quinta-feira, 30 de junho de 2016

Mulato by gilberto




Amigos e amigas

Vamos entrar no capítulo três da obra.

Como já referi antes, segue o capítulo particionado por questões técnicas (informatizadas).









1.      ARTE e RESISTÊNCIA NA PERIFERIA

“Hei de ver a lua brilhar, iluminar o nosso pavilhão.
De mãos dadas vamos cantar a nossa canção.
Sou da Vila faz tempo e ninguém vai nos separar”
Ari Rodrigues

A Arte Popular, enquanto expressão civilista de uma cidadania não branca é um contexto comum entre três grandes nomes desta cena antropo-poética: Noel Rosa, Mestre Borel e JacquesJa. Diante da opressão imposta pelas regras da sociedade de consumo e também pelo poder da Norma (Poder Institucional-legal imposto pelo Estado) o cidadão afro-descendete reage protestando. E qual é a melhor forma de protesto? A Expressão Artística Não Convencional (Arte Popular). Sem sombra de dúvida o HIP HOP é o maior exemplo disto. A Arte de rua (ou cultura popular urbana), através do hip hop é a maior expressão da negritude urbana no Brasil Contemporâneo. Eu tive a oportunidade de participar deste movimento, quando da elaboração da “Semana Cultural” em Viamão. Havia fundado a Associação do Patrimônio Cultural de Viamão (AAPC) que foi o embrião do Centro de Estudos Sociais e Antropológicos Jerônimo de Ornelas (CESAJO). O grupo de trabalho de antanho decidiu organizar a primeira mostra de Hip Hop de Viamão. Com o apoio da produtora “Promo Show”, coordenada pelo parceiro de evento Carlos Silva, organizamos um grande evento popular em praça pública que reuniu mais de cinco mil pessoas no centro da Cidade de Viamão. A partir deste evento, estabelecemos uma série de contatos com grupos de Hip Hop da região metropolitana de Porto Alegre, especialmente com White Jay5 (Nome Artístico), liderança do movimento oriundo da Cidade de Alvorada. A partir destas inter-relações fomos convidados para participar do Programa Hip Hop Sul, transmitido pela Fundação Piratini (TVE/RS). Estivemos nos estúdios de gravação do programa, interagindo com os artistas envolvidos, com a equipe de produção do programa, bem como com integrantes das comunidades envolvidas que acompanhavam os artistas, prestigiando este trabalho.
O relato exposto acima se faz necessário para demonstrar que esta junção ciência e arte é uma constante na caminhada deste acadêmico desde os tempos idos. Estou disposto a fazer ciência em um contexto mais amplo do que o tradicional. Não abro mão de realizar uma construção de conhecimento relacionada à minha realidade social e étnica. Estou orientado pelo texto constitucional brasileiro, reconhecendo-o como supremo e orientador do sistema jurídico nacional. Portanto, busco cumprir os preceitos jurídicos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), no que me cabe. Especialmente no que se refere ao desenvolvimento de uma consciência crítica da realidade social em que estou inserido. Aprendi com intelectuais do quilate de Michel Foucault a ver as “Micro Penalidades” como parte de um sistema de opressão silencioso que opera diuturnamente. Foi com esta orientação teórica que cunhei a categoria analítica “Açoite Acadêmico” para referir estes momentos tristes da cena acadêmica vivenciada na UFRGS.
O Movimento Negro é um dos movimentos sociais mais atuantes e aguerridos do cenário social brasileiro contemporâneo. Este movimento possui um papel fundamental nas conquistas que os afro-descendentes têm acessado na história recente do país. Foi o que ocorreu, por exemplo, na época da elaboração do texto constitucional de 1988. Houve uma intensa mobilização do segmento em torno da defesa dos direitos fundamentais do negro e para que o texto da nova carta magna assegurasse esses direitos. Portanto, reconhecer as lideranças deste movimento tem um significado especial para quem trabalha com a temática ao nível de estudo e pesquisa acadêmica.
A Jornalista Vera Daisy Barcellos é um exemplo de liderança amplamente conhecida no meio ativista da capital. Vera é Jornalista, militante do Movimento Negro desde a década de 70, editora da revista Tição. Atuou por 16 anos no jornal Zero Hora, foi editora responsável pelos projetos especiais do jornal A Voz da Serra. Assessora de imprensa de Maria Mulher – Organização de Mulheres Negras/RS.
A acadêmica Vera Lúcia Goulart da Rosa e o acadêmico Gerson da Silva Bernardes freqüentaram como alunos a disciplina Afro-descendência e Cidadania no Brasil Contemporâneo. Por que citar estes dois colegas? Justamente por se tratar de duas importantes lideranças do movimento negro participativo no Estado do Rio Grande do Sul. Infelizmente este dado não recebeu o devido destaque durante as atividades da cadeira, sendo que fiquei sabendo deste importante detalhe apenas no dia 13/05/2015, quando recebemos em sala de aula a presença de convidado especial.
No encontro ocorrido dia 13/05/2015 a professora Denise Jardim6 recebeu a visita de Ubirajara Toledo (Coord. Executivo do Instituto de Assessoria ás Comunidades Remanescentes de Quilombos – IACOREQ). Ubirajara chegou a sala de aula e a primeira atitude sua foi fazer uma homenagem (in memoriam) para Júlio Cesar de Melo Pinto que foi assassinado por integrantes da Brigada Militar na década de oitenta do século passado no Bairro Partenon, Cidade de Porto Alegre. O caso ficou mundialmente famoso pela comoção nacional que provocou na sociedade a época do ocorrido, pois se tratava de um cidadão que sofria de patologia crônica e não tinha nenhuma relação com a ocorrência policial  que a BM atendia naquele momento. Infelizmente, no mesmo momento em que ocorria um assalto a um estabelecimento comercial das imediações, Julio Cesar voltava do trabalho e se juntou aos populares que observavam a ocorrência. Julio teve um “ataque epilético” caiu no chão, passou a se debater, sangrou e não conseguia se comunicar. A guarnição da BM ao ver o homem negro com “traços de suspeito” caído no chão e sangrando correlacionou-o aos autores do crime que havia sido praticado. Recolheu-o, colocando dentro de uma viatura militar e executou o trabalhador negro em um terreno baldio próximo a revenda da Fiat na Avenida Cristiano Fischer. O Caso entrou para a história urbana de Porto Alegre como “O Homem Errado” e, ainda hoje, provoca comoção em todas as pessoas que estão envolvidas com o Movimento Negro.
Ao freqüentar o curso de Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais, na disciplina de Sociologia Jurídica, foi proposto um trabalho de campo na área dos direitos humanos. O ministrante da referida disciplina distribui alguns eixos temáticos entre os alunos. Escolhi o que abordava a atuação do Ministério Público atuando na defesa dos Direitos Humanos. Percorri várias comunidades kilombolas entrevistando lideranças que expunham a sua relação com a defesa dos seus direitos fundamentais. Elegi os elementos etnográficos colhidos na Comunidade do Kilombo dos Silva (Porto Alegre/RS) para realizar o referido trabalho. No final da exposição do trabalho realizado na PUC/RS, conforme pode ser visualizado na imagem anexa a esta monografia, ofereci uma homenagem pela memória de Júlio Cesar. (Anexo 05)
Após ter feito a homenagem, o palestrante convidado olhou atentamente os participantes da disciplina e reconheceu entre os meus colegas dois afro-descentes que militam a mais de trinta anos nas lutas empunhadas pelo movimento negro do Rio Grande do Sul. Ou seja, eu estava sentado ao lado, por exemplo, de uma das maiores personalidades do movimento negro, colega Vera Lúcia Goulart da Rosa, com extenso currículo de trabalho na defesa das comunidades de afro-descendentes.

A proposta mais interessante explanada entre os meus colegas fazia referencia a uma vontade de um acadêmico em investigar “o massacre de jovens negros na periferia da Cidade de Canoas”. Proposta fantástica, porém delicada, pois envolve o embate da juventude com o aparato repressivo de Estado que vem, habitualmente, executando diversos jovens não brancos “suspeitos” de ilícitos penais na periferia das principais cidades brasileiras. O colega João Batista Rodrigues, segundo o meu ponto de vista, foi o autor da proposta mais instigante para desenvolver em campo. A referencia para o colega, oferecido pela professora ministrante da disciplina foi o Relatório Azul.

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