domingo, 3 de julho de 2016

Mulato trabalha no domingo



Prezados Leitores

A editoria do blog está de plantão neste belo domingo para lhe oferecer mais uma página desta "breve estória".
Enfim o capítulo quatro vem a lume. Aqui você encontra o elo teórico, propriamente dito. Afinal de contas, brincadeiras a parte, trata-se de um trabalho acadêmico, conforme as normas clássicas estabelecem.
O problema é que a avaliadora não leu, não avaliou corretamente e não me devolveu o original. Pode?
Se um mulato é contratado para fazer um serviço e não o executa apanha da polícia por apropriação em débito. Enquanto isso, doutos contratados pela União em situação análoga ganham todas as despesas pagas para realizar uma viagem para o exterior atrás de mias um "pós-doc".
Para concluir esta breve introdução quero chamar a lembrança de Zeferino. Vejam vocês o meu pai não era doutor. Militar de baixo escalão dedicou trinta anos para o serviço público e me deixou um ensinamento básico, mas muito importante: não corre da polícia. Foi exatamente isso, quando eu fiquei adolescente e decidi sair de casa à noite o meu pai me preveniu: "Meu filho, nuca corra da polícia!"
Você está entendendo a profundidade de tudo isto? Todas as peças estão conectadas e se me atribuiram "Cê" foi por mero "açoite acadêmico". Bater eu não, remoeu a branca, mas eu posso condená-lo a um C. 
Boa leitura.








1.      Sentimento de Pertença Etno-Racial

O Sentimento de pertencimento étnico é um eixo teórico central na realização deste trabalho antropológico. O tema da Etnicidade ocupa atualmente diversos cientistas sociais. A grande maioria acredita que os sentimentos de pertença étnica e cultural são ativados em diversas sociedades como um mecanismo de organização e definição das relações sociais e interpessoais entre grupos de indivíduos que se aproximam ou se repelem segundo recortes e seleções que definem no seu imaginário.
Conforme já trabalhei no estudo de Caso da Família Abreu de Viamão, aqui também elegemos duas vertentes de inspiração teórica que pode ser uma única, dependendo da leitura que se faz destes autores. Philippe Poutignati e Jocelyne Streiff-Fenart, por exemplo, cita pressupostos de Weber ao lado de Cohen para falar na importância da crença na origem comum enquanto traço característico da Etnicidade.
 A primeira, mais tradicional e norteadora, tem em Max Weber seu principal e único representante que não poderia deixar de ser privilegiada em função de toda uma linhagem de seguidores que tem buscado nesta fonte elementos para as suas construções científicas. A segunda, mais atual contemporânea e presente entre nós têm representação em autores como Fredrik Barth, Banton, Cohen e Philippe Poutignati e Jocelyne Streiff- Fenart.
Weber é um pensador que dispõe de uma contribuição muito significativa para este estudo, especialmente no que concerne a sua consideração sobre o sentimento de pertença étnica (Capitulo IV de Economia e Sociedade), cunhado em vivências de hábitos e/ou costumes comuns, inaugurando as afinidades de origem:
“Quase toda forma comum ou contrária do hábito ou dos costumes pode motivar a crença subjetiva de que existe, entre os grupos que se atraem ou se repelem uma afinidade ou heterogeneidade de origem”. (WEBER, 1974).
Na alusão e na tentativa de definição dos grupos acionados por estes sentimentos de origem comum, Weber deixa bastante claro o seu entendimento a cerca do que considera como grupos étnicos, através das palavras:
“A crença na afinidade de origem pode ter conseqüências importantes particularmente para a formação de comunidades políticas. Como não se trata de clãs, chamaremos de grupos ‘étnicos’ aqueles grupos humanos que, em virtude de semelhança nos hábitos externo ou nos costumes, ou em ambos, ou em virtude de lembranças de colonização e migração, nutrem uma crença subjetiva na procedência comum, de tal modo que se torna importante para a propagação de relações comunitárias, sendo indiferente se existe ou não uma comunidade de sangue efetiva”. (WEBER, 1974).

Ao definir grupo étnico a partir da crença subjetiva na origem comum, Weber já na sua época inaugurava uma vertente de pensamento muito presente atualmente entre nós que acredita não ser a posse de traços físicos ou culturais, quaisquer que sejam, como fonte da Etnicidade. Coloca-se no centro na analise as atividades de produção, de manutenção e de aprofundamento das diferenças cujo peso objetivo não pode ser avaliado independentemente da significação que lhe s atribuem os indivíduos no decorrer de suas relações sociais. Neste sentido, afirma Hechter: “O Grupo Étnico para Weber é claramente uma construção social cuja existência é sempre problemática”.
Sobre o termo Etnicidade, Philippe Poutignati e Jocelyne Streiff-Fenart, historiando o cenário cientifico da área, afirmam:
“o termo etnicidade só irá realmente impor-se nas ciências sociais americanas a partir da década de 1970, e irá conhecer desde então o sucesso crescente, comprovado pela criação de uma revista especializada (Ethnicity, criada em 1974) e por um número impressionante de obras, a maioria das vezes coletivas, que fazem sugerir em sua titulação”.     
Ainda dentro da contribuição de Weber, cabe salientar que a identidade se constrói a partir da diferença, pois a atração entre aqueles que se sentem como de uma mesma espécie e indissociável da repulsa diante daqueles que são percebidos como estrangeiros. Isto é, não é o isolamento que cria a consciência de pertença, mas a comunicação das diferenças das quais os indivíduos se apropriam para estabelecer as fronteiras étnicas. Surgem aqui duas noções muito claras e associadas entre si nos estudos de Etnicidade. Em primeiro lugar, é necessário considerar a importância da interatividade Social (dinâmica internacional) no contexto dos grupos étnicos, ou seja, teremos o cuidado de considerar que nenhum grupo étnico é uma “ilha” e que não podemos “imaginar cada grupo desenvolvendo a sua forma cultural e social em isolamento relativo (...)” (BARTH, 1998, p. 189). Em segundo lugar, é necessário considerar a relatividade e a dinâmica das demarcações e dos limites das fronteiras étnicas.
Jean-William Lapierre, ao prefaciar a obra de Philippe Poutignati e Jocelyne Streiff-Fenart, destaca a contribuição de Fredrik Barth, aqui exposto na segunda vertente citada acima, colocando-o como responsável por um debate teórico que substitui uma concepção estática da identidade étnica por uma concepção dinâmica:
“Ele entendeu muito bem e faz entender que essa identidade, como qualquer outra identidade coletiva, é construída e transformada na interação de grupos sociais através de processo exclusão e inclusão que estabelecem limites entre tais grupos, definindo os que os integram ou não. (...) Encarada nesta perspectiva, a Etnicidade não é um conjunto intemporal, imutável de traços culturais transmitidos da mesma forma de geração para geração na história do grupo. Ela provoca ações e reações entre este grupo e os outros em uma organização social que não para de evoluir.” (LAPIERRE, 1995)
O livro de Philippe Poutignati e Jocelyne Streiff-Fenart (Teorias da Etnicidade) traz, alem da contribuição de Barth para os estudos de etnicidade, todo um conjunto de informações acerca da atualidade deste debate nas ciências sociais e um extenso levantamento das mais variadas situações e possibilidades utilizadas por diversos autores que se debruçaram sobre esta temática.  Dentre algumas das possibilidades de interpretação, estão as que encaram a etnicidade como um fenômeno novo e universalmente presente na época moderna, enquanto outras acreditam que não existi um novo domínio de pesquisa, em se tratando de etnicidade, mas apenas para novas questões teóricas e empíricas em ciências sociais. Enfim, esta obra traz uma extensa contribuição de análise para a temática da etnicidade.
A noção processual da etnicidade, segundo Philippe Poutignati e Jocelyne Streiff-Fenart, é a principal contribuição de Barth para este debate:
“Estes (Grupos étnicos) não são considerados como grupos concretos, mas como tipos de organização baseados na consignação e na auto-atribuição dos indivíduos a categorias étnicas. (...) a abordagem de Barth pressupõe o contato cultural e a mobilidade das pessoas e problematizam a emergência e a persistência dos grupos étnicos como unidades identificáveis pela manutenção de suas fronteiras”. (Philippe Poutignati e Jocelyne Streiff-Fenart, 1995)
A proximidade de abordagem interacionista de Barth com uma abordagem mais goffmaniana da interação étnica é uma proposta bastante interessante e que pode render diversos desdobramentos para um estudo de caso, pois a etnicidade pode ser encarada como um elemento de definição de situação manipulado pelos atores no decorrer de suas interações:
“Estudar a etnicidade consiste, então, em inventariar os repertórios das identidades disponíveis em uma situação pluriétinica dada e descrever o campo de saliência dessas identidades nas diversas situações de contato. A análise situacional as etnicidade liga-se ao estudo da produção e da utilização das marcas, por meio das quais os membros das sociedades pluriétnicas identificam-se e diferenciam-se escolhas táticas, e ao estudo das escolhas táticas e dos estratagemas que acionam para se safarem do jogo das relações étnicas.” (Philippe Poutignati e Jocelyne Streiff-Fenart, 1995)
Na referência ao conceito de Etnicidade a contribuição de Banton na obra “A idéia de raça” também deve ser aqui elencada. O autor afirma que etnicidade é “uma condição de pertença a um grupo étnico, com a particularidade de os membros significativos terem consciência de pertencer ao grupo” (BANTON, 1977).












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