Livro e Literatura. Ciências Sociais. Antropologia. Sociologia. Porto Isabel. Viamão. Rio Grande do Sul. Brasil.
sábado, 31 de outubro de 2015
sexta-feira, 30 de outubro de 2015
quinta-feira, 29 de outubro de 2015
Alcance do Tema
EVANS-PRITCHARD, E.E. "Alcance do
Tema". In: Antropologia Social. Lisboa,
Ed. 70, 1972.
p. 12. - A Antropologia Social tem um
vaocabulário técnico muito limitado e vê-se obrigada a recorrer à linguagem
comum, que, como todos sabem, näo é muito exata. Os termos SOCIEDADE, CULTURA,
COSTUME, RELIGIAO, SANÇAO, ESTRUTURA, FUNÇAO, POLITICO, DEMOCRATICO, nem sempre
comportam o mesmo significado, quer para diferentes pessoas, quer em diferentes
contextos. Soluçöes?...
ANTROPOLOGIA, DEFINIÇÖES???
p. 12/13 - Em Inglaterra e, ainda que em
menor grau, nos Estados Unidos, a expressäo Antropologia Social é utilizada
para desginar uma parte de uma matéria mais vasta que é a Antropologia, isto é,
o estudo do homem num certo número de aspectos. O seu objeto está ligado às
culturas e sociedades humanas.
p. 13. Na Europa continental prevalece a
definiçäo "o estudo completo do homem (Antropologia Fisica ou estudo
biologico do homem).
INGLATERRA - ANTROPOLOGIA SOCIAL
FRANÇA - Etnologia ou Sociologia
p. 13. Primeira cátedra oficialmente
designaçäo de Antropologia Social - Frazer 1908 em Liverpool.
p. 13. Inglaterra: Antropologia
Social Antropologia Fisica
p. 14 Caracteriza o que é Etnologia...
estudo preliminar para as comparaçöes que fazm os antropólogos sociais entre
sociedades primitivas, porque é altamente conveniente, e até mesmo necessário,
principiar o trabalho comparativo com as do mesmo nível cultural ... A
Arqueologia Pré-Histórica...
p. 15. O objeto da Antropologia Social é
estudar o comportamento social, geralmente em formas institucionalizadas, como
a familia, sistemas de parentesco, organizaçäo politica, procedimentos legais,
ritos religiosos, e assim por diante, além das relaçöes entre tais
instituiçöes, estuda-se em sociedades contemporâneas ou naquelas comunidades
históricas sobre as quais existe uma informaçäo adequada para a realizaçäo de
tais investigaçöes.
p. 19. A Antropologia Social é o estudo de
todas as sociedades humanas e näo só das sociedades primitivas, apesar de na
prática e por conveniência se ocupar atualmente em analisar preferentemente as
instituiçöes dos povos mais simples. É evidente que näo pode haver uma
disciplina independente consagrada inteiramente ao estudo destas sociedades.
Quando um antropólogo se dedica à investigar um povo primitivo, o que estuda é
a linguagem, a religiäo, as leis, as instituiçöes politicas, a economia
politica.... depara-se com os mesmos problemas gerais que o estudioso destas
matérias nas grandes civilizaçöes do mundo. ... o antropólogo sempre compara as
sociedades.
Entäo, na época, para Evans-Pritchard: A
ANTROPOLOGIA SOCIAL, RAMO DOS ESTUDOS SOCIOLOGICOS QUE SE DEDICA PRINCIPALMENTE
AS SOCIEDADES PRIMITIVAS enquanto que SOCIOLOGIA - ESTUDO DE DETERMINADOS
PROBLEMAS EM SOCIEDADES CIVILIZADAS.
p. 16 "primitivo" - termo
técnico
p. 17. Tarefa da Antropologia Social -
estudo sociedades primitivas? Por que? Razöes?
p. 17 O estudo sociedades primitivas como
estudo das instituiçöes enquanto partes dos sistemas sociais. Sociedades
primitivas aparecem como objeto privilegiado pois säo estruturalmente simples e
culturalmente homogêneas, podem ser diretamente observadas como um todo, antes
de tentar estudar sociedades civilizadas complexas, onde isto näo é possível.
p. 17. Outra razäo, elas estäo a
transforma-se rapidamente e, portanto, torna-se necessário investigá-las o mais
depressa possível... p. 18. Estes sistemas sociais em vias de desaparecer
constituem variantes estruturais únicas, cuja análise nos ajuda
consideravelmente a compreender a natureza da sociedade humana, porque, num
estudo comparativo de instituiçöes, o número de sociedades com que se trabalha
é menos significativos que o seu grau de variaçäo.
p. 18 Outra razäo: valor intrínseco: Estas
sociedades säo interessantes em si mesmas, porque nos oferecem uma descriçäo da
forma de vida, dos valores e das crenças dos povos que vivem privados daquilo
que estamos habituados a considerar como os requisitos mínimos do conforto e da
civilizaçäo.
p. 18/19. Outros grupos estudados pela
Antropologia Social: comunidades rurais, vida urbana, aldeias e sociedades
históricas.
Questöes de METODO
p. 19. ANTROPOLOGIA SOCIAL - estuda
diretamente os povos primitivos vivendo entre eles durantes meses ou anos.
Ocupa-se da sociedade como um todo: estuda a ecologia, economia politica,
instituiçöes legais e politicas, a religiäo, a tecnologia, a organizaçäo da
familia e o parentesco, a ganadaria e a agricultura, a arte, etc... como partes
dos sistemas sociais gerais.
SOCIOLOGIA - estudo baseado em documentos
e estatísticas. Trabalho especializado, investiga problemas isolados. Ligado a
Filosofia social e ao planejamento social. Mas tb. (p. 20) um corpo geral de
conhecimentos teóricos sobre as sociedades humanas.
p. 20. OBJETO DA ANTROPOLOGIA SOCIAL:
relaçäo entre sociologia (corpo geral teorico) e a vida social primitiva.
quer dizer... (p. 21) A ANTROPOLOGIA
SOCIAL REALIZA UM CONJUNTO DE ESTUDOS DIFERENTES NUMA SERIE DE SOCIEDADES
DISTRIBUIDAS POR TODO O MUNDO. (p. 23) Estuda o conjunto de relaçöes sociais,
relaçöes entre memebros de uma sociedade e entre grupos sociais, enfatiza mais
o estudo da sociedade que o estudo da cultura (aqui no sentido de costume).
p. 23. A Antropologia Social pode
generalizar com mais facilidade que a Historia... pela análise comparativa das
estruturas sociais
p. 24 Crítica a Morgan, Spencer, Durkheim,
Tylor...
p. 25/26. O que antropólogo social, ao
contrário dos evolucionistas e funcionalistas anteriores busca ao estudar uma
sociedade primitiva? O que ele descreve é a realidade, o comportamento básico,
em que ambos os conceitos (sociedade e cultura) se encontram incorporados...
näo säo entidades separadas mas classes de abstraçöes distintas..., na
antropologia atual (trata-se da atualidade para Evans-Pritchard) os estudos
antropológicos especializam-se sobre instituiçöes pensadas como elementos de
uma estrutura social mais ampla e complexa.
p. 26 Mas o que é estrutura social para
Evans-Pritchard?
Cada sociedade tem uma forma ou padräo
caracteristico que nos permite considerá-la como um sistema ou estrutura, no
seio da qual os seus memebros desenvolvem as suas atividades em concordância
com ela. O uso do termo "estrutura" com este significado supöe um
certo grau de compatibilidade entre as partes, pelo menos suscetivel de evitar
contradiçöes abertas e conflitos. Significa também que tem uma duraçäo maior
que a generalidade das coisas passageiras da vida humana. As pessoas que vivem
numa sociedade podem näo se dar conta de que esta possui uma estrutura, ou
capta-la apenas de uma forma vaga.
p. 27 A TAREFA DO ANTROPOLOGO SOCIAL É
REVELAR A EXISTENCIA DE UMA ESTRUTURA. Uma estrutura social total, isto é, a
estrutura completa de uma sociedade determinada, compöe-se de um certo número
de estruturas ou sistemas subsidiários, e é por isso que podemos falar de
sistemas de parentesco, sistemas econômicos, religiosos ou politicos...
Assim, quando falamos das funçöes das
instituiçöes, estamos a referir-nos à parte que lhes corresponde na manutençäo
da estrutura da estrutura social.
EVANS-PRITCHARD, E.E.
EVANS-PRITCHARD, E.E. "Algumas
reminiscências e reflexöes sobre o trabalho de campo". In: Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande. Rio,
Zahar, 1978. Apêndice IV.
EVANS-PRITCHARD
Segundo Evans-Pritchar, percebemos que é essencial percebermos que os fatos, em si,
näo têm significado. Para que o possuam, devem ter certo grau de generalidade.
É preciso saber exatamente o que se quer saber, e isso só pode ser conseguido
graças a um treinamento sistematico em antropologia social acadêmica. Além
disso, nele está muito presente a importância de uma revisäo bibliografica
sobre o tema, e estudos de informaçäo teorico-metodologico como instrumentos
que problematizem a realidade a ser estudada.
OBJETO
O objeto de estudo: säo seres humanos, o trabalho de campo envolve a
nossa personalidade - cabeça e coraçäo; e que, assim, tudo aquilo que moldou
essa personalidade esta envolvido, näo só a formaçäo acadêmica: sexo, idade, classe
social, nacionalidade, familia, escola, igreja, amizades. Tudo que desejo
sublinhar é que o que se traz de um estudo de campo depende muito do que se
lava para ele.
É possível ir a campo com idéias pré concebidas, mas o treinamento
cientifico permite o exercicio de apreendê-las e relativiza-las (importância da
teoria).
ESTUDO RELACIONAL - estudar mais de uma sociedade quando possivel
- o contraste: idéias, valores desse povo com os de sua propria cultura,
e isso apesar de todo esforço corretivo implicito em seu conhecimento da
literatura antropologica... perceber linhas de pesquisa
- o estudo de uma segunda sociedade possui também a vantagem de tornar o
investigador mais experiente: ele ja sabe que erros evitar, como iniciar mais
rapidamente suas observaçöes, como cortar caminho na investigaçäo e como
descernir sem muito esforço o que é relevante - pois pode ver os problemas
fundamentais mais depressa.
MÉTODO / TÉCNICAS
- Realizar a observação participante na medida do possivel e do
conveniente, pois assim o pesquisador vive a vida do povo que esta estudando.
- Sugere experimentar coisas, hábitos da outra cultura, mas isto também
teu um lado perigoso, pois nem sempre pode ser bem recebido pelo grupo, e o
pesquisador pode querer fingir sem se dar conta disto... melhor dizer que o
antropólogo vive simultaneamente em dois mundos mentais diferentes, que se
constroem segundo categorias e valores muitas vezes de dificil conciliaçäo.
Tornamo-nos, ao menos temporariamente, uma espécie de duplo marginal, alienado
de dois mundos.
- o problema fica mais evidente
quando somos confrontados por noçöes inexistentes em nossa cultura atual e,
portanto, näo-familiares. Exemplifica com a dificuldade de entender idéias
sobre bruxaria dos Azande
Falando da diferença ente a sociologia e a
antropologia social, questiona: quais as tecnicas, entrevista fechada ou
aberta, depende da situaçäo, tomar nota, em que situaçäo? depende tem que ter
sensibilidade para isto.
Destaca a importância dos informantes, sobretudo informantes chave,
também, pessoa sensivel para entender o modo de vida de seu povo, mas é
fundamental falar a lingua nativa. Acredita que é sempre possivel verificar e
reverificar a informaçäo quando conhece-se a lingua nativa. A mentira pode
secretar informaçöes profundas. Relacionar os informantes com o status e o
papel dele na sociedade, também é uma técnica defendida por Evans-Pritchard.
EVANS-PRITCHARD, E.E.
"Alcance do Tema". In:
Antropologia Social. Lisboa, Ed. 70, 1972.
p. 12. - A
Antropologia Social tem um vaocabulário técnico muito limitado e vê-se obrigada
a recorrer à linguagem comum, que, como todos sabem, näo é muito exata. Os
termos SOCIEDADE, CULTURA, COSTUME, RELIGIAO, SANÇAO, ESTRUTURA, FUNÇAO,
POLITICO, DEMOCRATICO, nem sempre comportam o mesmo significado, quer para
diferentes pessoas, quer em diferentes contextos. Soluçöes?...
ANTROPOLOGIA,
DEFINIÇÖES???
p. 12/13 - Em
Inglaterra e, ainda que em menor grau, nos Estados Unidos, a expressäo
Antropologia Social é utilizada para desginar uma parte de uma matéria mais
vasta que é a Antropologia, isto é, o estudo do homem num certo número de
aspectos. O seu objeto está ligado às culturas e sociedades humanas.
p. 13. Na Europa
continental prevalece a definiçäo "o estudo completo do homem
(Antropologia Fisica ou estudo biologico do homem).
INGLATERRA -
ANTROPOLOGIA SOCIAL
FRANÇA - Etnologia ou
Sociologia
p. 13. Primeira
cátedra oficialmente designaçäo de Antropologia Social - Frazer 1908 em
Liverpool.
p. 13. Inglaterra:
Antropologia Social Antropologia Fisica
p. 14 Caracteriza o
que é Etnologia... estudo preliminar para as comparaçöes que fazm os
antropólogos sociais entre sociedades primitivas, porque é altamente
conveniente, e até mesmo necessário, principiar o trabalho comparativo com as
do mesmo nível cultural ... A Arqueologia Pré-Histórica...
p. 15. O objeto da
Antropologia Social é estudar o comportamento social, geralmente em formas
institucionalizadas, como a familia, sistemas de parentesco, organizaçäo
politica, procedimentos legais, ritos religiosos, e assim por diante, além das
relaçöes entre tais instituiçöes, estuda-se em sociedades contemporâneas ou
naquelas comunidades históricas sobre as quais existe uma informaçäo adequada
para a realizaçäo de tais investigaçöes.
p. 19. A Antropologia
Social é o estudo de todas as sociedades humanas e näo só das sociedades
primitivas, apesar de na prática e por conveniência se ocupar atualmente em
analisar preferentemente as instituiçöes dos povos mais simples. É evidente que
näo pode haver uma disciplina independente consagrada inteiramente ao estudo
destas sociedades. Quando um antropólogo se dedica à investigar um povo
primitivo, o que estuda é a linguagem, a religiäo, as leis, as instituiçöes
politicas, a economia politica.... depara-se com os mesmos problemas gerais que
o estudioso destas matérias nas grandes civilizaçöes do mundo. ... o
antropólogo sempre compara as sociedades.
Entäo, na época, para
Evans-Pritchard: A ANTROPOLOGIA SOCIAL, RAMO DOS ESTUDOS SOCIOLOGICOS QUE SE
DEDICA PRINCIPALMENTE AS SOCIEDADES PRIMITIVAS enquanto que SOCIOLOGIA - ESTUDO
DE DETERMINADOS PROBLEMAS EM SOCIEDADES CIVILIZADAS.
p. 16
"primitivo" - termo técnico
p. 17. Tarefa da
Antropologia Social - estudo sociedades primitivas? Por que? Razöes?
p. 17 O estudo
sociedades primitivas como estudo das instituiçöes enquanto partes dos sistemas
sociais. Sociedades primitivas aparecem como objeto privilegiado pois säo
estruturalmente simples e culturalmente homogêneas, podem ser diretamente
observadas como um todo, antes de tentar estudar sociedades civilizadas
complexas, onde isto näo é possível.
p. 17. Outra razäo,
elas estäo a transforma-se rapidamente e, portanto, torna-se necessário
investigá-las o mais depressa possível... p. 18. Estes sistemas sociais em vias
de desaparecer constituem variantes estruturais únicas, cuja análise nos ajuda
consideravelmente a compreender a natureza da sociedade humana, porque, num
estudo comparativo de instituiçöes, o número de sociedades com que se trabalha
é menos significativos que o seu grau de variaçäo.
p. 18 Outra razäo:
valor intrínseco: Estas sociedades säo interessantes em si mesmas, porque nos
oferecem uma descriçäo da forma de vida, dos valores e das crenças dos povos
que vivem privados daquilo que estamos habituados a considerar como os requisitos
mínimos do conforto e da civilizaçäo.
p. 18/19. Outros
grupos estudados pela Antropologia Social: comunidades rurais, vida urbana,
aldeias e sociedades históricas.
Questöes de METODO
p. 19. ANTROPOLOGIA
SOCIAL - estuda diretamente os povos primitivos vivendo entre eles durantes
meses ou anos. Ocupa-se da sociedade como um todo: estuda a ecologia, economia
politica, instituiçöes legais e politicas, a religiäo, a tecnologia, a
organizaçäo da familia e o parentesco, a ganadaria e a agricultura, a arte, etc...
como partes dos sistemas sociais gerais.
SOCIOLOGIA - estudo
baseado em documentos e estatísticas. Trabalho especializado, investiga
problemas isolados. Ligado a Filosofia social e ao planejamento social. Mas tb.
(p. 20) um corpo geral de conhecimentos teóricos sobre as sociedades humanas.
p. 20. OBJETO DA
ANTROPOLOGIA SOCIAL: relaçäo entre sociologia (corpo geral teorico) e a vida
social primitiva.
quer dizer... (p. 21)
A ANTROPOLOGIA SOCIAL REALIZA UM CONJUNTO DE ESTUDOS DIFERENTES NUMA SERIE DE
SOCIEDADES DISTRIBUIDAS POR TODO O MUNDO. (p. 23) Estuda o conjunto de relaçöes
sociais, relaçöes entre memebros de uma sociedade e entre grupos sociais,
enfatiza mais o estudo da sociedade que o estudo da cultura (aqui no sentido de
costume).
p. 23. A Antropologia
Social pode generalizar com mais facilidade que a Historia... pela análise
comparativa das estruturas sociais
p. 24 Crítica a
Morgan, Spencer, Durkheim, Tylor...
p. 25/26. O que
antropólogo social, ao contrário dos evolucionistas e funcionalistas anteriores
busca ao estudar uma sociedade primitiva? O que ele descreve é a realidade, o
comportamento básico, em que ambos os conceitos (sociedade e cultura) se
encontram incorporados... näo säo entidades separadas mas classes de abstraçöes
distintas..., na antropologia atual (trata-se da atualidade para
Evans-Pritchard) os estudos antropológicos especializam-se sobre instituiçöes
pensadas como elementos de uma estrutura social mais ampla e complexa.
p. 26 Mas o que é
estrutura social para Evans-Pritchard?
Cada sociedade tem
uma forma ou padräo caracteristico que nos permite considerá-la como um sistema
ou estrutura, no seio da qual os seus memebros desenvolvem as suas atividades
em concordância com ela. O uso do termo "estrutura" com este significado
supöe um certo grau de compatibilidade entre as partes, pelo menos suscetivel
de evitar contradiçöes abertas e conflitos. Significa também que tem uma
duraçäo maior que a generalidade das coisas passageiras da vida humana. As
pessoas que vivem numa sociedade podem näo se dar conta de que esta possui uma
estrutura, ou capta-la apenas de uma forma vaga.
p. 27 A TAREFA DO
ANTROPOLOGO SOCIAL É REVELAR A EXISTENCIA DE UMA ESTRUTURA. Uma estrutura
social total, isto é, a estrutura completa de uma sociedade determinada,
compöe-se de um certo número de estruturas ou sistemas subsidiários, e é por
isso que podemos falar de sistemas de parentesco, sistemas econômicos,
religiosos ou politicos...
Assim, quando falamos
das funçöes das instituiçöes, estamos a referir-nos à parte que lhes
corresponde na manutençäo da estrutura da estrutura social.
EVANS-PRITCHARD, E.E.
"Algumas reminiscências e reflexöes sobre o trabalho de campo". In: Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande. Rio,
Zahar, 1978. Apêndice IV.
Paulo Oddi
UFRGS - IFCH
- PPGAS
ESTUDO ANTROPOLÓGICO DE
UM ESPAÇO URBANO
SINGULAR: CAIS DO PORTO
DE PORTO ALEGRE
(OU DA CIDADE
QUE TEM PORTO
ATÉ NO NOME)
ENTREVISTA No. 05
DADOS DE
IDENTIFICAÇÃO
BAIRRO:
SOBRENOME DO
ENTREVISTADO: Oddi
NOME
DO ENTREVISTADO: Paulo
NOME
CARACTERÍSTICO (se houver):
DATA
DA REALIZAÇÃO DA
ENTREVISTA: 21 / 07 / 98.
ENDEREÇO: Av. Mauá. / Cais Mauá.
FONE:
HORÁRIO REALIZAÇÃO
DA ENTREVISTA: 9 H 30 min
DURAÇÃO DA
ENTREVISTA: 1 h 30 min
ENTREVISTADOR:
Jaques
INDICAÇÃO:
......................................................................................................................
DESCRIÇÃO DO CONTEXTO:
Fui recebido no escritório do Dr. Paulo Oddi,
administrador do Cais Mauá / Cais do Porto de Porto Alegre no horário combinado
para a entrevista. O encontro foi acompanhado por uma funcionária
administrativa que desempenha funções de assessora de imprensa junto a este
órgão.
A entrevista foi
pautada pela praticidade e tecnicidade do Engenheiro Oddi que destacou na sua
fala, essencialmente, os aspectos administrativos do Caís, bem como os aspectos
de controle, normalização, segurança e contenção deste (e neste) espaço urbano.
Chamou a minha
atenção, uma pergunta formulada pelo entrevistado, no final da entrevista,
sobre a opção dos portalegrenses em estarem constantemente presentes no cais do
porto contemplando-o, curtindo o por do sol, etc. Ele indagava sobre porque não
contemplar o por do sol de qualquer outro lugar da cidade que não o porto.
Ficou claro o tom inquisitivo e, de certa forma, arrogante, na pergunta do
administrador sobre o nosso nível de conhecimento sobre aquele espaço urbano e
as suas relações com os cidadãos desta cidade. Utilizei os nossos conhecimentos
históricos da formação da própria cidade, resgatando aspectos da chagada dos
Casais Açorianos, relacionados com a história atual da cidade para respondera
esta indagação.
De um modo geral, a
entrevista foi bastante interessante. Ao final da entrevista, o administrador
se colocou a disposição para colaborar com o nosso projeto de pesquisa no que
fosse necessário e sugeriu que visitássemos a biblioteca do Cais do Porto onde
estão vários documentos históricos que remontam várias épocas da existência deste
importante espaço urbano.
TRANSCRIÇÃO DA FITA
Jaques
– O Sr. Trabalha para o DEPREC ?
Paulo
– Estou vinculado a secretaria de transportes, administro os portos e
hidrovias, portos interiores, porto de
Porto Alegre, de Pelotas, porto de Cachoeira e mais 700 quilômetros de
hidrovias navegáveis. Essa é a função principal da superintendência de portos e
hidrovias que é constituído de três diretorias básicas: uma de grande porte
interiores, uma diretoria de hidrovias e uma diretoria
financeira-administrativa, tudo isso coordenado por uma superintendente que
executa as atividades (como autarquia estadual).
Jaques
– Vejo nos muros do porto a inscrição DNOS. Ainda existe este departamento ?
Paulo - Foi extinto na era Color. Foi o que fez a
cortina da Mauá, é uma das obras do DNOS que mais chama a tenção, mas este
órgão foi instinto não tem mais.
Jaques
– Então a administração do porto está somente a nível estadual ?
Paulo
– A administração portuária é estadual, a superintendência é uma autarquia
estadual que administra sob concessão da união que concede ao estado o
gerenciamento dos portos e hidrovias. Tudo isso é patrimônio da união e o
estado criou uma autarquia para gerenciar esta concessão em nome da união.
Jaques
– Quanto a operacionalidade do cais de Porto Alegre ?
Paulo
– Antes da lei 8.630, a lei de modernização dos portos, de 1993, toda a
movimentação do cais do porto era feita pela própria autarquia, a partir daí,
então os serviços de operação no cais, movimentação horizontal de carga,
operação de carga e descarga, recebimento e entrega de carga nos armazéns, foi
sendo terceirizado gradativamente. Hoje todo movimento de carga é feito por
terceiros (serviço privado). Os serviços, o gerenciamento, o monitoramento,
disciplinamento ainda é feito pela autoridade portuária, pela administração do
porto, mas a execução dele é feita por operadores portuários privados. Isso vem
de 1993 para cá, gradativamente vai sendo mudado o modelo. Parte dos
investimentos, equipamentos, tudo é feito pelo privado no sentido de melhorar
e aperfeiçoar a operação.
Jaques
– Estes funcionários, pessoas que vejo carregando e descarregando os navios são
funcionários do porto ?
Paulo
– não são funcionários do porto, são funcionários de portuários privados. Nosso
pessoal trabalha somente na coordenação das atividades, no monitoramento e no
disciplinamento das atividades.
Jaques
– A parte da segurança ... ?
Paulo
– segurança, normalização, tarifas, horário, enfim tudo que envolva a
organização da operação como um todo é feita pela administração que executa os
serviços. Nas empresas portuárias privadas nós não interferimos neste processo,
isso é no Brasil inteiro, alguns portos são mais avançados, outros menos, mas todos
caminham para isso, e tudo começou em 1993 com a lei de modernização dos
portos. Está mudando radicalmente o perfil operacional dos portos de Rio
Grande, por exemplo, que já está com toda a sua operação feita por privados,
gradativamente estão se adaptando a nova legislação.
Jaques
– Então o quadro de pessoal não é muito grande hoje ?
Paulo
– É muito reduzido. É mais a parte administrativa e manutenção. Temos uma
equipe mínima de manutenção das instalações que é o patrimônio do porto, mas
reduziu bastante o número de funcionáros, eu diria drasticamente.
Jaques
– Aproximadamente, quantos funcionários?
Paulo
– Hoje a superintendência que envolve Porto Alegre, Pelotas, Cachoeira, Rio
Pardo e as hidrovias, entre pessoal de manutenção e pessoal administrativo são
uns 200, no máximo e tende a diminuir cada vez mais. Isso a superintendência de
portos e hidrovias, nada a ver com o porto de Rio Grande, porto de Rio Grande
separado, eu falo Pelotas, Porto Alegre, e hidrovias interiores, pessoal
carregado de fazer a manutenção da dragagem, sinalização, isto é, para garantir a segurança da navegação.
Jaques
– Sobre as mudanças que estão previstas dentro do projeto Porto dos Casais,
como o senhor vê estas mudanças?
Paulo
– Eu diria que o porto de Porto Alegre vai se transformar enormemente com o
advento do porto dos casais. A vinda da GM e da Ford vai trazer uma
transformação tão grande como foi na década
de 1970 com o complexo de soja que revolucionou o sistema portuário gaúcho,
tanto que Porto Alegre, como Rio Grande, isto na parte dos granéis da época,
(...) Hoje eu diria que o porto de Porto Alegre passa por uma explosão, uma
transformação de atividades dentro de um complexo das cargas, em geral
manufaturados (...). Eu diria, me atrevo a dizer que é a maior transformação que Porto Alegre vai enfrentar
nestes próximos anos a partir destes investimentos grandes maciços. Vai ser
fantástico ! Nós não conseguimos nem imaginar, é imaginável o volume de carga,
o volume de carga que pode representar para o porto, eu diria até que nos
próximos 20 anos o porto vai ser insuficiente para atender toda a demanda de
carga gerada, decorrente destes
investimentos nas cidades vizinhas do porto: GM, FORD, GODYEAR, PYRELE e outras inúmeras empresas que vão se
instalar aqui decorrente destes movimentos mais a transformação visual que o porto dos casais vai causar, também vai ser
um atrativo comercial de grande circulação e demanda de negócios que nós hoje
nem conseguimos imaginar.
PPGAS
UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ANTROPOLOGIA SOCIAL
·
MESTRADO
·
DOUTORADO
UNIVERSIDADE FEDERAL
DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE
FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ANTROPOLOGIA SOCIAL
·
MESTRADO
·
DOUTORADO
Capa, Editoração e
Revisão
Laboratório de Antropologia/PPGAS-UFRGS
Impressão
Gráfica
UNIVERSIDADE FEDERAL
DO RIO GRANDE DO SUL
Reitora
Profa. Wrana Panizzi
Diretora do Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas
Profa. Maria Assunta
Campilongo
Coordenador do Programa de
Pós-Graduação em Antropologia Social
Prof.
Ruben George Oliven
Comissão
Coordenadora
Prof. Ruben George Oliven
Profa. Cornelia Eckert
Profa. Ondina Fachel Leal
quarta-feira, 28 de outubro de 2015
Anton Pavlovich Tchekhov
Tchekhov, Anton Pavlovich. A dama do cachorrinho : e
outros contos. São Paulo : Ed. 34, 2011.
367 p..
Santa Isabel
- “Redescobrindo” a Santa Isabel : Um Estudo
Antropológico sobre a Região da Grande Santa Isabel (4º Distrito do
Município de Viamão) -
INTRODUÇÃO
Esta monografia propõe estudar a Região da Grande Santa Isabel,
a partir das noções de regionalização, identidade cultural e dinâmica de
organização espacial. Percebendo esta região com características potencialmente
diferenciadas daquelas observadas no Município em que se situa, proponho
realizar uma análise etnográfica e historiográfica que subsidiem esta hipótese
inicial de trabalho: a diferença cultural entre a sede do município e a região
da Santa Isabel. Segundo uma perspectiva relacional e dialética, proponho
também investigar o processo de
construção social da memória desta população, bem como os aspectos do
imaginário que são apropriados por viamonenses e isabelenses que na sua tensão
diária e recíproca estabelecem pontos de aproximação e afastamento.
Historicamente tem se observado tensões de interação social,
administrativa e política entre a sede do Município de Viamão e a Região[1] da Santa Isabel. Fatos
históricos do século passado remontam um processo distinto de ocupação destas
duas localidades.
Segundo alguns historiadores
como Clóvis Silveira de Oliveira, o surgimento da “Freguesia de Viamão” está
ligada às viagens que João de Magalhães faz por volta de 1714 por orientação do
então Governador do Rio de Janeiro D. Francisco de Távora que pretendia “fazer
vistorias nos lados do sul”[2]. O povoamento do extremo sul do Brasil
acontece, segundo o historiador Walter Spalding, com a chegada de Dona Ana da
Guerra, irmã do Capitão-mor Francisco de Brito Peixoto, fundador de Laguna e um
dos grandes tropeiros da época, mais seu genro, João de Magalhães, que
estabeleceram-se nos “Campos de Viamão” [3]. Ali, em terras de Dona
Ana, foi erguida uma capelinha em louvor de Nossa Senhora da Conceição e
Santana e, ao seu redor, logo se formaria uma pequena localidade que ficou
conhecida por Lombas de Santana[4].
Em meados de 1740, fato
semelhante provocaria o surgimento de um outro povoado. Francisco Carvalho da
Cunha doaria uma légua de terra para a construção de uma outra capela, a de
Nossa Senhora da Conceição do Viamão, que logo se transformaria em uma igreja.
Em volta desta igreja fundou-se um grande
povoado, povoado de Viamão, que já em 1747 era elevado à categoria de
freguesia.
O povoado de Viamão estava distante do mar (cerca de 120 Km) e
sem possibilidade de erguer qualquer tipo de porto na sua costa, só possuía comunicação com o restante do
Brasil por terra. Porém, em determinado momento, descobriram, a mais ou menos
60 Km de distancia da sede do povoado, uma grande lagoa denominada de “Guaybe”
pelos indígenas. Este fato levou os habitantes de Viamão a criarem um porto
naquele local, o Porto de Viamão. Este mesmo porto passaria a ser denominado
Porto do D’Ornelas ou Porto do Dorneles, quando da radicação de Jerônimo de
Ornelas (mais seus agregados e parentes) naquele mesmo local e de Porto do
Dionísio, quando utilizado como escoadouro da estância de Dionísio Rodrigues
Mendes (Fundador da Capela de Nossa Senhora de Belém, hoje Belém Velho). A
chegada dos casais açorianos, em 1752, marca o início da colonização do então Porto de Viamão (nome
dado a um ancoradouro nos fundos da Sesmaria de Jerônimo de Ornellas, onde está
agora a Praça da Alfândega). Instalados em casas de palha no local onde
encontramos hoje a atual Praça da Alfândega, os casais vindos das Ilhas dos
Açores inauguravam o que viria a ser “um arraial bastante fértil”. [5]
A ocupação efetiva do primeiro trecho do eixo “Porto de Viamão”
– “Freguesia de Viamão” (Rio Guaiba até a atual divisa dos Municípios de Viamão
e Porto Alegre) acontece no momento em que Jerônimo de Ornelas se estabelece no
Porto de Viamão e escolhe o Morro Santana para construir a sede da sua sesmaria
(Segundo Oliveira nas imediações da atual Escola de Agronomia da UFRGS). Nas
medidas atuais, essa sesmaria teria uma área de aproximadamente 14.000 hectares,
abrangendo assim a atual área da Santa Isabel [6].
A SANTA ISABEL
HOJE
A Santa Isabel é uma das regiões da Cidade de Viamão que mais
tem se destacado pelo seu potencial econômico, social, político e humano. A
proposta da atual Administração Pública Municipal denominada de Orçamento
Participativo possibilitou que os moradores do 4º Distrito chegassem
a uma conclusão que já estava construída geograficamente: a Santa Isabel é o
centro de uma região composta por mais de 20 vilas.
Durante o processo de escolha dos representantes (Delegados) das
comunidades junto ao O . P . e das discussões sobre as suas prioridades,
reuniram-se mais de 200 pessoas no Salão Paroquial da Igreja da Santa Isabel,
local definido para a realização destas assembléias. Foi a partir deste momento
que os cidadãos desta região, encontrando os seus pares, perceberam (talvez
pela primeira vez) que ali se encontravam pessoas das seguintes localidades:
Campos da Colina, Condomínio Horizontal da Lomba do Sabão, Diamantina, Irma,
Jardim Lacy, Jardim Universitário, Lanza, Luciana, Medianeira, Monte Alegre,
Monte Castelo, Morro Santana, Nossa Senhora Aparecida, Passo do Sabão, Represa,
Santa Miguelina, Sítio Lomba do Sabão, USBEE e União. Desta forma a Comunidade
da Grande Santa Isabel, como alguns denominam a região, ganha a visibilidade do
seu todo, da sua força de barganha política, do seu poder de organização
popular, enfim adquire uma nova fisionomia social, econômica e política.
Considerada como zona estratégica para as atividades políticas
da maioria dos partidos políticos de Viamão, sondada por redes de lojas
comerciais de diversos tipos que começam ali a se instalar, olhada e pesquisada
pelos técnicos que investigam o crescimento da região metropolitana de Porto
Alegre, almejada por moradores de classe média de Porto Alegre que buscam um
local de residência alternativa ao que a capital dos gaúchos oferece, querida e
amada pelos seus admiradores mais entusiastas, assim a Santa Isabel demonstra
suas especificidades urbanas. Mas o que existe de fato na Santa Isabel ou quais
os elementos que a diferenciam sobremaneira das demais localidades de Viamão
??
Mais do que vila ? Um pouco menos que cidade ? O que é de fato a Santa Isabel
???
A resposta final e acabada para esta pergunta está longe de ser
construída, no entanto, já temos alguns elementos, fruto de investigações
científicas que temos realizado na cidade, que contribuem para esta reflexão
sobre o processo de construção urbana aqui referido.
ALGUNS
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Para a noção de Cidade
Definir o que é uma
cidade, de fato, não é uma atividade fácil, diante das inúmeras concepções e
noções do que realmente venha a ser uma cidade em toda a extensão do termo. O
urbanista e pesquisador FERNANDO GOITIA em uma BREVE HISTÓRIA DO URBANISMO
afirma que “o estudo da cidade é um tema tão sugestivo como amplo e difuso;
impossível de abordar para um homem só, se levarmos em conta a quantidade de
saberes que haverá de acumular.” Seguindo a sua sugestão de que “não devemos
perder de vista, ao estudar as cidades, as valiosas fontes que a literatura nos
oferece”, trazemos alguns conceitos de cidade construídos por alguns pensadores
que nos antecederam sobre este tipo de estudo.
ARISTÓTELES trabalha com um conceito político de cidade, no
momento em que sugere uma noção de diferenciação entre dois tipos de cidadãos
que compõe as cidades. Neste sentido ele disse que “uma cidade é um certo
número de cidadãos, de modo que devemos considerar a quem devemos chamar
cidadãos e quem de fato é um cidadão (...) Chamamos, pois, cidadãos de uma
cidade aos que tem a faculdade de intervir nas funções deliberativas e
judiciais da mesma e cidadão em geral, ao contrário são aqueles cidadãos que
tem a cidade apenas para a realização da sua vida.” Excluindo a discussão
política colocada na definição de Aristóteles que traz a noção de cidade-estado
da Grécia (o Estado é a Cidade e a Cidade é o Estado) entendemos que, para ele,
uma vez reunidos um determinado número de cidadãos, teríamos uma cidade.
AFONSO, outro pensador das cidades, referindo-se às cidades medievais que não se
concebe sem a proteção de muros ao seu entorno como defesa das ameaças
exteriores, define a cidade como “todo aquele lugar que é fechado com muros,
com arrabaldes e edifícios que se tem com eles”.
CANTILLON, pensador e estudioso do século XVIII, imagina assim a
origem de uma cidade: “Se um príncipe ou um senhor fixa a sua residência em um
lugar que o agrada e se outros senhores o acompanham e ali se estabelecem para
um convívio mútuo e social, este lugar se converterá em uma cidade.” Neste
conceito temos a concepção de uma cidade Barroca, de caráter senhorial e
eminentemente consumidora, onde reina o luxo que foi a origem das grandes
cidades do Ocidente antes do advento da era industrial.
Para os que preferem uma
distinção entre cidade e natureza, considerando a cidade como uma criação
abstrata e artificial do homem, destacamos a concepção de ORTEGA e GASSET: “A
Cidade é um ensaio da sucessão que o homem faz para viver fora e frente ao
cosmos, tomando dele porções seletas e previamente escolhidas.”
A opção que fiz, enquanto pesquisador em ciências sociais, foi
pela análise qualitativa do social, através da proposta e das ferramentas que a
antropologia social oferece para a análise da dinâmica social urbana. Portanto,
mais do que me debruçar sobre uma grande quantidade de dados estatísticos,
tabelas quantitativas e números exatos, proponho perceber a cidade através do
que consigo extrair da sua essência qualitativa, ou seja, a sua cultura, o seu
imaginário, os sentimentos que a permeiam, enfim a sua alma. Digo isto para
introduzir uma outra concepção de cidade, difundida por SPENGLER para quem a
alma (ou o espírito, como preferir) sustenta a dialética da cidade clássica.
Segundo SPENGLER “o que distingue a cidade de uma aldeia (ou
vila) não é a sua extensão, não é o seu tamanho, se não a presença de uma alma
citadina (...) O Verdadeiro milagre é quando nasce a alma de uma cidade.
Subitamente sobre a espiritualidade geral da cultura, destaca-se a alma da
cidade como uma alma coletiva de uma nova espécie, cujos últimos fundamentos
permanecem para os outros em eterno mistério. E uma vez desperta, se forma um
corpo visível. A coleção de casas da aldeias (ou vila), cada uma das quais com
sua própria história, se converte em um único conjunto. E este conjunto vive,
respira, cresce, adquire um rosto familiar e uma forma e uma história internas.
A partir deste momento, apesar das casas em separado, do tempo, da catedral e
do palácio (do governo), constitui a imagem urbana em sua unidade o objeto de
um idioma de formas e de uma história específica que acompanha em seu curso
todo o ciclo vital de uma cultura ”
Para a Dinâmica da Organização Espacial
As duas grandes categorias de análise
científica em ciências sociais são, inevitavelmente, tempo e espaço, conforme a
afirmação de vários autores que trabalhamos. Elas podem estar tão intimamente
relacionadas que, algumas vezes, é quase impossível desconsiderar uma em
detrimento de outra. Neste sentido, nos ensina Bachelard: “É pelo espaço, é no
espaço que encontramos os belos fósseis de duração concretizados por longas
permanências.” (Bachelard, 1993)
Em função disso, além das representações
que remontam o tempo vivido e o tempo lembrado, presentes nesta monografia,
considero a questão espacial como um outro eixo inevitável de apreensão e
análise.
Para esta “caminhada” e essa
“descoberta” sobre a dinâmica espacial que estamos investigando, escolhemos
três autores em especial. A incursão pela espacialidade de alguns perímetros
urbanos nos faz dialogar com Schulz, para quem “el interés del hombre pur el
espacio tiene raíces existenciales: deriva de una necessidad de adquirir
relaciones vitales en el ambiente que le rodea para aportar sentido y ordem a
um mundo de acontecimentos y acciones” (Norberg-Schulz, 1975). O segundo autor,
como já sinalizamos anteriormente, é Bachelard que contribui sobremaneira para
algumas interpretações que somente são possíveis dentro do campo da
Fenomenologia da Imaginação (ou arqueologia do imaginário). Neste sentido, ele
nos incita à algumas ponderações do tipo: “o espaço convida à ação, e antes da
ação a imaginação trabalha” (Bachelard, 1993). O terceiro autor contribui para
uma análise mais específica do fenômeno que estou tentando interpretar como um
tipo de “Regionalismo” no sentido de que “O Regionalismo aponta para as
diferenças que existem entre regiões e utiliza estas diferenças na construção
de identidades próprias” (OLIVEN, 1992).
O esforço de trabalhar com estes autores
e seus pressupostos vai no sentido de tentar perceber as características e
especificidades do campo trabalhado, bem como dos atores sociais e da dinâmica
social colocada neste campo, a partir de
um “olhar vibrátil” (Rolnik, 1997) sobre o espaço e as relações de espacialidade
que envolvem, delimitam e, porque não dizer, definem este universo simbólico e
cultural trabalhados.
Para a questão de Identidade Cultural
Os pressupostos básicos para a discussão
da temática da identidade são oriundos de Renato Ortiz que afirma: “A rigor,
faz pouco sentido buscar a existência de ‘uma’ identidade; seria mais correto
pensá-la na sua interação com outras identidades, construídas segundo outros
pontos de vista.” (ORTIZ, 1994). As noções tomadas por Ortiz de Lévi-Strauss
também são de suma importância para este estudo, por exemplo: “A identidade é
uma espécie de lugar virtual, o qual nos é indispensável para nos referirmos e
explicarmos um certo número de coisas, mas que não possui na verdade, uma
existência real.” (ORTIZ, 1994)
Para as questões de Método de Pesquisa
A
pesquisa qualitativa e, em especial, o método etnográfico e etnológico,
nos estudos de ciências sociais voltados a pesquisa de sociedades complexas do
tipo urbano-contemporaneo-capitalista é aqui o centro da nossa construção
científica. No meu entendimento, é através deste tipo de trabalho que podemos
desenvolver a “ação” e a “imaginação” de que Bachelard nos falou em seus
escritos.
Para a metodologia do trabalho de campo, utilizaremos as
principais técnicas do método etnográfico, como a observação participante,
realização de entrevistas com o uso de gravador, análise de contexto do campo
pesquisado e análise de conteúdo de documentos históricos, reportagens de
jornais e revistas.
Etnografar o campo estudado, representa
para nós, destacar os principais atores sociais, suas características
principais, enfim nos mover no sentido de realizar uma tarefa que se assemelha
com o esforço de “tentar ler um manuscrito estranho, desbotado, cheio de
elipses, incoerências, emendas suspeitas e comentários tendenciosos, escrito
não com os sinais convencionais do som, mas com exemplos transitórios de
comportamento modelado.” (Geertz, 1978)
CONCLUSÃO
Um aspecto que me parece interessante chamar para este momento
do nosso texto é do desafio que sempre está colocado para nós, quando tentamos
“estranhar o familiar”, através de uma pesquisa voltado para um espaço social
que é o nosso próprio, ou seja, o espaço urbano contemporâneo. Aceitando o
convite de Gilberto Velho: “(...) Não há como fugir, nem retardar mais o
processo de assumir o estudo antropológico da nossa sociedade e cultura como
tarefa fundamental.” (Velho, 1980), nos embrenhamos nesta atividade que muito
nos satisfaz intelectualmente.
SPENGLER fala de um processo que culmina com “o nascimento da
alma da cidade” na configuração de uma localidade na sua trajetória até à
conquista do estatuto de cidade. Portanto, segundo este pensador, existe um
momento muito especial e significativo que é “um verdadeiro milagre” e que
define o surgimento da Cidade como tal, a partir do nascimento da sua alma.
Tomando esta concepção de SPENGLER, passamos a analisar o caso
da Santa Isabel, no sentido de perceber qual teria sido este momento em que de
fato nasce (ou não) a alma da cidade, ou
seja, a partir de que momento de sua história a dinâmica social e urbana local
dá a luz à esta “nova cidade”. Vivendo a quase três décadas nesta região e,
portanto, tendo acompanhado os principais acontecimentos que marcaram a
estruturação da Santa Isabel, partimos para a análise do fato ou dos fatos que
teriam definido a sua concepção enquanto cidade. A resposta seria: A conjugação
de dois processos sócio-urbanístico
iniciados no intervalo de 1994 / 1996. O Reordenamento e revitalização
urbana que a “cidade” recebeu a partir do final do ano de 1994 com a construção
da Avenida do Trabalhador, associado ao processo de resgate da cidadania
através do “Orçamento Participativo” implementado a partir de 1996, redefine e
revitaliza a essência da organização
urbana local, transformando estruturalmente a
Santa Isabel e inserindo-a em uma nova realidade e uma nova fase do seu
desenvolvimento político, econômico e social.
BIBLIOGRAFIA
BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Zahar Ed. , 1978.
MACEDO, Francisco Riopardense de. Porto Alegre: origem e crescimento.
Porto Alegre: Ed. Sulina, 1968.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. O Espetáculo de Rua. Porto Alegre: Ed.
da UFRGS, 1992.
OLIVEN, Ruben George. “Nação e Tradição
na Virada do Milênio.” In. A Parte e o
Todo: a diversidade cultural no Brasil-Nação. Porto Alegre, Vozes, 1992,
p.13
ORTIZ, Renato. “Modernidade-Mundo e
identidades.” In: Um Outro Território.
Ensaios sobre a Mundialização. São Paulo. Olho D’Água, s/d. p. 67-89
ROLNIK, Suely. Uma Insólita Viagem à Subjetividade. São Paulo: Ed. Papirus, 1997.
In LINS, Daniel. Cultura e Subjetividade.
VELHO, Gilberto. O Desafio da Cidade. Novas Perspectivas da Antropologia Brasileira.
Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1980.
NORBERG-SCHULZ, Christian. Nuevos Caminhos De La Arquitectura -
Existencia, Espacio y Arquitectura. Barcelona: Ed. Blume, 1975.
[1]
Adoto o termo região, reproduzindo uma tendência de alguns informantes, na sua
maioria moradores da Vila Santa Isabel, que utilizam este termo para denominarem o lugar que percebem como um
local que representa algo que é um pouco mais do que uma vila e um pouco menos
que uma cidade. Representantes do Poder Público Municipal, especialmente os
ligados ao “Orçamento Participativo”, adotaram esta terminologia (Região da
Santa Isabel), de alguma forma legitimando-a, pois utilizam um mapeamento da
Cidade de Viamão onde a Santa Isabel figura como núcleo urbano de cerca de 18
vilas que a circundam. Portanto, durante o processo de discussão e deliberação
sobre os recursos públicos municipais, a comunidade da Região da Santa Isabel
(Reunião da Santa Isabel mais as 18 vilas do seu entorno) se reúne no Salão
Paroquial da Igreja da Santa Isabel para discutir e deliberar sobre as suas
prioridades.
[2] Grifo do
historiador citado.
[3] Campos
de Viamão: nome genérico utilizado na época para referir toda a área que
conhecemos hoje no entorno da Cidade de Viamão (Palmares do Sul, Águas Claras,
Tavares, Itapuã e alguns municípios da Grande Porto Alegre como Alvorada,
Gravatai, Cachoeirinha, ...)
[4]
Onde atualmente se encontra o Distrito de Águas Claras / Município de Viamão.
[5]
Expressão usada na primeira referencia registrada em documento sobre a povoação
que se formava no então Porto de Viamão, a qual se desenvolvia rapidamente para
os padrões da época.
[6]
Investigações arqueológicas do Museu Joaquim José Felizardo em parceria com o
Núcleo de História da UFRGS, apontam para a confirmação desta hipótese.
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