Boas Noites
Está chegando a hora boa do dia. Eu quero poder cantar com a Clara Nunes nesta noite de Lua Recuada. Voltando para o ninho da serpente.
Vocês sabem que "o imperador" tem muito poder. O mesmo possui uma legião de bajuladores que trabalha graciosamente para atender as suas vontades. Se ele deseja "rastrear" alguém, por exemplo, os seus soldados estão a postos. Vigiar os seus oponentes é uma tarefa que fazem com prazer. É um verdadeiro sistema de opressão.
Sigo lutando.
Dito isto, volto para a minha humilde labuta intelectual.
Sabe alguns debocham outros comentam: "Mulato cor de rosa. Hum! Não sei não! Acho que o Jacques pontinhos."
Pura ignorância, pois não leram os clássicos. Se você não leu os clássicos não tem "fazendeiro" que te salve. Você vai ficar na margem respondendo: Sim Senhor! Não Senhor!
E as moedas rodando. Porque douto não aprecia a plebe. Você sabe disso.
Relembrando
Eu sou o inventor da autoetnografia do sul.
Apresentei um trabalho na urguês.
A professora botou fora o original. Me avaliou pelas beradas e registrou a letra ce no sistema.
Como se não bastasse. O fazendeiro veio com esta: "Não ... mais a professora fulana de tal é filha de pastor luterano ... é pessoa integra ... " Etecétera e tal.
Para resumir. Se eu não fosse filho do agosto, estas teclas estariam dormentes. Entende? O Sistema é muito cruel. Eles não se suportam, mas se protegem mutuamente. Para encerrar: Tem cabimento os valores repassados pelo erário público para os pesquisadores em tela? Um iniciante ganha quatrocentos reais e os seus superiores algo em torno de cem mil reais mês.
Voltando ao mulato.
3.2
Mestre Borel
A lembrança que aqui se faz necessária é a seguinte:
já na oportunidade em que fui provocado para compor uma proposta inicial de
conclusão da disciplina, fiz grafar em documento enviado a ministrante da
disciplina o projeto que propunha realizar análise crítica de obra
cinematográfica avaliada sob o plano de trabalho acadêmico desenvolvido na
disciplina Afro descendência e Cidadania No Brasil Contemporâneo. Assim
procedi, pois acredito que os recursos áudios-visuais são fundamentais no
processo de ensino-aprendizagem. Além disso, a minha trajetória de trabalho na
área da antropologia visual demonstra previamente que sempre estive mobilizado
para realizar estudos antropológicos que dialoguem diretamente com os recursos
oferecidos pela arte fotográfica e cinematográfica.
Neste sentido, a época da citada provocação acadêmica,
citei duas alternativas. Em primeiro lugar, avaliar criticamente a obra
denominada: The Great Debaters que tem como título no Brasil: O Grande Desafio.
Em segundo lugar realizar análise crítica de vídeo etnográfico avaliado sob o
plano de trabalho acadêmico desenvolvido na disciplina Afro descendência e
Cidadania No Brasil Contemporâneo. A fim de tentar viabilizar a segunda
alternativa, estive pessoalmente na sede do Banco de Imagens e Efeitos Visuais
da Cidade de Porto Alegre (BIEV), para solicitar uma cópia da obra denominada:
Mestre Borel – A Ancestralidade Negra em Porto Alegre. Uma vez que não
considerava adequado trabalhar a partir da versão publicada na rede mundial de
computadores. Fui muito bem recebido e até convidado para permanecer naquele
local onde ocorria uma aula da disciplina de Antropologia Visual e da Imagem
(PPGAS/IFCH). Agradeci e explanei as minhas metas dentro da demanda que me
colocava naquele ambiente acadêmico: Relacionar o conteúdo da obra (Vídeo
Etnográfico) com as temáticas trabalhadas em sala de aula durante o semestre
(leituras dos textos e discussões e debates realizados sobre as atividades da
disciplina da disciplina Afro-descendencia e Cidadania no Brasil Contemporâneo).
Destaquei ainda que o objetivo era construir um texto do tipo ensaio acadêmico
no fechamento da avaliação da obra cinematográfica, com vistas à futura
disponibilização do mesmo na rede
mundial de computadores para todos os interessados.
O fato é que até o presente momento não tive acesso a
uma versão original do documentário Mestre Borel: a ancestralidade negra em
Porto Alegre. Mas, mesmo assim, decidi trabalhar com a biografia de Walter
Calixto Ferreira, o Mestre Borel. A decisão ocorre, pois as adversidades
encontradas para realizar este trabalho monográfico são comuns a todo não
branco. Ou seja, a elite branca não costuma privilegiar as demandas dos
afro-descendentes. Como já conheço bem todo este contexto decidi seguir na
luta.
A peça videográfica supra citada coloca Walter Calixto
no centro de uma cena biográfica, falando sobre suas memórias e experiências em
Porto Alegre e ao redor do Brasil, ligadas a um itinerário negro nas cidades. Mestre
Borel, apresenta os seus saberes e seus fazeres. Declara-se detentor de traços
da cultura de matriz africana e narra sobre os seus conhecimentos religiosos,
históricos, mitológicos e artísticos.
A fonte de todo este trabalho está nas tradições
africanas, relacionada ao convívio com seus antepassados. Mestre Borel: a
ancestralidade negra em Porto Alegre é um documentário que deveria ser agregado
ao plano de estudo desta disciplina, pois se trata de referencia impar no
estudo da negritude observada na capital dos gaúchos. Além disso, por estarem
os seus idealizadores (pesquisadores do BIEV) tão próximos a nós, certamente o
depoimento destes também poderia ser um momento de troca muito interessante.
O destaque que eu gostaria de colocar é o seguinte: a
obra possui dois grandes eixos relacionados entre si (a urbanidade e a
religiosidade portoalegrense). Assistindo o vídeo, mesmo por um público leigo, a
proposta de Mestre Borel fica muito clara, pois ele apresenta de forma didática
as reflexões sobre a grandeza da religião dos orixás, sobre a espiritualidade
afro-brasileira e também sobre o resgate da memória dos bairros periféricos da
cidade de Porto Alegre (locais de presença intensa de afro-descendentes).
A obra integral tem duração de aproximadamente 55 minutos.
Contou com financiamento da Prefeitura de Porto Alegre, através da Secretaria
Municipal da Cultura (Edital do FUMPROARTE). Além do Banco de Imagens e Efeitos
Visuais da Cidade de porto Alegre (BIEV) contou com o apoio do Núcleo de
Culturas Contemporâneas (NUPECS) e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia
Social (/PPGAS). Estiveram ainda presentes na mobilização em torno da obra a
Comunidade Terreira Ile Axé Iyemonja Omi Olodo, o Memorial do Rio Grande do Sul
e diversos colaboradores e gestores do Mercado Público de Porto Alegre. O Roteiro
e a pesquisa que fundamenta etnograficamente o documentário ficou a cargo da
antropóloga Dra. Ana Luiza Carvalho da Rocha.
A pesquisa que realizei em veículos de mídia
impressa e informatiza afirmam que Walter Calixto Ferreira, também conhecido
como Mestre Borel, foi um dos mais principais representantes das religiões afro-brasileiras
e da cultura negra no Rio Grande do Sul, além de carnavalesco, escritor e
pesquisador. Mestre Borel era considerado o mais antigo alabê (tamboreiro de
candomblé ou batuque) e também um dos principais responsáveis pela preservação
da cultura e da história dos povos africanos em Porto Alegre.
Considero que o resgate realizado pela equipe
de pesquisadores do Banco de Imagens e efeitos visuais de Porto Alegre (BIEV),
através do documentário: “Mestre Borel: a Ancestralidade Negra em Porto Alegre”
é a obra prima deste importante grupo de intelectuais acadêmicos. E, sem sombra
de dúvida, a antropóloga Dr. Ana Luiza Carvalho da Rocha que pesquisa a
história e a cultura de Porto Alegre a mais de três décadas, é a principal
figura este grupo. Não é um simples resgate da africanidade local, pois coloca
o negro no centro do debate acadêmico e avalia com muita propriedade as
mudanças ocorridas durante o processo de urbanização da capital dos gaúchos. A
pesquisadora citada propõe:
”Investigar a dinâmica das interações e representações
sociais na e da cidade sob a perspectiva de suas formas de vida social visando
um repertório mais amplo das formas de sociabilidade no meio urbano do Brasil e
suas variações culturais. Aprofundar uma reflexão conjunta acerca das memórias
coletivas e ações culturais no âmbito patrimonial da cidade de Porto Alegre em
sua interface com experiência de vida de seus grupos urbanos face às crises, os
conflitos e as tensões do mundo contemporâneo, assunto que vem preocupando
pesquisadores e profissionais da área da cultura.Reunir práticas museólogicas e
narrativas etnográficas no estudo do mundo urbano contemporâneo como fonte de
pesquisa para estudo do lugar das experiências humanas, das práticas sociais e
das diferenças na cidade como tema de ações culturais no âmbito da memória e do
patrimônio etnológico da sociedade contemporânea. Investigar a memória da
quotidianeidade da cidade de Porto Alegre com a pesquisa no tratamento
documental, colocando como ponto convergente de ambos os projetos a criação de um Museu virtual como espaço de problemas para o entendimento
do mundo urbano contemporâneo”. (Rocha, 1999)
A história de Mestre recuperada através do documentário
etnográfico Mestre Borel - A ancestralidade negra em Porto Alegre foi abordada
em publicação que fiz no blog A Cidade de Santa Isabel. Destaquei o trabalho de
Ana Luiza Carvalho da Rocha informando que o mesmo narra as memórias de um dos
mais reconhecidos tamboreiros da religião de matriz africana em Porto Alegre. Um
dos grandes méritos da produção videográfica foi o seu caráter
interdisciplinar, pois a equipe de produção do documentário contou com
pesquisadores que atuam no projeto Habitantes do Arroio Dilúvio, com o filho e
herdeiro do trabalho de Borel, fato que gerou uma troca produtiva de relatos e imagens.
E por falar em Arroio Dilúvio é importante destacar que a narrativa de Borel dá
uma nova roupagem para as imagens dos territórios do Areal da Baronesa, da
Ilhota e da antiga Rua Cabo Rocha, revelando a relação íntima do antigo curso
do Arroio Dilúvio com a memória negra na cidade.
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