Prezados Leitores
Tem gente chegando e gente partindo em nossos espaços virtuais. Gostaria de agradecer a presença de todos e o interesse por estas breves linhas.
Avançando um pouco mais sobre a obra em tela, chegamos no capítulo cinco. Momento em que vocês vão ler:
"A obra de Gilberto Freyre é muito mais que
uma simples Introdução à História da Sociedade Patriarcal no Brasil. E o livro Sobrados
e Mucambos - Decadência do Patriarcado Rural e Desenvolvimento do Urbano é
muito mais do que um simples compêndio. Esta é a minha humilde opinião e surge
no contexto da aquisição da 3ª. Edição da referida obra, publicada no Rio de
Janeiro em 1961 pela Livraria José Olympio – Editora. Conta com Ilustrações de
Lula Cardoso Ayres, M. Bandeira, Carlos Leão e algumas do próprio Autor. O
Capítulo onze compõe o 2º. Tomo da obra que ganhou um significado muito grande
para este estudo, conforme venho afirmando desde o início desta monografia."
Proponho este destaque, pois acredito que as coisas simples são as mais importantes. Um copo de água, por exemplo, é uma coisa simples, mas pode salvar a vida de uma pessoa que padece com sede. Passo a passo, avançando em direção ao sempre. Acompanhe, pois já estamos caminhando para o final da exposição deste trabalho monográfico.
Boa leitura!
Namastê!
15 . Transcrição da Obra Sobrados e Mucambos
A atividade de transcrever a obra a partir do
texto original é um labor que tem por objetivo uma maior aproximação com o
fulcro do texto. Trata-se de uma tentativa de “entrar no âmago do texto”. Há
inclusive situações em que realizo este trabalho, publicando o resultado (ou
extratos do resultado) no blog. Para quem olha e avalia de fora pode parecer
que se trata de uma simples cópia. Mas o fato é que é um movimento muito mais
intenso que a cópia mecânica, por assim dizer.
Há, segundo o meu ponto de vista, até uma
diferença se este livro foi adquirido ou se a de obra pertence a acervo público
(bibliotecas escolares, acadêmicas ou públicas). Conforme a minha experiência
de trabalho, a obra que circula em diversas mãos e figura como parte de um
acervo público, possui “carga energética” distinta daquela adquirida pelo
estudante e/ou intelectual mobilizado pela obra literária. Portanto, pode-se
perceber que há vários elementos presentes nesta proposta de transcrição da
obra.
A obra de Gilberto Freyre é muito mais que
uma simples Introdução à História da Sociedade Patriarcal no Brasil. E o livro Sobrados
e Mucambos - Decadência do Patriarcado Rural e Desenvolvimento do Urbano é
muito mais do que um simples compêndio. Esta é a minha humilde opinião e surge
no contexto da aquisição da 3ª. Edição da referida obra, publicada no Rio de
Janeiro em 1961 pela Livraria José Olympio – Editora. Conta com Ilustrações de
Lula Cardoso Ayres, M. Bandeira, Carlos Leão e algumas do próprio Autor. O
Capítulo onze compõe o 2º. Tomo da obra que ganhou um significado muito grande
para este estudo, conforme venho afirmando desde o início desta monografia.
Ascensão do Bacharel e do Mulato é o texto
que preenche as páginas 573 até a 631. Inicia com os seguintes parágrafos:
“É impossível defrontar-se alguém com o Brasil de Dom
Pedro I, de Dom Pedro II, da Princesa Isabel, da campanha da Abolição, da
propaganda da República por doutores de pincenez, dos namoros de varanda de
primeiro andar para a esquina da rua, com a moça fazendo sinais de leque, de
flor ou de lenço para o rapaz de cartola e de sobrecasaca, sem atentar nestas
duas grandes forças, novas e triunfantes, as vezes reunidas numa só: o bacharel
e o mulato.
Desde os últimos
tempos coloniais que o bacharel e o mulato vinham se constituindo em elementos
de diferenciação, dentro de uma sociedade rural e patriarcal que procurava
integrar-se pelo equilíbrio, e mais do que isso, pelo o que os sociólogos
modernos chamam acomodação, entre os dois grandes antagonismos: o senhor e o
escravo. A casa grande, completada pela senzala, representou entre nós,
verdadeira maravilha de acomodação que o antagonismo entre o sobrado e o
mucambo veio quebrar ou perturbar.”
Segue
analisando o processo de urbanização que transformou a casa-grande em sobrado e
mais tarde em chalé e de uma nova nobreza: a dos doutores e bacharéis. O autor
afirma que:
“Às vezes eram
rapazes da burguesia mais nova das cidades que se bacharelavam na Europa.
Filhos ou netos de "mascates". Valorizados pela educação européia,
voltavam socialmente iguais aos filhos das mais velhas e poderosas famílias de
senhores de terras. Do mesmo modo que iguais a estes, muitas vezes seus
superiores pela melhor assimilação de valores europeus e pelo encanto particular,
aos olhos do outro sexo, que o híbrido, quando eugênico, parece possuir como
nenhum indivíduo de raça pura, voltavam os mestiços ou os mulatos claros.
Alguns deles filhos ilegítimos de grandes senhores brancos; e com a mão
pequena, o pé bonito, às vezes os lábios ou o nariz, dos pais fidalgos”.
O texto de Gilberto Freyre traz também
algumas imagens e alguns extratos poéticos. Logo no início há uma gravura que
ocupa duas páginas onde figura um desenho de L. Cardoso Ayres que reproduziu a
cena denominada: Sobrado patriarcal, semi-urbano da segunda metade do século
XIX. Na página 518 há a reprodução de um cartaz que chama para um espetáculo no
Teatro Santa Isabel do Recife. Mais adiante a cena é poética:
“De volta à colônia, um dos bacharéis mais europeizados
não esconde a repugnância que lhe causa ver as margens do riacho que banha Vila
Rica transformadas em lugares de bacanal; e o batuque africano dançado não
apenas nos mucambos de negros, mas nos sobrados grandes dos brancos:
“Oh, dança venturosa! Tu entravas
Nas humildes choupanas, onde as negras,
Aonde as vis mulatas, apertando
Por baixo do bandulho, a larga cinta,
Te honravam c’os marotos e brejeiros,
Batendo sobre o chão o pé descalço.
Agora já consegues ter entrada
Nas casas mais honestas e palácios!!!”
Há
ainda diversas passagens do texto que merecem ser destacadas como a que ocorre
na página 489 e faz referencia a religiosidade de matriz africana (O Culto de
São Jorge no Brasil). Mas é na página 594 que está a referência ao “mulato cor
de rosa e aos escravos louros”, conforme o trecho que segue em destaque:
“No comportamento, quase um mulato à Machado de Assis –
menos o acanhamento doentio, excessivo; ou então à Domício da Gama – o ‘mulato
cor de rosa’ como na intimidade chamava o Eça de Queiroz ao discreto e polido
diplomata brasileiro.
Esses mulatos cor de rosa, alguns louros, olhos azuis,
podendo passar por brancos em lugares onde não soubessem direito sua origem,
não foram raros no Brasil do século XIX. A favor da transferência deles do
numero dos escravos para o dos livres ou da ascenção social, de pretos para
brancos, houve sempre poderosa corrente de opinião, ou antes, de sentimento.
(...)”
Na seqüencia deste extrato textual destacado acima o autor desenvolve
uma análise sobre uma série de traços fisionômicos que poderiam vir a
identificar este tipo humano singular. Dentre eles, o traço característico que
mais me chamou a atenção é aquele que cita “ventas um tanto arregaçadas”. Neste contexto de análise surge na página 600
a referencia a estudos antropométricos. Sobre este tema desenvolvi um capítulo
inteiro de meu trabalho de conclusão de curso, onde chamo a atenção para a
relação entre a antropologia física e os estudos indígenas. Ou seja, que tipo
de contribuição, ainda hoje a antropologia física pode oferecer para os
etnólogos, destacando a contribuição do pesquisador Francisco Mauro Salzano.
Não vou aqui repetir o conteúdo, porém deixar claro que existe esta conexão e
que estou atento para o debate citado.
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