segunda-feira, 4 de julho de 2016

Mulato trabalha domingo e não ganha folga na segunda-feira





Prezados Leitores

Tem gente chegando e gente partindo em nossos espaços virtuais. Gostaria de agradecer a presença de todos e o interesse por estas breves linhas.
Avançando um pouco mais sobre a obra em tela, chegamos no capítulo cinco. Momento em que vocês vão ler:

"A obra de Gilberto Freyre é muito mais que uma simples Introdução à História da Sociedade Patriarcal no Brasil. E o livro Sobrados e Mucambos - Decadência do Patriarcado Rural e Desenvolvimento do Urbano é muito mais do que um simples compêndio. Esta é a minha humilde opinião e surge no contexto da aquisição da 3ª. Edição da referida obra, publicada no Rio de Janeiro em 1961 pela Livraria José Olympio – Editora. Conta com Ilustrações de Lula Cardoso Ayres, M. Bandeira, Carlos Leão e algumas do próprio Autor. O Capítulo onze compõe o 2º. Tomo da obra que ganhou um significado muito grande para este estudo, conforme venho afirmando desde o início desta monografia."

Proponho este destaque, pois acredito que as coisas simples são as mais importantes. Um copo de água, por exemplo, é uma coisa simples, mas pode salvar a vida de uma pessoa que padece com sede. Passo a passo, avançando em direção ao sempre. Acompanhe, pois já estamos caminhando para o final da exposição deste trabalho monográfico.
Boa leitura!
Namastê!







15 . Transcrição da Obra Sobrados e Mucambos

A atividade de transcrever a obra a partir do texto original é um labor que tem por objetivo uma maior aproximação com o fulcro do texto. Trata-se de uma tentativa de “entrar no âmago do texto”. Há inclusive situações em que realizo este trabalho, publicando o resultado (ou extratos do resultado) no blog. Para quem olha e avalia de fora pode parecer que se trata de uma simples cópia. Mas o fato é que é um movimento muito mais intenso que a cópia mecânica, por assim dizer.
Há, segundo o meu ponto de vista, até uma diferença se este livro foi adquirido ou se a de obra pertence a acervo público (bibliotecas escolares, acadêmicas ou públicas). Conforme a minha experiência de trabalho, a obra que circula em diversas mãos e figura como parte de um acervo público, possui “carga energética” distinta daquela adquirida pelo estudante e/ou intelectual mobilizado pela obra literária. Portanto, pode-se perceber que há vários elementos presentes nesta proposta de transcrição da obra.
A obra de Gilberto Freyre é muito mais que uma simples Introdução à História da Sociedade Patriarcal no Brasil. E o livro Sobrados e Mucambos - Decadência do Patriarcado Rural e Desenvolvimento do Urbano é muito mais do que um simples compêndio. Esta é a minha humilde opinião e surge no contexto da aquisição da 3ª. Edição da referida obra, publicada no Rio de Janeiro em 1961 pela Livraria José Olympio – Editora. Conta com Ilustrações de Lula Cardoso Ayres, M. Bandeira, Carlos Leão e algumas do próprio Autor. O Capítulo onze compõe o 2º. Tomo da obra que ganhou um significado muito grande para este estudo, conforme venho afirmando desde o início desta monografia.
Ascensão do Bacharel e do Mulato é o texto que preenche as páginas 573 até a 631. Inicia com os seguintes parágrafos:
“É impossível defrontar-se alguém com o Brasil de Dom Pedro I, de Dom Pedro II, da Princesa Isabel, da campanha da Abolição, da propaganda da República por doutores de pincenez, dos namoros de varanda de primeiro andar para a esquina da rua, com a moça fazendo sinais de leque, de flor ou de lenço para o rapaz de cartola e de sobrecasaca, sem atentar nestas duas grandes forças, novas e triunfantes, as vezes reunidas numa só: o bacharel e o mulato.

            Desde os últimos tempos coloniais que o bacharel e o mulato vinham se constituindo em elementos de diferenciação, dentro de uma sociedade rural e patriarcal que procurava integrar-se pelo equilíbrio, e mais do que isso, pelo o que os sociólogos modernos chamam acomodação, entre os dois grandes antagonismos: o senhor e o escravo. A casa grande, completada pela senzala, representou entre nós, verdadeira maravilha de acomodação que o antagonismo entre o sobrado e o mucambo veio quebrar ou perturbar.”

            Segue analisando o processo de urbanização que transformou a casa-grande em sobrado e mais tarde em chalé e de uma nova nobreza: a dos doutores e bacharéis. O autor afirma que:
           “Às vezes eram rapazes da burguesia mais nova das cidades que se bacharelavam na Europa. Filhos ou netos de "mascates". Valorizados pela educação européia, voltavam socialmente iguais aos filhos das mais velhas e poderosas famílias de senhores de terras. Do mesmo modo que iguais a estes, muitas vezes seus superiores pela melhor assimilação de valores europeus e pelo encanto particular, aos olhos do outro sexo, que o híbrido, quando eugênico, parece possuir como nenhum indivíduo de raça pura, voltavam os mestiços ou os mulatos claros. Alguns deles filhos ilegítimos de grandes senhores brancos; e com a mão pequena, o pé bonito, às vezes os lábios ou o nariz, dos pais fidalgos”.

O texto de Gilberto Freyre traz também algumas imagens e alguns extratos poéticos. Logo no início há uma gravura que ocupa duas páginas onde figura um desenho de L. Cardoso Ayres que reproduziu a cena denominada: Sobrado patriarcal, semi-urbano da segunda metade do século XIX. Na página 518 há a reprodução de um cartaz que chama para um espetáculo no Teatro Santa Isabel do Recife. Mais adiante a cena é poética:

“De volta à colônia, um dos bacharéis mais europeizados não esconde a repugnância que lhe causa ver as margens do riacho que banha Vila Rica transformadas em lugares de bacanal; e o batuque africano dançado não apenas nos mucambos de negros, mas nos sobrados grandes dos brancos:

“Oh, dança venturosa! Tu entravas
Nas humildes choupanas, onde as negras,
Aonde as vis mulatas, apertando
Por baixo do bandulho, a larga cinta,

Te honravam c’os marotos e brejeiros,
Batendo sobre o chão o pé descalço.
Agora já consegues ter entrada
Nas casas mais honestas e palácios!!!”

Há ainda diversas passagens do texto que merecem ser destacadas como a que ocorre na página 489 e faz referencia a religiosidade de matriz africana (O Culto de São Jorge no Brasil). Mas é na página 594 que está a referência ao “mulato cor de rosa e aos escravos louros”, conforme o trecho que segue em destaque:
“No comportamento, quase um mulato à Machado de Assis – menos o acanhamento doentio, excessivo; ou então à Domício da Gama – o ‘mulato cor de rosa’ como na intimidade chamava o Eça de Queiroz ao discreto e polido diplomata brasileiro.
Esses mulatos cor de rosa, alguns louros, olhos azuis, podendo passar por brancos em lugares onde não soubessem direito sua origem, não foram raros no Brasil do século XIX. A favor da transferência deles do numero dos escravos para o dos livres ou da ascenção social, de pretos para brancos, houve sempre poderosa corrente de opinião, ou antes, de sentimento. (...)”


Na seqüencia deste extrato textual destacado acima o autor desenvolve uma análise sobre uma série de traços fisionômicos que poderiam vir a identificar este tipo humano singular. Dentre eles, o traço característico que mais me chamou a atenção é aquele que cita “ventas um tanto arregaçadas”.  Neste contexto de análise surge na página 600 a referencia a estudos antropométricos. Sobre este tema desenvolvi um capítulo inteiro de meu trabalho de conclusão de curso, onde chamo a atenção para a relação entre a antropologia física e os estudos indígenas. Ou seja, que tipo de contribuição, ainda hoje a antropologia física pode oferecer para os etnólogos, destacando a contribuição do pesquisador Francisco Mauro Salzano. Não vou aqui repetir o conteúdo, porém deixar claro que existe esta conexão e que estou atento para o debate citado.




Nenhum comentário: