VOCAÇÃO
DE POETA
Friedrich
Nietzsche
(Das
canções do Princípe Livre pássaro, poemas de 1882-1884, publicados em apêndice
à Gaia Ciência, na edição de 1886)
Ainda
outro dia, na sonolência
De
escuras árvores, eu sozinho,
Ouvi
batendo, como em cadência,
Um
tique, um taque, bem de mansinho ...
Fiquei
zangado, fechei a cara -
Mas
afinal me deixei levar
E
igual a um poeta, que nem repara,
Em
tique-taque me ouvi falar.
E
vendo o verso cair, cadente,
Sílabas,
upa, saltando fora,
Tive
que rir, rir, de repente,
E
ri por um bom quarto de hora.
Tu,
um poeta? Tu, um poeta?
Tua
cabeça está assim tão mal?
-
"Sim, meu senhor, sois um poeta",
E
dá de ombros o pica-pau.
Por
quem espero aqui nesta moita?
A
quem espreito como um ladrão?
Um
dito? Imagem? Mas, psiu! Afoita
Salta
à garupa rima e refrão.
Algo
rasteja? Ou pula? Já o espeta
Em
verso o poeta, justo e por igual.
-
“Sim, meu senhor, sois um poeta”,
E
dá de ombros o pica-pau.
Rimas,
penso eu, serão como dardos?
Que
rebuliços, saltos e sustos,
Se
o dardo agudo vai acertar dos
Pobres
lagartos os pontos justos.
Ai,
ele morre à ponta da seta
Ou
cambaleia, o ébrio animal!
-
“Sim, meu senhor, sois um poeta”,
E
dá de ombros o pica-pau.
Vesgo
versinho, tão apressado,
Bêbada
corre cada palavrinha!
Até
que tudo, tiquetaqueado,
Caia
na corrente, linha após linha.
Existe
laia tão cruel e abjeta
Que
isto ainda – alegra? O poeta – é mau?
-
“Sim, meu senhor, sois um poeta”,
E
dá de ombros o pica-pau.
Tu
zombas, ave? Queres brincar?
Se
está tão mal minha cabeça,
Meu
coração pior há de estar?
Ai
de ti, que minha raiva cresça! –
Mas
trança rimas, sempre – o poeta,
Na
raiva mesmo sempre certo e mau.
-
“Sim, meu senhor, sois um poeta”,
E
dá de ombros o pica-pau.
5 comentários:
Eu gosto desta publicação.
Há muito de mim aqui.
Você assistiu Besouro (O Filme)?
Estou concluindo os trabalhos do semestre.
E não é que consegui introduzir Nietzsche no trabalho.
Gente, Nietzsche não é apreciado pelos antropólogos e eu consegui introduzi-lo.
Percebe, a importância disso?
Visitando.
Introduzi Nietzsche e Maurício.
E ainda assumi a autoria daquele outro "trabalho".
Bastante "emoção" para apenas um semestre.
E que venha 2015/I
MAETERLINCK
Maurício Maeterlinck.
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