em pouco mais de um mês de atividades.
[3] No nosso
caso (experiência do Colégio de Aplicação) foi realizada uma “pesquisa de
campo”.
[4] Estas
atividades vão desde atender no balcão do barzinho da escola até mesmo realizar
outras atividades inerentes a outros profissionais de uma menor qualificação
profissional como merendeiras, faxineiras, atendentes, etc.
[5] Caderno
“Ensino” do Jornal Zero Hora de 30 de julho de 1997.
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