Mais um pouco.
Trabalhar.
Vamos trabalhar?
Tem doutor que não trabalha. Ou melhor, carrega o título nas costas.
E como o título é pesado ...
Conheço um que é fazendeiro (rs, rs, rs).
Coisas da academia.
Vamos voltar para o mulato?
1.
CONTEXTO INICIAL DA REALIZAÇÃO DESTE TRABALHO MONOGRÁFICO
– Parte Geral
“O Racismo no Brasil é tão inteligente que nem parece ser
Racismo”. Boaventura
Senti a necessidade de iniciar o trabalho com uma pequena
contextualização sobre o ponto de partida do mesmo: A minha relação pessoal com
o Curso de Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais. E qual é a importância
de estar relacionando-me com a referida área do conhecimento?
David Giacomini residia em Passo Fundo. Sobrinho de Zeferino Jacomini,
decidiu realizar movimento análogo a este: tentar a sorte na capital dos
gaúchos. Ao chegar a Porto Alegre recebeu todo o apoio de “Zéfi” e passa a
freqüentar o curso de Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Trata-se de uma biografia
importante, pois menciona mais uma história de vida de um cidadão humilde e
trabalhador que, após muito esforço, conquista um espaço no mercado de trabalho
tão disputado e desigual. No que se refere a própria biografia do meu pai, cabe
aqui referir que criei o artigo denominado “Uma mala na mão e um sonho no
coração – tributo à Zeferino Jacomini”3. Este escrito foi realizado
em 1999 e estava no centro de uma homenagem que prestei ao Zeferino antes deste
partir, fato que ocorreu no inverno de 2001.
Na teatralização do passado e na presentificação da minha memória
infantil vejo uma imagem: David Giacomini adquiriu um automóvel novo e decide
“fazer um teste”: visitar o primo podre na periferia de Viamão. Era um
automóvel VW Santana 1984 em cor escura. Ele profissional bem sucedido,
promotor de justiça e professor universitário, residente na Cidade de Canoas.
Eu aluno do ensino fundamental, morador da periferia de Viamão, oriundo da
capital. Bernardina optou por não resistir no Areal e adquirir um lote urbano
em outra cidade. Se tivesse seguido os passos de Mestre Borel, resistindo e
aguardado a remoção feita pela prefeitura, seríamos todos restingueiros (e não
isabelenses).
Voltando a 1984 e retornando a cena mural imagética projetada na tela da
imaginação: já tínhamos uma residência um pouco melhor (casa de alvenaria) do
que a anterior de madeira reciclada, conquistada pelo empenho da família que
labutou durante anos para adquiri-la. David chegava nestas visitas sempre com
um sorriso largo no rosto em que cultivava um bigode bem cuidado. Homem branco,
estatura média, trajava roupa de passeio convencional. Sempre trazia algo para
regalar-me (relógio, caneta, brinquedos, etc.).
Ele perguntava sobre a escola. Fazia questão de buscar os meus cadernos
e mostrar o produto das minhas últimas lições.
David Giacomini esteve presente na sessão de sepultamento de Zeferino
Jacomini no Cemitério Jardim da Paz (Porto Alegre) que ocorreu nos meses frios
do ano de 2001. David viria a também falecer meses depois, devido a
complicações de saúde provenientes de tratamento de um câncer incurável. Foi o
inverno do colapso: fracassei na carreira política, perdendo o cargo na
Secretaria de Cultura, perdi o meu pai, David partiu. Como se não bastasse toda
esta tormenta, Cornelia desistiu da minha orientação acadêmica. Tentei reagir com o plano de estudos: Daisy
Barcelos prontamente assumiu a minha orientação. A direção do programa não
aceitou, declarando a professora Daisy como não habilitada para fazê-lo. Passei
a trabalhar com Oscar Aguero que era um antropólogo não branco como eu próprio.
Contudo, o professor Oscar também enfrentava problemas de saúde (causada por
uma mulher branca). O lado mais escuro do sempre rondava a todos nós. O
professor Oscar também não resistiu e partiu, após período de internação no
Hospital de Clínicas. Diante de todo este contexto doloroso e sombrio, entrei
em colapso (também queria partir).
Sobre esta decisão da direção do Programa de
Pós Graduação em Antropologia Social (PPGAS) de não homologar a orientação
requerida pela antropóloga Dra. Daisy Barcellos, a fim de que eu desse
seqüencia ao meu trabalho científico na UFRGS, cabe destacar que trata-se de um
fato “inexplicável”, pois a afirmativa de que o doutorado da mesma não teria
sido homologado pela UFRGS não procedia, conforme atestam os documentos anexo a
este (Ver Anexo número 01). Contudo, este breve relato é o que basta neste
ínterim introdutório. Ao longo do texto, estarei desenvolvendo os pontos aqui
elencados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário