quarta-feira, 10 de junho de 2015

Walter Benjamin

Chamei Benjamin para participar do meu trabalho, vejam:




A discussão sobre a existência de culturas globais, a extensão do processo de globalização cultural, bem como a dinâmica das fronteiras culturais são temas bastante atuais e estão sendo discutidos por vários pensadores contemporâneos. A temática da “produção cultural” e da “formação de juízos estéticos” no contexto da pós-modernidade, por exemplo, são algumas das preocupações dentro deste contexto aqui citado.
Para colaborar com esta reflexão, gostaria de citar Benjamin que nos ensina: “Em princípio, uma obra de arte sempre foi reprodutível, mas a reprodução mecânica 'representa uma coisa nova'”.  Os avanços nas tecnologias da reprodução eletrônica e da capacidade de armazenar imagens acentuaram consideravelmente a circulação de informações, ou seja o nível tecnológico atual permitiu uma aceleração extremamente grande da reprodução, armazenamento, recuperação e emissão de obras de arte, de textos, documentos, imagens enfim de tudo o que é produzido nos meios ópticos e eletrônicos. No entanto, isso é suficiente para afirmar que existe uma cultura global ou globalizada, circulando virtualmente sem respeito a qualquer tipo de fronteira ?
Segundo a leitura dos textos propostos, é possível perceber que existem diversas respostas para esta indagação. Tentando seguir uma das trajetórias possíveis, poderíamos afirmar que para alguns autores o que de fato está em jogo é uma análise da produção cultural e da formação de juízos estéticos mediante um sistema organizado de produção e de consumo mediado por divisões do trabalho, exercícios promocionais e arranjos de marketing sofisticados. 
Harvey, por exemplo, propõe a análise de “duas questões importantes que se destacam pela sua relevância direta para a compreensão da condição da pós-modernidade como um todo.”
Para desenvolver a primeira questão, o autor chama Benjamim para o debate, fala de “capital simbólico”, esclarecendo: “Em primeiro lugar as relações de classe vigentes nesse sistema de produção e de consumo são  de um tipo peculiar.  Sobressai aqui antes o puro poder do dinheiro como meio de domínio do que o controle direto dos meios de produção e do trabalho assalariado no sentido clássico.  Um efeito colateral tem sido reavivar o interesse teórico pela natureza do poder do dinheiro (em oposição ao de classe) e pelas assimetrias passíveis de daí advirem (cf. o extraordinário tratado de Símmel sobre The philosophy of money).” (Pag. 312)
Para exemplificar, as estrelas da mídia, por exemplo, podem receber altos salários, mas ser espantosamente exploradas pelos seus agentes, gravadoras, magnatas da mídia etc.  Tal sistema de relações monetárias assimétricas vincula-se à necessidade de mobilizar a criatividade cultural e a inventividade estética não somente na produção de um artefato cultural, mas também em sua promoção, embalagem e transformação em algum tipo de espetáculo de sucesso.  Mas o poder monetário assimétrico não promove necessariamente a consciência de classe. 
Para desenvolver a segunda questão, Harvey renova o debate com Benjamim, afirmando:  “Em segundo lugar, o desenvolvimento de uma produção e de um markenting culturais numa escala  global também foi um agente primordial de compressão do tempo-espaço, em parte porque projetou um musée imaginaire, um clube de jazz ou uma sala de concerto na sala de estar de todos, mas também por várias outras razões que Benjamin considerou:

“As nossas tavernas e as nossas ruas metropolitanas, os nossos escritórios e salas mobiliadas, as nossas estações ferroviárias e as nossas fábricas pareciam ter nos aprisionado irremediavelmente.  Surgiu então o filme e explodiu esse mundo-prisão com a dinamite de um milésimo de segundo, de modo que agora, em meio às suas ruínas e detritos espalhados, seguimos calma e audaciosamente.  Com o close-up, o espaço se expande; com a câmara lenta, o movimento é estendido... Evidentemente, abre-se para a câmera uma natureza distinta da que se abre para o olho nu - no mínimo porque um espaço inconscientemente penetrado é substituído por um espaço conscientemente explorado (Benjamin, 1969, 236)” .  (pag. 313)


Para retomar a questão da “compressão do espaço-tempo”, citada acima e as suas várias respostas ou possibilidades, gostaria de remeter o debate novamente para Harvey que trabalha com 4 possibilidades:
A primeira linha de defesa é a fuga para um tipo de silencio exaurido,blasé ou encoraçado  e inclinar-se diante do sentido avassalador de quão vasto, intratável e fora do controle individual ou mesmo coletivo tudo é. A informação excessiva, afirma-se, é uma das melhores induções ao esquecimento. (...)
Dentro deste campo de análise, o autor aborda a questão do “desconstrucionismo”, afirmando que  o desconstrucionismo terminou, apesar das melhores intenções dos seus praticantes mais radicais, por reduzir o conhecimento e o significado a um monte desordenado de significantes . Assim fazendo, produziu uma condição de niilismo que preparou o terreno para o ressurgimento de uma política carismática e de proposições ainda mais simplistas do que as que tinham sido desconstruídas.
A segunda   eqüivale a uma negação voluntariosa da complexidade do mundo, e a uma inclinação a representar essa complexidade em termos de proposições retóricas com alto grau de simplificação.  São abundantes os slogans, da direita até a esquerda do espectro político, sendo apresentadas imagens sem profundidade para captar sentidos complexos.  Supõe-se que as viagens, mesmo imaginárias e vicárias, ampliam a mente, mas, com a mesma freqüência, elas terminam por confirmar preconceitos.
A terceira resposta tem sido encontrar um nicho intermediário para a vida intelectual e política que recusa a grande narrativa, mas nem por isso deixa de cultivar a possibilidade de uma ação limitada.  Trata-se do ângulo progressista do pos-modernismo, que acentua a comunidade e a localidade, as resistências locais e regionais, os movimentos sociais, o respeito pela alteridade etc. Trata-se de uma tentativa de extrair ao menos um mundo apreensível da infinidade de mundos possíveis que nos são  mostrados diariamente na tela da televisão. 
A quarta resposta tem sido tentar montar no tigre da compressão do tempo-espaço mediante a construção de uma linguagem e de imagens capazes de espelhá-la e, quem sabe, dominá-la.  Eu ponho os escritos frenéticos de Baudrillard e Vírilio nessa  categoria, porque eles parecem diabolicamente  inclinados a fundir-se com a compressão do tempo-espaço e a reproduzi-la em sua  própria retórica  extravagante. Já vimos esse tipo de resposta antes, mais especificamente nas extraordinárias evocações feitas por Níetzsche em A Vontade de Poder.



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