quarta-feira, 29 de junho de 2016

Mulato cor de rosa





Mais um pouco.

Trabalhar.
Vamos trabalhar?
Tem doutor que não trabalha. Ou melhor, carrega o título nas costas. 
E como o título é pesado ...
Conheço um que é fazendeiro (rs, rs, rs).
Coisas da academia.
Vamos voltar para o mulato?






1.                  CONTEXTO INICIAL DA REALIZAÇÃO DESTE TRABALHO MONOGRÁFICO – Parte Geral



“O Racismo no Brasil é tão inteligente que nem parece ser Racismo”. Boaventura


Senti a necessidade de iniciar o trabalho com uma pequena contextualização sobre o ponto de partida do mesmo: A minha relação pessoal com o Curso de Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais. E qual é a importância de estar relacionando-me com a referida área do conhecimento?
David Giacomini residia em Passo Fundo. Sobrinho de Zeferino Jacomini, decidiu realizar movimento análogo a este: tentar a sorte na capital dos gaúchos. Ao chegar a Porto Alegre recebeu todo o apoio de “Zéfi” e passa a freqüentar o curso de Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Trata-se de uma biografia importante, pois menciona mais uma história de vida de um cidadão humilde e trabalhador que, após muito esforço, conquista um espaço no mercado de trabalho tão disputado e desigual. No que se refere a própria biografia do meu pai, cabe aqui referir que criei o artigo denominado “Uma mala na mão e um sonho no coração – tributo à Zeferino Jacomini”3. Este escrito foi realizado em 1999 e estava no centro de uma homenagem que prestei ao Zeferino antes deste partir, fato que ocorreu no inverno de 2001.
Na teatralização do passado e na presentificação da minha memória infantil vejo uma imagem: David Giacomini adquiriu um automóvel novo e decide “fazer um teste”: visitar o primo podre na periferia de Viamão. Era um automóvel VW Santana 1984 em cor escura. Ele profissional bem sucedido, promotor de justiça e professor universitário, residente na Cidade de Canoas. Eu aluno do ensino fundamental, morador da periferia de Viamão, oriundo da capital. Bernardina optou por não resistir no Areal e adquirir um lote urbano em outra cidade. Se tivesse seguido os passos de Mestre Borel, resistindo e aguardado a remoção feita pela prefeitura, seríamos todos restingueiros (e não isabelenses).
Voltando a 1984 e retornando a cena mural imagética projetada na tela da imaginação: já tínhamos uma residência um pouco melhor (casa de alvenaria) do que a anterior de madeira reciclada, conquistada pelo empenho da família que labutou durante anos para adquiri-la. David chegava nestas visitas sempre com um sorriso largo no rosto em que cultivava um bigode bem cuidado. Homem branco, estatura média, trajava roupa de passeio convencional. Sempre trazia algo para regalar-me (relógio, caneta, brinquedos, etc.).  Ele perguntava sobre a escola. Fazia questão de buscar os meus cadernos e mostrar o produto das minhas últimas lições.
David Giacomini esteve presente na sessão de sepultamento de Zeferino Jacomini no Cemitério Jardim da Paz (Porto Alegre) que ocorreu nos meses frios do ano de 2001. David viria a também falecer meses depois, devido a complicações de saúde provenientes de tratamento de um câncer incurável. Foi o inverno do colapso: fracassei na carreira política, perdendo o cargo na Secretaria de Cultura, perdi o meu pai, David partiu. Como se não bastasse toda esta tormenta, Cornelia desistiu da minha orientação acadêmica.  Tentei reagir com o plano de estudos: Daisy Barcelos prontamente assumiu a minha orientação. A direção do programa não aceitou, declarando a professora Daisy como não habilitada para fazê-lo. Passei a trabalhar com Oscar Aguero que era um antropólogo não branco como eu próprio. Contudo, o professor Oscar também enfrentava problemas de saúde (causada por uma mulher branca). O lado mais escuro do sempre rondava a todos nós. O professor Oscar também não resistiu e partiu, após período de internação no Hospital de Clínicas. Diante de todo este contexto doloroso e sombrio, entrei em colapso (também queria partir).
Sobre esta decisão da direção do Programa de Pós Graduação em Antropologia Social (PPGAS) de não homologar a orientação requerida pela antropóloga Dra. Daisy Barcellos, a fim de que eu desse seqüencia ao meu trabalho científico na UFRGS, cabe destacar que trata-se de um fato “inexplicável”, pois a afirmativa de que o doutorado da mesma não teria sido homologado pela UFRGS não procedia, conforme atestam os documentos anexo a este (Ver Anexo número 01). Contudo, este breve relato é o que basta neste ínterim introdutório. Ao longo do texto, estarei desenvolvendo os pontos aqui elencados.


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