quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Antropologia




Vamos falar de antropologia?

Segue abaixo um trabalho realizado em Porto Alegre.

Boa Leitura.

Abraço!

jacquesja




ETNOGRAFIA  DE  RUA

SAÍDA  A  CAMPO  -  14 / 11 / 97     (10 H 06 Min)


Inicio a minha observação a partir do momento que me aproximo do Largo Glênio Peres e arredores do Mercado Público de Porto Alegre. Ao passar pelo largo, observo muitas pessoas que circulam pelo local com toda a “pressa” originária de um grande centro urbano. Apesar da “pressa” (ou aparente falta de tempo), algumas pessoas param e ficam observando os “artistas” que atuam naquele local. Destacaria o tradicional vendedor de remédios naturais que com recursos diversos (aparelho de som, animais exóticos como cobras, apelo teatral e dramático) tenta vender os seus produtos no Largo e nas praças da cidade, sendo assim já bastante conhecido da população; e um músico que tocava violino, utilizando alguns recursos sonoros como caixas de som e amplificadores de som, chamando bastante a atenção das pessoas que por ali passavam. Pude observar o Mercado Público que, totalmente restaurado, estava enfeitado com painéis e desenhos alusivos a Primeira Bienal do Mercosul, evento cultural que tem mobilizado muitas pessoas na capital. Vencido o Largo, nos aproximamos da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, passo a me encomodar um pouco com o grande fluxo de pessoas e procuro então me afastar das ruas mais centrais, andando em direção a Avenida Mauá, onde se encontra o Caís do Porto, ponto que escolhemos para iniciar a nossa etnografia de rua. A tentativa de evitar o grande fluxo de pessoas, afastando-me das ruas centrais, e caminhando pela Av. Mauá não foi muito promissora, pois também ali o tráfego estava complicado, principalmente em função de alguns caminhões que descarregavam cargas nas proximidades do Prédio dos Correios e Telégrafos prejudicando assim o transito de pedestres naquele local. Passo a mapear os principais vizinhos do Caís do Porto, dentre eles os Correios e Telégrafos, Secretaria da Fazenda, Delegacia Regional do Trabalho, terminais de Ônibus coletivos urbanos de Porto Alegre e grande Porto Alegre (Viamão) e o Instituto Santa Marta (SUS).
A travessia da Av. Mauá (em direção ao Cais do Porto) é, sem nenhuma dúvida, “uma manobra bastante arriscada”. Neste local o transito de veículos é muito grande e a velocidade média dos automóveis, caminhões e coletivos também é alta em função da avenida ser extensa (uma grande reta),  larga (com 3 faixas de rolagem) e não existir nenhum dispositivo inibidor da velocidade (com exceção do semáforo). Existe uma faixa de segurança e uma semáforo quase em frente a entrada principal do Caís do Porto, o que, teoricamente, facilitaria a travessia dos pedestres, no entanto nem sempre é bem assim. Os motoristas costumam aproveitar ao máximo o tempo destinado para a sua travessia, transitando no momento em que o sinal fica no amarelo e até nos primeiros instantes em que o sinal aponta a cor vermelha, ou seja, propõe a sua parada e permite a passagem para o pedestre.  Portanto, o fato de o sinal estar apontando a travessia para o pedestre (vermelho para os motoristas) não representa uma situação de travessia segura para este. Uma outra situação que representa bastante risco para o transeunte que decide atravessar a Avenida é aquela em que o sinal muda quando o pedestre encontra-se no meio ou quase no final da travessia da Avenida. Neste caso, a pessoa precisa correr ou pular a fim de que não sege apanhada por um veículo, pois observei que os motoristas decidem aproveitar ao máximo todos os segundos destinados a sua travessia, não abrindo mão assim dos primeiros instantes da exposição do sinal verde, mesmo que o pedestre ainda se encontre no meio da sua travessia. Em resumo, atravessar uma avenida no centro da cidade não é uma tarefa muito fácil e nem muito tranqüila, pois exige do pedestre bastante atenção e perspicácia para perceber o momento exato que a travessia pode ser realizada sem nenhum risco para a sua segurança pessoal. Esta situação pode ser bem mais problemática para os idosos, crianças, gestantes e deficientes físicos por razoes óbvias.
Vencida a travessia da Avenida Mauá, entro no portão principal do Caís do Porto. Entrando, a minha esquerda encontro o posto da guarda portuária, onde um cidadão faz a segurança no local. Decidi solicitar informações sobre como deveria proceder para realizar a visitação naquele local. Fui informado que deveria me dirigir ao prédio da administração do Porto, onde deveria solicitar uma autorização (por escrito) para realizar a visita. Assim procedi, subindo ao quarto andar do prédio apontado pelo guarda, onde em contanto com a funcionária Dulce consegui a permissão, após ter me identificado e externado o objetivo da minha visita naquele local. De posse da autorização me dirigi ao portão de acesso do Caís, apresentei a autorização para um outro guarda que a reteu, permitindo a minha entrada e informando que eu poderia visitar todo o Caís em sua parte em que estava a minha direita, e a parte que ficava a minha esquerda não poderia ser acessada por ser “área operacional”, palavras dos funcionários para referir a parte onde existe intensa atividade de carregadores, guindastes, carga e descarga de containers, etc.
Neste momento, já na beira do Rio,  acontece o meu primeiro contato com algo que me acompanharia, ou até me indicaria uma determinada trajetória nesta visita ao Cais do Porto do Rio Guaíba, os trilhos utilizados para a locomoção de algumas  máquinas e/ou guindastes que não saberia precisar em detalhes neste momento. Observo que estes trilhos estão sendo usados pelos guindastes que estão a minha esquerda (lado Operacional). Na minha direita os trilhos continuam existindo, mas parecem não estar sendo usados para o deslocamento dos guindastes observados a minha esquerda , fato que me leva a supor uma provável restruturação físico-espacial deste local, pois a existência dos trilhos no meu lado direito supõe a existência destes mesmos guindastes operando em um outro momento anterior a este.    
A minha direita, tenho o Barco Cisne Branco ancorado com alguns homens no seu interior, parece que trabalham e organizam algumas coisas no barco. Observando o barco estão um grupo de alunos de uma escola que realizam uma visita ao Caís. Fotografam e são fotografados, conversam com os seus professores sobre o barco, sobre o rio, ... parecem estar gostando bastante do passeio, pois aparentam muita satisfação, descontração e interesse por tudo o que vêem ao seu redor. De fato, penso que nem poderia ser diferente, entre outros motivos, por estarmos vivendo um dia muito ensolarado, com temperaturas altas, céu claro e uma brisa gostosa a sombra.
O Barco Cisne Branco traz um sistema do som que ligado, espalha pelo ambiente músicas veiculadas por uma rádio local da cidade de Porto Alegre. Esta sonoridade traz, segundo o meu entendimento, consigo uma sensação de descontração para as pessoas que visitam o local.
Olhando para o interior do rio, vejo a primeira embarcação que circula pelo local, ela traz uma carga de areia e se desloca lentamente pelas águas calmas do Rio Guaiba. Na mesma direção podemos observar o topo de prédio que se encontra na Ilha do Presídio, ponto próximo ao Cais.
Ainda a minha esquerda, após passar pelo barco Cisne Branco, encontro trabalhadores que descarregam determinada carga de uma carreta estacionada neste local.
Vou caminhando a fim de explorar a região que me foi permitida o acesso, ou seja, lado direito de quem entra no portão principal do Caís do Porto. Após passar pelo primeiro armazém B1 (no seu interior estão grande rolos de papel, e pequenos pacotes também de papel), onde trabalhadores trabalhavam na descarga de determinado produto, me encontro nos fundos do prédio da administração onde a bem pouco tempo estava solicitando a autorização para realizar esta visitação. Após este prédio, passo por um outro armazém B2 fechado e sem nenhuma movimentação de pessoas.
Estacionado neste local duas grandes carretas com cargas que parecem ser grandes transformadores de energia elétrica. Os caminhões que puxam a carreta são caminhões do tipo “fora de estrada”,  realmente muito grandes e contam com sinalizações especiais que chamam a atenção para o seu excesso de largura e comprimento (diante das dimensões normais utilizadas pelos veículos tradicionais). Ao me aproximar de uma das carretas, vejo que a altura  das rodas chegam próximo ao meu ombro. Como tenho 1,76 m de altura, a altura das rodas chegam a, aproximadamente, 1,40 m, são, portanto bastante expressivas.
Após as carretas, vejo mais três supostos transformadores colocados em linha, os quais suponho estarem esperando para serem carregados. Faixas estão colocadas nestes transformadores estampando o nome da empresa de destino (ou de origem), COENSA.
Olhando a minha esquerda, avisto a Ponto do Rio Guaíba (em direção a cidade de Guaíba) e algumas ilhas do mesmo rio. Na minha frente mais um prédio, onde leio Fundação Nacional de Saúde (Vigilância Sanitária), local onde funciona algum setor deste órgão.
Logo a minha direita existe um portão  que encontra-se aberto e dá acesso ao Caís do Porto. Ao contrário do portão principal, neste não existem guardas nem outro tipo de segurança que dificultem o acesso. Passo pelo portão e começo a percorrer a rua que é paralela ao rio, no interior do muro da Mauá, ou seja, entre o muro e o rio.
Percorrendo esta rua chego ao primeiro (de uma série) ancoradouro na seqüência de quem vem do portão principal do Caís do Porto em direção a cidade de Canoas. O primeiro é um ancoradouro onde encontramos apenas alguns barcos de pequeno porte. Neste local existe uma placa onde leio: “Grêmio Náutico União, Estação Fluvial Nilton Silveira Neto, Embarque, Sede Ilha do Pavão”. Nas proximidades do prédio do Palácio do Comércio, me deparo (...) 






Nenhum comentário: